quinta-feira, março 27, 2008

15cm de fama


Tinha um antigo programa de Rádio, chamado “O Sombra”, em cujo prefixo se ouvia uma voz cavernosa dizendo: “Quem sabe o mal que se esconde no coração dos homens? O Sombra sabe... Rá! Rá! Rá! Rá! Rá!...” Pois bem. O dono daquela voz rascante podia até conhecer o coração, mas a cabeça dos seres humanos, acho que só Deus sabe. E mais: tenho certeza de que mente e coração dos exibicionistas sexuais nem o Todo Poderoso consegue entender.
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No carnaval passado, jornais, revistas, Rádio e TV, noticiaram que os foliões, na maior cara de pau, urinavam pelas ruas, encostados em árvores, nos carros, bancas de jornal. Ao menor sinal de bexiga cheia, os foliões botavam o pierrot pra fora e faziam jorrar o subproduto de muita cerveja ingerida.
Eu conheço quase todos os estados brasileiros e posso afiançar que, além dos cariocas, somente na Bahia eu vi homens urinando nas vias públicas. A diferença nas duas atitudes é singela: aqui no Rio, os homens procuram um cantinho. Na terra de Caymmi e Jorge Amado, o cara tira o acarajé pra fora e mija voltado pra rua, no maior exibicionismo, que já faz parte do DNA dos baianos.
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Minha mãe me contou que quando ela era mocinha e fazia o curso ginasial, tinha um sujeito famoso como “o Velho do Casaco”, que ficava no Largo da Cancela, esperando o bonde das estudantes. Ele trajava um sobretudo longo, igual àqueles de detetive particular de filme policial, só que sem cinto. Quando o bonde com as moças passava, ele abria o casaco e...oh!... Ninguém em casa!... Ficava ali, balançando aquelas pelancas emurchecidas e sorrindo feliz. Minha mãe conta que ela e as amigas gritavam e desviavam o rosto. Mas tinha aquela que uivava de alegria e olhava tudinho! Só não gritava “urrúúúú!” por que este berro primal ainda não tinha sido inventado.
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Entre as que francamente desaprovam este comportamento e as que ululam de satisfação, existe as que se posicionam criticamente. Uma atriz e diretora com quem trabalhei em trocentas peças, um dia chegou num de nossos ensaios dizendo que estava andando pela rua, quando um homem começou a caminhar ao lado dela, fazendo “psiu!”. Quando ela foi olhar pro cara, viu que ele estava com o bigorrilho de fora e sorrindo pra ela. O rapaz sorria, não o bigorrilho. A atriz falou para o taradão:
- Ih, moço esse troço mole aí... Eu, heim! Não quero, não!
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Os exibicionistas gostam mesmo de platéia. Um professor meu da faculdade, o Teodoro (o Moacy Cirne, que também foi meu professor na UFF, conhece ele), uma vez me contou que trabalhava no antigo Diário Carioca, cuja redação ficava na Av. Presidente Vargas, mais ou menos onde hoje é a sede do Metrô Rio. Segundo ele, ao lado da redação existia uma vila de casas. Em uma delas, religiosamente, todos os dias na hora do almoço, chegava um português, levava a esposa para o quarto, abria a janela que dava para a redação, tirava a roupa, exibindo uma colossal e ajumentada pemba, e executava a mulher, que gemia, alucinada. Os jornalistas na janela iam ao delírio, alguns chegavam a narrar a.. digamos... disputa como se fosse uma partida de futebol, caprichando no “atenção, vai marcar, entra com bola e tudo e é goooollll!!!”
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Qual a explicação para esse desejo de exibir a genitália? Sim, é um desvio patológico, um doente que deveria ser detido e tratado. Eu contei os episódios de maneira jocosa, mas já soube de menina traumatizada, de ter que fazer tratamento psicológico, por conta de um desequilibrado que ficou exibindo seus órgãos sexuais pra ela. Se fosse um fenômeno brasileiro, eu até arriscaria as nossas origens índias e africanas, que andavam nus ou seminus. Mas o exibicionista transcende nacionalidade e raça. Em todo lugar, em qualquer tempo, sempre houve um demente que impunha aos outros a sua doença. Parafraseando Andy Warhol, tem muita gente aí em busca de seus 15cm de fama. Às vezes, nem isso...
M.S.
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Os post-corrente prosseguem, dando selos, prêmios e carinhos. Chegou o momento de agradecer aos que lembraram desse velho guarda-louças de antigas emoções para dar um selinho. Recebo e passo o post-corrente adiante, como é praxe nesses casos.
Recebi da querida Dominique o selo “Sensações Alucinógenas”.

E o repasso para:
- Isabela, do Mente Inquieta">
- Zeca, do Janelas do Zeca
- J.F., do Blog do J.F.
- a turma do Playground dos Dinossauros
- Claudinha, do Transmimentos de Pensações

Da querida Luminha, recebi o selo “Award Blogs Favoritos de 2007”, com que agracio:
- o DO, do Ramsés do Século XXI
- Babi Soler, do De tudo e tal
- Dominique, do Dominus
- Bruxinhachellot, do Labirinto do Sol e da Lua
- Mimi, do Mente quem diz

Da querida Babi Soler, recebi o selo Esse Blog Merece ser Premiado Sim! que agora entrego para:
- Marcos, do Simpatia e Esculacho
- Janaina, do Alfarrábio
- Luciana, do EEEPA!
- Olga (Guiga), do A Sul
- Itiro, do Gaijin4ever
Agora é com vocês, amigos. Copiem o selo e repassem o post-corrente para seus escolhidos.
E... Vocês sabem:
Carpe Diem. Aproveitem o dia e a vida.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Zé da Velha e o seu “Trombone Atrevido” (ré, ré, ré... eita, que hoje eu estou saliente de dar nojo!)

sexta-feira, março 21, 2008

Pelamor de Deus!



Tem um samba do Almir Guineto, da década de 80, cuja letra diz assim:

Os habitantes da Terra estão abusando
Ao nosso Supremo Divino sobrecarregando
Fazendo mil besteiras
E o mal sem ter motivo
E só precisam de Deus quando estão em perigo
"Deus lhe pague", "Deus lhe guie", "Deus lhe abençoe"
Deus é o nosso Pai, o nosso Guia
Tudo que se faz na Terra, se coloca Deus no meio
Deus já deve estar de saco cheio!


Vou avisando que este post é pra lá de polêmico. Que Deus me ajude!
Um antigo dirigente europeu disse, certa vez: “Hoje acredito que estou agindo de acordo com a vontade do Criador Todo-Poderoso: ao me defender do judeu, estou lutando pela obra do Senhor”. Um jogador de futebol disse, ao fazer um gol ilegal: “Foi a mão dei Deus!”. Um deputado disse, em depoimento, que “Deus o tinha ajudado a ganhar na loteria 221 vezes”. A frase “Fé em Deus” é utilizada como cumprimento entre um certo grupo de comerciantes.

Ou seja, Deus é usado em diversas situações como explicação, como desculpa, como base para milhares de argumentações. Para muitos, Deus é Amor. Para outros tantos, Deus é justificativa para matar. E ao longo da História, quantos morreram em nome de Deus! O Deus judaico-cristão da maior religião do planeta, em tempos antigos era acometido por “ira”, “se vingava”, costumava “perder a paciência” com os seres que criara à sua imagem e semelhança. Basta dar uma olhada no Antigo Testamento e verificar a origem de expressões como “Deus castiga!”, “a ira de Deus” etc. Segundo consta, a Bíblia é a “Palavra de Deus”, foi escrita por homens segundo a Sua inspiração e orientação.
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Lá, estão escritos os “Dez Mandamentos” de Deus. Na verdade, lendo os livros de Gênesis, Êxodus, Levítico, Números e Deuteronômio, os primeiros cinco que compõem o Pentateuco e foram escritos, segundo a tradição cristã, por Moisés, vemos que existem muito mais mandamentos. Não contei, não, mas deve ter pra lá de 500! A imensa maioria caducou e não dá para ser levada a sério, ou alguém ainda quer saber o que se deve fazer para sacrificar um animal a Deus? Tem alguns mandamentos que devem ser seguidos a risca para que Deus se agrade de um sacrifício.
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Por falar nos famosos 10 mandamentos, recentemente eu vi um excelente documentário no canal Discovery esclarecendo sobre cada um deles. Excelente! Vocês sabiam que o quinto mandamento foi feito como uma espécie de INSS para pais e mães velhinhos? Nos tempos bíblicos, o filho mais velho herdava as propriedades da família. A mãe não ficava com nada. E o pai, quando envelhecia e não conseguia trabalhar, ficava à mercê dos filhos. Daí, tratou-se de colocar um fundo de previdência para os pais, para que os filhos cuidassem deles e mantivessem a célula central da sociedade: a família. Veio então o “Honrarás teu pai e tua mãe”.
Aliás, outra curiosidade: as duas primeiras tábuas com os Dez Mandamentos foram quebradas por Moisés, quando ele voltou e viu o povo adorando o Bezerro de Ouro. Depois de dar um esporro geral, ele subiu de novo a montanha e pediu uma segunda via para Deus. Foi essa que colocaram na Arca da Aliança.
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Mas eu queria chamar a atenção para o segundo mandamento, o que diz: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”. Tem versões da Bíblia que acrescentam um complemento a este mandamento: “Não adora-las-á, nem prestar-lhes-á culto, por que eu, Jeová, teu Deus, sou Deus zeloso ["Deus que exige devoção exclusiva" ou "Deus ciumento"; em hebraico El qan.ná e em grego Theós zelotes], e que puno o erro dos pais nos filhos até sobre a terceira geração e sobre a quarta geração dos que me odeiam, mas que uso de benevolência para com até a milésima geração dos que me amam e que guardam os meus mandamentos”.
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Xiiii... Aí fedeu! Complicou a vida dos católicos! Pela quantidade de imagem de santos que tem as igrejas, olha, não sei, não... Mas se as palavras da Bíblia estão valendo... Deus vai cair matando sobre adoradores de imagens até os seus bisnetos!
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Bem... Com a palavra sobre o assunto, a Igreja Católica. Vi e ouvi um padre falando sobre o mandamento: “Nós não adoramos as imagens. Elas são como uma fotografia, uma lembrança dos santos. Ao rezarmos diante de uma imagem, na verdade, estamos rezando para o santo que ela simboliza”.
Sei... Entendi... Então, pelo que consta, o mandamento não está escrito com clareza, é isso? Se Deus não quisesse que se fizesse imagem de santos, bastaria ter dito que não deveria ser feita nenhuma “fotografia”, nenhuma “lembrança”... Aaah, tá... Agora ficou bem mais claro! Como ele só recomendou que não adorassem, nem fizessem imagem de nada, então está claro, claríssimo!
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Da mesma forma, o mandamento de Cristo “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” não é assim para ser levado tãããão ao pé da letra, não é? Com a Inquisição, as perseguições religiosas, a matança de judeus (mas, péraí... Jesus não era judeu? Não pregava para judeus? Não falava sobre o Judaísmo?), as guerras religiosas, o apoio à escravidão de negros, as decisões de Estados cristãos de mandar balas e bombas para cima das pessoas, isso é alguma forma de “amar o próximo”? Vai ver até é e eu não peguei o espírito da coisa.
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Mas eu não quero só discutir as religiões judaico-cristãs. Um outro ramo também tem invocado o nome de Deus para fazer umas coisas que... huuuummm... não sei se Ele aprovaria. Fui assistir ao bom filme “Os caçadores de pipas”. Não sei se o livro é baseado em fatos verídicos. Não o li. Só vi o filme. Mas, de qualquer forma, parece que ele descreve com muita semelhança o que os talibãs fizeram no Afeganistão, depois que os tomaram dos soviéticos. Carácoles! Se existe inferno, aquilo era o próprio! Verdadeiras barbaridades eram cometidas, segundo diziam, por ser “a vontade de Deus”. Tem gente que diz que nós, ocidentais, deveríamos deixar os muçulmanos pra lá, com o jeito e a cultura deles. Mas no notável livro “Sobre o Islã – A Afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as Origens do Terrorismo”, de Ali Kamel, ele assegura e demonstra cabalmente que os fundamentalistas islâmicos não querem aquela vida para eles; querem para todo mundo! E que não vão sossegar enquanto todo o mundo for seguidor do Islã na linha ortodoxa deles, em que “Deus castiga os infiéis” por qualquer coisa, como mascar chicletes, por exemplo.
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Para complicar a situação, estive lendo um texto de um estudioso, chamado Christopher Hitchens e fiquei estarrecido. Vocês sabiam que não há consenso, mesmo entre os islamitas, sobre a origem do Alcorão? Eles dizem que é um livro santo, escrito por Maomé. Não é verdade. O profeta maometano morreu em 632 da nossa era e o primeiro relato sobre a sua vida apareceu 120 anos depois e foi perdido, sendo reconstituído de memória (já pensou na fidedignidade?), duzentos anos depois. Sunitas e xiitas divergem claramente sobre quem escreveu e como o livro foi escrito. A religião islâmica só “pegou” na Arábia a partir das guerras e conquistas árabes que eram tão mirabolantes, que pareciam ter mesmo ajuda divina. Se alguém ler o livro “Deus não é grande”, de Hitchens vai saber de muita coisa estranha sobre o Islã e sobre outras religiões. A verdade é que Deus não manda matar ninguém. Quem mata é o ser humano e dá essa desculpa indigna e calhorda.
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Deus que me perdoe, mas se eu pudesse mudar de planeta e ir passar uns tempos nos anéis de Saturno, olha, eu topava! Eu estou sempre dizendo que a natureza humana é virótica, destruidora. Para cada Tereza de Calcutá tem mil Fernandinho Beira-Mar. Sob situação de tensão, o homem costuma resgatar seu passado bárbaro e aí, nem Deus segura! E muitas maldades são feitas, muitas bobagens são ditas justamente invocando o Santo Nome de Deus! Sabem aquelas frases do início do post? A primeira, foi dita por Adolf Hitler. O jogador de futebol foi o Maradona, depois de marcar um gol com a mão, fazendo tabelinha com o Todo Poderoso. O deputado “ungido” por Deus para ganhar tantas vezes é o João Alves. E são os traficantes cariocas que se cumprimentam dizendo “Fé em Deus”. Aliás, eles combinam assaltos, invasões de outros morros, enfrentamentos com a polícia dizendo este mesmo “mantra”.
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Quero dizer que eu acredito em Deus, faço orações e procuro, dentro de minhas falhas, ter um comportamento cristão. Mas olho o mundo ao meu redor e reflito sobre o quanto o Criador deve estar, com todo respeito, com o saco cheio da humanidade.
John Lennon disse numa canção que "Deus é um conceito com o qual medimos a nossa dor". Temo que, de alguma forma, Lennon tenha razão. Não por eu não acreditar nEle, mas por perceber que a pessoas só pensam verdadeiramente no Ser Altíssimo quando estão passando por algum problema. No mais, Ele seria apenas um mero pretexto.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Theme from Exodus”, peça magistral tocada por 101 Strings. Boa Páscoa para todos!

domingo, março 16, 2008

É festa! Três anos de muita ternura no coração!


Bem, amigos do Antigas Ternuras... Hoje é dia de comemorações aqui no velho guarda-louças de antigas emoções. Há exatos três anos (1096 dias para ser mais preciso), começavam aqui as nossas transmissões para o universo blogueiro. Já contei como aconteceu. Foi por acidente, como as coisas prazerosas costumam acontecer. No dia 16 de março de 2005, minha querida amiga Isabela Saes, neta de um de meus ídolos, filha e sobrinha de duas amigas que tanto prezo, me avisou que tinha aberto o (excelente) blog Mente Inquieta. “Passa lá e dá uma força”, me disse ela. Passei, li e, na hora de comentar, ela, como eu, neófita em Internet, não tinha disponibilizado os “comments” para qualquer leitor. Só para quem estava cadastrado no Blogspot. Resumo da ópera: tive que abrir um blog para poder comentar e dar uma força para a minha amiga. Foi ali, de supetão. Botei o primeiro nome que me veio à cabeça, uma citação de uma das músicas que eu tanto admiro do meu prezado Tito Madi: “Ternura Antiga”. Para ficar diferente, resolvi inverter e passar para o plural.
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Eu não conhecia praticamente ninguém do mundo blogueiro, só a própria Isabela (de cuja família sou amigo há muitos anos). Escrevia aqui para mim, sabia que no máximo era lido por meu amigo-irmão Luiz, que nunca me falta, graças ao bom Deus. De repente, nem sei como, o espaço dos comentários começou a ser preenchido. Magicamente, visitas apareciam de tudo quanto é lugar do Brasil e até de fora do país. Eu só coloquei contador no dia 25 de outubro de 2005; no momento em que coloco no ar este post já são 136.121 visitas. Bota aí mais umas mil de março a outubro e já dá para ver no que deu aquele atrapalhamento na hora de comentar no blog da Isabela.
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De lá pra cá, já foram postados 356 textos, que geraram 5.567 comentários de uma gente maravilhosa que conheci virtualmente, uns até pessoalmente como o Paulo, o Evandro, a Helena, o Marcelo, a Márcia e a Bruxinha.
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Revendo o meu arquivo, vi comentários de tanta gente que não aparece mais por aqui. Ou porque deixaram o ambiente blogueiro, ou porque não vêm mais por sei lá que motivo. Provavelmente por algo que escrevi aqui ou em comentários. Existe uma espécie de ética entre a maioria dos blogueiros: não se pode polemizar, não se pode discordar, que algumas pessoas ficam melindradas. Demorei a perceber isso, e sei que arrumei até algumas inimizades. Mesmo sabendo dessa tal “ética”, às vezes a minha natureza de virginiano sobressai e eu acabo deixando gente fazendo beicinho pra mim. Peço desculpas a todos que porventura ofendi de alguma forma. Não foi minha intenção criticá-los. Aqui, no Antigas Ternuras, se alguém discordar do que eu escrevo ou descobrir alguma imprecisão pode falar, pode escrever, aliás, eu vou adorar que me corrijam se eu estiver incorreto. Como já aconteceu trocentas vezes e eu sempre agradeci pelo toque que me deram. Não sou infalível, nem dono da verdade. Cometo erros como qualquer um. E respeito a opinião de todos, mesmo que diversa da minha.
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Nesses três anos de Antigas Ternuras, nesses 1096 dias, passei e recebi tantas informações que quase transformam este modesto blog numa versão moderna dos velhos almanaques. E eu acho isso ótimo! Eu era fascinado por almanaques! Costumava ir na farmácia e pedir um exemplar. Lia o Almanaque Capivarol, o do Biotônico Fontoura, o que me caísse nas mãos eu devorava. Os almanaques eram dirigidos especialmente aos agricultores, visto que tinham informações sobre época de plantio, fases da lua, melhor período para colher a safra...Lá, por exemplo, dizia que se plantasse milho no dia de São José (19 de março), colheria as espigas no dia de São João (24 de junho). Mas eles também continham anúncios de remédio, palavras cruzadas, cartas enigmáticas, piadinhas, e, o que eu mais gostava: informações curiosas.
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Tem gente que até hoje chama esse tipo de informação de “cultura inútil” ou “cultura de almanaque”. Modestamente, eu discordo. Cultura nunca é inútil. E ela não se gerou espontaneamente nos almanaques: alguém estudou, pesquisou e escreveu ali. Em muitos casos, uma informação dada no almanaque gerava em mim uma baita curiosidade de eu saber mais. E ia procurar nos meus “Google” da época: as enciclopédias. Ou mesmo em livros específicos. Ah, se os jovens de hoje ainda tivessem esta preocupação! Atualmente, temos à nossa disposição muitíssimo mais informação que no meu tempo de moleque. Só que muita informação é igual a nenhuma informação, pois satura as pessoas e elas acabam não se interessando ou sequer sabendo triar o que existe por aí.
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Nossa! Era tão bom quando chegava um almanaquinho e o Seu Henrique da Farmácia guardava um exemplar pra mim! Aqueles livrinhos eram minhas janelas para uma outra dimensão. Para quem não era dessa época, eis alguns exemplos de informação dos almanaques:
- Diz-se que o imperador Nero ficou profundamente entristecido com a morte de sua esposa, Popéia, que tinha morrido grávida (em decorrência de um pontapé que ele deu nela, em momento de fúria). Um dia, ele estava zanzando pelas ruas de Roma, para esquecer a sua tristeza, quando viu um rapaz, de nome Esporo, que se parecia muito com a falecida. Nero levou o rapaz para o palácio, mandou castrá-lo e se casou com ele.
- Uma elefante-marinho fêmea virgem só se deixará desvirginar por um elefante-marinho macho também virgem. Depois desse primeiro coito, ela dá para qualquer um e ele come todas que passarem na frente dele.

- O angu à baiana é um prato originário de Sergipe. O tutu à mineira foi criado em São Paulo. A caixa preta dos aviões é laranja. O Mar Vermelho é azul. Os palitos de fósforo não contém fósforo. A soda-limonada não tem soda. O papel de arroz não leva arroz na sua fabricação. O chapéu Panamá é fabricado no Equador. O banho turco foi inventado pelos romanos.
- A lata para conter alimentos foi inventada pelo comerciante inglês Peter Durand e apareceu em Londres, pela primeira vez, em 1830. O abridor de latas só foi inventado em 1860.

- Existe uma espécie de peixe, o mouthbrooder africano, cuja fêmea expele seus óvulos na água e depois vai catando um a um com a boca. O macho vai acompanhando o movimento. Ele tem pontos vermelhos em sua barbatana ventral que confundem e atraem a fêmea. Quando ela se aproxima para catá-los o macho ejacula na sua boca e acaba fertilizando ali os ovulinhos dela.

- O papa João XII freqüentava tabernas e prostíbulos e era bissexual: levava moças e moços da nobreza para a sua cama. Ele preferia caçar a sair em procissão, jogar dados em vez de rezar salmos. Nas festas de embalo que empreendia no Vaticano, ele levantava da mesa bêbado e ia para as cocheiras. Lá, entre uma mijada e outra, ele consagrava bispos, celebrava missa e até fazia brindes a Baco.
- Na Idade Média, em alguns países da Europa, o assassinato era punido com a forca. O cadáver de um suicida também era enforcado, visto que matou uma pessoa.
- Oliver Cromwell foi condenado à forca seguida de decapitação. Isso dois anos depois de morrer. E a sentença foi cumprida.

- O céu de Marte é cor-de-rosa, o de Urano é verde, o de Vênus é cor de laranja, o de Júpiter é preto.
- Em determinada tribo de índios do Brasil, na época do descobrimento, se alguém fosse capturado e condenado à morte, ele poderia passar a última noite com a filha e a esposa de seu captor.
- Os tubarões são imunes a qualquer doença, mesmo câncer. Seu sangue tem anticorpos que destroem qualquer vírus, bacilo ou bactéria.
- O que Átila, o rei dos hunos, e o papa Leão VIII têm em comum? Ambos morreram de ataque cardíaco em pleno ato sexual.
- O que Alexandre, o Grande, o rei Ricardo Coração de Leão, a rainha Cristina da Suécia, o tzar Pedro, o Grande e o papa Júlio III têm em comum? Todos eram homossexuais.

- Se alguém fosse escrever toda a história do planeta Terra, desde o seu surgimento, num único volume com mil páginas, cada página cobriria quatro milhões e meio de anos. A Idade dos Dinossauros gastaria trinta páginas. O primeiro mamífero apareceria na página 984. O homo sapiens surgiria no final da penúltima página. E tudo o que aconteceu na humanidade, desde a pintura nas cavernas até os dias de hoje deveria ser condensado numa única palavra no final do livro.
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Não é legal saber dessas coisas? Pois é. Resolvi comemorar o aniversário do Antigas Ternuras relembrando minha paixão pelos almanaques. Meu muito, muito obrigado a cada um de vocês que habitualmente vêm aqui ler meus textos e ainda me cumulam de prêmios, selinhos e carinhos. Foram três anos muito prazerosos, sem dúvida. Em diversas vezes, por conta de minhas atribuições, já pensei em dar um tempo aqui no blog. Mas acabo permanecendo, visto que adoro escrever coisas aqui e ler os textos dos meus muitos amigos virtuais. O melhor presente de aniversário deste blog é a presença de cada um de vocês, que são minhas sempre eternas ternuras.
Um brinde!

M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Where Did Our Love Go”, com Diana Ross & The Supremes. Essa também é do meu tempo. Nos bailinhos, a gente botava essa para animar a moçada. A pista fervia! Vamulá, moçada! Vamos sacudir a caveira, aê!

domingo, março 09, 2008

Mulher: Tu és divina e graciosa...


O dia 8 de março assinala o chamado Dia Internacional da Mulher. A razão da escolha deste dia é controversa. Tem gente que o atribui ao 8 de março de 1857, em New York, quando operárias da indústria têxtil fizeram protestos por melhores salários e condições satisfatórias de trabalho. Há quem atribua a esta data o famoso incêndio na fábrica de Triangle Shirtwaist, quando 129 costureiras morreram, supostamente num gesto criminoso dos patrões que queriam punir mulheres que reivindicavam melhorias. Só que este incêndio foi acidental e aconteceu em 25 de março de 1911. Tem quem garanta que a dedicação da data às mulheres seja decorrente do pedido de operárias russas, capitaneadas por Alexandra Kollontai, a Lenin para consagrar um dia à “heróica mulher trabalhadora soviética”.
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A motivação para a escolha da data importa menos que o reconhecimento de uma comemoração homenageando 50% da humanidade e que historicamente sempre foi discriminada por quase todas as culturas do mundo.
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Eu sempre digo que dia da mulher são todos os dias. Mas acho simpático e válido que se dedique um dia a quem é absolutamente fundamental para o planeta.
Sempre fui um defensor das mulheres. Eu perdi meu pai quando era bem novo, eu e meus irmãos fomos criados só por mãe e por conta disso desenvolvi valores de respeito ao belo sexo.
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Gosto de mulher. Não só por ser heterossexual pra lá de convicto. Eu gosto do gênero feminino. Tive muitas mulheres me chefiando e admito que é muito melhor receber ordens de fêmeas do que dos cuecas de plantão. Talvez até por respeitá-las muito eu tenha uma adolescência/juventude com poucas namoradas (mas muitas paixões). Era para mim muito complicado abordar a moça que fazia meu coração bater mais forte. Eu admirava profundamente os caras bons de papo, que conquistavam as meninas com aquela baba de quiabo, aquela conversinha mole. E olhem que na minha época a meninada fazia um jogo duro tremendo!
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Que mistério era para mim abordar uma criatura fêmea! Hoje, vi na TV e vejo nos arredores dos colégios por onde passo, é muito fácil para um garoto começar um rolo com uma menina. Basta chegar perto e perguntar: “aê... já foi ou já é?” Se a moça responde “já é”, os dois se embolam ali mesmo, feito duas enguias no cio. No meu tempo, a gente tinha que pedir para namorar; levava um certo tempo para ela deixar a gente colocar o braço nos ombros e sair por aí; os beijos na boca eram “castos”, se considerarmos a exploração mútua e pública de laringes que se faz atualmente. Tudo bem, vocês dirão que eu sou das antigas, tão velho que sou do tempo em que o Mar Morto não estava nem doente. Ué! Era assim mesmo! Eu não estou dizendo que no meu tempo se namorava corretamente. Pessoalmente, até preferia que no meu tempo fosse essa moleza que é hoje, mas continuo achando que a mulher se desvalorizou nestes novos costumes.
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O processo de conquista da mulher amada tem que requerer alguma dificuldade. Mesmo nas paixões instantâneas. Os desenhos, animados ou não, mostram que no tempo das cavernas o troglodita dava uma cacetada na cabeça da fêmea e a arrastava pelos cabelos para a caverna. Ninguém pode dizer com certeza se era assim mesmo. Provavelmente, não. Mas não há como negar que ao longo da História, nas sociedades fortemente patriarcais, centradas no macho, cabia e cabe ao homem cair matando pra cima das moças. (Se bem que tem menina moderninha que toma a iniciativa na maior cara de pau...).

De forma geral, no processo da conquista, cabe (ou cabia) ao homem dizer palavras agradáveis, lisonjeiras. Isso em todas as culturas. Li numa revista National Geographic que em Tonga, o processo de aproximação entre rapazes e moças tem o seguinte diálogo:
ELE - Ó grande fígado de porco assado e gordurento, vamos contemplar juntos o nascer da Lua?
ELA - Ri, ri, ri...
E a menina, piscando os longos cílios sorridentes, dá o maior mole pro cara.
Lá, fígado assado de porco é a iguaria mais apreciada. Quanto mais óleo e gordura tiver, mais apetitoso. E a gente aqui chamando as moças de “meu docinho de coco...”
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Mulheres, sou eterno fã e admirador de vocês, minhas eternas ternuras. Estou ao seu lado apoiando a sua luta contra a discriminação, a violência, o desrespeito. E faço isso não só no dia 8 de março, mas todos os dias. Hoje e sempre. Mulher, mãe, companheira, amada e amante, segundo a mitologia bíblica, vocês não saíram de nossos pés, para não serem pisadas; não saíram de nossa cabeças, para não mandarem em nós, saíram de nossa costela, do lado do coração, para andarem sempre ao nosso lado.
M.S.
(Todas as imagens deste post são de quadros de Salvador Dalí)
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Quero dedicar este post a duas mulheres: uma, a mais importante de todas na minha existência – minha mãe, que esteve por uma semana num CTI de hospital e resistiu bravamente, embora ainda esteja hospitalizada.
Outra, que travou uma luta feroz pela vida contra uma doença terrível e perdeu a batalha final – nossa amiga blogueira Jéssica, do Lugar Gostoso.
Graças a Deus, mãezinha!
Que Deus a tenha, amiga Jéssica!
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Rosa”, magistral valsa de Pixinguinha e Octavio de Moraes, na voz maravilhosa de Marisa Monte. Vivas as mulheres!

terça-feira, março 04, 2008

O passado me mandou um postal


Eu estava procurando documentos em meio a muita coisa antiga. Eis que um monóculo cai de uma caixa. Lembram daquela caixinha de plástico onde se encaixavam pequenos slides, e que víamos fechando um dos olhos e olhando por uma mini-lente? Fui ver o que o acaso estava me trazendo e senti o meu coração acelerar. Vi esta foto que ilustra o alto deste post.
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Eu devia ter uns 15, 16 anos. Esta fotografia foi tirada em um domingo, depois de termos jogado pelo SEC – Sociedade Esportiva Codajás, time em que joguei futebol em mil-novecentos-e-não-vem-ao-caso.
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Na foto, da esquerda para a direita: de pé, Luiz Porquinho, Marco Costela, Zé do Julião; agachados, Zé Russo e Paulinho Mil, o Perereca. Não, não é descrição de membros de quadrilha. São apenas cinco atletas dos onze de ouro do SEC.

Estamos todos no campinho, nesse campinho da foto acima, onde aprendi a jogar futebol, na Rua Marambaia. Aliás, campinho, não. Chamávamos de Estádio João Careca, o Carecão. Mas o SEC não jogava ali. O campo onde aconteciam nossos jogos ficava distante, tínhamos que pegar ônibus para ir até lá. Mas eu, Zé Russo e Zé do Julião jogávamos habitualmente ali, naquele campinho de barro batido. Porquinho e Perereca eram de outra turma, a do campinho do Valão. Aliás, quando nós jogávamos contra o pessoal do Valão, o entorno do campo ficava apinhado de gente. O time de garotos do Carecão jamais perdeu ali para times de fora. A seleção do lugar era: Valdir, Paulo Bonito, Paulo Costela, Zé Pequeno, Zé Russo e Marco Costela. Que esquadrão! E na reserva, ainda tinha o Dilsinho Bundão e o Zé do Julião. A terra tremia, quando enfrentávamos o Luiz Porquinho e sua galerinha!
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Na foto, vocês ainda podem ver, ao fundo, uma casa com varanda. Ali, morou o Alcir, meu obi wan kenobi em termos musicais.

Naquela varanda eu gravava músicas no meu velho gravador Sanyo, músicas como esta que vocês estão ouvindo agora. Ele costumava colocar as caixas do aparelho de som Philips dele na varanda e tocava uma seleção respeitável de canções. Só dava musicaço! De Beatles a Secos e Molhados. De Dionne Warwick e Carpenters a Tim Maia e Barrabas, passando por Pholhas, Ed Lincoln e outros bambas.
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Mais adiante, ficava a casa do Jurandir, onde organizávamos os nossos bailinhos de sábado a noite. Foi lá que eu, pela primeira vez, tomei coragem para chamar uma menina pra dançar ao som de “Me and Mrs. Jones”, na voz de Billy Paul.
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Há bem pouco tempo, eu estava voltando de Teresópolis, onde tinha me apresentado numa peça teatral, quando resolvi dar uma chegada no meu antigo bairro, na cidade do Grande Rio em que me criei. Foi um susto. Não reconhecia nada. Nem a minha casa eu reconheci de pronto, tantas eram as modificações. Vejam, o muro azul e o portão da casa que meu pai construiu e onde moramos por mais de uma década. Vejam os coqueiros que meu pai plantou. Ele dizia que quando se aposentasse, iria estender a rede e tomar água de coco o dia inteiro. Infelizmente a mais Indesejada das visitas tinha outros planos para ele...
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Hoje, não é mais este portão, nem este muro. Os coqueiros e meu pai, são apenas lembranças boas. O quintal, que era a minha “floresta do Tarzan”, o poço onde eu soltava meus submarinos explorando mundos submersos, as árvores que me davam frutos sumarentos.... Nada disso existe mais. A nova dona da casa transformou o enorme terreno em uma escolinha. Todas as árvores, inclusive as que eu plantei, foram decepadas. Vejam as duas árvores que estão exatamente no centro da foto. Uma era um abacateiro, a outra, meu orgulho: meu pé de Jamelão. Ambas, plantei do caroço de frutas que provei.
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Quis saber: e meus amigos? Por onde andavam? Embiquei o carro na Rua Marambaia, quase ali defronte, e fui procurá-los. No lugar do antigo campinho, há uma igreja Assembléia de Deus, que, a propósito, é freqüentada por minha tia. Ela diz: “Agora ali é a casa de Deus!” Uai! Mas e antes não era? Deus não é um deus de alegria? Que estimula a amizade fraternal? Onde há risos de felicidade, Deus está no meio, mas ela não concorda com isso nem um pouquinho...
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Depois de passar com o carro pra lá e pra cá, finalmente, encontro um antigo camarada: Adalberto. Ele lembrou de mim, embora tenha notado que eu já não tinha mais o corpo que me trouxera o apelido de Marco Costela. Antes, elas viviam à mostra. Dava para tocar reco-reco na bateria da Mangueira com elas. Hoje, bem... hoje... Vamos pular esta parte. Depois dos cumprimentos de praxe, pergunto pela moçada. Cadê Anselmo? “Morreu”, disse-me ele. “Cirrose”. E o irmão dele, o Geraldino? (esse que está na foto comigo, em Pajuçara, Alagoas, último lugar onde eu o encontrei) “Morreu também”. E Plei? E Chicão? E Carlim Berreba? “Ih, morreu tudo”. Caraco! Plei e Chicão eram mais novos que eu!!! O Berreba, não. Esse eu até imaginava que não fosse durar. Seu fígado devia ter metabolizado toda uma linha de produção da aguardente Pitú. Logo, logo ele iria esticar o pernil.
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Lembrei da última vez em que estive com o Berreba. Já tem alguns anos. Ele veio falar comigo com aquele discurso estropiado e falando em jatos de palavras:
- E aí, Marquinho? Como é que vai? Conta uma coisa boa aí.
- Ô Berreba. Coisa boa?... humm... Ah, eu agora sou ator de Teatro.
- Ih! Não virou veado, não, né?
- Veado é o cacête! Eu sou espada, positivo, perfurante, inoxidável, 220 volts de pura energia sexual de macho!
- Hum! Não sei, não... Rá! Rá! Rá!...
- Rá! Rá! Rá!...Vai se ferrar antes que eu me esqueça!
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Saber que muitos dos meus amigos tinham cantado pra subir, me entristeceu. Mas e o Alcir? “Saiu daqui faz tempo.” Pelo menos devia estar vivo. E o Jurandir? O Paulo Costela, o Tininho Coceira, o Zé Luís, Washington, Dadai?... “Todos esses já mudaram daqui. Só ficaram o Zé do Julião e o Zé Pequeno, que é quem organiza o futebol daqui.”
O Zé Pequeno mora agora numa casa que foi construída no local onde ficava a casa do Jurandir, derrubada há séculos atrás, segundo me disse o Adalberto. E o Wilson, meu parceiro de Maraca? “Esse deve estar lá no boteco, enchendo os cornos de cerveja”, contou Adalberto, sorrindo, deixando entrever a sua completa derrocada dental.
Sobre o Zé do Julião, uma curiosidade. Minha tia viu a foto e disse: “eu conheço esse rapaz. Ele freqüenta a minha igreja”. “O Zé do Julião? Caramba! Virou crente?”. No domingo seguinte, ela falou de mim para ele, depois do culto na Igreja Assembléia de Deus situada no sagrado terreno onde jogávamos nossas peladas. Ele abriu um sorrisão: “A senhora é tia do Marquinho? Manda um abraço pra ele!”
Abraço entregue, amigo Julião. Que bom saber de você.
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Naquele dia, eu me despedi do Adalberto, liguei o carro e segui pela rua onde passei os melhores anos da minha vida. Só caras estranhas me acompanhavam. Virei na esquina, como se estivesse fazendo uma manobra para tirar a minha espaçonave de uma galáxia distante.
E agora, o passado me mandou um cartão postal. Atrás, vinha escrito somente uma palavra: “Saudades”...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Diana Ross & Marvin Gaye na ótima “Stop, Look, Listen”. Essa eu ouvi muitas vezes na beira do campinho...