sexta-feira, abril 25, 2008

Anjo


No outro dia, estava procurando algo em velhos guardados, quando me deparei com este quadro que está acima.
Para quem tem mais de quarenta anos, e teve tia velha, avó e assemelhados, nem preciso explicar do que se trata. Para os mais novos, talvez seja necessário falar um pouco dessa antiga ternura.
Este é o quadro “Anjo da guarda sobre a ponte”. Nele, vê-se duas crianças prestes a atravessar uma pinguela sobre uma pirambeira perigosa. Elas temem. Mas por trás das duas, há um belo anjo que lhes guarda e lhes protege de todo o mal.
*
Na casa em que cresci, esse quadro ficava no meu quarto. Desde que me entendo por gente ele estava lá, sob pequenas lâmpadas (tudo bem, era cafona pra dedéu, mas não se trata disso). Lembro que em várias noites, o menino amedrontado olhava para a figura e acabava encontrando alívio para enfrentar mais uma noite trevosa. Na busca do sono ausente, olhava o quadro e seus detalhes, contava as traves no piso da ponte, me via atravessando aquele abismo e procurando atalhos seguros na travessia.
Percebia a luz e as vestes do anjo. Sua face tranqüila, passando segurança.
*

Nas aulas de catecismo, me ensinaram uma oração, que diziam ser poderosa:
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege e guarda, governa e ilumina. Amém.”
Recentemente, uma pessoa amiga me ensinou outra, que deve ser dedicada a quem queremos bem:
"Que o seu anjo da guarda com sua luz infinita e de sagrado amor e sabedoria ilumine você, sua mente e seu espírito e toda a sua família".
*
Anjos existem? A Bíblia fala deles, desde o Antigo Testamento. E ainda nomeia alguns. Sobre Anjo da Guarda, diz a voz corrente que quando nasce alguém na Terra, Deus providencia o surgimento de um anjo no Céu, que zelará por cada um de nós. Ainda segundo a voz corrente, a missão de nosso Anjo da Guarda e inspirar boas ações, boas obras, iluminar o nosso espírito no caminho do Bem, estimulando a prática da justiça e do amor fraterno.
Xiii!
Coitado dos anjos.
Diante do quadro de iniqüidades que vivemos dia a dia, atravessando pontes em destroços a cada momento, vendo nossa fé e possíveis boas obras rolando pelo abismo... sei não.
*

O quadro não fica mais no meu quarto. O menino cresceu e já não precisa olhar para a figura. Basta recordá-la. Talvez ele não acredite na existência daquela figura bela, iluminada, com asinhas. Mas intimamente ora para seu ou seus protetores. E ele sabe, definitivamente, que eles existem, já teve provas disso.
M.S.
***********************************************
Queridos amigos: graças a Deus e às orações de vocês, minha mãezinha está bem melhor, em franca recuperação. Como vocês sabem, ela é o meu anjo...
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Carpenters cantando “For All We Know”. Se anjos existem, eles cantam com essa voz. Aguardem: brevemente um post sobre Karen Carpenter.

sexta-feira, abril 18, 2008

Que família, meu Deus!


Quando eu era menino, adorava ler a Bíblia por ser fascinado pelas suas histórias. Eu sempre gostei de uma boa história e a Bíblia está repleta delas. E como publico aqui regularmente a seção “A História tem cada história!”, hoje vou contar para vocês um adorável “causo” sobre a família de Jesus. Não sei se vocês sabem, mas entre os antepassados do nosso amado Mestre tinha um pessoal barra pesadíssima! Tem filho de incesto, tem prostituta, tem adultério... Olha, a impressão que se tem é que foi o Nelson Rodrigues quem escreveu essa parte do livro santo.
*
Se eu fosse contar todos os babados fortes da família de Jesus, esse post iria ficar muito grande. E eu tenho me esforçado por escrever o menos possível, porque sei que é cansativo ler na tela e além do mais, vocês têm outros blogs para visitar. Portanto, vou contar só uma fofoca. Depois, se vocês quiserem, eu faço aqui uma revista “Contigo na Bíblia” e conto todos os outros podres daquela família da pesada.
*

Vou começar pelo incesto (essa história pode ser lida no Capítulo 38 do livro de Gênesis, para quem quiser conferir).
Bem, vocês sabem: Abraão, gerou Isaac e este gerou os irmãos Esaú e Jacó. Este último teve 12 filhos, um deles foi José, abandonado pelos irmãos, vendido como escravo para mercadores egípcios, acabou como conselheiro do faraó e governador do Egito (aquele do sonho das vacas gordas e vacas magras). Pois é. O quarto filho de Jacó, que tinha o nome de Judá, era uma espécie de líder dos demais. Foi dele a idéia de vender o irmão José para os egípcios. Quando estava na idade de casar, ele deixou a casa de seu pai e foi tocar a vida. Conheceu um cananeu de nome Hira que tinha uma filha chamada Sua. Diz o versículo 2, do Capítulo 38 do Gênesis que Judá “tomou-a e entrou a ela”. Bem, “entrar a ela” é exatamente isso que vocês estão pensando.
*

Judá pegou sua Sua e botou ela pra suar. Ela lhe deu três filhos: Er, Onan e Selá. Quando seu mais velho estava grandinho, Judá lhe arranjou uma esposa, chamada Tamar. Na verdade, Judá estava doido para ter netos e ver dali uma grande descendência. Isto era a grande aspiração dos hebreus da época. Er se casou com Tamar, mas não deu tempo de engravidá-la. Quer dizer, ele “entrou nela”, mas não a embuchou e acabou morrendo em pouco tempo. Diz o versículo 7 que o Er era mau e Deus mandou matá-lo. O Deus do Antigo Testamento era uma espécie de Don Corleone. Se alguém mijasse fora do penico com ele, acabava morto, estirado com a boca cheia de formiga.
*

Daí, era costume na época que se um irmão deixasse uma viúva sem filho, ela passaria para o irmão seguinte. E o filho que este tivesse com ela não seria dele e sim do irmão falecido. Como no caso o morto era o primogênito e herdeiro de todos os direitos, o filho desta segunda união, mesmo não sendo gerado pelo mais velho, herdaria tudo. Judá mandou Onan “entrar na viúva” para gerar o neto que ele tanto queria. Só que o Onan pensou: “péra lá! Eu entro nela, faço o filho e o filho não será meu? Ah, tô fora!” E foi exatamente o que ele fez: entrava na mulher, mas gozava fora. Curiosamente, Onan entrou para a História como o inventor da masturbação (onanismo), e na verdade ele inventou o “coito interrompido”. Como se vê, ele não foi o cara celebrado como ídolo pela Sagrada Ordem dos Descabeladores de Palhaço, aquela gente que costuma fazer uma espécie de fisioterapia prazerosa no bigorrilho.
*
Vamos adiante. Don Corleone, quer dizer, Jeová, quando ficou sabendo daquela sacanagem, passou o cerol em Onan (eu sei, no versículo 10 diz que “o Senhor o matou”, mas acho “matar” muito forte. Um pouco de eufemismo não faz mal a ninguém. Pô, o cara é Deus, não é?...). E Tamar perdeu o segundo marido sem gerar um neto para o já desesperado Judá, que estava inclusive viúvo. Sobrou o seu terceiro filho, Selá, que era muito jovem para entrar na cunhada. Judá prometeu que assim que ele estivesse crescidinho, mandaria o garoto botar o siri na toca da moça. E ela foi para a casa do pai e ficou esperando, esperando...
*

O Selá cresceu e nada entrar nela. Não que o garoto não fosse chegado numa ostra kosher. É que esperava o pai dar a ordem e o velho parecia ter se esquecido da bi-viúva Tamar. Foi quando ela resolveu que alguém daquela família tinha que entrar nela e fazer um filho para acabar com aquela agonia. E seria o próprio Judá. Pôs-se a pensar até que teve uma idéia brilhante: fantasiou-se de prostituta e foi pra rua, no caminho que o Judá costumava passar. Ela tentou o velho que não a reconheceu e, cheio de tesão, pois há muito tempo não botava o kibe num forno, pediu para entrar nela (tá lá, no versículo 16, não estou inventando: “peço-te, deixa-me entrar em ti”). Ele propôs pagar um cabrito pela bimbada, mas estava sem nenhum naquele momento. A Tamar falou que tudo bem, mas que ele deveria deixar o selo, o lenço e o cajado como garantia de que pagaria pelos serviços dela. O Judá que já estava naquele estado em que não se pensa com a cabeça de cima, topou. E entrou na Tamar com tudo!
*

Quando chegou em casa, mandou um amigo levar o cabrito e pegar os seus objetos de volta. Só que a esperta da Tamar já tinha se raspado dali. Passou um tempo, e correu a notícia de que ela estava grávida. “Mas como? Ah mulher adúltera!”, vociferou Judá, que já saiu de casa furioso, achando que a bi-nora tinha cometido adultério, não se guardando para o Selá. Já chegou lá gritando “eu mato! eu mato! vou queimar essa filha de uma camela!” Foi quando a Tamar mostrou o selo, o lenço e o cajado dele e contou toda a verdade. Ao invés de ficar irado por ter entrado na bi-nora que era considerada como filha por ele e daí o incesto, Judá disse que ela estava certa e reconheceu a paternidade daquela barriga. O filho que nascesse dali seria o seu herdeiro.
*

Acontece que na hora do parto, a parteira percebeu que eram gêmeos. Caraco! E aí? Pois é, ser primogênito naquela época era coisa muito séria, já que seria o dono de tudo. Disse a parteira: “o primeiro braço que aparecer, eu amarro uma fita”. E no que surgiu um bracinho ali, na zona do agrião, a parteira mais que depressa amarrou a fita. Foi quando aconteceu o inesperado: o bebê recolheu o bracinho e voltou pra dentro da mãe. Cara! Isso é fantástico! O Moisés estava particularmente inspirado quando escreveu essa trama no livro de Gênesis! Sabem o que aconteceu? O do bracinho com a fita saiu em segundo lugar! O primogênito recebeu o nome de Perez e o da fita, Zerá. Da linhagem de Perez nasceria Jesus Cristo.
Viram só que história? Que novela das oito é o cacete! A Bíblia dá de dez a zero! Muito melhor que o Big Brother!
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Canção de Amor”, com a divina Elizeth Cardoso. Dedico esta música à pobre Tamar que passou de mão em mão e ficou sempre na saudade...

terça-feira, abril 15, 2008

As cartas não mentem (ou só um pouquinho?)


Noutro dia, fui visitar a minha amiga Yumi e vi um post sobre uma consulta virtual que ela fez ao tarot. Ôpa! Essas coisas esotéricas são comigo mesmo! Tô dentro! Fui lá na página indicada e coloquei meu nome completo. Pronto! Saiu minhas 42 características, segundo as cartas do tarot!
Lendo uma a uma, vi que eles acertaram 31 e erraram as demais 11 (o que dá 26% de erros, se as cartas não mentem, essas dão uma boas derrapadinhas).
Pedi autorização a ela para colocar minhas características aqui como post. E resolvi lançar uma proposta a quem se interessar.
Você está sem inspiração para um post? Está sem saco para ficar pensando no que escrever?
Seus problemas acabaram!
Chegou o sensacional POST CORRENTEITOR TAROT EMBROMATION DO GRUPO CAPIVARA-SEU CREYSSON!
Clique aqui, depois em “conheça o seu arcano”, leia as instruções, coloque o seu nome completo e voalá! Veja as suas caraterísticas e marque C ou E para as certas e erradas, e aproveite para dar uma comentada básica em cada resposta.
E voalá de novo! Você fez a atualização da página, deu a chance da gente bisbilhotar sobre os seus mais secretos segredos e todos ficamos felizes!
Aí vão os mais íntimos recônditos de minha alma.

Seu Arcano Pessoal é:
8 - A JUSTIÇA (Segundo eles, esta é a minha carta-símbolo)
(Rider Tarot: A Força)
Palavras-Chave: Retidão e Equilíbrio

- Acontecimento marcante a nível psicológico aos 8 anos de idade; [E] (O acontecimento marcante foi aos 6 anos e meio, quando meu pai foi pro céu. E esse “a nível” aí é dose para hipopótamo obeso...)
- Senso de justiça apurado; [C] (Certíssimo!)
- Autoridade; [E] (Eu não sou autoridade em nada e não convivo bem com autoridade; eu nunca seria militar, por exemplo)
- Deseja obter o máximo de respeito por parte dos outros; [C] (E quem não quer ser respeitado?)
- Dúvidas acerca da capacidade; [E] (Mas de jeito nenhum! O que sei, eu sei. O que eu não sei, confesso na maior! Sem dúvida nenhuma, sou uma anta em informática, por exemplo)
- Muitas vezes duro demais consigo mesmo; [C] (Tá aí uma grande verdade... Eu não gosto de falhar. Coisa de virginiano)
- Quer ser imparcial nas discussões; [E] (Rá! Pedir a um rubro-negro apaixonado para ser “imparcial”?)
- Magnitude e comportamento refinado; [C] (Ah... Bobagem... Não precisava ter dito...)

- Quer ser ouvido(a) e fazer valer sua vontade; [E] (Olha... Eu ando numa fase do tipo cagando e andando se concordam comigo ou não...)
- Desafios na relação a dois; [C] (Huuumm... Isso é bom, né?)
- Cuidado com o autoritarismo; [E] (Quem...eu?)
- Conflitos de poder com figuras masculinas; [E] (olha, não mesmo... Meu chefe, manda e eu obedeço, mesmo discordando; meu diretor de teatro manda e eu faço, mesmo discordando)
- Busca segurança máxima; [C] (Acertou na mosca! Sou totalmente pé no chão!)
- Previdência; [C] (Complemento da assertiva anterior; sou que nem a formiga da fábula da cigarra)
- Instinto protetor e defesa de seu território; [C] (É... Mais ou menos... Sem exageros...)
- Quer e passa credibilidade; [C] (É o povo e o tarot quem diz isso...)
- Confiança adquirida; [C] (Arram, arram...)
- Se sociabiliza escolhendo bem com quem se relacionar; [C] (Verdade verdadeira!)
- Não seja tão severo consigo mesmo; [C] (Pois é. Eu vivo dizendo isso e fico irritado quando eu não me ouço)
- Princípio e honestidade; [C] (Aprendi com Dona Ruth e Seu Ferreira)
- Segue as leis e procura aplicá-las na prática; [C] (Ô se não!)
- Mente inquieta; [C] (Eu e minha amiga Isabela...)
- Capacidade criativa a nível técnico; [C] (Criativo, sim... “A nível” técnico?)
- Poder absoluto pelas palavras; [C] (Ahhh... A maior certeza que esse teste teve)
- "Morde e assopra" ; [E] (Já fui de morder. Hoje eu mais assopro...)
- Cuidado com a inflexibilidade; [C] (Sou inflexível, sim! E nada me faz mudar!)
- Pune-se quando não consegue exatamente o que programou; [E] (Epa! Epa! Epa!... Masoquista é o caramba!)

- Controle emocional; [C] (Quem me viu ouvindo as bobagens que um bostafoguense babaca (desculpe a redundância) me falou depois daquele jogo, eu tranqüilo feito um monge zen aposentado, concordaria que eu tenho total controle emocional)
- Cuidado com o conformismo; [E] (Errou, tarot. Nem de longe eu sou conformista)
- Empenha-se ao máximo no que faz; [C] (Aaaaaaabsolutamente certo!)
- Orgulho intelectual; [C] (Ahhh... Bobagem...)
- Firmeza e controle; [C] (Sou um monge zen, já disse)
- Assuntos burocráticos e legais são testes para você; [E] (Só se for teste para a minha paciência!...)
- Atenção aos rins e aparelho circulatório; [C] (Se o tarot diz, tá falado! Sou muuuito preocupado com minha saúde. Quase um hipocondríaco)
- O trabalho é a válvula de escape; [C] (Se está falando da parte agradável dos meus trabalhos, acertou)
- Receio de cometer enganos; [C] (Já falou isso, tarot!)
- Produtividade; [C] (Modéstia às favas...)
- Maturidade adquirida a duras penas; [C] (Certo, certíssimo! E ainda falta adquirir mais um pouquinho!)
- Mãe severa ou distante emocionalmente; [C] (Severa, sim. Distante emocionalmente, mas de jeito nenhum!)
- Privação do prazer; [C] (Certo se for em assuntos específicos. Eu adoraria encher a boca de manjar, pudim, doce de leite, torta de morango, sorvete e qualquer objeto no Universo que leve açúcar em sua composição. Mas me privo em nome da saúde)
- Falsa modéstia; [C] (Putz! Agora você me entregou, tarot!)
- Temperamento encimesmado; [C] (Caraco! “Encimesmado” com “C”???? Tsc, tsc, tsc... Mas, sim, tarot, tenho um comportamento ENSIMESMADO. Sou quieto e introspectivo, mesmo)

Total: 31 acertos e 11 erros.
Quem quer brincar disso?
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Yves Montand, interpretando “Sous le ciel de Paris”. Sabe o que é? Eu gostaria que alguém colocasse as cartas de tarot pra mim numa mesa de café no Champs Elysée, com vista para a Torre Eiffel...
***********************************************
Amigos, desculpe se não tenho aparecido. Estou com minha mãe doente, ainda inspirando cuidados. Vocês entendem, né?

quarta-feira, abril 09, 2008

Cadê o bispo?

"
Quando eu era menino e assistia ao desenho dos Jetsons, imaginava que se vivesse até o Século 21 (que começou em 2001, não se esqueçam), eu encontraria além daquele videofone e dos carros voadores, a erradicação de todas ou da maior parte das doenças. Estudava que no início do Século 20, Oswaldo Cruz tinha lutado bravamente contra uma população ignorante e omissa, que vivia numa indigência higiênica que propiciava o aparecimento de várias pestes e epidemias. “Isso vai acabar depois de 2001”, pensava eu, inocentemente.
*

Eis que vivo em pleno Século 21, no futuro que eu tanto imaginara. Converso com minha irmã, que mora na Europa, por um videofone parecido com o dos Jetsons. Meu carro não voa, mas tem alguns itens que eram inimagináveis naquela época. Mas em plena época da tecnologia, vejo a minha cidade retroceder no tempo e ser assolada por uma epidemia como nos tempos do Oswaldo Cruz. Naqueles idos, um mosquito, o Anopheles, transmitia febre amarela. Atualmente, um outro mosquito, o Aedes Aegypt, está matando crianças e provocando uma hecatombe nos hospitais públicos. Como ficamos nessa situação? De quem é a culpa? Vamos ter que nos queixar ao bispo?
*
Está aí um bom motivo para mais um texto da seção “A origem das expressões de uso corrente”. Hoje trataremos da expressão:

Vá se queixar ao bispo!

*

Costuma-se dizer isso a quem tem alguma reclamação e sabe que não adianta se dirigir a um órgão de governo. A origem da frase vem dos tempos coloniais brasileiros e, acreditem, é inacreditável! Esse tipo de coisa só poderia acontecer no Brasil...
*
Quando o primeiro governador-geral brasileiro, Tomé de Souza, veio para cá e fundou a primeira capital, Salvador, em 1549, ele viu rapidamente o núcleo urbano crescer. Os portugueses que lá viviam assentaram suas roças, formaram um incipiente comércio, foram se estabelecendo. Tomé criou uma ouvidoria-geral, um servidor público que ficaria com a responsabilidade de ouvir as queixas da população e investigá-las. Escolheu para o cargo um certo Pero Borges. Acontece que as maiores queixas da população eram contra o próprio governador-geral (que nem era tão ruim assim, na verdade, foi o melhor dos três primeiros que o Brasil teve...). Como o Pero, além de corrupto até dizer chega, tinha o rabo preso com o Tomé de Souza acabava empurrava as queixas com a barriga, não investigando nada. Mais tarde, o rei de Portugal determinou que caberia ao bispo designado para o Brasil as funções de ouvidor.
*

Vem para o Brasil o seu primeiro bispo, Dom Pero Fernandes Sardinha, para ser também o Ouvidor-Geral. Aliás, o Sardinha era mais corrupto que o Pero Borges, mas vou tratar disso em um outro post sobre as origens da corrupção no Brasil. Podem me cobrar.
Naquele início de colonização, mulher por aqui era artigo raro. Quer dizer, tinha índia pra dedéu e elas adoravam liberar a perereca para os lusos. Não respeitavam nem os padres jesuítas! Caíam matando mesmo. Mas os portugueses não queriam se casar com elas, só queriam fazer saliência com elas. Foi necessário importar mulheres de Portugal. Cataram um punhado de órfãs, prostitutas, prisioneiras, quem tivesse dando sopa lá em Lisboa e mandaram para cá (repararam no nível da mulherada que deu início ao povo brasileiro? Vocês não viram nada...).
*
Como o intuito era povoar as novas terras, os homens portugueses queriam ter certeza de que as mulheres eram férteis. Daí pediam para fazer um test drive nas cachopas. Se elas pegassem filho, aí eles se casariam com elas. E pasmem! A Igreja autorizou! Liberou a moçada para comer a merenda antes do recreio! E foi então que aconteceu o inevitável: os gajos passavam o rodo nas meninas, elas ficavam prenhes e eles sumiam no mundo ou diziam que não queriam casar.
*
O que restava à gaja barriguda? Ora, se queixar ao bispo! E o Sardinha mandava a guarda caçar e prender o fujão, o obrigando a se casar com a moça.
*

Pois é. Quem fornicava, tinha que assumir. E hoje? Quando o governo, quando as “otoridades” f(@#$%&*)odem com a vida do cidadão. Cadê o bispo para a gente se queixar?
Se bem que no caso da dengue, estou certo de que não são somente os governos (municipais, estaduais, federal) os responsáveis pela disseminação dos focos de mosquitos. Esse nosso povinho é o principal culpado. Tanta campanha pela TV, Rádio, jornais, para se evitar criar ambiente para os mosquitos porem seus ovos e a imprensa vive mostrando caixa d’água destampada, garrafas e pneus com água parada nos quintais, vasos de planta cheios de larvas na porta de casa (vi no jornal a cara de babaca de um sujeito que ficou “espantado” quando mostraram um baita criadouro de aedes nas suas plantas, bem na sua varanda)... Contra essa falta de cidadania, nem o papa dá jeito!
M.S.

***********************************************
Caros amigos, fiquei sabendo que quem mora em São Paulo, capital e interior, não teve como assistir ao programa do Sergio Britto. A Cultura retransmite parte da programação da TV Brasil, mas não todos os programas e, infelizmente, o “Arte com Sergio Britto” não é um deles. Mas, calma! Não vos desesperei! Um amigo gravou a entrevista em DVD e vai arranjar um jeito de dividi-la em dois blocos de 10 minutos para inseri-la no You Tube. Aí eu boto as telinhas aqui e quem não conseguiu ver vai ter a oportunidade. Fiquei muito feliz com o resultado. A minha entrevista ocupou metade do programa! Obrigado a todos que assistiram e aos que tentaram.
*************************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Adoniram Barbosa e Demônios da Garoa contando um caso típico para se queixar ao bispo: “O casamento do Moacir”.

sexta-feira, abril 04, 2008

Antigas Ternuras no "Arte com Sergio Britto"


Pois é, caríssimas e caríssimos.
Nesta terça-feira (8/04), às 22h, o programa “Arte com Sergio Britto”, da TV Brasil (antiga TV Educativa, não confunda com o Canal Brasil), vai exibir a entrevista que o famoso ator e diretor teatral fez comigo sobre o meu livro “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo” (veja a capa aí ao lado).
*
Gravamos uns 20 minutos de papo, não sei se eles vão exibir tudo (acho difícil). De qualquer forma, foi uma conversa bem agradável com meu antigo professor de arte dramática, meu diretor em várias peças, meu companheiro de palco em algumas, e meu parceiro de autoria em “Cafona, sim, e daí?” (apontada como uma das melhores peças de 1997).

*
Na última quarta-feira (2/04), O Globo e o Estado de São Paulo publicaram matéria sobre o meu livro. Transcrevo-a abaixo:
UMA FIGURA E SEU TEMPO
Livro sobre o ator Brandão retrata o Teatro no Brasil nos Séculos 19 e 20

Quem diria que Leonardo di Caprio inspiraria um livro sobre um brasileiro que fez sucesso no final do Século 19 e início do Século 20? Pois foi ao ver um livro sobre o ator americano que o pesquisador, ator e jornalista Marco Santos percebeu que artistas brasileiros do passado caíam no esquecimento, enquanto o jovem di Caprio já tinha até biografia (isso foi em 1997). Esse foi o estopim para “Popularíssimo: O ator Brandão e seu tempo”, livro que não só aborda a vida e obra de Brandão (1844-1921), como conta histórias dos primórdios do Teatro brasileiro.
Na verdade, o autor pretendia escrever sobre Brandão Filho, herdeiro do ‘popularíssimo’, que ficou conhecido pelo personagem Primo Pobre, que contracenou com Paulo Gracindo no Rádio e na TV. Foi o filho que ‘apresentou’ Santos ao pai. O autor pesquisou por cinco anos, leu 70 livros e entrevistou familiares, estudiosos de Teatro e até uma contemporânea de Brandão, a atriz Cordélia Ferreira. Com prefácio de Domingos Oliveira, o livro é recheado de casos engraçados e curiosidades.

*
É isso aí, amigos. Estou esperando comunicação de um político de São Paulo que se interessou por apoiar o lançamento do meu livro na terra da garoa. Aviso a vocês quando acontecer.
*
Enquanto isso, o livro pode ser encontrado na Leonardo da Vinci, Livro Antigo, Letras e Expressões, Argumento (todas no Rio de Janeiro), Cultura (SP e Brasília) e pequenas livrarias de Belo Horizonte. E também, vocês sabem, diretamente comigo, pelo endereço popularissimo@gmail.com, ao preço de R$ 40,00.
(*) A TV Brasil é canal aberto. No Rio, passa no Canal 2. Em alguns estados, São Paulo inclusive, ela é transmitida pela TV Cultura. É o mesmo canal onde passa o programa Sem Censura)
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Smile”, por Carmem Cavallaro, tema do velho programa Grande Teatro Tupi, do qual o Sergio era uma das estrelas.

terça-feira, abril 01, 2008

Conheça-te a ti mesmo!


“Prudens in loquendo est tardus”.
Το αγαθό για τη γνώση αυτό πρόκειται να είσαι σιωπηλό, μέχρι την ύπαρξη χρόνος της ομιλίας
Ele levantara a cabeça para melhor pensar e seus olhos encontraram na parede em frente a placa em madeira, com a frase em latim e grego escalavrada com esmero.
Sorriu.
“Bom saber é o calar, até ser tempo de falar”, traduziu mentalmente, e esgarçou uma tentativa de sorriso. Tentou lembrar da última vez em que tinha ouvido a sua voz sem, contudo, chegar a uma conclusão.
Estava entretido com uma tradução em hebraico do “Guia dos Perplexos”, de Maimônides, quando lera na obra a recomendação: “Não o leia superficialmente, para não me ofender, e não extraia benefício para si mesmo. Você deve estudar extensivamente e ler sempre”. Era preciso refletir sobre isso.
Olhou em volta, cercado que estava por pergaminhos, e sentiu necessidade de ver o céu. Estava ali encerrado há tantas horas que não tinha certeza se já era noite ou se o sol ainda aspergia ouro pelos campos ao redor do mosteiro. Levantou-se e fez estalar as pedras do chão com seus passos medidos, no rumo do jardim. Foi recebido pelo perfume de glicínias, que se derramavam em cachos arroxeados sob a luz da lua, cercados por vaga-lumes a salpicar de estrelas o ar em derredor. Uma leve brisa fez tremelicar a barba grisalha, impregnando-a do perfume da flor. Deixara para trás milhares de palavras exaltando o Deus do Universo. E ali ele olhava um silencioso exemplo de milagre, que nem todas as letras que já escrevera na vida conseguiriam descrever. “Obrigado”, disse quebrando o silêncio. “Obrigado”, repetiu, porque sentiu que era tempo de falar.
*

Escrevi este pequeno e despretensioso conto a partir da resposta que li, consultando um certo site da Internet. Tinha visitado o blog da amiga Yumi e visto lá um link para um site que dizia o que a gente foi na última encarnação. Fiquei curioso. Tenho lido muito sobre vidas passadas ultimamente. Aliás, eu me interesso por isso desde muito tempo. Já tentei fazer regressão, para descobrir o que fui em outra vida. Não consegui. Eu até assisti a uma palestra do Brian Weiss, o “papa” das viagens astrais. Ele propôs à platéia um exercício para regredirmos. Pelo menos para mim, não funcionou. Fico imaginando o que um cara com sede de estudo e pesquisa não faria se soubesse quem e o que foi em encarnações passadas. Vai ver é por isso que eu não consegui. Certos segredos são para serem guardados.
*
Mas ali estava a resposta! Fácil, não é? Bastou eu preencher um formulário no site e pronto! Está ali, ao alcance de qualquer um. Não requer prática, nem tampouco habilidade. Querem saber o que fui no passado? Eis a resposta:
Olá Marco,
Na sua outra vida, você era um copista que nasceu no ano de 1215 d.C. na região onde hoje fica a Espanha.
COMO VOCÊ ERA?
Você era um monge copista. Silencioso, introspectivo e perfeccionista, acreditava que passar o dia concentrado, copiando livros, era uma forma de meditação. À noite, costumava transformar as palavras em poemas. Sua vida sempre fora muito solitária no silêncio do monastério. Mas Deus sempre esteve presente na sua vida. Você tinha orgulho em poder ajudá-lo, levando o conhecimento aos homens através dos livros que transcrevia.
QUAL LIÇÃO DO PASSADO VOCÊ PRECISA TRAZER PARA O PRESENTE?
Ficar em silêncio e meditar é um bom exercício de autoconhecimento. Nunca perca este costume! Porém, tente ser mais comunicativo, criar mais, ter idéias próprias. Continue ajudando a difundir o conhecimento, iluminar as mentes e transmitir mensagens positivas. Mantenha-se tranqüilo e conciliador.
*

Daí eu escrevi o pequeno conto para entrar no clima de minha encarnação.
Se isso é verdade? Fui mesmo um monge? Sei lá! Mas duvido que o site tenha acertado. O negócio soa um tanto a uma espécie de “Encarneitor Auto-Self-Conhecedor Tabajara”. Como no formulário a gente coloca data de nascimento, eles dão uma resposta que combine um pouco com o signo astrológico da pessoa. Sou virginiano e a galera deste signo é meio silenciosa, introspectiva, perfeccionista. Não é à-toa que minha carta-símbolo no Tarot é o “Eremita”.
*
De qualquer forma, achei divertido. Pelo menos me rendeu um post, não é?
Querem brincar disso também? OK, basta clicar aqui.
Depois me contem o que vocês foram na outra vida.
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve a minha melhor música de todas que existem. Meu eterno tema, a música que me define e com a qual quero ser lembrado: “Somewhere in time”. Bom, né?