terça-feira, junho 07, 2005

Quando Jornalismo é História e vice-versa

Falar AINDA no caso "Garganta Profunda" quando o Roberto "Boca de Lixo" Jefferson está detonando o governo(?) Lula é como falar na queda de Constantinopla em plena invasão do Iraque. Mas, de certo modo, vai realçar ainda mais o que quero mostrar.
Na semana passada (embora, com os últimos acontecimentos, parece ter sido no ano passado...), os jornais de todo o mundo foram inundados com a carinha risonha de "bom velhinho" do W. Mark Felt, ex-segundo diretor do FBI, revelando ser ele a famosa fonte oculta do caso Watergate. Os jornalistas Woodward e Bernstein, do Washington Post, que ajudaram a derrubar o presidente Nixon, em 1974, não revelaram durante todo este tempo a identidade da fonte que eles apelidaram de "Deep Throat" ("Garganta Profunda", nome de um filme de altas saliências daquela época. Na verdade, um outro tipo de sacanagem, diferente da promovida pelo Poder...).
Pois bem. O assunto vem à tona quase trinta anos depois de acontecido. E eu pergunto: tratar disso hoje é "jornalístico" ou já virou História?
Mas o que divide o histórico do jornalístico? Não será muito tênue a linha que medeia os dois campos? Escrevo isto com um inegável sorriso afivelado nos lábios, uma vez que sou jornalista e estudioso de História.
Eu acredito firmemente que a investigação jornalística é de extrema ajuda para a pesquisa histórica e o método historiográfico é valioso para o jornalismo. A idéia de atualidade de uma notícia é relativizada pelo interesse que ela pode ainda despertar, na sua capacidade de afetar indivíduos e categorias sociais, profissionais. Afinal de contas, o que acontece hoje é decorrência do que aconteceu ontem. E se "aconteceu, virou manchete", como dizia o slogan daquela antiga revista.
De tanto militar nas duas frentes, sei que existe uma ponte entre os dois campos e não estou sozinho neste pensamento. O ilustre sábio José Murilo de Carvalho já escreveu sobre o tema.
Vemos cada vez mais o jornalista buscar o passado não só para expressar suas opiniões mas também para comparar com o fato presente e informar melhor. Só nisso, já se estabelece uma ponte entre a História e o Jornalismo. Por conta disto, a objetividade dos jornalistas faria muito bem a historiadores, assim como a seriedade e profundidade destes seriam fundamentais para os primeiros.
Tudo o que acontece ao nosso redor tem uma visão jornalística (se for notícia, é claro) como também pode ter uma contextualização histórica. Veja, por exemplo, a crise política que se instaurou no governo atual. Todo esse excremento que o "parceiro" do PTB está lançando aos ventiladores de Brasília merece e deve ser tratado pela Imprensa e pela História. E também pela polícia, mas isso é uma outra história.
M.S.

2 comentários:

Anônimo disse...

Neste momento delicado para a política nacional, penso que seus colegas de profissão, mais do que nunca, não podem mesmo deixar de ser um pouco como um historiador. É preciso que tratem os recentes e alarmantes fatos com responsabilidade e dentro de uma perspectiva histórica. A corrupção não é obra do governo Lula. Ela veio com as caravelas. Mudando de assunto, quer dizer que enquanto eu visitava este blog pela primeira vez, era um dos assuntos em sua conversa com a Luciana?! Como diria o Burt "Robin" Ward: Santa coincidência! Vamos aguardar então a recuperação da nossa amiga para uma reunião de blogueiros e afins. Um abraço!

Anônimo disse...

É uma preocupação grande que eu sempre tive. Sempre fui um recortador de jornais e um consulente de revistas antigas. Tenho um arquivo implacável. Mas depois que a gente conhece como são feitas salsichas, leis e jornais, não tem mais o mesmo respeito. Há algum tempo, estava escrevendo um dicionário de história política do RS. Em boa parte, me baseava em pesquisa em jornais e revistas, especialmente para a história mais recente. Ocorre que, se eu não consulto um jornalista amigo que escreveu uma reportagem que consultei na Revista do Globo, um número de 1964, quase que eu caio 38 anos depois num puxão de tapete aplicado por milicos da época. Sempre que escrevo profissionalmente, eu me preocupo sobremaneira com esse leitor que vai consultar o jornal ou a revista num futuro distante. Estou sendo justo com ele? Espero que sim.