quarta-feira, novembro 29, 2006

Pulse


“Como eu desejo, como eu desejo você estivesse aqui.
Nós somos apenas duas almas perdidas que nadamos em uma bacia dos peixes,
ano após o ano,
Correndo através deste a mesmo velho chão.
O que nós encontramos? Os mesmos medos velhos.
Desejo você estivesse aqui.”
(Da letra de “Wish you were here”)

No sábado passado fui à casa do meu amiguirmão Luiz para conversarmos, ouvirmos música... Levei o DVD do show “Pulse”, do Pink Floyd para a gente assistir.
Incrível! Fantástico! Extraordinário!
Certamente, o melhor show que eu já vi por TV na minha vida.
Vídeo com 6min 52seg


Mas não é só esta a razão deste post. Eu ali, vendo o show com o meu amigo, ao ouvir “Time”, literalmente voltei no tempo, lembrei de nós dois, rapazotes, eu indo para a casa dele de bicicleta, sacola de supermercado com meu gravador Sanyo, um monte de fitas gravadas precariamente. Em uma delas, tinha o “Time”, que eu gravei da Rádio Mundial AM.
Lá se vão mais de 30 anos... Em uma amizade que já ultrapassou 40 anos... E que o Tempo... Time... Não conseguiu afetar, só consolidar. Ele tem três filhos e já é até avô. Eu não tive nenhum. Fiquei pra titio. De três sobrinhos biológicos e outros tantos por consideração.
E ali estávamos nós, assistindo àquele belíssimo show, em um home theater, celebrando em silêncio a amizade entre pessoas que têm afinidades, que se admiram e se gostam...
Escolhi dois momentos mágicos deste show e os estou apresentando na TV Antigas Ternuras. Escolhi “Time” por ser emblemática naquele momento. O Tempo envolvendo a música e a amizade entre duas pessoas. Escolhi também “Wish you were here”, porque eu naquele instante desejava que todos os meus amigos também estivessem ali, conosco.
Nossos amigos são escolhas conscientes ou inconscientes que fazemos ao longo da vida. E que eu desejo que estejam comigo. Aqui e sempre. Por todo Tempo que eu tiver na minha existência.
“O Tempo passou
/A canção acabou
Acho que eu teria mais alguma coisa a dizer”.
(da letra de “Time”)
Vídeo com 4min 49seg


M.S.

sábado, novembro 25, 2006

Acredite se quiser


Quando eu era moleque, adorava ler no jornal a coluna do “Acredite se quiser!” (no original, “Believe it or not!”). Era uma criação de americano chamado Robert Ripley (1890-1949), que escrevia e desenhava tudo na coluna. Chamá-lo de excêntrico é subestimar a capacidade de loucuras desse cara fantástico. Tem um museu dele nos EUA que é freqüentadíssimo até hoje.

Ripley (na foto) viajou o mundo inteiro atrás de curiosidades e extravagâncias para apresentar em seu programa de TV ou em sua coluna de jornal, que era distribuída em vários jornais do mundo, inclusive aqui no Brasil. Tinha umas doidices muito legais e eu sempre me interessei por este tipo de coisa. Quando eu já estava mais grandinho, acompanhava na Rede Manchete o programa “Acredite se quiser” (versão do “Believe it or not” americano), apresentado pelo recentemente falecido Jack Palance e por sua filha (aliás, como se diz aqui no Rio, ela era um “tremendo pessoal”... Hoje, deve estar velhusca). Talvez os quarentões que freqüentam o Antigas Ternuras se lembrem e saibam do que estou falando.
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Pois é. Num dia desses, eu estava zanzando pela Internet, e achei umas coisas muito curiosas que me fizeram lembrar do célebre programa e da coluna de jornal. Daí, resolvi criar neste post o meu próprio “Acredite se quiser!”.
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Há um site na Internet que está sugerindo o dia 22 de dezembro (puseram contagem regressiva lá!) para todas as pessoas do mundo terem um orgasmo ao mesmo tempo. O objetivo é gerar uma enorme onda de energia positiva que envolva o planeta, exatamente na hora do “Ai meu Deus! Ai meu Deus!” ou “Yes! Yes! Yes!” (ou qualquer ruído que você faça naquela hora abençoada...). Os caras podem até serem bem intencionados. Mas que isso pode virar um baita caô, ah, pode! Já imaginou aquele sujeito que trabalha com uma gostosona e não tenha oportunidade para chegar junto? Pois é. Agora é só mandar uma baba de quiabo de preocupação com o meio ambiente, com o equilíbrio cósmico do planeta, com o bem da humanidade e chamá-la para o lesco-lesco. Se colar, colou... Acredite se quiser!


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Tem um bando de aficionados que mandou tatuar personagens de videogame no corpo. O preferido da moçada tem sido o Mario Bros. Quer ver? Clique aqui.
Eu já acho tatuagem um troço sem sentido e absolutamente brega. Mas, cada um sabe de si. Agora, tatuar o Pac-Man, o popular “Come-Come”, na própria bunda eu acho muuuuito esquisito... Acredite se quiser!


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Existe um resort na Áustria, o The Starkenber Beer Myth resort, localizado nas imediações do castelo medieval de Starkenberger, lá no Tirol austríaco (quem quiser saber mais detalhes, clique aqui),
onde há uma piscina de cerveja. É isso mesmo, caros amigos... Cerveja! Olhe aí na foto os caras se esbaldando. Agora, como vocês sabem, cerveja é um ótimo diurético... Os bebuns vão enchendo a moringa, começam a ficar meio doidões e aí eu pergunto: alguém vai querer sair da piscina pra fazer xixi?
O gerente diz que um banho naquela piscina é ótimo para a pele. Sei... Então tá...
Acredite se quiser!

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O Clube Nemo 33, na Bélgica, construiu a piscina mais profunda do mundo. A baita tem 33 metros de profundidade. E o formato bem curioso, como vocês podem ver na foto. Nessa, não dá para fazer aquela brincadeira de jogar uma moedinha pra garotada mergulhar e buscar. Se não tiver equipamento de mergulho, vai ficar por lá mesmo. No fundo, no fundo... Isso é uma loucura. Se deseja ver mais fotos, clique aqui. Tem até um Submarino Amarelo para navegar na piscina!
Acredite se quiser!
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Imagina que você um dia, estava no sufoco e fez uma promessa à Nossa Senhora de Fátima. Aí, a santa concedeu a graça pedida e cabe a você cumprir com o prometido. Se você está sem saco, ou está com preguiça, ou fica adiando, adiando... Não tem erro!

Basta recorrer ao “Pagador de Promessas Profissional”. Ele vai a Fátima e cumpre com o que você prometeu à santa.
Já até sei. Você vai dizer: “isto é coisa de português...” e eu respondo: “sabes que tu adivinhaste, ó pá?”. Caso esteja neste caso, vá ao site do gajo (olha ele na foto), basta clicar aqui.
Acredite se quiser!
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O cavalheiro aí que me dá a honra de ler este post, por acaso, tem o pinto em dimensões nipônicas? Ele parece uma verruga necrosada? E por conta disso, não consegue uma camisinha que seja proporcional ao seu bilau?
Seus problemas acabaram!
Veja a foto ao lado e perceba que já existe um preservativo do tamanho do seu prazer. Acredite se quiser!
Aliás, se você quiser ver outras coisinhas diminutas, basta clicar aqui.
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Estão vendo este bicho com cara daquele antigo professor de geografia que todo mundo teve? Ele é um peixe das profundezas abissais, que nem aqueles personagens do National Kid.
Ele é todo gelatinoso para poder suportar a fortíssima pressão que existe naquelas bandas. Se estão tentando pegá-lo com vara, linha e anzol, desistam. A minhoca não chegaria lá onde ele vive (e haja linha!).
Acredite se quiser!
Se vocês querem ver outros bichos feiosos, sei lá, para aproveitar imagem em algum post, é só clicar aqui. Este site é especialista em filhotes de cruz-credo que nem esse.
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Estes foram só exemplos, caros leitores. A Internet está lotada de coisas e extravagâncias que fariam a delícia do Robert Ripley. Imagino que todo mundo conheça algo digno de um “Acredite se Quiser”.

Eu mesmo tenho um caso desses. A última cachorra que eu tive, quando estava muito contente sorria. E se a gente desse uma bala para ela, ela não mordia. Colocava no canto da boca e chupava.
Já estou até vendo a carinha de vocês, doidos pra me sacanear. Mas estou falando sério! Era assim mesmo! Não estou dizendo que ela gargalhava, ou fazia rá! rá! rá!, nem sorria à socapa feito o Muttley do Dick Vigarista. Estou dizendo que ela arreganhava os dentes, como se estivesse sorrindo, quando a gente chegava em casa ou a chamasse pra brincar.
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Tenho uma colega de trabalho que jura de pés juntos que o cachorro dela canta, solfeja e faz escalas. Sabem, aquele exercício que se faz em aula de música: Á...Á...Á...Á...Á...Á...ÁÁÁÁ...
Pois é. Segundo ela, o bicho faz algo assim, quando pedem: “Canta, Rex, canta!”
O que eu já sacaneei essa moça por conta desse cão-barítono não está no gibi. Mas teve gente que viu e me garantiu que é verdade.
Acredite se quiser!
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Veja neste vídeo de 1min30seg, um caixão em formato de garrafa de coca-cola.


E você? Conhece algum fato digno dessa seção? Nossas câmeras, microfones e espaço para comentários estão abertos. Com a palavra, vocês.
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você está vendo um trecho de um programa “Believe it or not”.
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Queridos amigos. Por mais que eu tente, está difícil para mim, neste momento, conseguir postar três vezes por semana e visitar todos vocês. Vou fazer duas atualizações semanais (quarta e sábado) e visitarei vocês uma vez por semana. Prometo que leio e comento TUDO o que escreverem. Mas, vou ter que desacelerar. Perdoem-me. Mas os meus afazeres estão se multiplicando...

quarta-feira, novembro 22, 2006

Se segura, malandragem


Prontos para mais explicações a respeito da origem de expressões de uso cotidiano? Então lá vai.
Apresentarei hoje esclarecimentos sobre duas expressões que utilizo bastante. E, de propósito, eu as escolhi para este post por terem pontos comuns em sua utilização. Fui procurar de onde vieram e o mestre Câmara Cascudo, que sempre me vale nessas horas, me auxiliou.
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A primeira é:

Da pá virada.

Essa veio de longe e de muito tempo atrás. Do tempo em que o homem tirava o sustento de sua família do chão. Ou tinha ele mesmo que construir a sua casa para abrigar a si e aos seus. Um dos instrumentos utilizados nessas empreitadas era a pá. Ela era e é extremamente útil quando existe uma pessoa na outra ponta a manejá-la. Se ela está largada, ou emborcada no solo, ela é absolutamente inútil. E se não está sendo utilizada, é sinal que a pessoa que a deveria utilizar está vadiando. Daí, originalmente ser da pá virada significava que o cara não queria nada com o batente, deixava a ferramenta largada.
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Mas, e sempre existe um mas... No Brasil, a expressão tomou outra característica. Aqui, deixar de trabalhar, ser malandro, passou a ser elogio, uma virtude, e não um xingamento. Ser “da pá virada” hoje é ser “o bom”, ou “a boa”. É o desejo de muitos para a admiração de tantos outros.
Li no jornal que um taxista carioca estava se vangloriando por ter enganado um turista, cobrando 100 dólares por uma corrida que não custou nem cinco. Ele ria, orgulhoso do feito. Afinal de contas, ele mostrou que é esperto, malandro, muito vivo... Disse a matéria que o jornalista explicou a ele ser aquele procedimento ruim para a cidade, que o turista enganado tende a não voltar e ainda queima o filme do país para os outros. E se o motorista lucrou 95 dólares, a cidade perdeu muito mais.
Você acredita que o cara vai deixar de fazer isso, se houver chance? Duvido. Ele mostrou que é da pá virada.
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Há uma outra expressão, também usada neste contexto do malandro que “se vira”, que dá um jeitinho brasileiro, que se safa... Estou falando da...

Quem não tem cão, caça com gato.

Essa aí talvez não seja tão antiga como a outra, mas também é do tempo do Onça. E ao longo das gerações sofreu transformação. Originalmente, se dizia: “quem não tem cão, caça como gato”.
Acho que vocês já devem ter visto em filmes cenas de caçada (tanto de raposa, de patos, de javalis etc.) com pessoas primeiramente soltando os cães, que farejam e saem em disparada, fazendo o maior esporro, com o objetivo de assustar a caça e acuá-la em algum canto da floresta. Uma vez acuada, basta o caçador chegar e nem precisar mirar, é suficiente apontar o pau de fogo e mandar bala.

Essa é a moda dos brancos caçarem. Os silvícolas, evidentemente, não caçavam assim. Eles se esgueiravam, matreiros, fazendo o mínimo ruído, andando como gato para surpreender a presa. Então, quem não tinha um cão para assustar e acuar o animal, só podia agir de modo astuto, felinamente. Com o tempo e o uso, a expressão se desvirtuou, e o “como” virou “com” gato.
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No Brasil, pátria do “jeitinho”, essa expressão se alastrou mais rápido que pereba em menino. Por exemplo: aqui no Rio, temos que fazer anualmente a vistoria dos veículos. Neste exame, feito pelo Detran, os técnicos observam vários itens, incluindo o estado dos pneus e a validade do extintor de incêndio. Aí o malandro está com os pneus parecendo bóia de levar para a praia e o extintor com validade de novembro de 1972 a.C. Mas não quer gastar uma grana para normalizar a sua situação. O que ele faz? Quem não tem cão, caça com gato. Ele vai nos arredores dos locais de vistoria e aluga quatro pneus novos e um extintor de incêndio por qualquer vinte merréis (acreditem: existe camelôs que prestam esse serviço!). Então vai ao Detran, submete o carro à fiscalização, volta, pega de volta seus pneus e extintor e sai feliz da vida por ter dado uma volta no governo.
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Se essa criatividade brasileira fosse destinada a coisas realmente úteis, seríamos um povo imbatível no quesito cidadania. Mas preferimos agir como “gatos” a termos uma matilha de cães adestrados. Dá muito trabalho. Mesmo porque, somos da pá virada, mesmo...
M.S.

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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Malandro não vacila”, com o impagável Bezerra da Silva.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Sem fome de viver


Há poucos dias fiz um post aqui sobre distúrbios alimentares como a anorexia e a bulimia. Na semana passada, uma modelo faleceu por ser anoréxica. E em seguida, outra moça, Luise, também morreu do mesmo mal. O assunto está na pauta da imprensa. As três revistas de opinião mais importantes do Brasil dedicaram capa e matéria principal à modelo e a este problema que é mais sério do que eu imaginava( e já o cria como seríssimo!). Foi imensamente triste ver o depoimento da mãe da modelo na TV.
Bem, eu daqui de minha velha cristaleira de emoções, antecipei o grande assunto do momento, o que é estranho. Fiz este blog não para indicar tendências ou acompanhar problemas atuais. O viés daqui sempre será o passado, as coisas boas que gostamos de recordar. Mas aconteceu. Quando eu era moleque, as jovens não tinham essa obsessão por ter um corpo cadavérico. Acho tudo tão estranho...
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No post anterior, lembrei de Karen Carpenter, definitivamente uma antiga ternura, desde que a ouvia no Rádio e me levou a comprar na loja Ultralar o disco “Now and Then”. Karen morreu devido a anorexia. Na época, muitos achavam que a partir de sua morte, as pessoas iriam pensar duas vezes antes de maltratarem seus corpos em busca de corpos magros.
O tempo passou e estes transtornos só recrudesceram.
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Hoje, a anorexia é a doença de fundo psiquiátrico que mais mata no mundo. Mata mais que alcoolismo. Estima-se que 1,4 milhão de pessoas no Brasil sofram deste mal, que tem uma taxa de fatalidade oscilando entre 10 a 20% entre os pacientes. Isto significa dizer que em cada dez anoréxicos, de um a dois morrem devido a complicações decorrentes da doença. Ou seja, do total de pacientes de anorexia, cerca de 140 a 280 mil pessoas poderão ficar gravemente mortas pro resto da vida. Não é um valor pequeno...
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No meu post anterior, citei o que vi e li, após um passeio pelos blogs de moças com este mal. Elas fazem um enorme esforço para não comer (elas dizem claramente que odeiam comida), mesmo sabendo que correm risco de vida.
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Elas preferem morrer a serem gordas (elas se acham assim, porque na grande maioria, têm corpos com peso normal ou são até magras, mas se vêem como obesas). Aliás, a própria modelo que morreu, a Ana Carolina Reston, disse isso várias vezes antes de embarcar para o outro lado.
Depois do assunto entrar na pauta geral da imprensa, depois do que foi dito, quis ver o que estes blogs comentavam sobre a tal da “Ana” e “Mia”.
Num deles, o “I’m not politically correct” (elas adoram escrever em inglês; se não tem cuidados com o próprio corpo quanto mais com o idioma...), a sua autora postou um texto do qual pincei alguns trechos. Se quiserem lê-lo na íntegra, basta clicar no link:
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“MULHERES INTELIGENTES ESCOLHAS INSENSATAS
Lindas,
Estava eu sentada em minha sala pensando em fazer um NF
(Nota do Redator: “NF” é “No Food”, Não Comer. Como eu escrevi, esse povo adora escrever em inglês), quando me aparece em primeira chamada no Jornal Hoje a notícia bombástica da modelo Ana Carolina Reston, que morreu de anorexia. Pasmei!
(...) Eu consigo conviver muito bem com a Ana (como elas chamam a Anorexia), e também com tudo o que vem junto com ela, mas com a morte, eu vou mais devagar. (...)
Anjos, eu sei, anorexia mata, claro que mata. Tenho consciência disso. Mas eu, assim como várias de nós, sei o limite. Ou não? (longa pausa)
Confesso Girls, fiquei chocada, de verdade. Mas não penso em parar agora. Pode realmente ser uma atitude estúpida, por que tenho consciência do que é a Ana, mas sei lá tipo, tenho um objetivo, que não necessariamente é a morte, mas... Bom, como dizem mulheres inteligentes escolhas insensatas”.

Como podem ver, a moça se acha inteligente.
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Vamos pro outro site. O “Psycothic Doll”...... (Lembrem-se: estou reproduzindo aqui trechos de blogs exatamente como foram escritos. Não estou mudando uma vírgula)

“Vocês já viram a capa da IstoÉ? Hipocrisia deles fazer esse furacão agora...se ninguem fez nada antes..verdade! Eles cobram tanto.. Uma agencia X uma vez me mandou ficar 3 dias bebendo líquidos..pra "enxugar" 1,5 kg. segui o conselho e pensei.. eles sabem o que estão fazendo. Quando dei por mim estava num quarto de hospital. Minha cabeça não é a mesma faz tempo Minha saúde também. Não aguento mais ter compulsão e vomitar. Mesmo querendo,não vou conseguir comer. Eu não vejo o que os outros vêem.
apenas 40 quilos. Um peso mais apropriado para uma menina entre 11 e 12 anos e 1.50 eles dizem. Não quero mais nenhuma amiga minha virando anjo. SE CUIDEM POR FAVOR. Uma promessa eu faço aqui hoje. Não quero vomitar mais.. Eu não posso. E mesmo determinada..sei que não vai ser nada fácil.
Só os mais fortes sobrevivem,diz a cadeia..
será que agente ainda se lembra do limite?”
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Neste outro site, “Mais uma Ana Única e Bela”:
“vcs viram que a capa da época é sobre nós? e eles ainda se acham intelectualmente superiores ao ponto de não intenderem que Anna não é doença e sim estilo de vida. Porque eu quero me amar. Me sentir linda e não ter vergonha. Não mais comprar roupas tamanho GGGG e sim PPPP. Não tem nada que pague a alto-estima satisfeita. E não há nada também que possa me parar de lutar para tê-la. Nem a fome, nem as calorias, nem eu mesma. Nada. Porque eu sou forte e determinada. Vcs também, meninas! Somos mais fortes do que a fome, e tudo graças à Anna!”

O tempo vai passar, o tema do momento vai passar na mídia e pessoas vão continuar morrendo desse mal. Como foi visto, embora elas tenham consciência de que estão colocando a vida em risco, para elas é mais importante “atingir o objetivo”, que é ter um corpo cadavérico. Elas não têm fome de viver. Elas guardam o apetite delas para a aparência ilusória de um corpo magro.
M.S.



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Na Rádio Antigas Ternuras você ouve “Pais e Filhos” pela Legião Urbana.
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Desculpem-me não estar visitando os blogs de vocês com a freqüência que eu gostaria. Além de meus afazeres habituais, estou envolvido com a mega turnê mundial da peça “Nhoque em tempos de crise” em que atuo.

sábado, novembro 18, 2006

O trio mais biruta da tela


Ultimamente, quando abro os jornais no noticiário político, não sei porquê, mas lembro de uma antiga série de filmes que assistia na TV a lenha de meu tempo de garoto. E no período imediatamente anterior ao do primeiro turno das eleições, eu lia os jornais ouvindo mentalmente um prefixo que dizia assim:
“A Screen Gems apresenta um show de bom humor e gargalhadas com Os Três Patetas! O trio mais biruta da tela nos divertirá hoje com a comédia; “Tem aloprado no dossiê”. Versão brasileira AIC, São Paulo”.
*Vídeo com 3 min e 29 seg


Nesta minha séria série sobre antigas séries de TV, guardo um espaço muito carinhoso para “Os Três Patetas”. Durante um bom tempo de minha infância, eu os assistia na TV Globo, durante o almoço, quando tinha voltado do colégio (lá pelos idos de mil novecentos e não vem ao caso...).
Na verdade, eles sempre estiveram ao alcance dos meus olhos desde então. Soube que de 1958 para cá, nunca deixaram de serem exibidos na televisão americana. São quase 50 anos ininterruptos. Aqui no Brasil, essa longevidade não é tão granítica assim. Mas quem quiser rever “o trio mais biruta da tela”, basta sintonizar no canal a cabo TCM que vai vê-los em algum momento.
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Contar a história dos Três Patetas é extremamente fácil e difícil ao mesmo tempo. Tenho tantas informações sobre eles que fariam este post ficar quilométrico. Vou ter que selecionar.
Embora eles tenham sido sempre “Três”, na verdade, os Patetas foram seis: Moe, Larry (ambos presentes em todas as formações do grupo), Shemp, Curly, Joe e Curly Joe.
Eles começaram a carreira na formação Moe, Larry e Shemp, aliados ao comediante Ted Healy, fazendo números em shows de variedades, até chegarem à Broadway e ao cinema. Eram “Ted Healy and the Rocketeers”, às vezes também se apresentando como “Ted Healy and his Gang”. Fizeram o filme “Soup to Nuts”, onde os três malucos se destacaram com seu humor absolutamente louco. Fizeram também participações em filmes da Metro-Goldwin- Meyer ao longo dos anos 30.

A 20th Century Fox quis contratá-los sem Ted Healy (na foto, com eles), que manobrou nos bastidores para o contrato não sair. Eles deixaram a parceria com i invejoso e seguiram em carreira-solo, se apresentando em boates e casas noturnas, com enorme sucesso. O humor deles era absolutamente inédito na época. Moe, fazia o líder, que era o mais esperto; Larry, o trapalhão um pouco mais sabido do que Shemp, o doidivanas total. Eles usavam muito o humor físico, a partir de pancadaria generalizada entre eles. Como se apresentavam em Teatros e boates, para que a piada funcionasse, Moe tinha que descer o braço com vontade para estalar e fazer barulho. Shemp, o que apanhava mais, sempre se incomodou com isso, além de não saber exatamente se ser artista era o que queria ser na vida. Um dia, pediu para sair, sendo substituído em família (Moe e Shemp eram irmãos) pelo caçula Jerome, que entrou no grupo como Curly. Esta formação foi a melhor e mais famosa do grupo. Com ela, chegaram à Columbia Pictures, onde rodaram um sem-número de “comédias de dois rolos”, episódios de 15 minutos que posteriormente chegaram à televisão, pela divisão televisiva do estúdio, a Screen Gems. Na Columbia, eles conheceram uma máquina de efeitos sonoros, que fazia a trilha de ruídos para a pancadaria deles. Moe já não precisava baixa a porrada com vontade.
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Apresento agora, um rápido resumo biográfico de cada pateta.
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Moe Howard nasceu Moses Harry Horwitz, em 19 de junho de 1897, em New York. Tinha quatro irmãos, mas os dois mais velhos não quiseram nada como mundo das artes. Moe, aos 11 anos, se apaixonou pelo mundo do cinema e do Teatro, decidindo tornar-se ator. Fez algumas pontas em filmes e mudou o sobrenome para Howard por ser mais fácil de ser pronunciado. Em 1912, juntou-se ao amigo Ted Healy para fazerem dupla em show de variedades. Em 1922, seu irmão Shemp juntou-se a eles e posteriormente, Larry também, fazendo parte do número com Ted Healy. Era o mais ajuizado do grupo, tornando-se de fato o líder deles. Casou-se com Helen Schomberger (prima do mágico Houdini), com quem teve os filhos Joan e Paul. Morreu em 4 de maio de 1975, de câncer no pulmão (ele fumava bastante).
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Larry Fine tinha por verdadeiro nome Louis Feinberg, nascido na Philadelphia, em 5 de outubro de 1902, o mais velho de quatro filhos. Desde pequeno era um verdadeiro trapalhão, sempre propenso a se acidentar. Certa vez, derramou ácido no braço e para fortalecer a musculatura do membro ferido começou a tocar violino, o que fazia muito bem. Foi lutador de boxe amador também. Entrou para o show business como violinista e comediante, quando encontrou Ted Healy e Moe que o chamaram para juntar-se a eles em seu número. Casou-se com Mabel Haney, em 1927, que lhe deu os filhos John e Phyllis. Era viciado em jogo. Perdeu fortunas nas corridas de cavalos. Em várias ocasiões, recorria a Moe que o ajudava, pagando suas dívidas da jogatina. Por conta deste seu vício, costumava se atrasar nas filmagens e vária vezes teve que ser procurado nos cassinos e hipódromos para ir aos estúdios filmar. Em 1970, sofreu um derrame que o paralisou de um lado e o fez encerrar a carreira. Em 1974, teve outro, vindo a falecer em 1 de janeiro de 1975.
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Shemp Howard recebeu ao nascer o nome de Samuel Horwitz, em 17 de março de 1895, no Brooklin/NY. Era um ano e meio mais velho que seu irmão Moe. O apelido Shemp era por conta de como sua mãe, que tinha forte sotaque judeu e ao chamá-lo de “Sam” parecia “Shemp”. Era um trapalhão de verdade, tendo se metido em várias encrencas. Foi encanador, entregador de jornais até entrar para o Teatro de variedades e fazer parte do número com Moe e Ted Healy. Entrou e saiu do grupo várias vezes, mas sempre esteve envolvido com Teatro e cinema. Casou-se em 1925, com Gertrude Frank, com quem teve o filho Morton. Voltou a ser um Pateta com a doença de seu irmão Curly. Ao retornar para casa, depois de ter assistido a uma luta de boxe, teve um ataque cardíaco fulminante dentro de um táxi, ao acender um charuto. Isso em 23 de novembro de 1955.
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Curly Howard era o filho caçula da família Horwitz. Seu verdadeiro nome era Jerome Lester Horwitz, tendo nascido em 22 de outubro de 1903, em New York. Entrou para o grupo quando Shemp desistiu de ser um Pateta, no número com Ted Healy. Tinha cabelos fartos e um enorme bigode. Teve que raspar ambos, para compor o personagem Curly do trio, e isso o deprimiu por achar que não mais agradaria às mulheres, o seu grande fraco. Era o verdadeiro gênio do humor no grupo. Vários especialistas estudam seus filmes até hoje. Sua marca registrada, aquele “niak, niak, niak”, seguido dos tapas no próprio rosto e dos passinhos rápidos, aconteceu por ele não se recordar de suas falas e ter que improvisar. Muito humorista dos conhecidos o imitou descaradamente. Casou-se diversas vezes, a primeira com uma mulher que arranjou quando estava bêbado e que ninguém nunca conseguiu descobrir como se chamava. Casamento anulado, uniu-se a Elaine Ackerman, com quem teve a filha Marylin, depois com Marion Buchsbaun, com quem também se divorciou (e lhe levou metade dos bens) e por último com Valerie Newman, com quem teve uma filha, Janie. Era um bom vivant. Comia, bebia e fumava em quantidades industriais. Teve um primeiro derrame em 1946, tendo que se afastar dos Patetas. Depois teve vários outros até falecer em 18 de janeiro de 1952.
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Joe Besser substituiu Shemp quando este faleceu. Era nascido em 12 de agosto de 1907, no Missouri. Era judeu como Moe (e Curly e Shemp) e Larry, o que significa dizer que a maioria das formações dos Patetas era de comediantes de origem judaica. Em 1920, entrou para o entretenimento como assistente de mágico em um circo. Foi casado com Erna Kay. Ao entrar para o grupo, exigiu não apanhar como os demais no que foi atendido, mas tirava muito da graça do trio. Seu personagem era um tanto delicado demais para os Patetas. Acabou saindo para fazer carreira-solo. Foi o dublador do desenho animado da Jeannie, onde fazia o personagem “Babu”. Morreu dormindo em sua casa, em 1 de março de 1988. Tinha escrito o livro “Once a Stooge, Always Stooge”. Só dois amigos foram ao seu enterro.
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Joe deRita, o “Curly Joe”, nasceu Joseph Wardell, na Philadelphia, em 12 de julho de 1909 em uma família de artistas. Foi ator desde muito pequeno, tendo atuado em diversos filmes e feito excursões com Bing Crosby, entretendo soldados durante a guerra. Quando a Columbia encerrou o seu departamento de curtas, Joe não quis sair pelo país se apresentando em Teatros ou onde pudessem. Então Moe e Larry chamaram deRita para substituí-lo. Ele atuou em seis longa-metragens com os Patetas. Era casado com Jean Sullivan. Faleceu em 3 de julho de 1993. Em seu túmulo há a inscrição: “Ele foi o último Pateta”.
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Há muitas curiosidades envolvendo o trio mais biruta do planeta. Acho que a mais interessante aconteceu num intervalo entre as apresentações que eles faziam numa casa de shows. Os três jogavam cartas, quando Shemp começa uma discussão com Larry. Este encerra a briga enfiando dois dedos nos olhos do outro, sob gargalhada dos demais presentes. Logo este recurso se incorporou ao arsenal de loucuras do grupo. Neste mesmo dia, Moe estava passando pelo camarim de um dos atores da trupe quando viu uma torta sobre a mesa. Pegou-a, subiu num ponto alto do camarim e jogou-a na cabeça de Larry. Como os presentes começaram a rir, incluindo o dono da torta, Larry pegou o que sobrou a torta e iniciou uma batalha no camarim, com um jogando bolo na cara um do outro. Nascia ali o gênero comédia-pastelão que foi usado e abusado pelo trio em seus filmes e depois ganhou o mundo.
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A marca “Os Três Patetas” ainda é muito forte no mundo. Teve desenho animado, gibi e o escambau... Quando eu estive em New York, pude ver que as lojas de souvenires têm trocentas imagens e bonecos do trio. Acho que só vi mais imagens de Charlie Chaplin. Nem Elvis ou os Beatles tinham mais produtos com suas imagens do que o trio mais biruta do planeta.
(Veja abaixo o cartaz do último filme dos Patetas e uma das últimas imagens de Larry Fine, antes do derrame)
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê um clip com cenas do trio mais biruta do planeta ao som da música “The Curly Shuffle”. (niak! niak! niak!)

quarta-feira, novembro 15, 2006

Pedido de resposta vindo de thomas_morus@purgatorio.org


Prezado Senhor Marco Santos,
Perdoai-me a petulância de pedir-vos direito de resposta em função de vosso comunicado referido ao meu estimadíssimo amigo Erasmo de Rotterdam. Era para ele mesmo vos dirigir a missiva, mas pediu-me que o fizesse, afinal, como vos é sabido, quero supor, ele me dedicou a obra “Elogio à Loucura” que comentastes.
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Peço-vos, não estranheis o endereço com que me dirijo a vós. Por méritos talvez imerecidos, fui acomodado no que vós ainda encarnados chamais de Mansão Celestial, Paraíso ou correlatos. Entretanto, no Céu a Microsoft não entra. Nosso sistema operacional é bem diverso do Windows e seria de todo impossível eu enviar esta mensagem de lá para o vosso computador. Se não conseguiu entrar no Céu, a Microsoft fez acordo com Belzebu e instalou em todos os computadores infernais o Windows 98. Quem é enviado para lá só tem esse sistema para pagar seus pecados. Mas falando com as pessoas certas, é possível acessar do Purgatório, por intermédio de um programa pirata (ou “genérico”, como vós atualmente chamais...), e nos comunicar com vós outros aí na Terra.
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Vosso texto nos chegou ao conhecimento e vos adianto que dividiu as opiniões. Meu amigo Erasmo se sentiu ofendido por ser chamado de “Tremendão”(I beg your pardon, sir, mas, com mil tubarões, o que vem a ser isso?) e em seguida, considerou vossa linha de raciocínio como um despautério. Houve que cerrasse fileiras ao lado de meu preclaro amigo. Todavia, Mr. W. Shakespeare apreciou vossos argumentos, embora vos fizesse senões quanto ao estilo. Mas, como vós também sois gente de Teatro como ele, temo que os elogios sejam puro corporativismo da classe. Vosso texto também calou fundo junto ao público feminino daqui, capitaneado por Mrs. Catherine of Aragon, Mrs. Anne Boleyn, Mrs. Jane Seymour, Mrs. Anne of Cleves, Mrs. Catherine Howard e Mrs. Catherine Parr. Não sei se vós já as conhecíeis, mas são, ou melhor, foram as seis esposas de Sua Majestade Henry VIII...
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Sem mais delongas, desejo cumprir a missão pedida.
Meu bom amigo Erasmo escreveu o “Elogio à Loucura” como sátira, como um passatempo em uma cansativa viagem que fez da Itália para a Inglaterra. Disse-me ele que pensava em mim e conversava mentalmente comigo. Daí ter imaginado um trocadilho com meu sobrenome e a Mória (loucura, caso vós não sabeis. Lembrai-vos que o nome original da obra é Encomium Moriae). Na verdade, este seu livro não passou de uma pilhéria.

Ele, em seu prefácio, já mo advertia quanto aos muitos detratores que esta obra possivelmente levantaria até acusando-o de “frivolidade indigna de um teólogo”. Sim, ele me preveniu que muitos cacarejariam contra sua tentativa de comédia. Ele apenas e tão somente deu-se ao prazer de proporcionar vezos à tagarelice, elogiar a loucura sem louco ser. Rir é e sempre foi o melhor remédio e ridendo castigat mores (se me permitis o jocoso trocadilho com a forma inglesa do meu nome...Quero supor que vós sabeis que a tradução da frase é “o riso castiga os costumes”, posso?)
Meu bom amigo Erasmo pede que eu vos lembre de uma frase que ele escreveu no prefácio a mim dirigido e que porventura ignorais:
“Se houver, pois, alguém que se sinta ofendido por isso, deverá procurar descobrir as suas próprias mazelas, porque, do contrário, se tornará suspeito ao mostrar receio de ser objeto da minha censura. Muito mais livre e acerbo nesse gênero literário foi São Jerônimo, que nem sequer perdoava os nomes das pessoas!”
Portanto, caro escriba, não leveis tão a sério as tagarelices pilhéricas de meu amigo. Ele tem estima pelo belo sexo, sim, embora não tenha se casado. Esqueceis por acaso da proteção que lhe foi dada pela mui nobre castelhana Ana de Brosselen, Marquesa de Nassau?

Eu, pessoalmente, nem me deixaria turbar o espírito por suas diatribes para fazer boa presença junto a vossa amada. Mas meu nobre amigo pediu-me que esclarecesse o que parecera obscuro e injusto de vossa parte.
Em tempo: quando escrevi minha obra “Utopia”, inspirado fôra pelos relatos de Américo Vespúcio acerca do Novo Mundo descoberto, aonde posteriormente veio a se chamar de Brasil. Localizei aí meu reino utópico. Triste ironia... Daqui das Mansões Celestiais, vendo no que vosso país se transformou, aceiteis meus arrependimentos sobre tal pensamento que um dia tive. O Brasil é tão utópico quanto um vulcão ativo é refrigerado.
Sem mais, despeço-me estimando que estejais são dentro do espírito da alegre Loucura descrita por meu nobre amigo Erasmo de Rotterdam.
Atenciosamente,
Thomas Morus (dispenso o título de “Santo” com que me mimoseou a Santa Igreja. Especialmente o de “santo protetor dos políticos”. Como Vossa Senhoria mesma costuma dizer, como xiste: “inclua-me fora disso!”)
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Heartstrings” com Secret Garden. (Imagino que no Céu se escutem jóias preciosas como esta...).

segunda-feira, novembro 13, 2006

Carta aberta ao Tremendão Erasmo (de Rotterdam)


Caro amigo Erasmo,

Espero que você e o seu ectoplasma estejam gozando de boa saúde espiritual. Desculpe se me dirijo a sua pessoa, assim, com tanta intimidade, mas não pude refrear o desejo de trocar umas palavrinhas com você depois de ter lido um trecho de seu “Elogio à Loucura”. Vi ontem num caderno do “Estadão” (sei que você não sabe o que é Estadão, é um jornal, uma decorrência da invenção do seu quase contemporâneo – morreu um ano depois de você ter nascido - Johann Guttemberg). O trecho é este, lembra?
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"Senhor! Dá uma mulher ao homem, porque embora seja a mulher um animal inepto e estúpido, ela saberá temperar com sua loucura e com seu humor a nossa áspera e triste vida. É pela loucura, e unicamente por ela, que a mulher é mais feliz que o homem".
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Não sei como eram as mulheres dos séculos em que você viveu, o 15 e o 16. Quer dizer, até imagino! Mas, acredite: as deste século são bem diferentes. Talvez até as de hoje sejam iguais às de antigamente e às de sempre no que tange à sua natureza. Desde Eva ou, se você não acredita nela, desde a primeira homo sapiens fêmea, tudo o que elas principalmente
querem é serem tratadas com dignidade, com respeito. Elas querem se sentir especiais. E na verdade o são.
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Você as acha loucas? E o que dizer dos homens? Você os considera como sãos? Olha, posso falar de algumas coisas que acontecem em minha era na certeza de que você irá entender, pois, por incrível que pareça, o século 16 tem muito a ver com o 20/21. Quer um exemplo? Muitos homens decretaram guerra no seu tempo por interesses meramente financeiros (vide a invasão dos portugueses no Japão, mandando bala, para garantir o monopólio comercial, aliás, os portugueses foram os predecessores do que hoje chamamos de “globalização”). Nesta minha época também. Uma revolução científica estava em marcha no seu tempo (Galileu, Copérnico etc) e foram os homens da Igreja que tentaram detoná-la de todas as formas. Aliás, você deve lembrar do que os cristãos da sua época estavam doidos para entrarem com tudo na Ásia, exatamente como os batistas norte-americanos de hoje querem fazer no Iraque. E acredite: são e eram homens envolvidos com isso.
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Você chama as mulheres de “ineptas e estúpidas” e que com a sua “loucura” saberão temperar a aspereza do homem. Rá! Tenho minhas dúvidas sobre qual sexo é estúpido, pode acreditar... ou melhor: tenho a impressão de que não são as mulheres. As estatísticas de mortes por razões violentas apontam os homens como enorme maioria entre vítimas e causadores de vítimas. Era assim no seu tempo? Sei que não faziam estatísticas na sua época, mas posso apostar que as “estúpidas e ineptas” não se metiam nas confusões que os seus “ásperos de triste vida” estavam envolvidos até o pescoço.
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Caro Erasmo, você pregava que os cristãos tinham se afastado dos ensinamentos reais de Cristo, mas ao que eu saiba, o Filho de Deus tratava muito bem a mulherada na época dele! Nos Evangelhos, não li nada parecido com os adjetivos com que você mimoseou as moças.
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No seu livro, a Loucura é feminina. Ué! Mas por quê? Você diz que o fato das mulheres se preocuparem com maternidade, dever conjugal, embelezamentos é uma loucura... Imagine a “doideira” que seria se assim não o fosse!
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Eu sei que você defendeu grandes coisas. O livre-arbítrio, por exemplo. Ponto pra você. Isso seria de grande ajuda para os dois sexos.
Sua postura humanista reverberaria por muitos séculos. Sua proposta de eleição para governantes (contrariando as monarquias absolutistas da época) também foi muito importante. E é aí que eu fecho contigo!
Elejo a mulher que eu amo, por votação direta, para reinar soberana no meu coração. E me ensinar, com seus sábios conselhos extremamente úteis, a me transformar em um ser melhor. É pela sabedoria que elas são mais felizes que nós. É por isso que eu as ouço sempre.
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Você devia ter experimentado em seu tempo...
(M.S.)
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Emílio Santiago cantando “Mulher”.

sábado, novembro 11, 2006

Tente entender (eu não consigo...)


Antigamente era transmitida por uma emissora norte-americana uma radionovela denominada “The Shadow”. Esse programa chegou ao Rádio brasileiro com o nome de “O Sombra”. Eram histórias policiais em cuja abertura (tanto na versão americana quanto na brasileira) entrava uma voz cavernosa dizendo:
“Quem sabe o mal que se esconde no coração dos homens?... O Sombra sabe... Rá! Rá! Rá! Rá!...”
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Mas eu pergunto: será que alguém sabe o que se esconde no coração dos homens? Será que o Sombra sabe mesmo?
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Um dia desses, leio na Revista do Globo, que vem encartada na edição dominical do jornal, a matéria principal: “Campanha mundial contra a anorexia”.
Anorexia e bulimia são distúrbios alimentares, cuja incidência tem crescido enormemente nos últimos anos. Uma pessoa anoréxica toma pavor por alimentos e acaba definhando. O bulímico, não segura o alimento no organismo, terminando por regurgitá-lo. Com o tempo, também definha por falta absoluta de nutrientes no corpo.
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Os tempos atuais ditam a moda das magras. Aliás, vou retificar: das muito magras, das esqueléticas. Toda mocinha sonha em ser uma top model como a Gisele Bundchen, a Ana Hickman e como tantas outras que fazem sucesso pelo mundo com sua estampa e físico de filé de borboleta. Pessoalmente, não sinto nenhuma atração por essas mulheres-caveiras. Acho a Gisele um rosto bonito (mas nada de excepcional) num corpo horrível. E todas essas tops não me aceleram a libido nem um tiquinho.
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Mas, é claro, minha opinião não conta. Pelo menos, não para essas mocinhas que comem uma folha de alface por dia, sonhando com as passarelas do mundo. Daí, abrem espaço para os distúrbios alimentares de que falei.
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Todavia, há as que NÃO sonham com passarelas e que querem ter um corpo de nativas da África Subsaariana por puro prazer. E mais: tratam a anorexia e a bulimia como “amigas fraternas”. A anorexia, elas chamam de “Ana” e a bulimia, de “Mia”. São pessoas que se sentem infelizes por serem “gordas”. Vejam por exemplo o blog de uma delas. Chama-se “Memórias de uma baleia”. A cetácea em questão dá as suas características no perfil:
Nome: Blue Butterfly
Idade: 26 anos
Altura: 1m65cm
Peso: 56 kg
Meta: 48 kg.
Nos posts, reflexões como esta:
“Gente, alguém pode me explicar o que acontece comigo? Porque passo dias sem comer quase nada e não emagreço nem um grama sequer? Me entupo de chás, remédios, laxantes, e nada... Porque, hein?”
Está lá. Podem ir conferir se quiserem. Tem outra.
No blog “I’m not politically correct”, a sua dona escreveu o seguinte trecho que pincei:
“Como pode uma menina dizer que come e estar cada vez mais magra? Mas o problema sou EU OU VOCÊS??? Sim né... Por que a errada tem de ser eu, só porque não como que nem uma desesperada? Só porque gosto de sentir o meu estômago doer de fome? (E ahhhhhh, como eu gosto!!!!!).
MAS OUVE BEM, EU AINDA NÃO CHEGUEI AO MEU OBJETIVO! ESTAVA MUITO PRÓXIMO, ESTAVA COM 48KG, AGORA VOLTEI PROS 50KG (PRESSÃO PSICOLÓGICA IDIOTA!!!), MAS SABE O QUE EU ACABEI DE FAZER AGORA? NADA MAIS NADA MENOS DO QUE TOMAR 7 ALMEIDA PRADO
(N.R.: Laxante)! ALGUM EFEITO VAI TER QUE FAZER. E SE NÃO FIZER EU TOMO MAIS 7, E SE NÃO FIZER EU TOMO TODO O FRASCO, MIO (NR.: “Miar” é como elas chamam “vomitar”) ATÉ SAIR SANGUE. Mas é agora ou nunca!
Chamam do que quiserem: anorexia, bulimia, o escambal (sic), ou tudo junto. FODA-SE, eu chamo de estilo de vida!”
(Abaixo tem uma foto de uma moça levantando o dedo médio)
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Mais uma. Essa é do blog “Ana e Mia, my only friends” (essas meninas gostam muito de títulos em inglês):
“Acabei de voltar do banheiro onde miei o meu almoço...Cinco bolachas Cream com uma xícara de chá. Minha mãe nem percebeu, porém, ela anda fazendo perguntas. Maldita novela da Globo. Além de colocar uma menina que nem sabe fazer o papel de uma bulímica, fica alertando pais a cuidar da gente.”
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Bem, algumas informações sobre as duas amigas dessa galera.
Anorexia – é uma doença predominantemente feminina, que pode devastar com o equilíbrio hormonal e altera os neurotransmissores. Normalmente as anoréxicas se tornam estéreis, com ossos fracos, com problemas nos dentes devido ao ácido estomacal dos vômitos.

Bulimia – Normalmente acomete mulheres na faixa de 20 a 40 anos (acontece com homens também, mas é menos comum), todas com peso absolutamente normal, mas que fazem dietas rigorosíssimas e se ingerem algo acima de suas tabelas, correm para o banheiro e forçam o vômito ou ingerem laxantes poderosos para limpar o estômago de qualquer bolo alimentar. As conseqüências são as mesmas das anoréxicas.*
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Estes transtornos alimentares matam? Sim, matam. Já fizeram muitas vítimas. A mais famosa delas foi Karen Carpenter (para mim, uma das maiores cantoras de todos os tempos). Um dia vou fazer um post exclusivo para ela. Mas a sua obsessão em emagrecer levou-a a anorexia e dali a uma parada cardíaca. Antes de morrer, ela já estava estéril e com problemas hormonais.
Vídeo com3min e 47seg

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Esses transtornos acometem quase exclusivamente a moças de classes econômicas mais favorecidas. Não imagino nenhuma jovem proveniente de família que tenha renda mensal abaixo de um salário mínimo, por exemplo, com anorexia ou bulimia.

Estes transtornos têm cura, desde que identificados com antecedência, mas mesmo assim deixam seqüelas irreparáveis. É difícil a própria pessoa se perceber doente, uma vez que uma das características da doença e exatamente deixar a pessoa insatisfeita com o próprio corpo. Elas se vêem gordas, mesmo estando vários quilos abaixo do peso que deveriam ter. E sempre, atenção, SEMPRE acham que estão no controle, que nada de mal lhes vai acontecer apenas por desejarem ter o corpo de seus sonhos. Se vocês entrarem nos blogs destas moças, verão que elas tratam comida como algo sujo, venenoso e que traz males.
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E eu pergunto: quem sabe o mal que se esconde nesses corações? Como pessoas voluntariamente se deixam ficar neste estado de inanição? Quando o modismo da ditadura da magreza passará? Porque vai passar. Todos os modismos passam. No Século 19, a moda era ser gordinha. A atriz Sarah Bernardt era mal vista por ser magra. E se alguém lhe dissesse que ela estava “magrinha”, provavelmente ganhava unhadas no rosto. Naquela época em que a tuberculose grassava feito político corrupto no Congresso, ser magro era ser visto com desconfianças.
Mas e o nosso Século 21? Até quando criará neuroses como estas?
Um amigo meu diria: “Isso é falta de Deus!”
É. Pode ser.
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê a minha muitíssimo querida Karen Carpenter cantando “Close to you”. Saudades...
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Estou fora do Rio de Janeiro neste final de semana. Assim que voltar, respondo aos comentários anteriores e visito os blogs de vocês.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Me inclua fora dessa


Abro o jornal hoje e vejo que o “Nosso Guia” (forma risível como Celso Amorim se referiu ao presidente Lula) está conversando com o PTB de Roberto Jefferson sobre alianças com vista a votações no Congresso, cargos etc.
Na hora, pensei: “Eles que são brancos que se entendam...”
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Aí me lembrei que eu sei a origem dessa expressão, bastante usada por sinal, e que ela daria um post interessante.
Vamos lá?
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A explicação remonta à nossa História, ao tempo do vice-rei D. Luís de Vasconcelos (1742-1807), aliás, o último vice-rei do Brasil. Foi ele que enfrentou a Conjuração Mineira, e consta na sua biografia ter ele incentivado no Brasil o cultivo do anil e do cânhamo. Do primeiro, retira-se uma tintura índigo blue, que em tempos recentes é usada para dar cor ao tecido jeans. O cânhamo é da família da cannabis... Não preciso dizer mais nada, não é?... Ou seja, o movimento hippie deve muito a D. Luís.
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Tergiverso, sei bem. Voltemos ao caso da frase. Pois saibam vocês que essa expressão advém de uma das primeiras punições por racismo que já aconteceu no Brasil.
No Século 18, um certo capitão do Regime de Pardos foi fazer queixa a um comandante português de um soldado que o desrespeitara. O tal luso, com a educação que lhe vinha talvez pelo DNA, respondeu ao queixoso:
“Vocês que são pardos, que se entendam...”
Ou seja, além dele ter apertado o botão do “dane-se” (ou de expressão similar...), ainda lhe dá um exemplo de óbvio preconceito.
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o capitão queixoso não gostou da resposta do comandante e foi levar seus queixumes ao vice-rei, D. Luís de Vasconcelos. Este mandou investigar se a queixa procedia e como era verdade, mandou prender o comandante português. Ao saber da ordem de prisão, o oficial racista foi ao vice-rei, cuspindo marimbondos:
- Preso, eu? Mas por quê?
E D. Luís lhe respondeu, provavelmente com um sorrisinho nos lábios:
- Nós somos brancos, cá nos entendemos...
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E essa resposta, ao cair na boca do povo foi assimilada e dita da forma que se conhece hoje em dia (sempre dita como significando:
“Eles que são brancos, que se entendam...”
Ou seja: não se mete, não, porque eles se merecem.
E isso vale para os entendimentos entre os nossos políticos atuais.
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E aí? Você vai se meter?
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve "Flor Amorosa", na flauta mágica de Altamiro Carrilho.
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Os comentários feitos aqui pelos que me honram com a leitura são sempre respondidos por mim quando divulgo novo texto. Salvo alguma impossibilidade, os dias de postagens são segundas, quartas e sextas.