quinta-feira, junho 30, 2005

Os abóboras estão vencendo

Deu nO Globo: “Chico Buarque diz que a idiotice está ao nosso redor”. Segundo o grande artista, desde os últimos 20 anos está tudo meio idiota no panorama cotidiano e dá vários exemplos.
Eu concordo como ele. Aliás, quem me conhece sabe que eu venho dizendo há muito tempo que desde os anos 80 estamos vivendo um período de absoluta indigência: cultural, moral, intelectual, política... Só que eu não uso a palavra “idiota”, por ser um pouco forte. Deixo isso para o mestre Chico, que tem cabedal para isso. Prefiro dizer que está tudo ficando “abóbora”. E o que é pior: os abóboras estão vencendo.
Você liga a televisão, abre um jornal ou uma revista, olha ao redor e tem uma sensação de que está em um episódio do “Além da Imaginação”, daqueles que falam de dimensão paralela, invasão de cérebros por organismos alienígenas, uma coisa assim.
Esse pensamento de que vale tudo para se dar bem, essa busca desenfreada a qualquer custo pela “celebridade”, a valorização da futilidade como objetivo de vida. Uma coisa curiosa: eu não acompanho a novela “América”, mas ontem estava com a TV ligada na Globo, esperando começar o “Tela Quente”, quando um personagem (não sei o nome, só sei que é feito pela Daniela Escobar) conversava ao telefone com a Cristiane Torloni, que diz estar deprimida e se queixa do marido. A Escobar diz a pérola de diálogo: “Amiga, casamento não precisa estar maravilhoso. Suas jóias são maravilhosas, seus vestidos de etiqueta são maravilhosos. Marido...é só marido!”
Pois é. A Glória Peres acertou na mosca ao escrever estes diálogos. Este é o pensamento dominante. “Relações pessoais? Caráter? Crescimento individual e espiritual? Bobagem. Nossos bens são maravilhosos, nosso prazer é o que importa. Gente? Ora... é só gente!”
M.S.

terça-feira, junho 28, 2005

Batman - o começo

Quem me conhece mais amiúde sabe que sou um admirador do Batman. Desde 1997, quando comprei o meu primeiro computador, meu login de e-Mail é “batmarco” (já foi “batMengo” também, mas o outro prevaleceu), todos meus carros foram apelidados de “batmóvel”, inclusive o batPálio atual, que é preto ainda por cima... Enfim, aprecio o Morcegão, desde meus tempos de pirralho, quando devorava os gibis do herói criado por Bob Kane.
Na TV, assistia avidamente ao famoso seriado de TV com o Adam “Barriga” West (era comédia, é claro, mas com muitas inovações em termos de linguagem) e vi as reprises do seriado dos anos 40 (aliás, tenho todos os capítulos em VHS).
Quando Tim Burton fez os dois primeiros filmes da grife, nos anos 80, eu detestei. Muita pretensão e pouco conteúdo de Batman. Sem contar que botar o “beetlejuice” Michael Keaton fazendo o Cruzado Embuçado é um absurdo. Vieram os dois filmes seguintes, sob a (ir)responsabilidade do Joel Schumacher. E eu saí do cinema trincando os dentes de raiva, com um archote na mão, querendo a cabeça do Joel fincada em uma estaca! (Alô, moçada! É só uma metáfora, viu!). George Clooney com aquele risinho no canto da boca, fazendo o Batman? E aqueles uniformes com mamilos???? Blasfêmia das blasfêmias!
Na verdade, nunca consegui gostar de nenhum filme de super-herói. Sei que alguns foram “mais ou menos”, como os dois “X-Men” e o “Elektra”, mas foram mais para menos que para mais. Não gostei dos dois “Homem-Aranha” (o segundo é particularmente ruim), lamentei muito pelo “Hulk” e principalmente pelo “Demolidor” (meu segundo herói favorito. Coincidentemente, resgatado do limbo dos quadrinhos pelo mesmo autor: Frank Miller, o cara!).
Bem, todo este baita “nariz de cera” é para falar que assisti ao “Batman Begins”. Fui ver sem muita expectativa, de pé atrás, por conta das decepções anteriores.
O que tenho a dizer? O filme é bom. É muito bom, é excelente!!! Disparado, o melhor filme sobre herói dos quadrinhos feito até hoje. Só não dou nota DEZ por conta de umas derrapadas: a primeira, no nome que escolheram para passar o filme no Brasil. Quem não fala inglês, vai chamar o filme de “Batman Bejins”. Custava chamar de “Batman, o começo”? Ou “Batman Ano 1”, de onde ele claramente se inspira?
A outra derrapada, é pela cena de beijo “the end” que colocaram quase no final do filme. Desnecessário... Entendo que precisavam botar alguma água com açúcar para o público feminino não reclamar. Mas não era preciso. O filme se sustenta, sem beijinho de “Bruce, eu te amo”!
No mais, o filme é maravilhoso! Eu o assisti no Unibanco Arteplex, sala com sistema THX, para ter mais sensação. Deixei passar as primeiras duas semanas para assisti-lo sem adolescente conversando e sem gente chata atendendo a celular perto de mim. Queria vê-lo com toda a concentração possível. Não deu. Tinha uns pentelhos (gente adulta!) com a merda do celular ligado, acendendo luzinha e me desviando a atenção. Que vontade de soltar o Espantalho nelas!
Mas, vamos ao filme.
A história, como disse, foi obviamente inspirada no gibi “Batman, ano 1”, de Frank Miller, quando ele tentou organizar a zorra que fizeram com os quadrinhos do Morcego. Ele já tinha escrito antes a sua obra-prima, “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, na minha opinião a terceira melhor HQ de todos os tempos (sei que é discutível, mas é a minha opinião. Em outro texto aqui no blog eu explico melhor isso e digo quais são as outras duas melhores). Pois é. Estranhamente, não foi dado o crédito como argumentista original para o mestre Frank. Vá lá saber porquê.
Além do “Ano 1”, tem uns toques do “Cavaleiro das Trevas”, também. Quem conhece a obra reconhece facilmente.
A Gotham do filme tem um visual misto de “Metrópolis”, do Fritz Lang, com “Blade Runner”, do Ridley Scott (até a chuvinha no lado miserável da cidade...). O visual sombrio serve de pano de fundo para uma cidade onde os políticos são corruptos, os policiais, vendidos e incompetentes em sua maioria, os capitalistas são gananciosos e está infestada de traficantes de drogas. Como diria mestre Ancelmo Góes, deve ser horrível viver num lugar assim...
O ator que faz o Batman/Bruce, Christian Bale, está muito bem. Ele já tinha me surpreendido em “Psicopata Americano” e mais ainda em “O Operário”, quando ele emagreceu sei lá quantos quilos. Dava pra ver as costelinhas, a saboneteira. O bicho secou. Logo depois ele foi chamado para fazer o Morcego e aí teve de engordar e fazer musculação. O pâncreas dele deve ter ido para o beleléu, mas, tudo pela arte. Ele convence como Bruce e mais ainda como Batman. A alternativa de falar com voz rouca e ameaçadora está adequada e extremamente convincente.
Os demais atores estão muito bem. Morgan Freeman dá o seu show habitual; Rutger Hauer, sólido; Michael Caine me incomodou um pouco no início mas depois mandou bem; Liam Neeson faz uma composição bem interessante do R’as al Ghul, o que não é novidade, pois é ótimo ator, Gary Oldman faz um Gordon bem parecido com o do gibi “Ano 1”, a mocinha (Katie Holmes) que faz a promotora, está adequada: nem muito sem sal, nem bonita demais para roubar a cena. Chamo a atenção para o ator Cillian (pronuncia-se “Kilian”) Murphy, que fez o Dr. Crane/Espantalho. Antes de começar o filme, passou o trailer de um filme chamado “Red Eye” (do Wes Craven!! Valendo o trocadilho, ‘olho nele’ ainda neste ano!) e o cara estava nele (e bem). Ao que parece, é a aposta dos grandes estúdios como ator revelação.
Vale a pena ver a construção da bat-caverna e das bat-bugigangas. Pelo menos eu sempre tive curiosidade quanto a isso.
Meus aplausos calorosos para o diretor Christopher Bale (seria parente do Christian?)! Tiro o meu capuz orelhudo para você! Bob Kane está sorrindo no céu dos autores, te abençoando!
Uma das coisas que mais gostei no filme foi constatar algo que nunca me tinha apercebido. Batman tem um aspecto arquetípico que, além de explicar claramente a razão dele colocar o capuz e sair distribuindo porrada na malandragem, demonstra como ele influenciou outros heróis. Sua relação com os pais, tragicamente interrompida, serve de mote para transformá-lo em herói sombrio. E isto é interessante, pois, como disse, foi repetido em outros heróis criados posteriormente. Quem conhece, sabe que “Demolidor”, “Homem-Aranha”, “Justiceiro”, “Magneto”, “Elektra” entre outros, perderam pais ou entes familiares em condições trágicas, o que os levou a tornarem-se justiceiros vingadores. Meu saudoso professor de Mitologia Grega, Junito Brandão, me respondeu certa vez a uma pergunta dizendo: “Marco, em se tratando de heróis, os arquétipos são iguais em qualquer lugar do mundo”. Como se vê, ele estava certo.
Alguém poderia dizer que o “Super-Homem” também se enquadra neste caso, uma vez que ele perdeu os pais e foi criado anteriomente ao Batman (SH é de 1937, o Morcego é de 1939). Só que o modelo não cabe: o Super perdeu os pais em Kripton e ganhou outros na Terra, que não morreram em condições trágicas. Até onde eu sei, o Batman foi o primeiro criado no citado arquétipo.
O filme tem bons diálogos, com a dose certa de filosofia, psicologia e humor (isso, humor! A do “você não viu o memorando?” é simplesmente dez!). Poderia ter um pouco menos de explosões, sinal de mais uma concessão ao público habitual de filmes de ação. Entretanto, não chega a comprometer. Só são desnecessárias as destruições do templo de R’as al Ghul e da Mansão Wayne.
Aliás, uma das coisas que mais me irrita nos filmes de ação, e nos de super-herói em particular, é fazerem o vilão explodir em milhões de pedacinhos no final. Seria bem mais interessante que o vilão escapasse, ou até que sofresse um acidente em que ficasse em dúvida se ele escapou ou não. Pois este “Batman, o começo” é assim! Um vilão, o “Espantalho”, escapou, e o outro, R’as al Ghul, sofreu um acidente e não ficou claro se ele morreu ou não. Beleza! Bonequinho aplaudindo de pé!
M.S.

quinta-feira, junho 23, 2005

Nós não sabíamos o que era colesterol

Li no jornal que a justiça liberou a venda de petiscos gordurosos nas cantinas dos colégios. Eu nem sabia que estavam proibidos! Que coisa... Lembrei que eu (e todo mundo) me empanturrava de pastel com grapette no colégio, fora jujuba, delicado, pirulito Zorro, caramelo Embaré, mariola, doce de leite e quase não tínhamos obesos na época. Um ou outro, por problema genético, era mais gordinho, e sofria horrores na mão da gente. A lista de apelidos que o fofo recebia era enorme: hipopótamo, rinoceronte, baleia, elefante, o neologismo "hiporrino baleiofante", que era a mistura de todos os animais anteriores, rolha de poço, barril de banha, ton-ton (de tonelada) e vai por aí a fora.
Nós, os muito magros, também éramos mimoseados: filé de borboleta, costela, magriço, saco de osso, caveirinha, pé na cova, ossada da Dana de Teffé (melhor nem explicar quem foi Dana de Teffé...), esqueleto humano etc e bota etc nisso.
Mas por que tínhamos poucos gordos naquela época? Claro, todo mundo sabe a resposta. Porque éramos hiper-super-mega ativos na nossa infância. Ficávamos brincando na rua até dez horas da noite e acredite, ilustre passageiro: NADA ACONTECIA CONOSCO. Muitas mães também ficavam no portão, vendo a gente brincar de garrafão, pique-bandeira, pular carniça e outros quetais.
Hoje não vejo isso. Está certo, tem o problema da violência e estes são, definitivamente, outros tempos. Mas acho reducionista simplesmente atribuir o problema da obesidade das crianças aos tempos brabos em que vivemos. No meu condomínio tem uma área enorme para o lazer da petizada e eu não vejo os garotos a usarem constantemente.
Uma outra teoria? Bem, no meu tempo, em mil novecentos e não vem ao caso, nós fazíamos pipa, comprávamos pião e fieira na venda, fazíamos vaquinha para comprar bola, jogávamos bolas de gude, e especialmente criávamos nossos brinquedos – jogo do finco, futebol de preguinhos, jogo de botão com casca de coco... Tudo isso fazia a gente queimar muita energia.
Atualmente, a garotada não sabe o que é isso e - aí é que mora o perigo - prefere brincar sedentariamente no computador.
Não tem jeito: se não queimar energia, vai engordar mesmo!
Eu não entendo como um garoto prefere ficar dando tiros no Godzilla a jogar búrica.
Recebi uma mensagem pela internet com o título "Como conseguimos sobreviver?". Falava de coisas que a minha geração desfrutou, como andar no banco de trás do carro sem cinto e fazendo bagunça, subir em árvore, correr em carrinho de rolimã etc. Até o Paulo Coelho escreveu sobre isso na coluna dele, nO Globo.
Eu proporia uma mudança no título daquela mensagem: "Como essa nova geração conseguirá sobreviver?"
M.S.

quarta-feira, junho 15, 2005

Pelas ondas do Rádio (quem sabe um dia?...)

Quem me conhece sabe que eu morro de amores pelos antigos tempos do Rádio. Atuei em uma peça chamada "Na Era do Rádio" e fui um dos pesquisadores que reuniram material para escrever o roteiro. Por conta disto, montei um banco de dados e virei "especialista" sobre a época de ouro daquela caixinha mágica. Há cerca de uns três anos, me convidaram para gravar, como ator, capítulos de radionovela em uma emissora comunitária. Fui, é claro. E com os olhos brilhando.
No início, fazíamos e gravávamos adaptações de contos de Arthur Azevedo. Depois, acabamos nós, alguns dos atores, criando estórias originais em forma de capítulos de novela. Eu mesmo escrevi dezenas deles.
Infelizmente, o projeto acabou. Eu lamentei muito o fim das gravações. Pelo menos, sei que as gravações estão lá, guardadas.
No outro dia, escarafunchando uns arquivos velhos do meu computador, achei os capítulos que escrevi. Eu os reli e acho que passaram pelo crivo do tempo (um dos melhores controles de qualidade de textos que existe). Quem sabe, um dia, eu não consiga regrava-los como radionovelas em outro lugar.
Resolvi colocar alguns aqui no blog. Experimentalmente, vou colocar dois. Se vocês que me visitam tiverem interesse, eu coloco outros. Combinado? É só clicar em "coments" e dizer se eu "vou para o trono" ou se mereço o "troféu abacaxi" como escritor de radionovelas.
ANJOS NO INFERNO
Um original de Marco Santos
Personagens: Maria da Consolação, Maria das Dôres e Narrador.
NARRADOR – As duas irmãs, Maria da Consolação e Maria das Dores chegaram juntas à casa do pai. Por sobre a cabeça de uma, o xale negro de viúva. No coração da outra, o veneno da infelicidade.
MARIA DA CONSOLAÇÃO (MC) – Pai, esta sua filha é só infelicidade. Morreu a luz da minha vida, aquele que dava o meu sustento e do meu filho. Ai de mim! Ai de mim!
MARIA DAS DÔRES (MD) – Paizinho, eu não agüento mais o Dalvan. Minha vida é uma chaga só. Os sete infernos não se comparam com a minha casa se é que se pode chamar aquilo de casa.
MC – Pai, como eu amava aquele homem, como ele era bom para mim. Era só eu suspirar de desejo por alguma coisa e ele atendia. Todo dia trazia da rua sonho quentinho, embrulhado com barbante fino e me dizia: "pro meu doce".
MD – Meus olhos estão secos de tanto chorar. Quando ele chega, vindo da roça ou vindo do bar, cisma que eu quero matar ele. Aí meu lombo é que sofre. Eu apanho sem nem saber porquê. Eu peço a ele de joelho que me poupe. Sabe o que ele diz? "Você é o meu encosto!"
MC – O que é que eu faço com os meus desejos de mulher, meu pai? O meu homem me deixava na porta do paraíso com aquele jeito manso de tocar no meu corpo. E ele nunca se cansava. Era todo o dia, todo o dia. Depois de me saciar ele me dizia baixinho: "tem agrado pra você". E sabe o que era? Corria para o bolso do paletó e encontrava lá jóia folheada, pacote de bala azedinha, tudo o que eu mais gostava.
MD – Ultimamente nem me procurar mais ele me procura. Diz que tem outra pra servir ele. Vira pro lado e dorme e eu que me vire pro outro sem gemido. Ele me acorda pela manhã com sopapão, me pegando pelos cabelos. "Sua porca, o que que você faz em casa que não limpa nem isso?" Pai, eu tenho que limpar o penico dele?
MC – Pai, me dê a sua bênça. Eu volto pro meu canto, pro meu lar onde o corvo da morte pousou. Não quero mais saber de homem. Nem do Seu Quinzinho da quitanda, que pega na minha mão e me olha com aquele olho de cachorro pidão. Ele diz que compreende o meu sofrimento, que quer me dar outra chance de ser feliz. Não quero nem saber...Nem olho quando ele encosta a minha mão nas coisas dele...E quando ele roça a barba no meu cangote e me chama de mulher cheirosa eu nem ouço. Ele quer ir lá em casa de noite, bem de noitinha...Eu digo que ele pode ir se quiser...Até deixo a porta da rua encostada. Mas não esqueço o meu falecido!
MD – Vou indo, meu pai. Me dê a sua bença. Está na hora daquele traste chegar. Meu feijão está no fogo e tenho que cuidar da casa. Tão exigente! Só quer comer o feijão se o alho for bem queimado antes. Vou me lavar com sabão cheiroso. Quem sabe ele hoje me quer...
(Fim)
AS PARALELAS SE ENCONTRAM NO INFINITO
Original de Marco Santos
Personagens: Homem, Mulher e Narrador
NARRADOR - Esta é uma história sobre um homem e uma mulher. Uma história que pode ter acontecido há algum tempo...ou poderá acontecer daqui a segundos, minutos ou anos.
HOMEM - Você vai embora, mesmo?
MULHER – Hum-hum...
H - E se eu...e se eu...
M - ...me pedir para ficar? É isso? Você ousaria tanto?
(Pequena pausa)
M - O medo é a mais fiel de suas qualidades.
H - Não é medo. Eu não tenho medo de nada.
M - Talvez só de você mesmo.
H - Eu quero que você fique.
M - Ora, viva! Até que enfim eu sei de alguma coisa que você quer!
H - Olha, por que é que você não vai pra...
M (INTERROMPENDO) - Mas eu já estou indo!
H - Não, não é isso...Eu não quis dizer...Ah, você me deixa nervoso!
M - Eu sei exatamente como você está se sentindo.
H - A ironia é como uma lâmina. Quem a usa demais acaba se cortando.
(Pequena pausa)
H - Você vai devolver o livro do Neruda que nunca leu e ficar com o disco do Pixinguinha, sim?
M - Foi assim que a gente começou. Nossas vidas não estão nas letras das músicas. (CANTANDO) "O nosso amor a gente inventa...", não é assim? Não, não é assim.
H - A sensação que eu tenho é que a minha escravidão começa onde termina a sua liberdade. Não se trata de saber quando ou por que eu te perdi. Mesmo porque a dor da perda não se agrava ou se atenua com explicações.
M - Não estou te fazendo um mal...Talvez até seja um bem, no fim das contas...
H - Não! Por favor...Não cometa o absurdo de se justificar nestes termos!
M - Eu não estou me justificando. Você também não precisa fazer esse drama todo.
H - Uma comédia de costumes ficaria melhor?
M - (PAUSA) Bem, eu já vou. Se eu esqueci alguma coisa, você guarda pra mim.
H - Agora começa a pior parte, não é? Sempre que me acontece alguma coisa assim eu espero o último minuto para acordar e respirar aliviado, sabendo que foi um sonho.
M - Então não acorde.
H - Eu só quis ser legal pra você.
M - Mais cedo ou mais tarde, as pessoas boas e honestas sempre recebem o justo castigo.
(PEQUENA PAUSA)
M - Você me ajuda a chamar um taxi?
H - (PAUSA) Claro.
NARRADOR: ...E no princípio era o Caos. De algum lugar, partiram dois pontos se deslocando no espaço...E em um segmento daquele universo, seus olhos se cruzaram e aquele olhar contava da vida de cada um...tudo o que tinham visto, ouvido, sentido naquela vastidão. E perceberam que se amavam... Mas como eram retas paralelas, estavam condenados a se encontrarem somente no infinito. (Fim)
(M.S.)

terça-feira, junho 14, 2005

Sr. e Sra. Bag

Noite de sábado. Cinemark, Botafogo Praia Shopping. Na tela, o filme-pipoca "Sr. e Sra. Smith" e as tiradas cínicas do casal Brad Pitt e Angelina Jolie. Na platéia, um outro casal, nada cínico, muito inconveniente. Ela atende ao celular, uma, duas, três vezes, só para dizer "não posso falar agora, estou no cinema, tchau." Às vezes ela liga para alguém e diz que não pode falar alto porque está no cinema, diz alguma outra bobagem e desliga. Aí pergunta para ele o que aconteceu e porque estão todos rindo. O rapaz explica, sem baixar muito a voz. Ele também tem celular mas quando toca ele passa para a moça, que sempre atende.
O carinha não fala no celular, ele prefere comentar as cenas do filme em alto e bom som. Algumas vezes ele tenta advinhar o que vai acontecer: "Ih, ele vai ser pêgo!", "Ó, o vizinho vai chegar!"...
Todos em volta do casal só tem um pensamento: "Por que uma dessas milhares de balas perdidas detonadas no filme não acerta na testa deste par de baús sem alça e sem rodinha"?
M.S.

terça-feira, junho 07, 2005

Quando Jornalismo é História e vice-versa

Falar AINDA no caso "Garganta Profunda" quando o Roberto "Boca de Lixo" Jefferson está detonando o governo(?) Lula é como falar na queda de Constantinopla em plena invasão do Iraque. Mas, de certo modo, vai realçar ainda mais o que quero mostrar.
Na semana passada (embora, com os últimos acontecimentos, parece ter sido no ano passado...), os jornais de todo o mundo foram inundados com a carinha risonha de "bom velhinho" do W. Mark Felt, ex-segundo diretor do FBI, revelando ser ele a famosa fonte oculta do caso Watergate. Os jornalistas Woodward e Bernstein, do Washington Post, que ajudaram a derrubar o presidente Nixon, em 1974, não revelaram durante todo este tempo a identidade da fonte que eles apelidaram de "Deep Throat" ("Garganta Profunda", nome de um filme de altas saliências daquela época. Na verdade, um outro tipo de sacanagem, diferente da promovida pelo Poder...).
Pois bem. O assunto vem à tona quase trinta anos depois de acontecido. E eu pergunto: tratar disso hoje é "jornalístico" ou já virou História?
Mas o que divide o histórico do jornalístico? Não será muito tênue a linha que medeia os dois campos? Escrevo isto com um inegável sorriso afivelado nos lábios, uma vez que sou jornalista e estudioso de História.
Eu acredito firmemente que a investigação jornalística é de extrema ajuda para a pesquisa histórica e o método historiográfico é valioso para o jornalismo. A idéia de atualidade de uma notícia é relativizada pelo interesse que ela pode ainda despertar, na sua capacidade de afetar indivíduos e categorias sociais, profissionais. Afinal de contas, o que acontece hoje é decorrência do que aconteceu ontem. E se "aconteceu, virou manchete", como dizia o slogan daquela antiga revista.
De tanto militar nas duas frentes, sei que existe uma ponte entre os dois campos e não estou sozinho neste pensamento. O ilustre sábio José Murilo de Carvalho já escreveu sobre o tema.
Vemos cada vez mais o jornalista buscar o passado não só para expressar suas opiniões mas também para comparar com o fato presente e informar melhor. Só nisso, já se estabelece uma ponte entre a História e o Jornalismo. Por conta disto, a objetividade dos jornalistas faria muito bem a historiadores, assim como a seriedade e profundidade destes seriam fundamentais para os primeiros.
Tudo o que acontece ao nosso redor tem uma visão jornalística (se for notícia, é claro) como também pode ter uma contextualização histórica. Veja, por exemplo, a crise política que se instaurou no governo atual. Todo esse excremento que o "parceiro" do PTB está lançando aos ventiladores de Brasília merece e deve ser tratado pela Imprensa e pela História. E também pela polícia, mas isso é uma outra história.
M.S.

Eu só queria entender...

Um perguntinha básica: Por que um filme sensível, inteligente, bem filmado, bem representado, que deixa a gente pensando quando sai do cinema como "Filme Falado", de Manoel de Oliveira, está em apenas uma sala, sendo tão pouco comentado e um filme que não acrescenta nada a ninguém como "Star Wars – Episódio III", de George Lucas, está em trocentas salas, teve milhares de minutos/páginas de espaço na mídia?
De qualquer forma, fica aqui a dica: se você gosta de História, de uma boa história, de diálogos interessantes vá ver "Filme Falado". Se você gosta de efeitos especiais, explosões pirotécnicas e não é muito exigente com desempenho de atores vá assistir a "Star Wars – Episódio III". Mas se você gosta de cinema, vá ver os dois.
M.S.

segunda-feira, junho 06, 2005

(No tempo da) Cidade Maravilhosa

Já que falamos no bairro de Botafogo, no hall de entrada do Unibanco Arteplex tem uma mostra de fotos antigas do bairro, incluindo panorâmicasda enseada, com o Pão de Açúcar ao fundo, ainda sem o bondinho. Vendo aquelas fotos, nossa! como o Rio já foi realmente bonito! A gente vê nas fotos uma cidade veramente maravilhosa, limpa, arrumada, organizada. Bem, no início do Século 20 o Rio era governado por gente da envergadura de um Pereira Passos, e não pelo "Trio Calafrio" (mentiRosinha, AnthonyBolinha e César Mala). E isso faz toda a diferença...
M.S.

Passagem para o prazer

O Miguel Falabella costuma dizer que "Botafogo não é bairro; é passagem". Pois está virando um ótimo bairro, como referência cultural. Atualmente, averdadeira Cinelândia é lá, pela grande concentração de cinemas: 22 - destaque para o Unibanco Arteplex. Tirando os três do Rio-Sul, todos os outros estão próximos, o que significa dizer que a distância entre eles pode ser percorrida a pé. Uma grande vantagem na hora de decidir o que assistir. A Barra da Tijuca ainda tem mais salas - 41 telas, todas em Shoppings. Entretanto, de um cinema para outro, só de automóvel. E Botafogo não oferece apenas cinemas. Tem ótimos restaurantes - só para dar uma idéia, lá foi criado o "Bota na mesa", polo gastronômico com 23 restaurantes associados. Tem ainda três teatros. O Poeira, das atrizes Andrea Beltrão e Marieta Severo, na Rua São João Batista (inaugura em breve); a sede da Cia. de Teatro Contemporâneo, do nosso querido DinhoValladares, ali na Conde de Irajá; e o Espaço Café Cultural, na SãoClemente. Sem contar o Canecão, onde acontece algumas peças no estilo grande produção.
Para quem quer dar um mergulho no passado ou simplesmente sentar debaixo deuma árvore e ler um livro em paz, acompanhado pelo canto de pássaros, é só dar uma chegadinha na Casa de Ruy Barbosa, na São Clemente.Gosta de um pão quentinho e no capricho?
Visite a Golden Bread (o nome é cafona mas tem pães maravilhosos!), também na São Clemente, próximo à Casade Ruy.
Claro, Botafogo não é um bairro perfeito. Tem um trânsito infernal nas três grandes avenidas - São Clemente, Voluntários da Pátria e Mena Barreto. Lá também está a sede do canil alvinegro, aquele time de futebol que leva o nome do simpático bairro. Se você tem bom gosto, não vai nem olhar para aquela casa amarelo-mijo, próxima ao Canecão. Apesar destas desditas, Botafogo não é só passagem. No mínimo, podemos dizer que é uma passagem para o prazer.
M.S.

sexta-feira, junho 03, 2005

Dicas para a telona

Tela quente: O filme “Quanto vale ou é por quilo?” é uma grande pedida. Dirigido por Sergio Bianchi, o filme trata das mamatas envolvendo as ONG e as empresas “dedicadas” à benemerência. Um dado curioso no filme é a correlação entre casos reais ocorridos no tempo do Brasil Colônia (e documentados no Arquivo Nacional, pesquisados por Nireu Cavalcanti) e os dias atuais.

Tela fria: Fuja do filme “A vida marinha com Steve Zissou”. Uma verdadeira bomba. É de se admirar como um super elenco como aquele se dispôs a filmar aquela bobagem.
M.S.