quarta-feira, agosto 31, 2005

Alalaô-ôôô


Há uns dez anos, eu me correspondia (em inglês) com uma cientista russa, a Svetlana. Tínhamos muita curiosidade em relação ao país do outro, mas, inegavelmente, eu sabia mais sobre a terra dela que ela da minha.
Certa vez ela me escreveu dizendo que estava feliz, curtindo um dia de verão “com agradáveis 15 graus”. Eu lhe respondi que também estava curtindo um belo dia de inverno com “agradáveis” 35 graus.
Ela me retornou, perguntando: “35 graus positivos????”
A Svetlana nunca saiu da Rússia. Ela não tinha a menor idéia do que seja sentir uma temperatura de 35 graus. E imagino que os seus olhinhos azuis tenham se arregalado quando leu que aqui no Rio de Janeiro estávamos no inverno com aquela temperatura.
“Se no inverno faz 35 graus quanto faz no verão?” – ela me perguntou.
A lógica moscovita: no inverno de lá se atinge 20 graus negativos fácil, fácil, e no verão sobe para 15 ou 20 graus positivos. Logo, se em nossa estação fria alcançamos 35 graus, na quente talvez ultrapassássemos impossíveis 50 graus!
Esclareci que não chega a tanto. Na verdade, no Rio de Janeiro não temos estações definidas. Temos uma temporada quente e outra mais quente.
Ontem, passei diante de um termômetro de rua e estava marcando “35 graus” (em Copacabana chegou a 45, vide foto). Lembrei da Svetlana, com quem infelizmente perdi contato. Ela deve estar curtindo o seu verão de 15 graus e nós aqui, no nosso rigorosíssimo inverno, empapuçando até as calças de suor.
M.S.

Fiquei sem palavras


Está em cartaz no Estação Unibanco o filme mais recente do diretor sul-coreano Ki-duk Kim: "Casa Vazia".
É o segundo filme dele que eu assisto. O primeiro foi o belíssimo "Primavera, Verão, Outono, Inverno...e Primavera". E já neste observei um estilo cinematográfico curioso: o filme quase não tinha diálogos. Tudo bem que as imagens maravilhosas das locações daquele templo budista já falavam por si. Mas não é comum um filme com tão poucas palavras ditas.

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Pois neste "Casa Vazia" tem menos diálogos ainda! E mais: o protagonista passa o filme inteiro sem dizer um "ai!". Até onde me lembre, é a primeira vez que um personagem principal de um filme entra mudo e sai calado.
Eu não quero adiantar muita coisa sobre a história para não tirar a surpresa de quem quiser assistir (o que eu pessoalmente recomendo). Basicamente, o argumento é o seguinte:
Um rapaz outsider vaga por uma grande cidade, invadindo as casas de pessoas que estão viajando. Ele não rouba nada. Ao contrário: lava (na mão!) a roupa dos donos da casa, realiza pequenos consertos, rega as plantas e faz a faxina geral. Em troca, ele dorme lá, come umas coisinhas, tira fotos suas com objetos pessoais dos donos das casas.

Em uma dessas invasões, ele conhece uma mulher, cujo marido a maltrata, e que acaba fugindo com ele e adotando a sua mesma vida errante.
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O filme tem uns interessantes toques de realismo fantástico que muito me agradam. O tal rapaz, que é uma espécie de ser invisível nas casas que invade, acaba mesmo ficando "invisível".
O casal protagonista não se fala quase nunca (ela só diz uma frase para ele no final do filme), mas há entre eles uma comunicação tácita de gestos que valem mais que todo um discurso de filme sueco. Os psicologistas de plantão podem fazer trocentas leituras: na nossa sociedade globalizada existem pessoas que nos são invisíveis, mas que existem; não é preciso ver para se perceber uma idéia; nem mesmo falar para demonstrar a absurda poesia cotidiana e vai por aí a fora.
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Mas o que me deixou absolutamente "sem palavras" foi saber que este interessante filme foi escrito em três dias, filmado em praticamente duas semanas e montado em menos de um mês. Quando penso que algumas películas levam anos em concepção, filmagem e pós-produção, acho que a grande mensagem que o talentoso Ki-duk Kim nos passa é reafirmar ser possível realizar em cinema algo bom e belo fora do esquema da megaprodução. Como se demonstrasse que fazer cinema é coisa fácil. Quando sabemos que fazer filmes, especialmente bons filmes, é algo muito, muito difícil. Menos para quem tem verdadeiramente talento, é claro.
M.S.

domingo, agosto 28, 2005

Napoleão esteve perto do Brasil


Dia desses, eu estava conversando com o Prof. Dr. Nelson Senra sobre os príncipes de Joinville. Daí que ele me disse que o príncipe foi um grande navegador, tendo sido, inclusive, incumbido pelo pai, o rei de França Luis Felipe, de ir à ilha de Santa Helena para transportar os restos mortais de Napoleão Bonaparte para a pátria natal.
Nelson me disse que tinha lido em algum lugar que o filho do rei francês estivera no Brasil antes e se apaixonara pela irmã de Pedro II. Algum tempo depois dele cumprir a missão que lhe fôra dada, chegou ao Rio para casar-se com a princesa brasileira.
Quando ele contou esta história, senti que dava um bom texto aqui para o blog. Claro que, como jornalista, eu tinha que apurar a “matéria”.
De qualquer forma, ao investigar o “causo” acabei descobrindo fatos que desconhecia e que, imagino, sejam também desconhecidos do grande público. Por exemplo: a ilha de Santa Helena, onde Napoleão Bonaparte foi aprisionado pelos ingleses, depois de ter perdido a guerra em Waterloo (nada a ver com aquela frase que todo engraçadinho diz quando encontra uma moça na posição cabeça para baixo e bunda para cima...), em 1815, fica no Atlântico Sul. A localização mais aproximada seria, entre o Brasil e a África, mais perto da costa da Namíbia do que do litoral brasileiro, na altura do sul da Bahia, mais ou menos em linha reta para dentro do mar, a partir da cidade de Ilhéus.

Isso eu não sabia. Imaginava que a ilha de Santa Helena ficasse no Atlântico Norte, mais próxima da Europa. E, no entanto, o corso baixinho, padroeiro dos doidos varridos de piada de hospício, viveu seus últimos anos logo ali, quase em frente da terra do Nacib e da Gabriela!

E olha que nem ficava tão longe assim. Quando o Amir Klynk atravessou o Atlântico Sul em barco a remo, saindo da África para o Brasil, ele passou pela ilha de Santa Helena. Quer dizer, se Napoleão conseguisse fugir da ilha, não seria difícil vir para o Brasil (taí um bom tema para um romance: “o dia em que Napoleão fugiu para o Brasil”). Não seria uma boa idéia, visto que a Família Real portuguesa, que fugira dele, ainda estava por aqui.
Mas sobre o “causo” dos príncipes de Joinville, no texto abaixo conto tudo o que apurei.
M.S.

O Chico francês e a Chica brasileira

Em 1938, o príncipe de Joinville, François-Ferdinand-Philippe, filho do rei de França, Louis Phelippe de Orleáns, esteve no Rio de Janeiro, como membro da tripulação da corveta “Hercule”. Na ocasião, ele conheceu a princesa Francisca Carolina, irmã de Pedro II, então com 14 aninhos.

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E o François caiu de amores pela princesa brasileira... Vendo o retrato da moça, a gente até acha que ela tinha os seus encantos, visto que, de forma geral, a descendência de D. João VI e de D. Carlota Joaquina estava mais para “cão chupando manga e de aparelho nos dentes” do que para “apolos e afrodites”... E a tendência era piorar, visto que os casamentos eram feitos por procuração e arranjados entre representantes das famílias nobres. Não importava sentimentos ou beleza e sim a descendência de sangue azul. Para casar com um brasileiro e viver no meio do mato, só um tribufu topava, já que não conseguiria um bom casamento na Europa. Para despertar o interesse dos príncipes, enviava-se um retrato da noiva. Acontece que os pintores daquele tempo utilizavam um sistema que podemos dizer ser “tataravô do Photoshop”. Eles melhoravam e muito a aparência das barangas, digo, das princesas e o noivo caía feito um patinho. Numa dessas, Pedro I teve de aceitar D. Leopoldina e Pedro II acabou engolindo D. Teresa Cristina, duas princesas muito simpáticas e agradáveis, mas feias de dar susto em criança.
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Mas, voltando ao François-Ferdinand. Ele se encantou pela Francisca, deixou a cidade, mas é de se supor que tenha firmado algum compromisso. Afinal de contas, princesas bonitas e dando sopa só são comuns em desenhos da Disney.
Em 1840, seu pai, o Rei de França, Luis Felipe de Orleáns, deu-lhe a missão de viajar até a ilha de Santa Helena para trasladar os restos mortais de Napoleão, que lá tinha morrido e sido enterrado. (Vejam o quadro que fizeram com a cena da morte de Bonaparte)

Como se sabe, o corso baixinho que chacoalhou com a Europa em fins do século 18 e início do 19, foi aprisionado naquele rochedo administrado pelos ingleses.
Na viagem, antes de chegar a ilha, François-Ferdinand, que era excelente navegador, embicou o seu navio “La Belle-Poulle” na direção de Salvador, onde fez uma curta escala. Isso é fato: o navio que ia pegar os restos mortais de Napoleão fez um pit-stop na Bahia. Pena que não parou depois de pegar o Bonaparte. Já pensou a festa que a baianada iria fazer? No mínimo, iriam levar o corpo do corso até a igreja do Senhor do Bonfim, ao terreiro do Gantois e ao antepassado de Antonio Carlos Magalhães! E todo mundo, Napoleão inclusive, atrás do trio a óleo de baleia (não tinha eletricidade), pedindo muito axé a todos os santos.
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Depois que François-Ferdinand chegou à Santa Helena, iniciaram as cerimônias fúnebres, e pelo que li no site francês Le retour des cendres, foram muito bonitas. A chegada do caixão com o corpo de Napoleão na França foi uma apoteose quase tão grande como a que os baianos fariam.

Os festejos duraram meses. Quem tiver a chance de ir à França, poderá ver no memorial da igreja de Saint-Louis des Invalides, o túmulo monumental de Bonaparte.

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Depois da festa, começaram as negociações envolvendo o casamento do príncipe de Joinville com a princesa Francisca Carolina. Nesta fase, estiveram envolvidos, o Imperador do Brasil, o Rei da França, o Conselho de Estado francês, o Papa, Deus, o mundo e mais alguém. O barão de Langsdorff e emissários franceses chegaram ao Rio de Janeiro para tratarem do dote, de como seria a cerimônia, enfim, essas coisas românticas que envolvem casamentos de nobres.
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Depois de todos acertos feitos, o Chico francês e a Chica brasileira casaram-se no Palácio da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, em 1 de maio de 1843. Decerto que a festa foi belíssima. Depois do casório, os noivos seguiram para Paris. Óbvio. O amor do príncipe era grande, mas não a ponto de trocar a mais civilizada cidade do mundo pelo balneário onde porcos e vacas andavam diante do Paço Imperial...
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Um dado interessante: parte do dote da princesa foi terras na província de Santa Catarina. Embora residissem na corte de Louis Philippe, ainda assim eram proprietários de vasta propriedade no sul do Império brasileiro.
Com a célebre rebelião acontecida em 1848, vários nobres preferiram fugir de Paris. A guilhotina de 1789 ainda estava presente na memória. Os príncipes de Joinville optaram por sair do país para morar em Londres. Na capital inglesa, tiveram alguns problemas financeiros e resolveram passar nos cobres o dote da princesa. Venderam as terras brasileiras, onde nunca estiveram, para uma empresa colonizadora alemã. Esta enviou levas de colonos para fundar lá, em 1851, a Colônia Dona Francisca, posteriormente transformada na cidade de Joinville, em Santa Catarina.
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Eis aí o curto relato da história dos príncipes de Joinville e da proximidade de Napoleão Bonaparte com o Brasil. Sei que os historiadores detestam quando alguém se reporta a fatos históricos de maneira apenas “factual”, como dizem. Mas a gente tem que admitir: a História tem cada história...
M.S.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Ele tem tempo livre

Deu no Globo que o prefeito Cesar Maia alimenta o seu blog diariamente com quase 40 textos. Como o Rio de Janeiro é uma cidade sem problemas, tudo corre às mil maravilhas, ele tem todo tempo do mundo para escrever seus posts para o blog.
Fica aí a dica para a Isabela, do Mente Inquieta, para o Paulo do Cinelandi@, para a Helena, do Fonte da Saudade, e tantos outros que vivem se queixando de não terem tempo para atualizar seus respectivos blogs: candidatem-se ao cargo de prefeito nas próximas eleições. O salário é razoável e o trabalho é moleza. Vocês terão o tempo que quiserem para manter suas páginas sempre atualizadas.
M.S.

terça-feira, agosto 23, 2005

Viagem no tempo


Se você acha que túnel do tempo não existe, que viajar ao passado é coisa da ficção, acredite: você está perdido no espaço!
Estive na banca A Cena Muda, em Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, em frente ao número 54, esquina com Rua dos Jangadeiros. Que viagem! Foi uma grande idéia da empresária Adda.
Lá, é muito mais que um “sebo”. É uma espécie de “castelo encantado” onde você encontra suas “rosebud”, suas “madeleine” (N.R. Não vou explicar o que é isto. Confio no conhecimento e na cultura geral dos poucos que me dão o prazer de ler este blog. São poucos mas são bons). Nas tevês a cabo já existem os canais “Boomerang”, “Retrô”, além do “21”, que também costuma passar antigos seriados. Mas para quem quer “ver o filme de sua vida passando diante de seus olhos” sem precisar estar morrendo, aconselho uma visitinha até lá. Tenho certeza de que vocês serão recebidos pela Adda com a mesma atenção e cordialidade que eu e Sylvia fomos atendidos.

Sabe lá o que é ver gibi do “Ferdinando”, do “Pimentinha”, do “Jerônimo, o herói do sertão”, do “Acquaman”, do “Dom Pixote”? O “Ferdinando” da “Família Buscapé” era a revista favorita do meu falecido pai. Eu praticamente aprendi a ler com ele nestas revistas e nas tirinhas do Globo, que naquela época ocupavam uma página inteira. Hoje, o Globo só publica uma meia dúzia de estorinhas e daquele tempo só manteve o “Recruta Zero”.

E não tem só gibi na Cena Muda: fotos, cartões postais, propagandas impressas antigas, fotonovelas, santinhos... Eu vi vários exemplares de revistas como “Intervalo” (sobre a programação de TV dos anos 60), “Manchete”, “O Cruzeiro”, e até publicações do “Tempo do Onça”, como “O Malho”, “Tico-Tico” e mais, muito mais.
Mas o grande “xodó” da Adda fica por conta da republicação que ela está fazendo das revistinhas de sacanagem do Carlos Zéfiro, das quais eu já escrevi aqui em abril, o texto O Papel da Sacanagem.
Se você aprecia antigas ternuras, e mora no Rio, não deixe de dar uma chegadinha na Cena Muda. Você deixará uma criança feliz em algum lugar no passado.
M.S.
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Eu sempre quis incrementar este blog, mas não tinha a menor idéia de como fazê-lo. Mas...Meus problemas acabaram! Chegou o sensacional Paulo José, meu professor de template! Ele já me ensinou a fazer link no texto (vocês já devem ter percebido textos atrás...) e agora me deu a dica de como inserir imagens. Além de editar um blog sensacional, o Cinelandi@, é o meu personal teacher para assuntos de internet. O humilde editor aqui, penhorado na Caixa Econômica Federal, agradece...
M.S.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Ô raça!...

Deu no jornaleco argentino Olé: “Maradona canta melhor que Pelé”.
Putz! Só fechando as comportas de Itaipu e deixando inundar tudo até a Patagônia...
M.S.

Samba do crítico doido

Com tanto filme novo em cartaz, fiz programa duplo e fui assistir a A Sogra e ao novo filme de Walter Salles, Água Negra. O primeiro é uma comédia despretensiosa e muito divertida por sinal. Jane Fonda, de volta às telas, dá o seu show habitual, com a participação da habitual Jennifer López.
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Entretanto, minhas expectativas estavam no filme do Waltinho por pelo menos três razões: é do gênero terror, que eu adoro; é refilmagem de terror japonês, que ultimamente tem nos dado histórias de tirar o fôlego; e ostenta no elenco o meu atual xodó, a Jennifer Connely. Como essa moça é bonita, benzodeus! A sua presença ilumina a tela e é uma festa para os olhos e o coração. Ela nos deixa (pelo menos a mim) com vontade de dar uma de “Rosa Púrpura do Cairo” e entrar pela tela adentro, pega-la no colo e sair correndo para casa.
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Além dessas razões claras e objetivas, o filme me provocou curiosidade pelas diferenças nas avaliações de dois críticos de O Globo. Para um, bonequinho aplaudindo sentado. Para outro, bonequinho saindo do cinema, cuspindo marimbondos. Quando li a crítica de um e de outro, pensei que ou havia algo de errado com o filme ou eles tinham enlouquecido. Estou mais inclinado pela segunda hipótese.
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Não costumo concordar com a opinião dos críticos de O Globo. Já tive a oportunidade de ler verdadeiros absurdos cometidos pelos caras de lá. Mas avaliações tão díspares assim, não costumam ser comuns. Pessoalmente, nem acho que o filme seja para o bonequinho aplaudir e muito menos para ele sair irado do cinema. É inegavelmente um bom filme, sem nada de muito especial, com uma estória interessante e bons desempenhos. O elenco conta com três atores que costumam arrasar como coadjuvantes: John C. Reilly, Pete Postlethwaite e Tim Roth. A própria Jennifer Connely, além de ser um colírio, é uma atriz muito boa, como pode ser atestado em seus filmes, com destaque para “Uma Mente Brilhante”, que inclusive lhe deu um Oscar. Os demais atores estão corretos, sobressaindo a menina Ariel Gade, bastante expressiva. Walter Salles fez uma direção segura, cuidadosa com os atores, o que deveria ser freqüente nas produções norte-americanas mas infelizmente não é. A Jennifer Connely, inclusive, afirmou na entrevista de lançamento do filme que “confiou cegamente” no diretor brasileiro e que quer repetir a dose e trabalhar com ele outra vez, seja em que projeto for. E tomara que seja comigo no elenco!
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O crítico que meteu o malho apontou o fato dos filmes de terror japoneses (incluindo suas refilmagens) serem mais psicológicos do que assustadores. Discordo veementemente. Mesmo porque uma coisa não invalida a outra. Não precisa ter os clichês de gato pulando na tela, monstros babando e estripadores de peixeira na mão para apavorar a platéia. A situação de aparentemente nada acontecer mas tudo podendo acontecer contribui para um clima simplesmente desesperante. Filmes como “O Grito” (especialmente), “O Chamado” 1 e 2 e um outro do qual não me lembro do nome, me deixaram particularmente tenso dentro da sala de exibição. E o mais interessante é que nestas histórias não existe o velho maniqueísmo do “bem” sempre vencer o “mal” no fim, extremamente comum em filmes americanos. Ao contrário, as forças malignas nas películas japonesas acabam vencendo o jogo, o que nos deixa mais ainda com uma certa parte do corpo trancada, de não passar nem agulha ensebada.
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Não deixa de ser curioso e instigante ver histórias de terror se passarem em megalópoles superpovoadas como Tóquio e New York. Talvez até por isto mesmo aumente nossa a carga de adrenalina, visto que fica claro que nós, pessoas comuns e não lordes de castelos ingleses mal-assombrados, estamos sujeitos a passar perrengue com as forças do Além em nossas casas e locais de trabalho.
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Para quem gosta do gênero, pode ir ver sem susto porque vai levar muitos sustos. Costumo dizer que não se deve levar muito ao pé da letra a opinião de críticos por ser exatamente isto: uma opinião. E cada um tem direito de ter a sua.
M.S.

terça-feira, agosto 16, 2005

Francisco Milani (1937-2005)

Conheci pessoalmente o Milani em 1993. Eu estava ensaiando a peça “O Cortiço”, com direção do Sergio Britto e ele entrou para o elenco, substituindo o Luis de Lima, que tinha acabado de deixar o projeto.
Milani pediu ao Sergio para ter horário especial nos ensaios, uma vez que estava em tratamento de uma úlcera – adquirida, segundo ele, durante o seu mandato de vereador pelo PCB – e precisava se alimentar em casa, nos períodos prescritos pelo médico. Sergio concordou, pela oportunidade de ter na peça um ator daquele quilate.
De cara, fizemos alta camaradagem. Além de trabalhar como ator, eu ajudava o Sergio como pesquisador nos assuntos históricos e literários. A peça contava a história do célebre livro de Aluizio Azevedo, mas prosseguia, narrando a trajetória política do Brasil da Abolição até o combalido governo Collor. Na verdade, eram dois espetáculos em uma peça. Milani era grande conhecedor da nossa História e deu valiosas contribuições para o texto final. Conversávamos sempre sobre fatos históricos brasileiros.
Lembro que tinha uma cena em que dois atores cantariam aquele velho sucesso de Alvarenga e Ranchinho, “Eram duas caveiras”. Milani propôs que ela fosse cantada com primeira e segunda voz, exatamente como costumam fazer as duplas caipiras. Começamos a ensaiar nós dois. Eu me recordo precisamente daquela gargalhada dele quando eu errava a minha voz. E eu dizia, “vamos de novo, Milani, que agora eu não vou errar!”.
Ele acabou não podendo prosseguir no ensaio. Precisava levar a sério o tratamento da úlcera e o ritmo forte dos ensaios estava atrapalhando. Com tristeza, ele anunciou que teria de sair da peça. Todos ficaram tristes e eu mais ainda, por conta da amizade que tínhamos entabulado. Sergio Britto chamou o Tonico Pereira para o lugar dele e foi muito bom também.
Sempre que encontrava o Milani ia falar com ele e minha admiração só aumentava por aquele ator consagrado que nunca deixou de ser simpático com um jovem colega que não tinha fama nenhuma. Estivemos juntos no enterro do meu grande amigo Brandão Filho (que era amigo dele também) e falamos sobre como a morte é implacável.
Voltei a reve-lo quando fui assisti-lo no Teatro, numa peça em que ele atuava ao lado do saudoso Rogerio Cardoso, com quem eu também tive a chance de travar camaradagem. Foi a última vez que eu o vi.
Eu costumo dizer que quando uma pessoa morre é como se uma enciclopédia fosse destruída. No caso do Milani, perdemos uma biblioteca inteira.
Embora fosse comunista ferrenho e, consequentemente ateu, Deus acreditava nele e certamente reservou-lhe um lugar entre os justos e bons. Até mais, Milani !
Como diz a canção: “qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar”...
M.S.

Conduzindo o personagem

Indo para São Paulo, neste final de semana, revi no ônibus o filme Conduzindo Miss Daisy (EUA, 1989), com a Jessica Tandy e o Morgan Freeman. A história do filme atravessa vinte anos, desde que o chofer “Hoke Coburn” foi trabalhar para a pirracenta viúva “Senhora Daisy Werthan”, em 1948, numa cidade pequena da Georgia, sul dos Estado Unidos. Ao longo do tempo em que o chofer esteve ao serviço da velha senhora, foi se desenvolvendo uma relação de amizade entre os dois, embora a irascível Senhora Werthan não deixasse nunca de atormenta-lo. Mais que subserviência, Hoke cuidava com carinho daquela patroa mal-humorada, que inclusive o ensinara a ler.
Além do belo roteiro, o filme ganha o espectador pelo desempenho dos atores. Todos estão muitíssimo bem. Mas não podemos destacar o excelente trabalho de Jessica Tandy (Oscar de Melhor Atriz pelo filme) e principalmente de Morgan Freeman (concorreu mas não levou o Oscar). Freeman dá uma verdadeira aula de interpretação. Em nenhum momento vemos sequer uma fagulha da pessoa Morgan Freeman. Vemos o personagem nos mínimos detalhes: quer na pronúncia caipira, quer no jeito de andar, de rir, ou ainda nos menores gestos. Há ali um sólido trabalho de composição que dificilmente vemos nas novelas de TV, por exemplo, onde os atores (?) simplesmente decoram o texto e o dizem casualmente, naturalmente, sem que sequer vislumbremos uma nesga que fosse de um personagem.
Recomendo a quem é ator e a quem gosta de ver arte em seu aspecto mais brilhante. Bonequinho de pé, aplaudindo e gritando “urrúúúúúú...”.
M.S.

Horizonte Perdido

Dia desses, passou num HBO desses da vida a reprise de “Horizonte Perdido” (Lost Horizon, USA, 1973), refilmagem de um outro lançado em 1937, desta vez musical com trilha sonora de Burt Bacharach e Hal David.
Só as músicas compõem um caso a parte. A história, baseada no romance de James Hilton, publicado em 1933, é um libelo pela paz e pela convivência harmônica. Mostra que é possível “viver juntos, crescer juntos”, como diz na letra de “Living together, growing together”.
Na época de seu lançamento, lembro que o filme não fez sucesso, que a crítica caiu da pau, certamente porque viu o filme com a cabeça e não com a emoção. Filmes servem para entreter, mas quando eles nos fazem pensar entram na categoria de obras de arte imprescindíveis. E “Horizonte Perdido” faz até um insensível refletir sobre como seria bom viver em um lugar como aquele.
O elenco é multiestelar: Peter Finch, como “Richard Conway”, um pacifista que sempre sonhou com uma utopia como aquela; Michael York, como seu irmão “George Conway”, pragmático e ambicioso; Liv Ullman, como a meiga e doce professora “Catherine”; Olivia Hussey, como a inocente e tola “Maria”. Ela está linda como sempre. Ela foi uma de minhas “paixonites” cinematográficas de adolescência. Há muito não sei dela. Vejo na gracinha da Kristin Kreuk, de “Smallville”, uma sósia dela quase perfeita. Ainda compondo o elenco George Kennedy, sempre correto; Sally Kellerman, etérea especialmente cantando e dançando; Bobby Van, o comediante e mais a coadjuvância luxuosa de John Gielgud e do veteraníssimo Charles Boyer, em seu último filme americano.
Como escrevi, a trilha sonora é um caso a parte, mas algo de tão bom que lembro de ter saído do cinema cantando pela rua “there`s lost horizon, waiting to be found...” quando assisti pela primeira vez. Não há uma música que não seja absolutamente perfeita: “The World is a Circle”, “Question me a Answer”, “Reflections”, “Share the Joy”, “The Things I Will Not Miss”, e outras além das citadas antes. Sempre fui fã de Burt Bacharach. Tenho quase todos os seus discos lançados no Brasil. Foi com enorme felicidade que vi seu show, em sua mais ou menos recente visita ao Brasil.
Noutro dia estava lendo um post no blog Mente Inquieta da minha querida amiga (e madrinha deste blog), Isabela Saes – aliás, recomendo a todos visitas constantes porque ela escreve muitíssimo bem - onde ela citava os tiroteios e o clima de insegurança do Rio de Janeiro. E nada como sonhar com um “horizonte perdido onde o som de armas não estoura mais em seus ouvidos”. Ah, mas em algum dia irei para a minha Shangri-La, esteja onde ela estiver...
M.S.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Sin City

Não é tarefa das mais fáceis resenhar criticamente o filme “Sin City”, ora em cartaz no circuitão.
Baseado (e bota baseado nisso!) na graphic novel de Frank Miller, que também assina a direção junto com Roberto Rodriguez e “o diretor convidado” Quentin Tarantino, finalmente chegamos à mais completa e perfeita adaptação de quadrinhos para a tela.
Mas o filme é bom? É ruim?
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Não há como reduzir o diagnóstico a esta simplificação dual. Eu, pelo menos, saí do cinema sem saber, com clareza, como responder a esta pergunta.
Antes de abordar o filme, propriamente dito, vale a pena comentar sobre alguns dados curriculares a respeito do criador da história. Com certeza, serão úteis na compreensão da estética do filme.
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Frank Miller trabalhou como roteirista e desenhista nas duas maiores editoras de comics (quadrinhos) norte-americanas – a Marvel e a DC. Fora outros lançamentos em independentes. Com seu inegável talento, ele foi responsável pela reformulação de super-heróis das duas majors. Na Marvel, por exemplo, ele praticamente recriou o “Demolidor”, que era um herói meio sem graça, cuja revista estava prestes a ser cancelada. De roldão, ele deu outra consistência a vilões como o “Rei do Crime” e criou personagens secundários que fizeram enorme sucesso, como o Stick e a sensacional Elektra.
Na DC, para o Batman, ele criou a graphic novel “Cavaleiro das Trevas”, para muitos a melhor história em quadrinhos de todos os tempos (eu discordo, mas reconheço que é uma extraordinária revista). Posteriormente, em “Batman – Ano 1” (roteiro dele e desenhos de David Mazzuccheli), ele põe definitivamente o Morcegão nos trilhos. Miller ainda lançaria outras obras de fôlego e qualidade como “Ronin”, por exemplo. Há coisa de alguns anos, ele lançou a série “Sin City”, com o êxito habitual.
Mas ele não colecionou somente sucessos em sua carreira. Foi dele o roteiro de “Robocop 2”, aqui pra nós, uma bomba de mil megatons. Não sei se por dinheiro, ou por não resistir ao canto da sereia da DC Comics, ele lançou também o “Cavaleiro das Trevas 2”, uma bobagem do tamanho de Gothan City.
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É inegável que ele criou um estilo pessoalíssimo nos quadrinhos, baseado em muita violência com toques de humor e incluindo flertes com as artes marciais (especialmente a japonesa). Alguém identificou entre os cineastas alguém com estas características? Ponto para quem disse: “Quentin Tarantino”. Estava claro que mais cedo ou mais tarde seus caminhos iriam se cruzar. Pois se cruzaram em “Sin City”. Roberto Rodriguez (diretor de “O Pistoleiro” e “Pequenos Espiões”), da “tchurma” do Tarantino, serviu de elo de ligação entre os dois.
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O filme conta histórias de personagens que se entrelaçam no submundo da cidade de “Basin City”. Um tanto pela placa nos arredores, que está com o “B” e o “A” meio apagados (sobrando o “SIN CITY”, grande sacada), outro tanto maior pelos habitantes daquele lugar – polícia e políticos corruptos (marca pessoal de Miller), prostitutas, sujeitos durões, um pedófilo e até um canibal, aquela cidade faria Sodoma e Gomorra parecerem Disneyworld, de tanto pecado (“sin”, em inglês) que rola por lá .
Miller eleva à última potência o conceito de filme noir (aquele em que tudo de interessante só acontece a noite, aliás, em Sin City parece que a noite dura 24 horas). Neste quesito, o filme é brilhante. As cenas e os enquadramentos parecem ter usado a própria revista como story board: algumas são literalmente iguais. Os diálogos também são bem “noir” e bem “Frank Miller”.
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Os atores escolhidos para darem vida aos personagens são um capítulo à parte. Todos estão rigorosamente perfeitos, parece que saíram da revista para o set de filmagem. Nota mil para a seleção de elenco. Vemos um Mickey Rourke ressurgir das cinzas em um personagem que parece ter sido criado especialmente para ele. Consta que foi o Rodriguez quem teve essa sacação e acabou convencendo o Miller a comprar a idéia. Foi perfeito. Bruce Willis fez o seu personagem “tough guy” habitual. É a melhor coisa que ele sabe fazer. Rutger Hauer, Michael Duncan, Clive Owen, um surpreendente Elijah Wood, fazem pequenas mas significativas aparições. A mulherada gostosuda (fundamental em quadrinhos) parece que foi esculpida pelo traço do Miller, com destaque para Jessica Alba (anotem este nome), a “Susan”. Até o próprio Frank Miller faz uma pontinha como “Priest”. Outros atores que eu não lembro agora também estão ótimos no filme.
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Os cenários, foram todos praticamente criados em computador, a partir do que já havia sido desenhado na revista. Os atores representaram diante de uma tela verde e depois foram inseridos na Sin City virtual. Tudo feito com a classe habitual do Mr. Miller.
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Se tudo está tão divino e maravilhoso, qual é o problema então? É o seguinte: uma coisa é ver toda aquela violência num gibi; outra é assistir aquela profusão de sangue espirrando, braços, pernas, cabeças sendo decepadas, socos de arrancar pedaço, tiros tão generosamente distribuídos, mordidas arrancando nacos, shuriken (em forma da suástica nazista, olha o humor negro aí, gente!) se cravando na cara e na bunda, flechaços, granadaços...tudo ao mesmo tempo agora! O acelerador não alivia nem um pouco, da primeira à última cena a gente assiste empurrando o corpo de encontro ao encosto da cadeira e não há quem agüente isso. Chega a um ponto que vira tão banal que perde o impacto que deveria causar. A violência do recente cinema americano transformou em algo corriqueiro o que deveria chocar. Para se ter uma idéia, no gibi, existem mais cenas de nus, com personagens exibindo aqui e ali uma bunda, um peito ou até mesmo as “jóias da família”, como o “homem amarelo”. No filme, taparam as partes pudendas para o filme não cair na classificação “restrito para maiores de 18 anos”, o que nenhum blockbuster pode ser, sob pena de faturar minguada bilheteria. Agora vejam vocês, colocar uma granada em uma cabeça decepada, serrar membros, espirrar sangue para tudo que é lado não faz um filme entrar no “restricted”. Bundas, peitos e pintos fazem. Vai alguém dormir com um barulho desses...
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Pois é. O que vemos freqüentemente em filmes de Tarantino e que em “Sin City” é explorado às últimas conseqüências não choca mais, ao contrário: faz-nos banalizar o que não deveria, de forma alguma ser banal.
Daí que eu saí do cinema um tanto dividido se tinha apreciado aquele espetáculo estético ou se deplorava aquela estética espetaculosa.
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Para quem não viu, algumas recomendações: se você gosta de filme noir, corra para ver; se você não gosta de quadrinhos americanos, não vá assistir. Se você, gosta de ver a tela pingando sangue, vá urgente para a fila do Unibanco Arteplex (ou outro local de sua preferência); se você detesta filme violento, nem saia de casa.
M.S.

Hiroshima e Nagasaki

Na semana passada completou-se 60 anos da explosão das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, as únicas na História da Humanidade que passaram pelo pesadelo nuclear.
Li uma matéria que desmentia a versão de que as explosões seriam necessárias para por fim à guerra no Pacífico. Na verdade, o Japão estava combalido, com pouquíssima munição e recursos, não haveria de resistir por muito tempo. As razões da decisão pelo uso da bomba foram outras bem mais pérfidas.
Com o fim da guerra na Europa, a antiga União Soviética começou a se posicionar nos territórios que ela “libertou”. Com a famosa Conferência de Yalta, os líderes vitoriosos Churchill, Roosevelt e Stalin repartiram o mundo entre eles. Nascia ali a Guerra Fria, com a oposição entre a URSS comunista e os EUA e seus aliados do outro.
No início de agosto de 1945, os soviéticos declararam guerra ao Japão. E já foram invadindo as ilhas Sakalinas e Kurilas (onde estão até hoje). Os americanos perceberam que se a URSS invadisse o resto do país nipônico, a exemplo da Alemanha, ele estaria dividido em “Japão do Norte” (comunista) e “Japão do Sul” (pró-USA). Para evitar dar mais terreno para os vermelhos, Truman (que assumiu depois da morte de Roosevelt) autorizou o uso das soluções atômicas, que certamente apressariam o fim da guerra, garantindo a vitória norte-americana.
Para uma decisão “de Estado” como essa, o fato de que haveria centenas de milhares de mortes de civis inocentes era um mero detalhe... Para o “Estado”, seria mais estratégico vencer a guerra e mandar um recado de supremacia para a União Soviética, que não tinha a bomba A.
Cento e tantos milhares de pessoas mortas, parte delas pulverizadas instantaneamente, outra parte morrendo aos poucos (e aos muitos). Gente que ainda iria nascer sofreria as conseqüências daquela decisão.
No tempo das monarquias absolutistas, os reis tomavam decisões de guerra onde milhares morreriam. Mas a patuléia não podia fazer nada, diziam que ele era rei por direito divino. Com as repúblicas, de tempos em tempos a população seria chamada a opinar, elegendo aqueles que tomam decisões em seu nome.
Se eu tivesse sido um eleitor do Truman e dos congressistas, que votaram pelo lançamento da bomba sobre as cidades japonesas, ficaria muito amargurado. De certa forma, seria como se fosse cúmplice.
Guardadas as proporções, é como me sinto por ter votado no Sr. Luiz Ignacio. Mas isto é uma outra história...
M.S.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Quem te escreveu?

Não vou negar: eu adoro um teste, desses que, no resultado, dão diagnóstico e perfil. Pode ser o mais imbecil que eu faço e vou conferir para ver se deu certo.
Zanzando pela internet, achei um site em que tem um teste para a gente saber que escritor "nos escreveu", ou seja, somos personagens de que escritor?
O site deve ser inglês, uma vez que a maioria dos autores é da velha Albion. Portanto, para quem estiver a fim de fazer o teste será necessário ter um bom conhecimento da língua de Shakespeare, Becket e dos moradores da Barra da Tijuca.
As perguntas são interessantes e ajudam ao programa a definir em que perfil de personagem de que autor você se enquadra.
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Querem saber quem me escreveu? Vou revelar:
Anne Rice.
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Até que tem a ver. Como ela, gosto de uma boa história de terror, vista pelo lado mais psicológico. Tem até uma "causo" curioso: em 1990, eu estava com vontade de me aperfeiçoar como ator, deixando de ser um mero amador descompromissado. Por falta de informação, pensei em cursar a Escola de Teatro Leonardo Alves. Não seria a melhor escolha, mas eu era inocente, puro e besta no assunto. O "vestibular" para a escola era apresentar uma cena para a banca, formada pelo Leonardo e outros professores. De exibido que sou, resolvi escrever um monólogo que eu encenaria. Pensei em por no papel uma idéia que eu tinha há algum tempo e já havia definido até o título: "Da solidão dos vampiros". Era um texto em que eu desenvolvia a tese de que os vampiros eram seres atormentados por serem eternos e se alimentarem da força vital de mortais. Daí escrevi um monólogo, em estilo bem confessional, onde um vampiro se lastimava de sua sorte.
Pois bem. Escrevi e apresentei na tal escola de teatro. Os professores perguntaram de quem era o texto que eu tinha acabado de representar. Quando disse que era meu, ficaram boquiabertos. Não sei se por admiração ou por achar que eu era muito doido. De qualquer forma, fui aprovado e, quando decidi cursar a CAL (Casa de Artes Laranjeiras, um dos melhores cursos profissionalizantes de Teatro do Rio), o próprio Leonardo Alves me ligava toda semana, me oferecendo bolsa e o escambau.
Como percebi que o texto agradou, fiquei assanhado para desenvolvê-lo em uma peça completa. Estava com esta intenção, quando li no jornal que o livro de maior sucesso na Europa era "Entrevista com um vampiro", cuja temática era praticamente a mesma que eu tinha imaginado. Quer dizer, se eu tivesse escrito a peça, seria certamente acusado de plágio. Sacanagem... Jung e a teoria do Inconsciente Coletivo marcaram mais um gol.
E quem escreveu o livro antes de mim?
Anne Rice.
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E agora quando um teste revela que eu poderia ser um personagem dela, só posso dizer: "É. Pode ser."
Se você quiser saber quem te escreveu, entre em:
http://quizilla.com/users/bligtgrrl/quizzes/Which%20Author’s%20Fiction%20are%20You%3F/
(Ah, que falta está me fazendo o curso de template do prof. Paulo...Desculpe, pessoal. Não sei criar link)
Caso tenha problemas, digite "Which Author’s Fiction are you?" no Google que você chega lá.
Faça o teste e depois me conte o resultado.
M.S.

Já sei como vou morrer

Ainda sobre este site, o "Quizilla" [http://quizilla.com], além deste que citei acima, lá encontrei um monte de testes com títulos hilariantes. Vejam só alguns deles:
"Você vai para o Céu ou para o Inferno?"
"Quão insano você é?"
"Você é qual princesa da Disney?" (Para garotas ou rapazes alegres, descontraídos e torcedores do vasco)
"Que mentiras se escondem por trás de seus olhos?"
"Que vogal você é? A, E, I, O ou U?"
"Como você vai morrer?"
"Qual o seu verdadeiro signo astrológico?"
Fiz este dois últimos.
Quis saber qual seria o meu verdadeiro signo e...ohhhh! Que surpresa!... Deu que sou REALMENTE do signo de Virgem.
A descrição sobre as minhas características bateram certinho, como aliás batem com qualquer virginiano, fazer o quê... Por mais que a gente deteste isso, nós, de Virgem, somos previsíveis.
No diagnóstico, apareceu como mulheres ideais para mim as do signo de Escorpião, Capricórnio, Touro, Virgem e Aquário. Então, alô mulherada destes signos! Peguem a senha e entrem na fila!
A propósito: querem saber como vou morrer?
De velho. Uma morte tranqüila e sossegada na cama.
E eu achando que morreria aos 120 anos, de um tiro dado por um marido ciumento...
M.S.

terça-feira, agosto 02, 2005

V de Vingança

1. Alô, alô moçada gibizeira! Alvíssaras! Descobri o site do filme "V de Vingança"("V for Vendetta"), baseado na célebre e maravilhosa graphic novel de Alan Moore (esse é o cara!) e David Lloyd. Segundo a página, o filme estréia em novembro deste ano, com produção de Joel Silver, direção de James McTeigue e, no elenco, Natalie Portman (a princesa e senadora Amidala da recente trilogia Star Wars), como "Evey", e Hugo Weaver (o Agente Smith, vilão da trilogia Matrix), como "V".
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2. Para quem não leu o gibi, deixa eu dar uma resumida na história, a partir da minha memória, uma vez que li a graphic há muito tempo, e ela não está aqui comigo – tenho dois exemplares, mas ambos estão no meu antigo apartamento, que virou depósito da minha biblioteca.
Em um futuro não muito distante, um regime totalitário assume o poder na Inglaterra, mantendo o povo debaixo de um terror fascista. É quando surge um vigilante mascarado e anarquista ("V") que se utiliza de práticas terroristas para subverter aquela ordem ditatorial. Ele salva uma jovem da polícia ("Evey"), escondendo-a em sua base de operações. A partir dali, ele trava com ela uma relação estranha, ora como protetor, ora como doutrinador, enquanto leva os agentes do sistema à loucura.
O visual é um certo futurismo retrô que eu acho muito interessante. Aliás, sempre que eu vejo um Citroen A3 preto lembro da revista. O tom filosófico dos diálogos pode desagradar a alguns, mas eu acho bem instigante. Aliás, esse tipo de diálogo é uma das especialidades do mestre Alan Moore.
Para quem quiser dar uma olhada no trailer e ver as informações do site, entre em http://vforvendetta.warnerbros.com
O slogan do filme é uma porrada: "O povo não deveria ter medo dos seus governantes. Os governos deveriam ter medo do seu povo". Será que valeria para um certo país do Atlântico Sul?
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3. Os que ficarem curiosos em conhecer a graphic novel, é só visitar alguma gibiteria ou mesmo algumas livrarias especializadas. Estive neste final de semana no Unibanco Arteplex e lá tem. Vamos aguardar novembro ansiosamente. O filme promete. Pelo menos a história é cinco estrelas.
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4. Já que a moda é levar às telas histórias em quadrinhos, os grandes estúdios deveriam olhar com carinho três opções. A primeira é o "Livro da Magia" – se bem que vai ter gente achando que é plágio de "Harry Potter", quando é exatamente o contrário. A dona Rowlings chupou descaradamente a história do pequeno mago, até no visual "franjinha de óculos". Outra sugestão é "Sandman", do "deus" Neil Gaiman. Pode não ser uma unanimidade, mas eu sou fascinado pela história dos Eternos, incluindo o Senhor dos Sonhos. A terceira opção é o "Watchmen", do Alan Moore (estou dizendo, ele é o cara!) e Dave Gibbons, na minha opinião, a melhor história em quadrinhos de todos os tempos. A Disney e a Pixar deram uma plagiada forte nela quando fizeram "Os incríveis", mas a qualidade da história de "Watchmen" é tão forte que a comparação não dá nem pra saída.
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5. Por falar em quadrinhos, espero assistir nesta semana ao "Sin City". Talvez até faça uma resenha aqui para o blog.
M.S.