sexta-feira, fevereiro 29, 2008

No Velho Oeste ele nasceu...

(Video com 1min 22seg de duração)

Aqui no Antigas Ternuras tem algumas seções fixas. Além das origens das expressões de uso corrente, tem a que eu falo que a História tem cada história. E tem também uma outra que eu adoro fazer: a de resenhas de antigos seriados de TV.
Acho que qualquer quarentão lembra dessa introdução que está no título. E do programa de TV também. Ah, o velho Bat Masterson! Vivido nas telinhas pelo ator Gene Barry... Para quem não conheceu e para quem gostaria de lembrar, eis aqui um pouco do mais famoso “almofadinha” (era como se dizia na época) do Velho Oeste. Eu via este programa na TV Tupi, lá pelos idos de mil novecentos e não vem ao caso.

Tinha o patrocínio do sabonete “Cinta Azul”, que eu pedia à minha mãe para comprar só por causa do programa (eita, acabo de entregar a minha idade... Agora é que vão pensar que eu fui garçom na Santa Ceia...). Aliás, tinha uma brincadeira das meninas em que elas batiam as palmas das mãos uma nas outras de forma cadenciada ao som de uma paródia da música-tema deste seriado. Quem lembra? Eu começo e vocês terminam:
“O sabonete Cinta Azul
Tem o prazer de apresentar...
O novo filme de caubói...”
O personagem-título se apresentava muito bem vestido, com seu chapéu-côco, sua bengalinha, contrastando com o figurino rude dos velhos caubóis que todo mundo conhece. A propósito, era uma cena comum na série: Bat Masterson chegava numa cidade, entrava no Saloon e todos os vaqueiros ficavam de gozação com seus trajes. De vez em quando, algum ia se engraçar com ele de forma mais violenta e acabava tomando uns sopapos do Masterson, que brigava bem pra dedéu.
Ele andava armado, obviamente. Mas nunca com aqueles coldres que todo mundo conhece de filme de bangue-bangue. Ele tinha um revólver pequeno, que guardava num pequeno coldre por dentro do paletó. Quando ele apontava aquela coisa ridícula, tinha gente que não levava fé. E acabava tomando uns pipocos no corpinho.

O que muita gente não sabe é que o personagem Bat Masterson realmente existiu. E que ele foi contemporâneo e amigo de outro grande mito do Oeste americano: Wyatt Earp. Aliás, outro que também tinha seu seriado na TV.
O nome original do playboy do faroeste era William Barclay Masterson (1853-1921). O apelido de “Bat” veio de uma situação pra lá de prosaica: no dia do seu batismo, um morcego entrou na sacristia da igreja. Ele poderia ter sido o primeiro Batman da História, mas ele sequer era americano. Acredite se quiser, o grande herói americano era canadense, tendo nascido em Quebec, na parte francesa do Canadá. Ao migrar para os USA, ele foi caçador de búfalos, batedor do Exército, jogador de pôquer profissional, delegado federal, e, pasmem, jornalista, dono de uma coluna sobre esportes num jornal de New York. E foi deputado federal também! O velho Bat morreu de ataque cardíaco, não numa mesa de pôquer no Texas, mas em sua escrivaninha, enquanto escrevia a sua coluna no jornal New York Morning Telegraph.
*
A série de TV foi ao ar de 1958 a 1961, na NBC norte-americana. No Brasil, reprisaram os 108 episódios trocentas vezes, em mais de um canal. Seu ator principal, Gene Barry (nome original Eugene Klass), nasceu em 14 de junho de 1919, em New York. Ou seja: ele foi contemporâneo do herói que popularizaria pelo mundo! Ambos viveram na mesma cidade!
E olhem que interessante: o Gene Barry ainda está vivo, com os seus 88 anos e ainda segurando a bengalinha (bem, quanto a isso, há controvérsias...)
Por falar nisso, no meu tempo o seriado provocou uma verdadeira febre de bengalinhas e semelhantes. Era um tal de marmanjo ir para o campo com uma varinha enfeitadinha... Eu conheci vários que não largavam a sua, usando para coçar as costas, apontar os outros na rua, e até bater com ela nos menores. Soube depois que censores brasileiros implicavam com a série justamente por causa da bengala. Com aquelas mentes poluídas que todo censor tem, ficavam vendo símbolo fálico no inocente artefato. Tsc, tsc, tsc...
A série fez tanto sucesso por aqui nos anos 60 que convidaram o Gene Barry para vir ao Brasil. E ele veio. Tinha uma multidão esperando por ele no Aeroporto do Galeão. Fez shows no Copacabana Palace, no Maracanazinho, foi recebido pelo então presidente Jango Goulart, sorteou bengalinhas entre os fãs. Parece que o cabra foi muito simpático aqui em Pindorama.

Gene Barry apareceu recentemente fazendo uma participação-relâmpago no filme “A Guerra dos Mundos” (2005), do Spielberg, aquele com o Tom Cruise. Tão relâmpago que eu nem me lembro dela. Acho que o Steven quis homenageá-lo por ele ter participado da primeira edição do filme, aquela feita em 1953. Seu último papel de destaque aconteceu no Teatro, na Broadway, fazendo, em 1984, “A Gaiola das Loucas” (vejam só, quem diria... Bat Masterson acabou numa boate gay!).
Para toda a minha geração, Bat Masterson será sempre o caubói elegante. Que brigava com os homens, amava as mulheres, atirava nos bandidos e jogava pôquer. Não necessariamente nesta ordem...
Relembrem a letra completa do tema do programa, que foi gravada por Carlos Gonzaga.
“No Velho Oeste ele nasceu
E entre bravos se criou
Seu nome em lenda se tornou
Bat Masterson, Bat Masterson
Sempre elegante e cordial
Sempre o amigo mais leal
Foi da Justiça um defensor
Bat Masterson, Bat Masterson
Em toda canção contava
Sua coragem e destemor
Em toda canção falava
Numa bengala e num grande amor
É o mais famoso dos heróis
Que o Velho Oeste conheceu
Fez do seu nome uma canção
Bat Masterson, Bat Masterson...”
M.S.
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Para quem gosta de antigos seriados: a partir deste sábado, no blog Playground dos Dinossauros, vocês podem ler um post que eu fiz sobre um outro antigo seriado de TV, outro herói que cavalgava pelas pradarias do Velho Oeste com seu cavalo branco...
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Na TV Antigas Ternuras, você assiste a um trecho final do programa Bat Masterson, contendo a música-tema.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Velhos hábitos


Neste domingo eu me dediquei a dois hábitos muito antigos e sempre prazerosos. Um deles foi assistir a festa do Oscar.
Nem me lembro da primeira vez que eu fiquei até tarde, trêbado de sono, para ver aquela festa, tudo bem, cafona pra dedéu, mas com um charme irresistível. Eu via a entrega dos carecas dourados e sonhava em ser o primeiro brasileiro a receber um. Na verdade, ainda sonho. Desde minha adolescência, já tenho até discurso pronto para o momento. Tomara que ele um dia me seja entregue pela Jennifer Connely ou pela Sharon Stone. Porque aí eu aproveito e... Arram! Melhor deixar isso para quando acontecer.
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Neste ano, os indicados para Melhor Filme estavam muito fracos. Na minha modestíssima opinião, os filmes que receberam a indicação eram muito sem graça. Ganhou o melhorzinho deles, o “Onde os fracos não tem vez”. Se tivesse ganho o “Desejo e reparação”, também não seria um descalabro, pois os dois eram os que se salvavam entre os cinco. Aliás, eu não consigo entender como um filme besta como “Juno” estava entre os indicados. Aquilo é uma bobagem sem tamanho e que ainda presta um desserviço aos jovens. Imagina se uma menina de 16 anos fala para os pais que está grávida e não ganha nem um esporro... Sei lá, vai que alguma debilóide acredita naquilo...
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Na safra cinematográfica do ano passado, certamente teve filmes melhores que os indicados e que não receberam a devida atenção. Filmes que me fizeram sair do cinema refletindo, doido para discutir com alguém sobre eles. Cito três exemplos: “No Vale das Sombras”, “Elizabeth – A Era de Ouro” e “Antes de partir”.
O primeiro trata da atual sociedade americana. Aquilo lá está afundando... O declínio do império é mera questão de tempo.
O segundo trata de um período que a gente quase nem estuda no colégio e que, na minha modesta opinião, foi fundamental para a história ocidental: os embates entre o rei Felipe II e a rainha Elizabeth I. Se a Espanha vencesse aquela guerra, não tenho dúvidas, o mundo hoje seria diferente.
O terceiro é uma comédia deliciosa, com diálogos magistrais e um banho de interpretação de Jack Nicholson e Morgan Freeman. Eles fazem dois doentes terminais que elaboram uma lista de coisas para fazerem antes de espicharem os respectivos pernis.
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Tudo bem. Sei que aquilo lá é uma festa, que não dá para levar Oscar a sério. Mas antigamente, era uma maravilha para os olhos. Os números musicais eram fantásticos. O apresentador era Bob Hope (ou David Niven, ou Johnnie Carson...) e não este imbecil que colocaram agora e eu nem sei quem é, de onde saiu. Até a Whoopie Goldberg é melhor que esse indigente!
As músicas dos filmes antigos eram primorosas. Várias são lembradas até hoje. Alguém aí me diga: quem lembra das músicas concorrentes de uns dez anos pra cá?
Vamos ver se a safra cinematográfica deste ano será um pouco melhor. Ainda não vi nenhum filme que tenha me deixado chapadão. Mas guardo alguma ansiedade para filmes que envolvem algumas de minhas antigas ternuras e que estarão nas telas daqui neste 2008. São eles: “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, “Speed Racer” e “Homem de Ferro” (e ainda teremos Indiana Jones!).
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Mas eu dizia que ontem me dediquei a dois hábitos bem antigos. Além de ver a festa do Oscar, pratiquei um velho costume: vi o Mengão se tornar campeão. Para quem não sabe, o Clube de Regatas do Flamengo é o âmbito impessoal que eu mais ardentemente amo na vida. E ver o Amado Mengo levantando taças é hábito que nunca me cansa. Aquela torcida, aquela Nação, melhor dizendo, enche o meu coração de alegria. Como diz a bela canção que a torcida entoa: “Eu sempre te amarei... Aonde estiver estarei... Ó meu Mengo!”

M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “O que é, o que é”, com Gonzaguinha. Eu acordei assobiando está música e a estou cantarolando até agora, só pela alegria de ser rubro-negro.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Papel de bobo


E lá vamos nós para a tão apreciada seção: “A origem de expressões de uso corrente”. Não sei se vocês sabem que o Antigas Ternuras é uma espécie de cantor de churrascaria: aqui se atende a pedidos do público. E a nossa leitora e blogueira Maristela, do sempre ótimo Clínica da Palavra, nos pediu que tratássemos aqui da origem da expressão:

Para inglês ver

Ok, Maristela. Pediu, tocou, levou. Tudo fazeremos pela vitória pra agradar à nossa imensa torcida, já diriam os craques do gramado.
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Originalmente, a expressão era “lei para inglês ver”. Sim, foi uma lei que serviu de mote para essa expressão tão tipicamente brasileira. Uma vez eu ouvi numa palestra a explicação da expressão. Como sempre costumo fazer, e é recomendável, fui conferir outras fontes para ver se correspondia. A expressão tem mais de uma origem. Uma delas, dá conta de ter se originado em Portugal, ao tempo da presença da Família Real no Brasil. Com a rainha (D. Maria I, a Louca) e o príncipe regente D. João fora de Lisboa, junto com a Corte, que se transferiu para o Brasil, houve um pedido do governante português aos ingleses, que “cuidassem de Portugal”, naquele período.
*
Acontece que os ingleses são muito certinhos, tem mania de pontualidade, documentos formais... E os portugueses eram o precursores do famoso “jeitinho”. Naquela época, havia muita corrupção em Portugal, funcionários públicos demais e que não queriam nada com o batente, um governo que estava pouco se lixando com questões de infra-estrutura, com educação, saúde e o bem-estar da população e mais se preocupavam em meter a mão no Tesouro Nacional... Devia ser horrível viver num país assim, não é? Vocês conhecem um outro país que tenha estes problemas? Huuummm... Me parece tão distante da nossa realidade!
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Com os ingleses coordenando o governo, os britânicos queriam leis e decretos escritos para qualquer coisa. Eles determinavam um toque de recolher a partir das 18h. Mandaram baixar um decreto neste sentido. Ah, queriam? Então tá. Os dirigentes portugueses baixavam o tal decreto, afixavam-no nas portas das igrejas, determinando que ninguém saísse de casa à noite.
E todo mundo saía.
Diziam que era necessário abrir uma determinada estrada. Lá se criava mais um decreto, pegavam umas pás, ajuntavam-se umas pedras de calçamento no caminho que eles tinham determinado e deixavam lá para os ingleses verem que alguma coisa (na verdade, nada) estava sendo feita.
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Bem, essa é uma das origens da expressão. Faz sentido. Mas eu prefiro acreditar que ela realmente nasceu no país do samba, do carnaval e das mulatas que não estão no mapa. O Wikipédia diz que em 1829, foi criada uma lei extinguindo o tráfico negreiro e que essa é a lei pra inglês ver. A gente sempre deve ter cuidado com as coisas difundidas no Wikipédia. Não é considerado uma fonte oficial e totalmente confiável. Qualquer um pode escrever lá e alterar o escrito. Tenho visto muitas inconsistências em seus textos. De fato, em 1826, a Inglaterra forçou o Brasil a aceitar um tratado que abolia o tráfego negreiro, com prazo máximo de três anos para ser efetivamente cumprido. E obviamente não foi. Aquela era uma encenação para os britânicos acreditarem. Todavia, estou certo de que esta ainda não era a origem da lei pra inglês ver.
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Desde o início do Século 19 (e até um pouco antes), a Inglaterra já estava batalhando pela extinção do tráfego de escravos negros. Ela, que tinha sido uma das maiores traficantes, com a revolução industrial, tornava-se abolicionista. Por que? Por ser boazinha e humanitária? Rá! Quem acredita nisso, também crê em Papai Noel, coelhinho da Páscoa e na honestidade do Renan Calheiros. Tudo bem, havia pessoas e entidades, como John Wesley e a Igreja Metodista, que defendiam o fim da escravidão, “um sistema que violava a justiça, a misericórdia, a verdade”, segundo diziam. Mas evidentemente, o governo inglês era que nem cavalo de parada: cagava e andava para justiça, misericórdia e toda essa bullshit (“bobagens”, conforme traduzem alguns dubladores de filmes americanos). O fim da escravidão e do tráfico só passou a ser do interesse inglês com o avanço do capitalismo, que precisava de mercados e especialmente de público consumidor, que tivesse grana, money, bufunfa, cacau, capim, cascalho, carvão para comprar seus produtos. Escravo não tem dinheiro.
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A partir daí, o reino de Shakespeare, dos Beatles e do sanduíche de pepino assumiu o papel de “polícia do mundo”, intervindo e metendo bronca onde lhe aprouvesse, sob a justificativa de defender a democracia, o livre-comércio e os ideais cristãos. Até parece um outro país, também de língua inglesa, que nos tempos atuais vive se metendo em tudo que é lugar, né não? Querem saber qual? Dou uma dica: O presidente deste país tem orelhas de abano, é imbecil, ignorante, mentiroso e está sendo considerado o pior presidente de todos os tempos...
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Em meados do século 19, a Inglaterra editou o chamado Bill Aberdeen, avisando à galera: “aê, se eu pegar navio negreiro, seja onde for, em águas internacionais ou mesmo nos portos dos próprios países, eu cato tudo e levo pra mim, right?” Quem é que tinha disposição para enfrentar os súditos da rainha Victoria?
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Em 1850, o Brasil importava negros d’África pra caramba. E, na verdade, não tinha outra alternativa, dado o sistema econômico escolhido para cá, com enormes fazendas produtoras de produtos agrícolas. Ao tempo da colônia, Portugal não tinha gente para mandar para cá e povoar esse mundão de terra. Optaram por escravizar povos mais fracos militarmente e botá-los nas plantações. E assim perdurou durante o primeiro reinado e o segundo. Pois é. Em 1850, a Inglaterra está pluta da vida com aquela bandalheira de comércio de escravos que o Brasil continuava fazendo. Mandaram uma baita esquadra pros mares do Atlântico Sul com ordem de botar pra quebrar. Eles chegaram no Rio de Janeiro e o almirante inglês deu um ultimato: “ó só, rapaziada, eu vou daqui até o Uruguai. Quando voltar de lá, se vocês não fizerem uma lei abolindo definitivamente o tráfico de escravos, eu vou bombardear essa merda, vou esquentar o rabo de vocês com tiro de canhão! Tão entendendo? Porrada vai comer! E se vocês não me obedecerem, eu vou dar tanto tiro nas suas cabeça que vocês vão ter que falar pelo rabo!” Depois de dizer essas gentis palavras diplomáticas, a esquadra seguiu para o sul.
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O governo brasileiro ficou um polvorosa. O Senado se reuniu para tratar do assunto, que era delicado, visto que boa parte dos senadores era composta por fazendeiros donos de um porrilhão de escravos. Eles dependiam da moçada com excesso de melanina na pele para tocarem seus negócios. Mas ninguém queria tomar tiro de canhão pelos cornos.
Daí, fizeram uma lei, aproveitando um projeto do senador Eusébio de Queiroz, banindo definitivamente o tráfico negreiro no país. Quando o almirante inglês voltou, com o dedo no gatilho coçando, mostraram para ele o papel com a lei. Ele deve ter feito uma cara de quem sente cheiro de pum em elevador. Devia estar doido para baixar a porrada no Brasil. Mas, como a lei foi feita, ele recolheu sua esquadra e voltou para a Inglaterra.
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Se a lei foi cumprida? Rá! Imagina... A lei era para inglês ver, não era para ser levada a sério. Continuaram traficando escravos adoidado. Só que agora tinha que ser na encolha. Esse povo criativo, como é o brasileiro, sempre arranjava um jeitinho de dar um olé na lei. Em Pernambuco, por exemplo. Montaram um porto clandestino que recebia os escravos. Quando estavam para receber uma carga de negros, eles se comunicavam assim: “E aí? Quando é que vai chegar a carga de galinhas?”, “Ah, está chegando aí um grande carregamento de galinhas da melhor qualidade!” As tais galinhas não eram aquelas que botam ovo. Era como eles chamavam os escravos. E o tal porto clandestino acabou sendo chamado de “Porto de Galinhas”, nome que tem até hoje.
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E os escravos continuavam chegando e aportando em outros lugares da costa brasileira. A lei estava lá, no papel. O inglês acreditou naquele papel. O verdadeiro papel de bobo.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Malandrinho”, com Altamiro Carrilho. Sucesso para inglês ver e o resto do mundo também.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Não repara, não... É casa de pobre...


Vou confessar uma coisa: às vezes me bate uma curiosidade de saber como as idéias para post pintam na cabeça de vocês. Na minha, se alguém quer saber, em muitas ocasiões vêm a partir de uma mera observação de alguma coisa, algum detalhe que na visão de outros passaria batido.
Vou dar um exemplo:
Eu estava num shopping chique quando vi duas moças com vestidinhos que já tiveram seus bons dias, calçando sandálias havaianas. Sei perfeitamente que estes chinelinhos hoje são peças super na moda, que não deixam ninguém mal visto por calçá-los, mesmo em ambiente um pouco mais formal. Mas, não sei porquê, achei esquisito ali, naquele momento. E acreditem: foi como mágica! Em menos de um minuto um post inteirinho me veio na cabeça, já com tudo organizadinho!
Aí vai.
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Quando eu era menino, visitar tios ou receber a visita deles era um evento especial, com rituais muito bem estabelecidos. Eu gostava quando minha mãe dizia: “no domingo, vamos na casa do tio ou da tia tal!”. Uma vez resolvida a fazer a visita, entrava em ação a primeira fase do evento: a apresentação da intenção.
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(Quadro de Nadia Senyczak)
Hoje em dia, todo mundo tem telefone, celular, computador com e-Mail, Orkut, MSN, o escambau. No meu tempo de moleque, falar com um parente que morasse um tantinho mais distante era um pouco mais complicado. Primeiramente, nem todo mundo tinha telefone naquela época, só os com excelente condição financeira. Não era o nosso caso. Éramos uma família classe média média. Nem alta, nem baixa. Ali. Bem na média. Na cidade do Grande Rio em que morávamos, telefone era algo muito, muito caro. Quem quisesse falar ao telefone, o esquema era o seguinte: alguém ia na farmácia do seu Henrique e pagava uma certa quantia para usar o aparelho por três minutos. Interurbano era mais caro. Daí, minha mãe ligava para: a) a casa da tia (quando esta tinha telefone, até onde eu lembro, poucas tinham); ou b) para um vizinho da casa da tia, (“O senhor me chame a fulana na casa ao lado, faz favor? Muito obrigada!”). Ligação feita, tudo acertado, era só aguardar o domingo marcado para a segunda fase do projeto: colocar uma roupa elegante para não fazer feio.
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Ahhh... Lembro como se fosse hoje! Minha mãe mandando a gente tomar banho, ela própria dando uma geral para ver se os meninos tinham se lavado direitinho, escolhendo a roupa que usaríamos, tirando os cordões de ouro de cada um do porta-jóias, passando talco Regina, Petróleo Menelik nos cabelos e perfume ”Toque de amor”, da Avon na gente. Nós ficávamos mais cheirosos que filho de farmacêutico.
Depois de todo mundo arrumado, aí é que ela ia tomar o seu banho, não sem antes ameaçar cobrir a gente de porrada se alguém se sujasse (detalhe: naquele tempo as mães não tinham medo de “traumatizar” os filhos por conta de uns catiripapos de vez em quando...). E volta e meia um de nós fazia alguma merda, sujando a roupa que ela lavara, passara e escolhera com tanto carinho.

Esporro dado, roupa trocada (quando era o caso), lá íamos nós para o ponto de ônibus (carro? Rá! Imagina...).
Fase seguinte: a chegada na casa dos tios.
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Era uma etapa que hoje também me deixa saudades, visto que quase todos os tios que a gente visitava já cantaram pra subir faz tempo. Os tios estavam sorridentes por nos receberem. “Olha quem chegou! Vão entrando gente, não repara, não, é casa de pobre...”
Minha mãe botava todos nós para o ritual “bença, tia!”, “bença, tio!”, beijávamos a mão deles e ouvíamos o invariável “Deus te abençoe!”. É claro, tinha também o “olha como ele está crescido! Noutro dia era um bebê! Está indo bem na escola? Isso, estuda mesmo, porque o estudo não ocupa lugar. Se quiser ser alguém na vida tem que estudar.”
Cumprimentos feitos, aí era a fase do “fiquem à vontade”.
Bem, finalmente chegamos no momento sandálias havaianas. Naquela época, a gente fazia visitas usando roupas elegantes e alinhadas. Uma vez tendo chegado ao destino, o próprio dono da casa insistia para a gente colocar uma roupa “mais a vontade”. Para minha mãe, sempre pintava um vestidinho mais simples, e uma sandália havaiana.
Para as crianças, a própria mãe levava uma muda de roupa, e as sandalinhas de cada um.
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Perceberam? A gente usava as havaianas em casa ou em momentos absolutamente informais. Jamais alguém usaria chinelo de dedo para sair, passear, ir ao cinema, como a gente vê hoje em dia. Não estou condenando, não. Só registrando. Mas, vamos prosseguir com o relato, porque eu estou gostando de lembrar dessas coisas do tempo das antigas ternuras.
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(Quadro de Marcio James)
Depois que todo mundo estava mais confortável, as criançada ia brincar e os adultos iam colocar o papo em dia. Pois é. Eu normalmente esperava para ver qual o rumo da conversa dos adultos. Se ficassem falando do “ai, minhas costas andam doendo tanto; Ah, a carestia está insuportável! onde nós vamos parar, meu Deus?”, eu ia caçar alguma coisa mais divertida para fazer. Se começassem a contar “causos” de família, eu me aboletava num canto só para escutar. Sempre gostei de ouvir relatos com histórias engraçadas, ou tristes, ou ambas.
Se estivéssemos na casa do Tio Jair, eu também podia visitar a estante com os livros e abrir a porta para uma outra dimensão chamada imaginação... Uma das chaves era a coleção “Tesouro da Juventude”...
*
(Quadro de Adriana Vázquez)
Quando o almoço estava pronto, era a hora de chamar as crianças para a mesa (naquele tempo, as crianças comiam em uma outra mesa, ou comiam primeiro que os adultos). “Vamos lavar as mãozinhas, vamos, vamos, vamos!”, “ah, mãe, ta limpa, ó só!”, “não está não senhor, pode tratando de lavar! E com sabonete!”, “Ah...Tá bom...”
Na mesa, começavam as lamúrias: “mãe, num quero salada!”, “mãe, num gosto muito de bringela, não”, “galinha? Ah, não vou comer de jeito nenhum!”. Essa última frase era usualmente minha. Eu sempre detestei galinha, pato, peru, qualquer coisa que tivesse pena e estivesse numa panela. Não suportava (e não suporto) nem o cheiro! E não tinha chinelo, cinturão, nada me fazia comer aquilo. Preferia apanhar! E já tem mais de dez anos que eu não como carne vermelha também. Mas isso é outra história...
*
(Quadro de Noël Barker)
Uma vez decidido o que ia para o prato de cada um, vinha o momento de implicar com os irmãos, com os primos, roubar a batata frita do outro, passar a couve-flor adiante...
“Mãe, cabei! Quero mais Q-Suco!”
“Só se você comer tudo! Olha só, ainda tem comida no prato. Tanta gente passando fome no mundo e você desperdiçando!”
“Tiaaaaaa... o que tem de sobremesa?”, “Obaaaaaa! Gelatina com pedacinho de maçã!”
*

Depois do almoço, a gente doido para voltar para a correria.
“Nããão, nada disso! Vocês acabaram de almoçar. O sol está muito quente. Pode dar congestão. Vão ver televisão.”
“Ahh, mãããe...”
Era a hora do Teatrinho Trol, da turma do Pica-Pau, ou do desenho que estivesse passando. Passado o período regulamentar para não dar congestão, de volta para o pique, para pular corda, para o que fosse mais agitado possível.
*
(Quadro de Henry Rousseau)
No início da noite, era o momento das despedidas.
“Mas jááá??? É cedo ainda! Vou passar um café!”
“Não, já está na hora. Chega de incomodar. Crianças! já pro banho!”
“Ah, mããe...”
“Não tem mãe, nem pai. Já pro banho!”
E assim, banho tomado, cabelos penteados, roupa de sair novamente no corpo. Era a hora das despedidas.
“Bença tio!”, “bença tia!”
“Deus te abençoe. E vê se você se comporta! Você já é um homenzinho!”
Algum tempo era gasto nas despedidas, agradecimentos, “desculpe qualquer coisa”, “vê se aparece lá em casa! É casa de pobre, não repara...”
*
Lá íamos nós para o ponto do ônibus. Dentro do veículo, não dava nem cinco minutos e minha irmã já se esparramava no colo da minha mãe. Os meninos, tombavam de lado e faziam a mesma coisa que ela. Dormíamos de babar na camisa!
Chegando em casa, pijama, ida para a cama que no dia seguinte tinha escola bem cedo.
“Bença, mãe.”
“Deus te abençoe. Durmam com os anjos.”
*
Pois é.
Tudo isso me veio na mente assim, tlec!, num estalar de dedos. Bastou olhar as moças no shopping chique com sandalinhas.
Nossas lembranças são como um cachorrinho de estimação que pula no nosso colo inesperadamente. E as minhas ainda lambem o meu rosto, me fazem festinha, e nunca me deixam esquecer que eu era feliz e sabia perfeitamente disso.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Angela Maria cantando “Gente Humilde”, canção que é uma perfeita narração de meus tempos de garoto.
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Eu ganhei mais um selo, desta vez da Dominique que me fez essa gentileza. Obrigado, amiga! Fico grato mesmo. Bem, as regras deste post-corrente dizem para escolher àqueles para quem eu vou passar. Ultimamente tenho passado para todos os amigos blogueiros que me dão a honra de visitar. Mas hoje eu gostaria de destacar alguns. Então repasso o belo selo “Esse Blog é Show de Bola” para os seguintes blogueiros:

Devaneios e Desabafos da sempre tão gentil Renatinha;
Luz de Luma, Lino Resende;
Clínica da Palavra da Maristela. O que eu mais admiro nestes três blogs é o senso de cidadania e solidariedade que os três têm, além de escreverem bem pra caramba!
Luzes da Cidade, do Francisco Sobreira;
O Apanhador de Sonhos, do Bené Chaves;
Politicamente Incorreto, do Bosco Sobreira. Vejo estes três amigos meus que muito respeito e admiro como uma espécie de Três Mosqueteiros. Gostaria muito, mas MUITO mesmo de poder me sentar um dia com eles e conversar sobre tudo o que pintar no papo.
E ainda tem o "D’Artagnan" dos mosqueteiros, meu ex e sempre professor Moacy Cirne, doBalaio Vermelho para quem dou o selo também.
Para a minha amiga Erika do sempre ótimo Oncotô, vai um selo também porque se tem uma pessoa show de bola é ela!
E selo também para o do meu novo amigo de infância J.F.
Vocês dez são DEZ!
Agora se quiserem repassar o selo para outros, deixo ao critério de vocês.

sábado, fevereiro 09, 2008

Os vigaristas


Eu abro os jornais e vejo a seção política, a seção econômica, vejo a lambança que o Bush anda fazendo nos EUA e no mundo, vejo as trapalhadas do Luiz Ignácio e a sua turma do cartão corporativo por aqui (aliás, já descobriram gastos esquisitos nos cartões corporativos do governo paulista, o que prova que a natureza humana não falha...), leio sobre o descaramento do prefeito Cesar Maia e penso: “Mas que vigaristas! Os eleitores que votaram nesses caras caíram num belo conto-do- vigário!”
*
Pois é. Aí eu lembrei que sei a origem desta expressão. Então, afivelem o cinto que lá vamos nós para mais uma seção: “A origem das expressões que usamos, mas não sabíamos a origem”. Vamulá!

Cair no conto-do-vigário.

E por tabela, descobrir de onde vem o vigarista (que nem o Dick...), ou seja, o que aplica o conto-do-vigário.

Bem, como se sabe, a expressão significa ser enganado, iludido. No Aurélio: “Embuste para apanhar dinheiro, em que o embusteiro, o vigarista, procura aproveitar-se da boa-fé da vítima, contando uma história meio complicada, mas com certa verossimilhança”. Se cair no conto-do-vigário significava tão somente entrar de gaiato em alguma trapaça em que um espertinho conseguia tirar dinheiro de alguém, usando um estratagema qualquer, posteriormente, a expressão passou a ser sinônimo de ser ludibriado, em qualquer situação. Como votar naqueles camaradas, por exemplo.
*
Mas, de onde veio esta expressão? Pois é. Como costuma acontecer com tudo o que é muito antigo, há mais de uma explicação para a frase. Contudo, mais de um pesquisador concorda que a origem mais conhecida e plausível é a que envolve a disputa entre dois vigários de Ouro Preto (no tempo em que ela se chamava Vila Rica), no Século 18. Um pertencia à Igreja de Nossa Senhora do Pilar; o outro à de Nossa Senhora da Conceição. Ambos estavam disputando a mesma imagem da Virgem Maria.
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Foi quando um dos vigários, o da Igreja do Pilar, fez a seguinte proposta: amarrariam a santa num burro que estava por ali, solto na rua. O animal seria levado para um ponto eqüidistante das duas igrejas. A paróquia para onde o burro se dirigisse ficaria com a imagem.
*
E assim foi feito. Amarraram a santa, levaram o burro para o tal ponto, soltaram o bicho... expectativa, suspense... E o burrinho seguiu para o lado da do Pilar, que ficou com a imagem. O outro vigário acabou se conformando. Só que mais tarde, ele descobriu que o burro era do vigário da igreja do Pilar e que era ensinado a voltar para lá, sempre que se afastasse. Ele tinha acabado de cair no primeiro conto-do-vigário da História!
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Mas uma expressão tão usada como esta não poderia ter só uma explicação. Em Portugal, tem outra. Dizem que por lá, no Século 19, dois homens chegavam numa cidade se dizendo emissários do vigário. Vinham com uma mala enorme, que afirmavam conter muito dinheiro, fruto das doações de fiéis ao longo do caminho. Segundo eles, o vigário tinha pedido que deixassem a mala naquela cidade e seguissem viagem, arrecadando mais doações. Depois, o padre enviaria uma pessoa para pegar a mala. Só que os dois homens falavam que se sentiam inseguros em deixar tanto dinheiro com estranhos, sem uma garantia. Aí, eles pediam uma quantia aos moradores, que garantiria que eles não iriam se apropriar do dinheiro da igreja. Quando o vigário chegasse, ele ressarciria os que tinham dado a grana usando o próprio conteúdo da mala. Como eles falavam em nome do vigário, o povo concordou e os otários, quer dizer, os fiéis deram o dinheiro para os caras. Obviamente, eles sumiam, ninguém nunca mais sabia do paradeiro deles. Quando os tolos abriam a mala, encontravam lá papel velho, penico, tocos de madeira, só bugiganga. Com isso, a fama do vigário ficava mais suja que pau de galinheiro. E este padre pelo menos, até onde se sabe, era inocente. Parece que muita gente caiu nesse conto-do-vigário.

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Pessoalmente, eu acredito nas duas versões. Elas não são excludentes. Pode ter havido o golpe do burrinho no Brasil, e o golpe nos burrinhos de Portugal. O que não falta é esperto nesse mundo.
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Aliás, por falar em burrinho, quando eu estive em Ávila, na Espanha (a propósito, uma cidade adorável; eu moraria lá sem a menor dúvida!), descobri uma outra história com bicho no meio. Mas desta vez, sem conto-do-vigário. Foi assim: quando San Pedro del Barco (um santo espanhol) morreu, no ano de 1115, houve uma disputa sobre o local onde ele deveria ser enterrado. Um garoto deu a seguinte sugestão – que o corpo do santo fosse colocado em uma mula. Aí se vendariam os olhos dela e a deixariam seguir. Onde ela parasse, ali seria o local da sepultura do santo. Colocaram o presunto, digo, o defunto na mula, taparam os olhos do bicho e saíram atrás dela. A mulinha andou, andou, até chegar em Ávila, onde entrou na Igreja de San Vicente. Ali ela parou e...cataplaf!... caiu mortinha.

O santo foi enterrado na cripta da igreja, junto com São Vicente e suas irmãs (veja a cripta na foto que eu tirei).
E isso não foi lenda, não. Eu vi a cripta, e mais importante: vi a marca da patinha da mula no chão onde ela estrebuchou e caiu (veja a foto; eles colocaram uma grade em cima). Dizem que a mula foi enterrada nas magníficas muralhas, em frente à igreja. Há até um ponto em que asseguram estar a cabeça dela.

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Eu até faria uma proposta semelhante: que a gente pegasse o Cesar Maia, o Luiz Ignacio, o ministro tapioqueiro, a ministra do cartão nervoso, o Bush, o Chávez, o Evo Morales, o Osama bin Laden e todos os políticos vigaristas (do PT, do PSDB, do DEMO...), os amarrassem em uma mula de olhos vendados e a soltássemos no deserto do Sahara. Onde ela parasse a gente enterrava todos eles. Eles nem precisavam morrer. Pode ser agora mesmo.
O que vocês acham?
M.S.

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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Você abusou”, com Maria Creusa.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Evoé!


Em 1998, depois do estrondoso sucesso de uma peça que escrevemos juntos chamada “Cafona, sim, e daí?, o ator e diretor Sergio Britto me chamou e disse:
- Marco, agora eu queria fazer uma peça sobre o carnaval. Poderíamos até usar os mesmos atores do “Cafona...”. O que você acha?
- Eu acho a idéia ótima. Vou já começar a pesquisa.
Ele teve esta conversa comigo numa quinta-feira. No domingo, eu liguei pra ele:
- Sergio, tá pronta. Já escrevi a peça.
- Jááá? Então me traz aqui em casa que eu quero ler.
Levei. Ele leu. Adorou. Disse que ia procurar patrocínio. Não conseguiu. Eu registrei a peça na SBAT em meu nome, para me garantir contra plágios e otras cositas. Tentei eu mesmo buscar patrocínio, anos mais tarde, também não consegui.
No ano passado, 2007, o Sergio Cabral e a Rosa Maria Araújo escreveram um espetáculo todo baseado nas antigas marchinhas de carnaval, chamado “Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha...”. Não tem texto, só atores cantando músicas carnavalescas. Foi e ainda é um baita sucesso. Ganharam prêmios e o escambau. É um espetáculo muito diferente do meu, que tem diálogo, personagens, histórias contadas e muitas marchinhas, incluindo as de letra bem safadinha...
Mas por muito tempo não conseguirei montar a minha peça, pois embora possa provar que a escrevi e registrei em 1998, sempre vai ter quem me chame de plagiador, aproveitador das idéias alheias...
Como estamos entrando no reino de Momo, vou postar aqui o início desta peça que escrevi e que tem por nome...
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“MEU CARNAVAL BRASIL!”
De Marco Santos
Situação: É carnaval. Seis foliões mascarados e fantasiados brincam pelas ruas do Rio. Até que se encontram, se brincam, se reconhecem, se emocionam.

O cenário é uma rua do Rio que pode virar, na recordação dos foliões, um clube, o Teatro Municipal com seus gloriosos bailes, o Boulevard 28 de Setembro e seus corsos, a passarela das escolas de samba...Uma possibilidade seria uma foto, um grande painel no fundo. Muitas serpentinas. Máscaras dos antigos carnavais, pandeiros...
Os figurinos são fantasias dos antigos carnavais: Pierrot, Diabo, Arlequim, Pirata, Dama antiga e Colombina.


OS FOLIÕES VÃO ENTRANDO EM CENA DE VÁRIOS PONTOS DA COXIA. COMO SE ESTIVESSEM EM UM SONHO. UM SONHO DE CARNAVAL ANTIGO. CADA UM DELES LEMBRA, CANTANDO, UMA MARCHA-RANCHO FAMOSA: “AS PASTORINHAS”, “BANDEIRA BRANCA”, “RANCHO DA PRAÇA ONZE”, “ESSE ANO NÃO VAI SER IGUAL AQUELE QUE PASSOU”, “ESTÃO VOLTANDO AS FLORES”.ENTRAM, BRINCANDO, DANÇANDO. ELES SE OLHAM, SE RECONHECEM.
MULHER 2 - Nós estamos no mesmo sonho?
HOMEM 2 - Nós nos conhecemos, pelo menos? (TODOS SE RECONHECEM)
MULHER 1 - (Cantando) “Quem é você, diga logo que eu quero saber...”
HOMEM 1 - Ah, minha querida, no carnaval eu não sou de ninguém, eu sou da folia...
HOMEM 2 - Eu também. (CANTANDO) “Não me interessa saber ê-ê-ê, o que é que eu vou dizer em casa...”
MULHER 2 - Ih, menino...Eu não sei o que é ir em casa há muito tempo...Estou que nem pinto no lixo...
MULHER 3 - Se isso aqui for um sonho, eu não quero que me acordem...

HOMEM 1 COMEÇA A CANTAR “MÁSCARA NEGRA”. OS OUTROS ACOMPANHAM)

HOMEM 1 - “Tanto riso, oh, quanta alegria...”
TODOS - “Mais de mil palhaços no salão...Arlequim está chorando pelo amor da colombina...No meio da multidão...Foi bom te ver outra vez...Está fazendo um ano...Foi no carnaval que passou...Eu sou aquele Pierrot...Que te abraçou...Que te beijou, meu amor...Naquela máscara negra, que esconde teu rosto, eu quero matar a saudade...Vou beijar-te agora...Não me leve a mal...Hoje é Carnaval...
HOMEM 2 - Hoje somos sonho. Não temos nome, ninguém nos conhece...Vamos viver um conto de Carnaval...
MULHER 3 - Hummmm...Esse mistério me agrada...Mesmo porque depois do que eu já fiz nesse carnaval, se vocês me conhecessem...
MULHER 1 - (cortando) Então assim será! Seremos como o espírito dos antigos carnavais!
MULHER 3 - Aqueles carnavais é que eram pra valer!
MULHER 1 - Brincar naquele tempo era da pontinha!
MULHER 2 - Nossa! Você desencavou essa lá de trás, hein? “Da pontinha...”
HOMEM 1 - Meninas! Meninas! Eu acho a idéia ótima! A gente poderia começar pelo iniciozinho...como o carnaval começou, lá no Império Romano, as festas em honra a Saturno, “a Saturnália”...
HOMEM 1 - O entrudo...

HOMEM 2 - Aquela festinha de ricos, jogando uns nos outros limãozinho de cera com água perfumada...
HOMEM 3 - ...Isso no início. Depois o povão avacalhou, e jogava uma outra água com outro tipo de perfume...
HOMEM 1 - Ah, valia qualquer tipo de água. A confusão estava formada. O pau comia solto!
MULHER 1 - Alguém me contou que o Pedro I adorava um entrudo...Voltava todo molhadinho para o palácio...
HOMEM 2 - ...Depois de deixar muitas mulheres molhadinhas...

HOMEM 1 (Interrompendo) - Mas um grande personagem dos antigos carnavais foi o português José Nogueira de Azevedo Paredes, o “Zé Pereira”!
TODOS - “Viva o Zé Pereira
Pois que a ninguém faz mal
Viva a bebedeira nos dias de Carnaval!
HOMEM 1 - Um sapateiro português alegre, bonachão, que tinha a sua oficina na Rua São José, 22. Num dia de carnaval, ele e uns amigos tomaram umas e outras, alugaram uns tambores e saíram pela cidade. O Zé ia na marcação. E o povo foi atrás!
(O HOMEM 2 PODERIA FAZER O PAPEL DO “ZÉ PEREIRA” COM OS DEMAIS SEGUINDO ATRÁS)
HOMEM 2 - Essa foi a primeira música de carnaval que se conhece! Porque naquela avacalhação do entrudo não tinha música.
MULHER 1- Nos primeiros bailes carnavalescos tocavam de tudo, menos música de carnaval.

HOMEM 3 - E na cidade, o povão brincava nos cordões...
MULHER 3 - Na Rua do Ouvidor, onde o babado era forte...
HOMEM 1 - O João do Rio escreveu que, numa ocasião, mais de 50 mil pessoas dançavam e pulavam na Rua do Ouvidor ao som de centenas de tambores.
OS DEMAIS - Cinqüenta mil? Na Rua do Ouvidor? Estreitinha daquele jeito?
HOMEM 1 - A música de cordão mais bonita e que fez mais sucesso foi a que Chiquinha Gonzaga compôs para o “Rosa de Ouro”...
TODOS - “Ô abre alas, que eu quero passar...
Eu sou da lira não posso negar
Rosa de ouro é que vai ganhar!

E vai por aí a fora... Quem sabe um dia eu não consigo montar essa peça? Garanto que a platéia vai ferver! Vai ter gente cantando: “Alá-la-ô ô ô ô ô ô... mas que calor...ô ô ô ô ô...” e outros entoando: “Ai que calor, mamãe... na bacurinha, mamãe... Não é na sua, mamãe... Mas é na minha, mamãe...”
M.S.
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Neste sábado, entra texto novo meu no Playground dos Dinossauros. Quem quiser saber sobre meus “Rosebuds”, dê uma chegadinha lá.
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Queria agradecer muitíssimo à minha querida amiga Renatinha por ter me indicado para o selo “Amigos Virtuais”. Obrigado, querida. Você é sempre tão gentil com o Antigas Ternuras... Pela praxe desses post.correntes, eu devo indicar dez outros blogs. Como tenho feito ultimamente quando um amigo me indica, eu repasso para todos da minha lista “Outras Palavras”. Todos são maravilhosos amigos virtuais.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve seleção de antigas marchinhas de Carnaval. Evoé, Momo! Bom Carnaval para todos!