Minha namorada teve a grande idéia de pedir a cada um dos amigos dele para sugerirem uma música que achassem ter a ver com o moço. Com as sugestões, ela buscaria as músicas na Internet e montaria dois CD com as relacionadas.
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Teve de tudo. Os comediantes (sempre tem...) sugeriram coisas como "Panela Velha", "A pipa do vovô não sobe mais", o clássico-brega "Secretária" e outras pérolas do gênero. Mas houve quem levasse a sério e tirasse do fundo do baú algumas antigas ternuras que imaginavam fazer a delícia do homenageado. Eu acho que ele tem um jeitão de italiano dos anos 60, logo minha sugestão seguiria esta linha. Mandei um "Era um ragazzo che comme me amava i Beatles ei Rolling Stones". Mas no original. Não queria a versão gravada pelos "Os Incríveis" (já posso ver daqui os cenhos franzidos e a indefectível pergunta: "Quem?" Bem, amigos da Rede Globo, para encurtar a história, "Os Incríveis" eram uma espécie de "Titãs" dos anos 60. Fecha parêntesis).
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Do total das sugeridas, a maioria era estrangeira. Boa parte, rocks para emocionar o homenageado: duas do Deep Purple, uma do Led Zeppelin e duas do Pink Floyd. E é aí que entra a razão de ser deste post.

Quando ouvi "Time" – uma das escolhidas, a outra foi "Wish you were here" - me bateu uma baita saudade do "Dark Side of the Moon". Nesta semana, pretendo ouvi-lo trocentas vezes, até uma certa parte da minha anatomia fazer bico.
Ahhhh... Como este disco é bom! Durante a festa, fiquei conversando com meu amigo Luís, beatlemaníaco como eu, sempre temos uma história para trocar sobre os quatro deuses de Liverpool. Mas desta vez, o nosso papo era a respeito do Pink Floyd e mais especificamente com relação a este disco seminal.
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Ele nunca saiu de catálogo e permaneceu anos (eu disse anos) nas paradas de sucessos (é o quarto disco mais vendido de todos os tempos – American TOP – 200 por 724 semanas). Tenho certeza de que vende bem até hoje, mais de três décadas depois de lançado (Veja a capa do relançamento comemorativo de 30 anos). Todo grande conjunto tem o seu grande disco, aquele que o consenso aponta como o "imperdível". Os Beatles têm o "Sgt Pepper" (embora eu prefira o "Abbey Road", uma obra em pé de igualdade com a Capela Sistina, a Mona Lisa, as grandes pirâmides, ou seja, patrimônio da humanidade), os Stones têm o "Exile on a Main Street", o Zeppelin entra com o III (há quem diga que é o II), o Queen vem com "A night at the Opera", os Beach Boys com "Pet Sounds" e vai por aí a fora (aê, Marcelo, diz aí qual é o álbum-rei do Deep Purple que eu assino em baixo e dou fé). Com certeza, qualquer fã do Pink Floyd vai dizer que o "Dark Side...", o disco do prisma, é a maior obra do grupo inglês.
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Segundo o Luís, tem um DVD por aí com o grupo (Wright, Waters, Mason e Gilmour na foto) comentando, 30 anos depois, como foi gravar este diamante. Está saindo a caixa com os DVD do concerto "Live 8", onde os quatro voltaram a tocar juntos, desde que o Roger Waters saiu no pau com Gilmour. Li numa matéria que num dos DVD tem o depoimento dos quatro sobre a banda. Deve ser imperdível também. Não sei se lá eles contam a origem do nome Pink Floyd.

O fundador da banda, o doidão Sid Barret, juntou o primeiro nome de Pink Anderson com o de Floyd Council, dois blues men americanos. Até aí, todo mundo sabe. Mas você já viu a cara dos bonecos?
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Daqui a cem anos, vai ter gente ouvindo o "Dark Side..." e fatalmente se emocionando. Não tem uma música que a gente pode dizer: "essa é fraca". É tudo da melhor qualidade. A começar pela abertura (e fechadura), com sons da batida de um coração. O destaque inegável vai para "Time", e aquela abertura de filme de suspense até que a bateria de Mason ataca para Waters/Gilmour dispararem, sem dó, o "Ticking away the moments that make up a dull day..."
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E tem "Breath". Linda como um suspiro da mulher amada, necessária como a respiração... E mais: a "Us and Them", que nos remete a um grito solitário ecoando pelo Universo. "Money" e aquele baixo pulsante de Waters, que faz o nosso estômago pulsar junto. "The great gig in the sky" (com vocais de Clare Torry), outra que nos dá a exata dimensão de nossa solidão no Universo, mesmo que estejamos na Rua da Alfândega ou na 25 de março em plena época de Natal. E todas as outras: "Speak to me", "On the Run", "Any Colour You Like", "Brain Damage" e "Eclipse". Mas, de todas, é inegável a força de "Time". E foi essa a escolhida para figurar no CD.
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Meu cunhado deve estar se deliciando com o seu presente até hoje. Provavelmente, ele achou divertido ver (ouvir) como os amigos o percebem. É uma espécie de feedback. Fico imaginando com que música cada amigo meu me definiria. Qual você sugeriria?
M.S.