quinta-feira, outubro 30, 2008

Rio ao Deus dará


Pois é.
O Gabeira não ganhou e o Rio de Janeiro perdeu. Por míseros 50 mil votos.
Venceu um candidato que usou de antigas, velhíssimas e sórdidas práticas políticas, a saber: inundar a cidade de papéis, cartazes; fazer alianças até com Belzebu objetivando ganhar de qualquer jeito, custe o que custar; mentir descaradamente; ser cínico e difamar os adversários o quanto puder; fazer um bom caixa (2?); prometer o Céu e a Terra, entre outros absurdos. Evidentemente, este tipo de postura não engana quem é minimamente politizado e informado. Exatamente por conta disso, o prefeito eleito perdeu na Zona Sul e no Centro, empatou na Norte e literalmente ganhou a eleição na Zona Oeste, área mais populosa, desfavorecida economicamente e desinformada.
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A lista de promessas que o indivíduo fez só não é maior do que a relação de coisas que ele não fará. Por ser aliado do governador, do presidente da República e do citado Belzebu, acha que pode tudo. Ele verá na carne que não é assim que a banda toca. E nós, população do Rio, ficaremos ao Deus dará.
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Taí uma excelente oportunidade de reativarmos a seção “A origem de expressões de uso corrente”. Hoje esclareceremos de onde veio o
Ao Deus dará.
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Sua significação costuma ser alguém ou alguma coisa em estado de penúria, abandonado, entregue à própria sorte, largado ao acaso, desamparado, sem rumo. A gênese da expressão começa no Gênesis. No capítulo 41, versículos 15 e 16, diz lá: “Este disse-lhe: “Tive um sonho que ninguém pode interpretar. Mas ouvi dizer de ti, que basta contar-te um sonho para que tu o expliques.- Não sou eu, respondeu José, mas é Deus quem dará ao Faraó uma explicação favorável”.
Ainda na Bíblia, na primeira carta de João, cap. 5, vers. 16-17, tem lá: “Se alguém souber que seu irmão comete um pecado que não o conduza à morte, reze e Deus lhe dará a vida; isto para aqueles que não pecam para a morte”.
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Bem, aí já se tem de onde a expressão veio, mas o que lhe motivou o sentido mais tradicional foi o pão-durismo de alguns portugueses, isso em tempos anteriores ao Século 17. Quando esses sovinas saíam de uma igreja e encontravam algum pedinte de mão estendida esperando o ajutório, suplicando: “Uma esmola pelo amor de Deus!”, diziam: “Deus dará!” e raspavam-se dali para não ter que abrir a mão de vaca. Por conta disso, passou-se a se dizer que quem andava pedindo esmola estava “ao Deus dará”.
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Obviamente, esta desculpa de quem apaga luz com cascudo só para não abrir a mão veio para o Brasil. Muita gente a utilizava quando ouvia o “esmolinha pelo amor de Deus”. No Século 17, o comerciante pernambucano do Recife, chamado Manuel Álvares, adorava repetir a tal desculpa. De vez em quando, ele ajudava os soldados da Fazenda Real com alguns mantimentos. Isso quando ele estava de boa maré. Quando incorporava o Tio Patinhas, recebia os soldados e demais pedintes com o famoso “Deus dará!”. Falava tanto isso, que ganhou a expressão como apelido.
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E você pensa que ele se importou com a alcunha que lhe pespegaram? Rá! Que nada! Gostou tanto que adotou a expressão como sobrenome e se transformou no Manuel Álvares Deus Dará. E mais: passou o epíteto ao filho, chamado Simão Álvares Deus Dará, que foi provedor-mor da Fazenda do Brasil”. Ainda hoje há, no Recife e em Pernambuco, a família Deusdará (acredite se quiser...).
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Pois é. A população do Rio perde uma eleição como essa, com todas as falcatruas havidas e não punidas, e o que podemos fazer? Reclamar ao bispo? Ele vai falar: “Deus dará!” E a antiga Cidade Maravilhosa passará quatro anos ao Deus dará, comandada por gente cínica, que não vale o que o gato enterra. O prefeito eleito jogou pesado. Aliou-se a 13 partidos com o objetivo de vencer o Gabeira a qualquer custo. Mas essa vitória vai ter custo, ô se não vai... O PT do Rio gastou mais dinheiro ajudando o prefeito eleito no segundo turno (pagando a impressão de milhares de folhetos apócrifos contra o Gabeira, por exemplo...) do que com o próprio candidato no primeiro. Não me admira. Embora tenha quem se salve, o PT do Rio está repleto de gente da pior espécie, mafiosos, gente ligada às milícias... Meu Deus! Pior que ele, só o partido Democratas, o DEMO. Esse tem nas suas fileiras vereador que está preso em presídio de segurança máxima, pode isso? Na verdade, olha, salvam-se alguns políticos, sejam de que partido for. O resto...
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Manipularam a mente dos pobres de cabeça e de dinheiro até dizer chega. Li no jornal que um eleitor não votaria no Gabeira por que ele iria plantar maconha nas praias do Rio. Quem soprou uma babaquice dessa no ouvido dele? Minha mãe ouviu de uma professora (????) que ela não votaria no Gabeira por que ele iria tirar o emprego das professoras e explicadoras. É mole uma coisa dessas?
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Caetano Veloso cantando, de Chico Buarque, “Partido Alto”. “...Diz que Deus dará... Não vou duvidar ó nêga!”

sábado, outubro 25, 2008

A palavra é... FUNDAMENTALISMO!


Pelo menos desde o tenebroso 11 de setembro de 2001 temos ouvido e lido muito esta palavra, não é? No Aurélio, há duas definições. Uma diz: “Observância rigorosa à ortodoxia de doutrinas religiosas antigas, especialmente do islamismo”.
Acho tendenciosa essa enunciação, exatamente por conta do “especialmente do islamismo”. Só quem desconhece História vincula fundamentalismo somente aos seguidores de Maomé. Na verdade, foram os cristãos quem inventaram essa prática. As Cruzadas estão aí que não me deixam mentir. Ou melhor, estavam lá, na primeira metade do primeiro milênio.
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Mas o Aurélio também traz outra definição para o termo: “Observância rigorosa às crenças religiosas tradicionais, especialmente em grupos protestantes dos Estados Unidos, depois da I Guerra Mundial, que enfatiza a interpretação literal das escrituras, a segunda ressurreição de Cristo, a virgindade de Maria etc.”
Arrá!
Então admite-se fundamentalismo no cristianismo. E com certeza o há em outras religiões também, como no judaísmo, no budismo... E é claro, no islamismo. No caso deles tem um agravante. Não me importo se eles optam por permanecer com hábitos da Idade Média, do tempo do profeta deles. Mas, como bem explicou Ali Kamel, os fundamentalistas não querem aquele modo de vida medieval só para eles. Eles desejam aquilo para o mundo inteiro e não sossegarão enquanto não alcançarem seu objetivo.
Sempre digo que a principal função social de uma religião é servir de balizamento moral e ético (embora ultimamente, nem isso está sendo respeitado...). Todavia, não raro se usa motivação religiosa para oprimir, causar sofrimentos nos semelhantes, em completa divergência com os ensinamentos da divindade.
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As três religiões com maior peso na História mundial – cristianismo, judaísmo e islamismo - seguem seus respectivos livros, suas respectivas Sagradas Escrituras: a Bíblia (reunião do Antigo e do Novo Testamento), o Tanakh (correspondendo ao antigo testamento bíblico, apenas com outra divisão) e o Corão. Este último é o que foi escrito há menos tempo, há uns mil e quatrocentos anos, mais ou menos. E se do tempo em que eu nasci para cá as coisas já mudaram muito, imaginem desde um, dois, três mil anos atrás! Mas os que seguem cada uma destas religiões dizem que seu livro sagrado contém a palavra de Deus e esta é imutável. No aspecto filosófico, concordo. No âmbito dos costumes... bem... sou cristão, mas eu não seria tão fundamentalista. Não posso adotar hoje certas práticas que eram comuns no tempo em que as pessoas andavam vestidas com pele, pastoreando cabras diante do palácio de governo.
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Em pleno Século 21, quando a ciência já demonstrou tão vivamente teses sobre a origem do Homem, ainda se ensina o Criacionismo em diversas escolas norte-americanas. E lá nos EUA, que representa o último bastião da luta contra o fundamentalismo (islâmico), ainda se vê inúmeros exemplos de intolerância contra forma de pensar e crer diferente da deles.
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Recebi pela internet um texto assinado pelo historiador Ruben Alves (esteve no Programa do Jô nesta semana) a respeito de fundamentalistas cristãos que pautam suas vidas (e insistem em pautar a dos outros...) pelo que está literalmente prescrito na Bíblia. O texto fala de uma Laura Schlessinger, famosa comunicadora nos EUA, com um programa de Rádio de enorme audiência. Ela respondeu a um ouvinte que a perguntara sobre homossexualismo, afirmando ser isto uma “abominação”, conforme está descrito no livro de Levítico, capítulo 18, versículo 22: “Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação”. Este capítulo, presumivelmente escrito por Moisés, que ouviu também presumivelmente a palavra de Deus, proíbe várias coisas, especialmente veda que se “descubra a nudez” de filhos, filhas, netos, netas, mãe, pai, noras, genros... Do jeito que está escrito, literalmente um filho não pode dar banho numa mãe idosa e incapaz de se lavar sozinha, por exemplo. Mas isso é uma outra história.
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Pois é. Diz o texto que um certo ouvinte escreveu uma outra carta para a Laura, comentando a resposta da radialista sobre o homossexualismo. Transcrevo-a aqui:
"Querida doutora Laura, muito obrigado por se esforçar tanto para educar as pessoas segundo a lei de Deus. (...) Mas, de qualquer forma, necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas e sobre a forma de cumpri-las.
- Por exemplo: gostaria de vender minha filha como serva, tal como o indica o livro de Êxodo cap. 21, vers. 7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado?
- O livro de Levítico, no cap. 25, vers. 44 estabelece que posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, desde que não sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadenses. Será que a senhora poderia esclarecer esse ponto? Por que não posso possuir canadenses?
- Sei que não estou autorizado a ter qualquer contato com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Levítico cap.18, vers.19; cap.20, vers.18 etc.). O problema que se me coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras se sentem ofendidas. Veja que o texto não fala apenas de contato sexual, mas de qualquer contato. Perguntar as horas a uma delas, por exemplo.
- Tenho um vizinho que insiste em trabalhar no sábado. O livro de Êxodo cap. 35, vers.2 claramente estabelece que quem trabalha aos sábados deve receber a pena de morte. Isso quer dizer que eu, pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a senhora poderia, de alguma maneira, aliviar-me dessa obrigação aborrecida?
- No livro de Levítico cap.21, vers.18-21 está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito na vista. Tenho que confessar que eu preciso de óculos para ver. Minha acuidade visual tem de ser 100% para eu entrar numa igreja e me aproximar do altar de Deus?

- Eu sei também, graças a Levítico cap.11, vers.6-8, que quem tocar a pele de um porco morto fica impuro. Acontece que adoro jogar futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que me será permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas?
- Meu tio tem um sítio e deixa de cumprir o que diz Levítico cap.19, vers.19, pois planta dois tipos diferentes de semente ao mesmo campo, e também a sua mulher deixa de cumprir o que diz o versículo, pois usa roupas de dois tecidos diferentes, a saber: algodão e poliéster. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-los? Não poderíamos queimá-los numa reunião privada?
Sei que a senhora estudou esses assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda. Obrigado de novo por recordar-nos que a palavra de Deus é eterna e imutável"
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Eu não teria feito melhor. Gostei muitíssimo da carta do rapaz.
Mas ainda sobre a questão que motivou a missiva do ouvinte, ou seja, ser o homossexualismo uma aberração. Bem, todo mundo sabe que sou heterossexual convicto, homem cabra macho que gosta (e como!) de mulher criatura fêmea do sexo feminino. Mas tenho vários amigos que têm opção sexual diferente da minha e são pessoas de bem, exemplos de cidadãos.
Poderia aqui, com meus parcos conhecimentos de História, lembrar que na Grécia antiga, o homossexualismo era tolerado e socialmente aceito, assim como na Pérsia, na Babilônia e em diversos lugares dos tempos idos. Contudo, queria lembrar que no próprio Antigo Testamento (e, conseqüentemente, no Tanakh) há algumas passagens um tanto ou quanto esquisitas. Como a história de Davi e Jônatas, por exemplo. Eu ainda vou falar mais detidamente sobre as peripécias do Rei Davi quando retornar com a seção “a História tem cada história”, conforme prometi quando escrevi o post “Que família, meu Deus!” sobre os incríveis parentes de Jesus. Mas quero transcrever uns versículos do tipo “eu, heim!”, conforme vocês podem constatar:
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“E aconteceu que, assim que Davi acabou de falar ao rei Saul, a alma de Jônatas (filho de Saul) se ligou à alma de Davi, e Jônatas começou a amá-lo como à sua própria alma.
(...) Jônatas e Davi fizeram um pacto, pois aquele o amava como à sua própria alma. Além disso, Jônatas despiu-se da túnica sem mangas que usava e a deu a Davi, e também suas vestes, e até mesmo sua espada, e seu arco, e seu cinto”. (I Samuel, cap. 18, vers. 1-4)

“Davi saiu então detrás da colina, lançou-se com o rosto por terra e curvou-se três vezes; e começaram a beijar-se um ao outro e a chorar um pelo outro . E Jônatas disse a Davi: 'Vai em paz. Quanto ao juramento que nós dois fizemos no nome do Senhor, que o Senhor seja testemunha entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua.'” (I Samuel, cap. 20, vers. 41-42)
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Ora, diriam católicos e evangélicos que vêem os escritos da Bíblia como verdades definitivas: “Eles eram apenas bons amigos”.
Sei... Arrã...
M.S.
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No momento em que estou postando este texto, vejo no marcador que faltam só 600 visitas para eu alcançar o número 200 mil. Caraco... Quem será o felizardo que fará a ducentésima visita?
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve música medieval, do tempo em que Davi andava por aí com atiradeira.

quarta-feira, outubro 15, 2008

O oco da gente


Bem, amigos do Antigas Ternuras... Em breve terei que fazer meu check-up anual. Tenho que ver se o corpinho está funcionando direito. Se a lataria está em estado seminovo, desejo que as peças também estejam.
E com isso quero lembrar aos homens que aqui aparecem sobre a importância de fazer seus exames anuais, incluindo aquele tenebroso exame do toque na próstata.
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Sim, eu sei que aquilo é uma desgraça. As mulheres vivem dizendo que a gente é frouxo, que se a gente menstruasse iria ver o que é bom pra tosse, mas elas não sabem o que é um cabra enfiar o dedo no oco da gente e ficar ali, cutucando. Não temos nem o direito de gemer para não passar a idéia de que estamos gostando ou que não agüentamos o tranco. E nem vem dizer que elas também têm que passar periodicamente por exames que invadem a sua intimidade, que aquela parte do corpo delas é diferente do nosso monossílabo... A delas é, no mínimo, uma via de mão dupla. A natureza fez assim. E no nosso caso? Nããão! De jeito nenhum! O fiofó de um cristão, que paga os impostos, que cumpre com seus deveres de cidadão só deveria deixar sair! Entrar, nada!
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Lembro da primeira vez que eu fiz esse exame excomungado. Na ante-sala do médico havia outros homens e aquele clima de corredor da morte, como se a cadeira elétrica nos aguardasse detrás daquela porta. Ali, ninguém tem coragem de olhar para cara um do outro. Cada um pega a sua revista e fica ali, imerso em seus pensamentos. Quando um sai da sala, vem com a cara misturando alívio e humilhação. E nem poderia ser de outro jeito, não é? O que vocês queriam? Que alguém saísse dali assobiando “Do you wanna dance”?
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Chegou a minha vez, eu entrei para a câmara de torturas, olhei para a mão do médico. Cada dedão, des’tamanhão! Pareciam cinco beringelas das graúdas. Quando contei isso para um amigo ele disse que eu era besta, que quando ele foi fazer o exame procurou mulher proctologista no caderninho do plano médico. E ainda assim, foi pedir informação sobre o tamanho da doutora, se ela tinha a mão grande... Achou uma que lhe satisfez plenamente.
- Marco, a médica tinha o dedinho pequenininho e fez o toque com todo carinho, com tanto jeitinho que quando ela cutucou eu quase pedi um beijinho pra ela...
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Pois é. Eu nem pensei nessas coisas. E lá estava eu, diante do médico, respondendo às suas perguntas. Depois, veio o momento desagradável. Tirei a roupa, coloquei aquele avental ridículo, deitei de lado... e começou o suplício medieval. Meu Deus, porque a próstata da gente não é no ouvido? Bastaria enfiar um cotonete e pronto! A gente até ia gostar da coceirinha!
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O médico colocou a luva, melou o indicador em silicone e creu!
- O senhor fique tranqüilo, sua próstata está macia, de formato regular, não há perigo tumoral algum.
Que alívio! Mas pensaram que ficou só isso? Rá! Ele tinha empilhado uns aparelhos de aço inoxidável perto do meu buzanfã e eu fiquei pensando pra que seria aquilo. Pela aparência, ele tinha conseguido aquelas coisas num museu sobre a Inquisição espanhola.
- Agora vou fazer o procedimento de Rofsrofsgauer...
E tome ferro no rabo.
- Agora vou utilizar o instrumento de Tambalwky...
E o Torquemada besuntava o tal instrumento de silicone ou vaselina, sei lá, e tchoco!
- Estou fazendo o procedimento nãoseioquê...
E eu com uma bruta vontade de gritar, protestando:
- Doutor, enfie logo esse troço aí, mas fica quieto! Não aumente a humilhação!
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Finalmente o torturador da Gestapo se deu por satisfeito. Tudo estava bem com a minha próstata. Graças ao bom Deus!
Vesti a roupa e ele pediu para eu sentar. Ainda tinha o que falar comigo. Fez algumas recomendações. Que eu fizesse um exame PSA para reforçar o diagnóstico, parará, pereré... Mas o pior ainda estava por vir.
- Eu percebi uma pequena irritação no seu ânus. O senhor tem relações homossexuais?
Foi por isso que eu votei “Não” no plebiscito do porte de armas. Numa hora dessas, se a gente está armado, enche um cidadão de tiro e alega legítima defesa da honra.
Respirei fundo e esclareci o doutor.
- Olha, antes de eu vir para cá, meu organismo sentiu vontade de ir ao banheiro para descomer o jantar de ontem. Para não vir aqui com o rabo sujo, deixando algum resquício vadio, um fragmento mais renitente que me mataria de vergonha, limpei tanto a cavidade brioco-roscofeana que cheguei a ficar com o figo ardendo. A irritação que o senhor viu foi pelo uso maciço de meio rolo de papel higiênico. Para o seu governo, sou homem macho do sexo masculino, espada, positivo, perfurante, 220 volts de energia sexual de macho!
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Ele compreendeu perfeitamente, e me fez um longo arrazoado sobre banhos de assento e o uso do chuveirinho e do bidê. E eu ali ouvindo e procurando na cintura por uma peixeira, que infelizmente não estava ali. Desafortunadamente, não pude estripar o senhor proctologista naquele momento, gritando: “conhece que te mato, filho de uma que ronca e fuça!”.
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Muitos homens fazem o primeiro exame de próstata e não voltam mais. Tem gente que quando vai fazer o tal toque fica com a fotografia da esposa e dos filhos numa mão e um terço na outra, rezando o “Credo”. Parece que médico atocha o dedo justamente naquela parte do “... padeceu sobre os poderes de Pôncius Pilatus...”. Um amigo meu ficou tão traumatizado depois que o médico enfiou o dedo na área vip dele que depois se trancou no quarto por dois dias, dizendo que estava de “resguardo pós-operatório”. Um outro conhecido meu, só concordou em fazer o exame se a mulher dele entrasse também, segurasse na mão dele e, juntos, cantassem: “queremos Deus, que é o nosso Rei/queremos Deus que é o nosso Pai,,,”
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E teve aquele caso com o pai de um amigo meu, militar reformado. Depois de muito convencimento, o velho coronel foi lá, fez o exame e voltou pra casa macambúzio, resmungando: “não foi pra isso que nós fizemos a revolução!”. Nos anos seguintes ele já relaxou mais, embora continue achando que o médico é comunista. Já vi o coronel chamando o exame de “ministro da Fazenda”, porque, segundo ele, o cara enfia o dedo onde não devia, fala sobre algo que não viu e se der merda ainda lava as mãos com cara de que nem é com ele.
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Pois é. Está chegando a hora do check-up que faço em todo fim de ano. Acho que farei como aquele meu amigo e vou procurar uma médica urologista ou proctologista. Alguém aí conhece uma senhora doutora cristã e de dedos pequenos?
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Noutro dia, vi esse vídeo do You Tube que mostra o tal exame sendo feito de forma, digamos, menos traumática... Não deixa de ser uma idéia, não é?
(Já sabe, para ver este vídeo clique no “X” no alto, na barra de ferramentas, que vai interromper a música)

M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve canto gregoriano. Pela gravidade, introspecção e circunspecção que o assunto exige, só consegui pensar neste tipo de música para ilustrar este post.
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Se você brincava no móvel da antiga máquina de costura de sua mãe (lembra?), dê uma chegada no Playground dos Dinossauros onde escrevi um texto sobre isso.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Nossos comerciais, por favor - Parte 2


No capítulo anterior, falei das propagandas que vi em bondes e trens, na minha infância. Prometi falar dos comerciais que assisti na TV, no tempo das antigas ternuras.
E melhor do que falar sobre eles, eu resolvi mostrar alguns. Curiosamente, a gente não dava bola para comerciais na TV. Quando entravam as “mensagens do patrocinador, era o momento para a gente beber água, tirar uma água do joelho, pegar alguma coisa para comer na geladeira... Aliás, como ainda fazemos hoje em dia, não é mesmo? A gente só dá valor a este tipo de coisa quando vira passado, quando vira antiga ternura...
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(vídeo com 65 segundos)

Mas vamos ao primeiro deles. Esse dos fósforos Fiat Lux.
Feito numa época em que não existia computador, ele é impressionante! Lembro que quando o assisti, fiquei cheio de idéias para brincar com caixas de fósforo. Saí catando todas que pude encontrar para com elas construir brinquedos. No colégio, na aula de trabalhos manuais, aprendi a fazer um monte de coisas com as caixinhas...
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(vídeo com 50 segundos)

Quem lembra desse, do Extrato de Tomate Elefante, com a Mônica ainda em desenho jurássico?
A musiquinha ficou no ouvido da gente por séculos. E lembro também que fizeram um desenho em que a Mônica puxava o elefante não necessariamente pela tromba... Isso nos tempos pré-internet!! O desenho correu chão...
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(vídeo com 15 segundos)

E desse, quem lembra? Eu gosto tanto deste jingle que vou incluí-lo no roteiro de meu espetáculo sobre a história do Rádio. Ele passava na TV, mas a gente também podia ouvi-lo pelo Rádio. Acho que nem existe mais este produto. Hoje em dia só vejo Kleenex e outros produtos correlatos. Mas na época, só falava no Yes.
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(vídeo com 32 segundos)

Ao longo de minha existência como telespectador, já vi muitos comerciais da Coca-Cola. Mas deste eu me lembro bem, porque vivia catando chapinhas para ver as piadas e tomava refrigerante em doses industriais para levantar a cortiça (sim, naquela época por dentro das chapinhas havia cortiça e não plástico!) e ver se eu tinha ganho algum prêmio. Não ganhei e nem conheci ninguém que tivesse ganho. Alguém aí já ganhou?
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(vídeo com 37 segundos)

E para fechar, lembram deste comercial dos picolés Kibon? E lembram dos aqualoucos? Nossa, teve época que estes palhaços faziam um baita sucesso.
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Sei que muita gente vai lembrar dos comerciais do cobertor Parahyba, das Casas Pernambucanas, dos jeans US Top, da Pepsi e aquele jingle fantástico... Quem me lê há mais tempo já me viu falar deles por aqui. São momentos que a gente lembra com saudades.
E aí? Qual o seu comercial de TV favorito? Mas tem que ser um do tempo do Onça!
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê alguns comerciais do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. E o cachorro não fugia!