quinta-feira, dezembro 27, 2007

Sete vezes PAZ


O Natal se foi. Agora é pensar que mais um novo ano se aproxima, trazendo esperança de paz entre as pessoas. É tempo de pedir Paz. De forma ampla, a humanidade nunca teve paz. Desde que hominídeos se juntaram em pequenas tribos, começou a pancadaria. Em algum Momento 1 algum homem da caverna começou a olhar de banda para um outro e por sabe-se lá que motivo sentaram o tacape um no outro.
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Da mesma forma que a violência surgiu, também surgiu o desejo de viver bem. Uns preferiam a guerra. Outros achavam melhor viver em paz. Já bastava a Natureza agressiva que rodeava aqueles seres quase indefesos na aurora dos tempos, que começavam a se achar os mais importantes do pedaço (e só piorou com o tempo...)
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Recentemente, li um artigo do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), que foi, inclusive, o meu candidato nas últimas eleições presidenciais, onde ele fala dos sete tipos de paz. Muito interessante. Segundo descreveu, essa idéia é defendida pelo povo Aymara, índios que vivem na Bolívia e Peru.
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Uma coisa curiosa. Aymara é o nome da minha irmã. E seria o meu se eu tivesse nascido mulher fêmea, segundo me contou minha mãe. Meu pai lia muito a Enciclopédia Lello Universal (para os mais novos, enciclopédia é uma espécie de Google do tempo dos Flintstones, ou seja, do meu tempo). Quando minha mãe ficou grávida de mim, ele escolheu dois nomes no Lello, um para menino e outro para menino. Os pais faziam isso nos tempos pré-ultrasonografia. Se fosse menino, teria o nome de um imperador romano conhecido como um grande filósofo; se fosse menina, nome da tribo andina. Fecha parêntesis.
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De acordo com os Aymara, o primeiro tipo de paz é para dentro de cada um de nós. Com a saúde de nosso corpo, a clareza de nossa mente, a satisfação com nosso trabalho, a alegria com a pessoa que escolhemos para amar. Sem paz consigo mesmo, não há Paz.

O segundo tipo é para cima, paz com os espíritos de nossos antepassados, com o Deus de cada um. Sem paz com o mundo espiritual, ninguém fica totalmente em Paz.
A terceira paz é para frente, com o seu passado. Diferentemente dos homens brancos ocidentais que põem o passado para trás, os Aymara o colocam para adiante, por ser o visto, o vivido, o conhecido. Quem tem remorsos, culpas, dívidas não pagas, arrependimentos não pode alcançar a Paz.
A quarta paz é para trás, com o futuro de cada um. Pois quem teme o que virá, se apavora com o que terá de enfrentar, com a possibilidade de más notícias não está em Paz.

O quinto tipo de paz é para o lado esquerdo, com os nossos familiares. Desavenças domésticas, disputas, queixas, ranger de dentes com a família e com amigos próximos impedem de se alcançar a Paz.

A sexta é para o lado direito, com nossos vizinhos. Estar pacificado na própria casa e em desavença com a casa ao lado traz impedimentos para a verdadeira Paz.

A sétima e última paz é para baixo, com a terra em que você pisa e de onde tira o seu sustento. Se você provoca a tempestade ou a seca, se o solo tremer você não terá a santa Paz.
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Reparem que das sete, as quatro primeiras dependem exclusivamente de cada um de nós. Duas (a quinta e sexta), envolvem a gente na nossa relação com o próximo e a sétima, depende além de nós, de uma ação política e social. E se considerarmos que vizinhos representam todos os seres humanos no planeta, esta é também uma ação sócio-política mas que se inicia dentro de cada um.
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Façamos uma reflexão. Nós estamos realmente em Paz? Cumprimos com louvor estes sete passos recomendados pelo povo Aymara? Você quer a Paz? O que você faz por ela? O roteiro está aí, dado por um povo milenar, que nunca é ouvido, que é chamado pejorativamente de “selvagem”, por nós, os “civilizados”. Depende de nós. Depende de você. Depende de mim.
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Feliz Ano Novo. Um 2008 com muita PAZ para vocês. Sete vezes Paz.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Amor de índio”, bela canção de Beto Guedes e Ronaldo Bastos na voz de sonho de Milton Nascimento.

domingo, dezembro 23, 2007

Tenha um Feliz Natal

Vídeo com 2min34seg

Quando eu era bem moleque, fui assistir a um filme sobre Buda, que estava passando no Cine Padre Nóbrega, no bairro da Piedade, onde eu costumava ficar na casa de meus tios. Eu quase não lembro nada desde filme. Somente de uma cena. Numa cidade, todos estavam alvoroçados com a visita que Sidharta Gautama, o Buda, faria em breve e tratavam de comprar presentes, oferendas e candeeiros para iluminá-lo onde ele fosse ficar. Uma velhinha pedia esmolas para comprar a lâmpada e o óleo necessário para fazer também a sua oferenda. Ninguém lhe dava nem uma moedinha. Ela vendeu o xale com que se protegia do frio. Era uma peça puída, ela não conseguiu muito por ele. Somente o necessário para um pequeno e gasto candeeiro com um pouquinho de óleo.
Eis que o Buda chegou e ficou num lugar alto. As pessoas espalharam seus presentes em redor dele. Muitas, muitas lâmpadas de ouro, enormes, gordas de óleo. E num cantinho, a velhinha colocou a sua modesta oferenda.
Um espírito maligno invejava a acolhida que o Buda vinha tendo e, tomado pela inveja, fez um aceno com a mão, criando um vendaval que apagou todos os candeeiros. Menos um. Por mais que ele dirigisse ventos fortíssimos na direção daquela pequena lâmpada, ela permanecia acesa. Ele, tomado pela fúria, desistiu. Era o candeeiro da velhinha.
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Mais um Natal se aproxima. Os corredores dos shoppings estão apinhados de gente, todos empenhados na compra de presentes para amigos e familiares. O comércio se assanha. “Natal é tempo de dar presentes”, diz um antigo jingle.
Reza o Novo Testamento, que após o nascimento de Jesus, uns magos foram adorá-lo e lhe levar presentes. No Evangelho segundo Mateus, não há citação do número deles, nem de seus nomes, cargos e procedência. Tudo o que veio a seguir: seus nomes Gaspar(cujo nome significa: “Aquele que vai inspecionar”), Belchior (também chamado de Melchior: “Meu Rei é luz”) e Baltazar (“Deus manifesta o Rei”), sua raça, a sua condição de reis, é tudo lenda. Não há nenhum documento que ateste nada sobre eles, só suposições. O Evangelho diz somente “uns magos”.
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Pois foram eles que iniciaram o procedimento de dar presentes por ocasião do Natal. Nas representações dos presépios, eles estão ao redor da manjedoura, no estábulo onde Mestre Jesus nasceu. E aí vai mais uma incorreção. Eles não chegaram logo depois do nascimento do Menino Messias, somente após alguns dias. Tanto que considerou-se como o 6 de janeiro o dia consagrado a eles. Há diversos países que deixam a troca de presentes para este dia. E os pais não se vestem de Papai Noel, mas de Magos, conforme a tradição.
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Com o tempo, Natal virou sinônimo de comprar presentes, de pedir dinheiro para a caixinha, comprar uma lauta ceia, encharcar a caveira de vinho, cerveja e outros gorós ao som de músicas tocadas por harpas. Recentemente, estas melodias foram substituídas por pagodes, funks e hip-hops.
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“A festa máxima da Cristandade”, como diz a Igreja Católica, deveria ser um momento de reflexão, de extremo simbolismo. Os próprios presentes dos Magos são extremamente simbólicos. Dizem as Escrituras que eles levaram ouro, incenso e mirra. Ora, e por quê? Por que não levaram roupas, jóias, cavalos de raça, um laptop, um ipod e um mp3 de última geração para o Menino Deus?
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O ouro era um presente dado a reis; e, como eram magos, talvez até alquimistas, sabe-se que desde a época dos faraós este metal precioso também era usado como componente de remédios tonificantes. O incenso era uma resina vegetal extremamente aromática, bastante agradável e muito utilizada em oferendas a divindades, para fazer as orações chegarem aos céus envoltas em perfume prazeroso. A mirra é igualmente uma resina vegetal, com propriedades analgésicas e era usada como ungüento no procedimento de embalsamamento de mortos.
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Simbolicamente, temos um presente nobre que se dava a um rei, um outro que se oferecia a um deus e outro ainda que representava a imortalidade e a atenuação de sofrimentos físicos.
Os atuais presentes trocados no Natal têm o objetivo de ser “uma lembrancinha, não repara, não”.
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Para as crianças, de forma geral, é o momento de se conseguir aquele tão sonhado bem material. É bonito vê-los, com os olhinhos brilhantes, na manhã do dia 25, desembrulhando seus pacotes. Elas acreditam naquele velhinho de barbas brancas, vestido de vermelho e branco, cuja imagem foi criada pelo ilustrador norte-americano Thomas Nast, em 1866, para o livro “Santa Claus and his works” e erroneamente com a primazia atribuída a uma campanha da Coca-Cola anos mais tarde.
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Em metade do mundo, o Natal é festa de inverno. Com muita neve, lareiras, chaminés e comidas de tempo frio. Na outra metade, o tempo é quente, mas a simbologia dos países do Hemisfério Norte prevalece. Se não há pinheirinho coberto de neve, providencia-se uma boa imitação artificial coberta de algodão.
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Recentemente, eu recebi pela Internet um texto em que dizia que o aniversariante via todos comemorarem seu aniversário, mas não recebia convite para a festa. Ele, na porta de uma casa, via todos trocando presentes, mas ninguém O percebendo e lembrando de dar um presente a Ele.
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E eu me recordo da velhinha do filme, que não deu só um presente: fez um imenso sacrifício. Doou muito de si para aquele em quem acreditava e confiava. Nossos presentes, são “lembrancinhas”. De forma geral, não tem nenhum sacrifício envolvido. Buda, Jesus ou qualquer outro nome de divindade que acreditamos se comprazem com gestos em que mais do que o nosso bolso estejam envolvidos.
O que você pode dar de presente para o aniversariante deste Natal?
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(meu presépio)
Aproveito a ocasião e desejo a todos os queridos amigos que me alegram o coração vindo aqui, um Natal de Paz, com pensamentos felizes, com muita Saúde, nosso bem maior. Que o aniversariante esteja ceando com todos vocês e se alegrando com os presentes que vocês Lhe deram. E que este Novo Ano traga bênçãos sem fim, vindas do Céu, conforme o nosso merecimento. Que o amor de Deus e a Caridade emanada pelo Consolador Espírito Santo estejam com todos. Hoje e sempre.
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você assiste a Judy Garland cantando “Have Yourself a Merry Little Christmas”. Meu presente de Natal para vocês, queridos amigos.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Inflando o volume da bolsa escrotal



Alguém aí ainda tem paciência para o assunto CPMF? Ou este tema já inflou o volume do aparato testicular de todos nós? Também acho que já encheu o saco. Um governo de mierda, com uma base parlamentar de fezes encontra a hipocrisia de uma oposição de bosta. O resultado só podia ser o material orgânico expelido após a digestão pelo canal terminal do intestino.
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Bem, a nossa política (?) e o nosso governo (???) não se constituem em antigas ternuras, logo, o que este assunto está fazendo aqui neste blog temático? Eu explico.
Acompanhando, enojado, essa palhaçada toda, me lembrei de dois ditos populares que combinam com esta história. E como, acidentalmente, sei a explicação para as duas frases, isso é um trabalho para a seção: “A origem das expressões que utilizamos e que não sabíamos de onde vinham”. Pois então...Para o alto e avante!
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Comecemos pela primeira:

Gente de meia-tigela

Originalmente, significa pessoas desclassificadas, incompetentes, chinfrins... assim como...huum, digamos... alguns políticos do Congresso brasileiro. No entanto, essa expressão veio de Portugal, lá do tempo de vovó donzela.
Pois é. Naquele tempo, entre a moçada que trabalhava nos palácios, havia uma certa hierarquia até na hora de comer. Alguns serviçais, por trabalharem há mais tempo e até pelo tipo de serviço que desempenhavam, recebiam do mordomo-mór e do veador (ao dicionário, gente!) uma ração melhor. Os novatos no serviço, além de não terem direito à moradia, sofriam discriminações e gozações dos mais veteranos e ainda tinham que se contentar com meia ração na tigela. Os verdadeiro fidalgos (palavra reducionista para “filho d’algo”, ou seja, alguém importante, de família nobre) costumavam quebrar tigelas em ocasiões festivas - mais ou menos como os gregos fazem com pratos. Mas ai desses serviçais se quebrassem suas tigelinhas! Teriam que comer na mão ou no chão. E ainda tinham que aturar os mais antigos os chamando de “fidalgos de meia-tigela”.
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A outra expressão que quero trazer hoje é:

O fim da picada.


O atual significado disso é algo absurdo, um desastre absoluto, que traz um enorme desgosto. Assim como... huum, deixa ver... as votações no Congresso brasileiro.
Mas vamos à historinha que originou a expressão.
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Picada é uma trilha feita no mato, geralmente a golpes de facão. Quando uma pessoa se embrenha num matagal, abrindo uma picada, quem quiser encontrá-la é só seguir a trilha aberta que vai chegar até ele. Mas, se chegar ao fim da picada e não encontrá-lo, êpa! tem-se uma situação de perigo, pois o quê ou quem o atacou pode atacar quem chegou no fim da linha. Logo, chegar no fim da picada e não encontrar ninguém, é sinal de que está sem saída e em apuros.
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Entenderam agora o motivo de eu ter ligado as duas expressões ao momento político que vivemos? E aí? Tem a ver ou não? Espero não ter enchido o sac...quer dizer, inflado o volume da bolsa escrotal de ninguém.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o “Tema do Bozo”. Já que virou palhaçada...

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Em Busca do Ouro


Sabe aquele dia em que a gente se sente explorado, com um chefe que parece o tocador de tambor do navio do Ben-Hur, fazendo a marcação e ditando o ritmo, gritando: “remem! remem!”? E a gente se sente infeliz, achando que ninguém no mundo sofre como nós, não é? E quando a gente diz: “hoje, trabalhei feito um escravo!”?
Acreditem. Estamos reclamando de barriga cheia. No tempo dos escravos mesmo, os de verdade, o couro comia literalmente. A coisa era preta. E dura. Com trocadilho.
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Querem conhecer um exemplo? Afivelem o cinto, meninos e meninas, que o trem da História vai acelerar. Está na hora de mais uma seção: “A História tem cada história!”
Hoje falaremos da vida dos negros escravos, no Século XVIII, em pleno ciclo do ouro, na capitania das Minas Geraes (se escrevia assim).
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A exploração de ouro na época poderia se dar de duas formas: pela procura com batéia - aquela espécie de bacia de metal - na beira dos rios, onde o ouro aparecia em pepitas, ou cavoucando os intestinos da terra, a procura de veios em túneis e cavernas. Da primeira forma, não vamos falar, pois é por demais conhecida. É na segunda forma que descobri novidades interessantes.
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Nas minhas férias deste ano, quando fui correr as cidades históricas mineiras, estive em Vila Rica, quer dizer, em Ouro Preto, onde um guia me levou para conhecer uma antiga mina do Século XVIII, a Santa Rita. Lá, conheci um outro guia sensacional, chamado Jefferson.

Um sujeito super-mega simpático, vestido com a camisa do Internacional, embora fosse torcedor do Atlético Mineiro, e que adorava ficar sacaneando o meu Mengão, mesmo quando eu ameaçava colocá-lo no tronco e arrancar seus bagos com um alicate de unha cego. Mas como sabia de História o Jefferson! Como também gosto de História (não sei se vocês já perceberam...), fizemos instantânea camaradagem, trocando várias informações. Um cara 1000% o Jefferson!
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Mas vamos às coisas que ele contou, misturadas com algumas que eu já sabia.
Já me chamou a atenção o fato daquele buracão não ter vigas escorando, que nem a gente vê nas minas de filme faroeste americano. Ele me disse que os túneis eram escavados por chineses de Macau ou de Goa (colônias portuguesas na Ásia), que conheciam a tecnologia necessária para abrir o buraco de forma que ele não desabasse, mesmo tendo vários metros.

E o interessante é que a forma do túnel favorecia pessoas baixas, como os chineses, com paredes laterais abauladas, levemente curvas, justas para pessoas passarem com baldes nas mãos. (parêntesis: fui em várias igrejas em Ouro Preto, Sabará, Mariana...em que há painéis com cenas chinesas! E até anjinhos com olhinhos puxados. A igreja de Nossa Senhora do Ó, de Sabará, parece um templo de kung-fu, cheia de dragões, com painéis pintados em vermelho e dourado...Tinha chinês para dedéu na antiga Minas Gerais!)
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Outra curiosidade, segundo o Jefferson me contou: os famosos negros minas tinham este nome por já trabalharem na busca de ouro nas minas da África do Sul e arredores. Era importados pelos portugueses para o trabalho desse lado do Atlântico. Bem, eu tinha a informação que os negros mina vinham da feitoria de São Jorge da Mina, no atual Gana, capturados no Togo, no Benin e na Nigéria. Mas deixa o Jefferson falar.

Os escravos destinados à reprodução eram diametralmente diferentes dos famosos “mandingos” (negros da tribo Mandika, da África Ocidental, conhecidos por serem altos e fortes. Nada a ver com o atual ator de filme pornô, que se apelidou de “Mandingo”, e que tem 36cm de pemba), altamente valorizados no período escravocrata norte-americano como reprodutores. Para trabalhar nas minas, o ideal era negros baixos, atarracados, de pernas arqueadas, que nem caubói que anda nos filmes naquela pose “roubaram meu cavalo”, sabe como é? Estes eram os reprodutores valorizados para gerarem novos negros que fossem trabalhar nas minas. Se um negro, ficasse grande demais, se tivesse um físico de Mike Tyson, sabem o que acontecia com ele? O seu dono pegava duas pedras, colocava os penduricalhos do rapaz em uma delas e...CRASH!... Batia uma pedra na outra. Com os bagos do sujeito entre elas. Sim, amigos. Os caras castravam os negros altos e fortes. Por que? Ora, para reduzir a agressividade e principalmente para eles não se reproduzirem, gerando outros negros altos e fortes, que não seriam de serventia para o trabalho nas minas.
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Enquanto os rapazes que estão lendo isso fazem cara de dor e automaticamente colocam as mãos nas jóias da família, vamos seguir adiante. Logo no início do túnel, havia um buraco na parede da mina. O nome deste buraco era “bucho”. Ali, deveria ser depositado todo o ouro apurado na escavação. Tinha um escravo que, de tempos em tempos, ia até o bucho, retirava o conteúdo e levava para o feitor ver e encaminhar para pesagem. Ai dos escravos cavoucadores se o bucho não estivesse cheio! Primeiro, tomavam uma coça. Depois ficavam sem comida. E terceiro, ficavam proibidos de sair do túnel até encherem o bucho, mesmo se estivessem com o próprio bucho vazio, sem comida. Talvez vocês já tenham ouvido a expressão: “encheu o bucho de dinheiro”. Pois é. Vem deste tempo. Se bem que hoje, dizem: “encheu o rabo de dinheiro”. Bem, cada um enche o que quiser e ninguém tem nada com isso, não é mesmo?...
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As crianças negras trabalhavam nas minas. Por conta de seu tamanho e agilidade, eles eram fundamentais naquela exploração. Já as mulheres não podiam nem botar a cabecinha na entrada do túnel. Diziam que dava azar e poderia haver desgraça.
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Dentro da mina que visitei, até hoje ainda é possível encontrar poeiras na cor vermelho-ocre, cinza-prata e dourada. Especialmente esta última, era muito usada para revestir altares e imagens. Parece ouro, mas não é... Tem muita igreja que se diz coberta de ouro, mas que na verdade, está coberta de pigmento dourado.
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A expectativa de vida para estes escravos era de uns cinco, dez anos de trabalho, no máximo. Os coitados ficavam sem ver a luz do sol, trabalhando no escuro, sob a luz de lampiões, recebendo poeira na cara, respirando e encharcando os pulmões de pó de sílica e outros resíduos.
Muitos morriam dentro do próprio túnel. Não são poucas as histórias de assombração envolvendo estas minas, hoje abandonadas. Na que eu visitei, por exemplo, dizem que tem um baita negão que aparece de vez em quando, apavorando a galera. Tem gente que diz já ter sentido um bafo no cangote, mãos frias segurando os ombros e unhas dos pés arranhando os calcanhares. Quer dizer, além de fantasmagórico o bicho é tarado! Vou logo avisando: eu não vi nada, nem senti nada! Não teve fantasma quando lá estive!
Aliás, antes do Jefferson contar esta história, ele quis que eu entrasse numa das galerias da mina, e, para que eu percebesse como era o trabalho naquela época, ele pediu para apagar a luz dos túneis. Caraco! Fiquei sozinho naquele escuraço! Ai, que mêda! Se ele tivesse me falado do tal negão poltergeist eu nem tinha topado ficar no escuro!
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Em Vila Rica havia muitas destas minas. Mesmo depois que o ciclo do ouro se esgotou, os túneis ficaram lá, como testemunhas de uma era de espoliação e exploração. Hoje quase não tem mais daqueles túneis. Sabem o por quê? Acontece que havia passagens entre as minas e as casas dos senhores. Em tempos modernos, os maridos saíam para o trabalho e deixavam as esposas em casa, cuidando do lar. Algumas se sentiam solitárias e acabavam aceitando a corte de algum “Ricardão”. Pois é. Estavam os dois lá, no bem bão, quando o marido apontava na entrada do quintal. A cena clássica: “Ih! Meu marido!”; “Raios! E agora? O que é que eu faço?” “Foge pelo túnel da mina. Tem um alçapão aqui.”
Quando o marido descobria que a mulher entregava a pepita para outro mineiro, no maior assanhamento, fechava o buraco. O da mina, quero dizer.
Com isso, muitos túneis originados do Século XVIII, que poderiam servir de estudos e pesquisas históricas, foram soterrados para evitar que continuasse a “dar ladrão” em casa.
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Mas o que sobrou, dá para a gente ver como era sacrificada a vida dos escravos naquela época.
Pois é, meus caros. Da próxima vez que vocês reclamarem da vida, de seus patrões, de seus chefes, lembrem-se dos pobres negros mineiros, no Século XVIII. Dizer que trabalha que nem um “escravo”, numa mesa, perto da janela, com ar condicionado e água gelada é mole. Se você que me lê, tivesse nascido com um pouco mais de melanina na pele, e fosse trazido da África, saberia o que é dar duro. Sem trocadilho.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o tema de abertura da novela “Escrava Isaura”. Lerêêêêê...Lerê...

domingo, dezembro 09, 2007

Police para quem precisa de Police


Pois é, meus caros.
Eu fui no show do The Police, que, de certa forma, é uma de minhas antigas ternuras.
Para quem não sabe de quem se trata, o The Police é uma banda pré-jurássica, que fazia muito sucesso no tempo em que Matusalém era escoteiro e eu assistia ao Teatrinho Trol na TV Tupi. Eles são tão antigos que eles enviavam “Message in a bottle” ao invés de usar computador.
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Feitas as apresentações, quero dizer que o show foi FANTÁSTICO! Dava gosto ver aquele mar de gente no Maraca, cantando e pulando ao som de “Roxane”, “Every breath you take”, “Wrapped around your finger”. Nessa última, então, as pessoas ficaram hipnotizadas, envolvidas em torno dos dedos do baterista Stewart Coppeland (tem um trocadilho aí, mas só os versados na língua de Shakespeare, Sting e dos moradores da Barra da Tijuca vão captar).
Já era para eu tê-los assistido no show que fizeram em 1982. Mas eles deram o azar de fazer o show no mesmo dia e hora que um importante jogo do Mengão. Daí...
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Os caras são incríveis. Todos três são instrumentistas talentosíssimos. Andy Summers na guitarra, arrebenta. O citado Coppeland na bateria, é um dos maiores que eu já vi tocar. E do Sting, com sua pulsação marcante no baixo, aliado ao gogó arrepiante e ao imenso carisma que ele tem, nem preciso falar. O cara falou em português e a galera foi ao delírio!
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A abertura do show foi feita pelos Paralamas do Sucesso, que durante muito tempo foram considerados “o The Police brasileiro”. Herbert Vianna estava particularmente inspirado. Os caras chegaram com tudo e arrepiaram a moçada desde o início com “Vital e sua moto”.
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Mas exatamente às 21h30min, entraram os anfitriões. E a platéia foi à loucura. Parecia um gol do Flamengo, marcado pelo Obina, contra o time bacalhoso e sebento.
Fui sozinho, como em outros grandes e memoráveis shows no Maracanã (Frank Sinatra, Paul McCartney...). Mas logo me enturmei com uma família que estava sentada ao meu lado. Não sei quantas pessoas tinham lá. O Sting falou em 70 mil. Eu acho que tinha mais. De qualquer forma, foi uma beleza ver aquela multidão na paz, sem nenhuma confusão, só querendo se divertir e gritar, a plenos pulmões:
“Every little thing she does is Magic”...
E cada nota que a banda tocava era magia, mesmo.
M.S.
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Eu tenho muito a agradecer aos meus muitos amigos da comunidade blogueira pela ajuda na divulgação do meu livro. Nem tenho palavras para expressar a minha gratidão e o meu carinho por vocês. Mas registro aqui o meu muito, muito obrigado.
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Eu quero agradecer, também, do fundo do coração aos prêmios e selos que deram a este modesto blog. Quando eu lembro que comecei a escrever aqui há pouco mais de dois anos e ninguém me lia e de repente, olho para o contador e vejo mais de 115 mil visitas, miro a minha prateleira de prêmios cheia do carinho de vocês, juro, dá vontade de chorar de felicidade.
Como diria aquele antigo cantor e censor de livros: “são tantas emoções!”
Bem, vamos lá. Recebi o prêmio “Blog de Elite” da Erika e da Renatinha, duas mineiras que moram no meu coração de frente para o pico do Itacolomi. Então tenho um blog de elite, heim... Já sinto vontade de tacar um saco plástico na cabeça de um meliante!
Da minha outra mineirinha amiga, Luma, recebi o selo “Blog Cabeça”. Uau! Vindo de um dos melhores blogs latino-americanos (não sou eu quem diz, é o povo!). Eu fico que nem pinto no lixo de tanta felicidade.
Bem, diz o post-corrente que eu devo indicar outros para receberem estas comendas.
Pois eu indico TODOS os linkados no Outras Palavras, aí ao lado. São todos maravilhosos, de Elite e que fazem a minha cabeça, com certeza.
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A talentosa blogueira Maristela pede para a gente divulgar este selo sobre o drama da Flavia, vítima de um ralo de piscina. Um pedido da Maristela é uma ordem. Aí está. Vai ter blogagem coletiva. Quem quiser aderir, aguarde o dia 17 de dezembro e participe.

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Nesta semana tem texto meu no Playground dos Dinossauros. Eu falo sobre as famosas revistinhas de sacanagem, que encantaram gerações de adolescentes.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Wrapped around your finger”, um dos pontos altos do show do Police ontem.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Entrevista no Jô - Bastidores


Eu fiquei muito feliz com o resultado da minha entrevista no Programa do Jô. Mas confesso que quando acabou a gravação, eu estava me sentindo agoniado. Acreditava que não tinha ficado bom, que eu deixara de falar coisas importantes, que não contara uma história mais engraçada (quem leu o livro sabe que lá tem trocentas!)...
Vi o programa na sexta achando que eu iria me decepcionar.
Não, até que ficou legal.
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Quero revelar aqui o meu agradecimento à equipe de produção do Programa. Eles são gentilíssimos, simpaticíssimos, profissionalíssimos... Um show de competência! Do motorista Benê, que me pegou no aeroporto no carro mais luxuoso que andei na vida, passando pelo camareiro, maquiador, assistentes de produção até a equipe de jornalistas... Nota DEZ MIL para eles. Eu e minha namorada só temos a agradecer.
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O próprio Jô foi muito gentil conosco. Eu estava achando que ele ficaria falando mais que eu e não foi o caso. Até topou ser “dirigido” por mim na brincadeira sobre as caras e bocas que se fazia nos tempos do Popularíssimo. Tá certo, ele me deu uma sacaneada básica no caso da foto da platéia. Eu fui induzido ao erro pela jornalista da produção que viu a foto e disse: “Marco, não tem mulher nessa foto!”. Eu dei uma olhada assim por cima e concordei. Se tivesse feito o que ele fez não teria pago aquele micão. Mas não me importei. Achei engraçado, E no final, o Jô estava fazendo o que eu queria que fizesse...
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No término, o Max Nunes (assessor especial do Jô) foi me esperar na saída do estúdio para me dar um abraço e agradecer pela entrevista. Imagina! Eu é que tinha que agradecê-lo muito pela força que ele me deu!
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Eu não fiquei nervoso. Já tenho 20 anos de carreira como ator, o que me deixa meio cascudo para enfrentar situações de exposição. Tinha planejado um roteiro mental para a entrevista, com base na conversa que eu tive antes com uma jornalista da produção. Entretanto, o Jô nem olhou para o papel que estava sobre a mesa dele. A entrevista seguiu por outro caminho.

Ainda bem que ele perguntou sobre como se pode comprar o livro. Eu estava esperando por isso. Estava tão preocupado em dizer direitinho o nome das livrarias que estão me apoiando que esqueci de dizer que o livro pode ser comprado na minha mão pelo e-Mail popularissimo@gmail ou pelo blog Antigas Ternuras. Quando me dei conta disso, fiquei com vontade de tomar formicida com groselha.
Deveria ter falado que além de biografar o Brandão eu descrevo minuciosamente a época em que ele viveu e que dou muitas informações curiosas sobre aquele tempo.
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De qualquer forma, acho que o recado foi dado. Vem aí outros programas de TV onde eu vou aparecer (no ano que vem, já tem um CERTO, que vai me dar mais tempo e espaço que o do Jô. Aguardem), e aí eu terei nova chance de vender o meu pirão.
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Eu quero colocar trechos da entrevista no You Tube. Claro que eu não tenho a menor idéia de como fazer isso. Alguém aí se habilita a me ajudar?
De qualquer forma, quem quiser ver a entrevista, ela está em duas partes nos vídeos do site do programa. Basta clicar primeiro Aqui. E depois Aqui.
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Aos amigos que ficaram acordados até uma e cacetada da manhã, meu muito obrigado! Eu próprio, estava chamando urubu de canário de tanto sono...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Harlem Airshaft, com a super dupla Duke Ellington e Count Bassie.
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Queridos amigos: tive problemas com placa de rede, roteador, essas coisas tão interessantes... Por isto andei fora do ar neste final de semana. Gradativamente, vou visitar vocês, com muito prazer.