segunda-feira, abril 11, 2005

E atenção, atenção!

Manchete de primeira página de um jornal diário de grande circulação aqui do Rio:
"Ana Maria Braga pôs silicone no bumbum".
Repito: na primeira página.
Agora já sei porque não cessam de surgir as "Darlenes", "Jacquelines Joys", cebridades instantâneas por aí afora. A imprensa as cria e as alimenta. Depois, é claro, se alimenta delas e as expele. Se a Ana Maria Braga, que não é celebridade instantânea, mas é padrão para muita gente, consegue por a bunda siliconada na primeira página elas também vão querer. Faz sentido? Não, não faz.
M.S.

Comédia de costumes

No outro dia eu assisti a um episódio do "South Park" em que a professora da 1a. série fazia sexo, de várias formas, com o professor do jardim de infância. Para quem conhece a série, nada de mais. Lá se vê coisa bem pior do que a "srta. Engasgapiru" (???) – é o nome dela – cair na saliência com outro professor.
Mas assistir àquela série me fez refletir em como os costumes se transformam com o tempo. E nem precisa ser muito tempo. Quando eu era guri, no tempo da TV a lenha, assistia a seriados como "Papai sabe tudo" ("Father knows better", no original), em que o protagonista era um modelo de caráter, honra e sabedoria. Seus três filhos o tinham como exemplo. Outra série daquele tempo, "Os Flintstones", o primeiro desenho a estrear no horário nobre das oito da noite, era tão vigiada pela censura que não permitiam que o "Fred" e a "Wilma" dormissem na mesma cama. Basta ver os desenhos reprisados até hoje para constatar que cada um tinha sua própria cama.
Isso foi nos anos 60. Na década seguinte, podíamos ver séries como "Os Waltons" (aquela do "Boa noite, pai...Boa noite, mãe...Boa noite, John Boy...") em que os mesmos valores do "Papai sabe tudo" eram passados.
Tempos depois, apareceu nos televisores "Os Simpsons". E aí a gente percebeu que os hábitos e costumes da carolíssima América estavam mudando. Curiosamente, a cidade dos "Simpsons" tem o mesmo nome da cidade do "Papai sabe tudo": Springfield. Mas as semelhanças acabam aí. Ninguém em sã consciência pode eleger o "Homer" como modelo de nada. Aliás, quase todos os pais apresentados na série não são exatamente modelos de virtude.
Depois dos "Simpsons", veio "South Park". E aí mesmo que parecia que a América protestante e moralista tinha enlouquecido. E no mesmo roldão, o resto do mundo, que mantém olhos e ouvidos ao que vem lá de cima.
Não estou fazendo juízos de valor. Sei perfeitamente que os costumes de um povo são extremamente dinâmicos. Na verdade, eu dou boas gargalhadas com todas as séries que citei. De forma alguma vou ficar aqui carpindo, dizendo que no "meu tempo a vida era bem melhor", mesmo porque este é tanto o "meu tempo" quanto aquele. Tenho suficiente discernimento para entender que a roda da História não cessa de girar. Aliás, creio mesmo que a História está aí para isso mesmo, analisar momentos no tempo e tentar explicar a evolução das sociedades.
Entretanto, minha curiosidade se aguça para saber: qual será o movimento seguinte? Em 40 anos saímos de uma moral rígida para uma bem mais, digamos, flexível. E daí vamos para onde? Liberar geral? Retroceder?
À proporção em que o futuro for abrindo seus véus saberemos estas respostas. Outras questões me perpassam a mente: toda esta liberalização nos costumes terá ou está tendo conseqüências? E são boas? São ruins? Em que medida a população daqui, de qualquer lugar, está sendo afetada por estes costumes tão flexíveis?
Obviamente, eu não tenho respostas para estas questões. O que não é nada mal. Quem as têm parecerá o "fool on the hill" da música dos Beatles, aquele "homem de mil vozes que tinha a cabeça nas nuvens, falando alto mas que ninguém ouvia".
Como escreveu Millôr Fernandes, "livre pensar é só pensar". E eu estou aqui só livre-pensando.
M.S.

terça-feira, abril 05, 2005

Papel da sacanagem

Que tal falarmos de sacanagem? Mas uma boa sacanagem... Heim? O que lhe parece?
Calma. Eu explico.
Na sexta-feira passada fui ao Estação Unibanco, e enquanto esperava começar o filme, passei na livraria Luzes da Cidade, que fica ali mesmo. Para minha surpresa, encontrei em cima do balcão uma pilha de revistinhas de sacanagem do Carlos Zéfiro (relançadas pelo pessoal da Scena Muda, sebo-banca da Praça General Osório, em Ipanema). Ali, diante dos meus olhos, uma de minhas antigas ternuras! Foi o bastante para eu embarcar no velho túnel do tempo, até minha infância/adolescência...
Se você que me lê tem mais de 40 anos, é claro que me entende. Se tem menos de 40: Calma. Eu explico.
Imagine que houve uma época, no século passado, em que os rapazes naquela fase de mudança da infância para a adolescência, com os hormônios latejando por todo o corpo, não sabiam o que era ver, ao vivo e a cores, uma mulher pelada. Sexo, então, só na base do cinco contra um, descabelando o palhaço, apelando para a famosa cantora cubana "Palmita de la Mano". Eram tempos em que só faltava a gente apresentar a mão direita como "noiva". Tinha gente que sentava em cima da mão até ela ficar dormente; aí, segurava o carequinha, imaginando que aquela mão que não sentia era de outra pessoa.
As moças não davam a menor chance para a gente. Nos bailes e nas festinhas, ficávamos agrupados, com a "cuba-libre da coragem" nas mãos, aguardando aquela música lenta para tirarmos a escolhida para dançar (sim, na época se dançava junto, abraçando). Se o rapaz se empolgasse muito, se a moça sentisse um certo intumescimento naquela região entre a virilha esquerda e a direita, largava o excitado sozinho no meio do salão, com sua bela barraca armada. Nós, os rapazes, sacaneávamos o infeliz, embora sabíamos que aquele poderia ser qualquer um de nós. Quando algum conseguia namorar uma criatura fêmea, era tirar sorte grande. Embora só fosse conseguir passar a mão no peitinho dela se marcasse o noivado. As mais assanhadas, até ficavam naquela sarração de enlouquecer o "cabeçudo", que teria, necessariamente, de permanecer dentro das calças. Você está rindo? É...você não sabe como a coisa era dura (Er...tem um trocadilho aí, não sei se você percebeu).
Pois é. Em meio a estes tempos terríveis, a nossa salvação eram as revistinhas de sacanagem. Para compra-las, era necessário um adulto ir até uma determinada banca, com gestos cabalísticos, olhando para todos os lados de modo suspeito, como se estivesse comprando a fórmula da bomba atômica de uma potência estrangeira, e pegar aquele precioso livreto. O passo seguinte, era repassar para todos, que liam ávidos aquelas páginas, sorvendo letra a letra, traço a traço, aprendendo o que só faríamos anos mais tarde.
Ah...Quanta liberação de hormônios...E outros fluidos vitais também...
As histórias eram inverossímeis, mas quem estava disposto a servir de crítico literário naquela hora! Os desenhos, toscos, mas para nós pareciam fotografias de nitidez ímpar!
Grande Carlos Zéfiro!... Que anos e anos depois ficamos sabendo chamar-se Alcides Caminha Filho, um mero funcionário público, chefe de família respeitável, que se escondia por trás daquele pseudônimo para levar o sonho do gozo solitário a milhares (talvez milhões) de pessoas. Faleceu há alguns anos esta santa criatura que certamente está no Paraíso, pois só fez o bem a pelo menos duas gerações.
E um exemplar estava ali, nas minhas mãos, em plena livraria do Estação. Bastava eu pagar míseros doze reais e ele seria facilmente meu. Sem precisar fazer gestos e sinais cabalísticos. Só pegar e pagar. Ainda falei para o senhor que me vendia: "esta revistinha me traz de volta a minha infância!" Ao que ele respondeu: "A sua e de todos nós." Eu e ele ali, irmanados por aquela sacanagem de papel, lembrando do papel da sacanagem em nossas vidas...
Imagino que tudo isto soe muito estranho para moços e moças de tempos mais recentes. No outro dia, no Fantástico, um rapazinho ensinou para todo o Brasil como se "ganhava uma mulher". Era só perguntar para ela: "aê...já é ou já era?"
Segundo ele, normalmente a moça respondia: "já é!" E a saliência começava por ali mesmo.
A própria revista do Zéfiro em si hoje é patética. Existe sacanagem infinitamente maior do que a que ela apresenta na internet e de acesso fácil para qualquer freirinha carmelita adolescente, bastando clicar algumas teclas. Provavelmente nós enlouqueceríamos se houvesse internet na nossa adolescência. As coisas que eu tenho visto na rede transcendem o mais devasso dos meus sonhos de juventude.
Com um certo gosto na boca de pirulito Zorro misturado com Crush guardei meu exemplar de "O viúvo alegre" na estante. Sento no sofá da sala acompanhado pelos meus fantasmas da infância. Não dá para esconder um sorriso safado, que insiste em se afivelar no meu rosto.
M.S.

A tendência é ficar pior


Na sexta passada (01/04), fui ao Teatro Villa-Lobos, assistir à ótima peça "Inês de Castro". Qual não foi a minha surpresa quando no meio do espetáculo, um rapaz atendeu o celular e começou a falar. Ele só interrompeu a conversa depois que eu falei "Isso é um absurdo!" para ele ouvir. O mal-educado disse a quem tinha ligado que estava no Teatro e telefonava mais tarde.
Pensa que ele desligou o celular depois disso? Qual... Se outra pessoa ligasse, ele atenderia com a cara (de pau) mais limpa. Agora não é só no cinema, já passou para o Teatro.
M.S.