sexta-feira, maio 28, 2010

Propaganda é a alma do negócio


Recentemente, conversando com um amigo, eu perguntei a ele qual era a profissão mais antiga do mundo. Ele respondeu: “a prostituição”. Eu disse que não, mas que ele tinha chegado perto. A mais antiga das profissões, disse eu, é a de publicitário. Ele riu e eu tive que explicar.
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Se a Bíblia está correta, a serpente do Paraíso foi a primeira profissional de publicidade no mundo. Ela apresentou o produto (o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal), criou expectativa no público-alvo (Eva), despertou a necessidade deste público em consumir o produto, elogiando suas qualidades e omitindo seus pontos fracos, criou uma boa imagem deste produto e conseguiu persuadir sua cliente. É ou não é? Estou certo ou errado?
(Este post poderá ser melhor apreciado ao som desta seleção musical que a sua, a minha, a nossa Rádio Antigas Ternuras, a rádio que toca no seu coração, traz até você. Basta clicar na setinha da telinha do You Tube)

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Quando estava fazendo faculdade de Comunicação, no quinto período eu tive que me decidir entre Cinema, Jornalismo, Publicidade ou Relações Públicas. A intenção, quando entrei na Universidade Federal Fluminense – UFF, era fazer Cinema.

Mas este curso era na parte da manhã e eu já tinha um bom emprego em horário integral. Não deu. Muita gente dizia que eu me daria bem em Publicidade & Propaganda, por ser, na opinião deles, “um menino muito criativo”. E admito que cheguei a cogitar esta hipótese. Depois, refletindo, concluí que o publicitário é um profissional que vende a alma ao Capeta. Ele tem que vender produtos, muitas vezes, com o qual não concorda. Por exemplo: eu sempre detestei cigarros. Já pensou eu tendo que criar uma campanha para vender esta chupeta maldita? Acabei escolhendo jornalismo e não me arrependi.
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Diariamente, e desde criança, somos bombardeados com mensagens de propaganda. Algumas peças publicitárias são mais marcantes e acabam fazendo parte de nosso imaginário. Muitas vezes lembramos de um produto ou serviço pela recordação da propaganda que vimos dele. E das lojas onde eles estavam feérica e inteligentemente anunciados e exibidos.
Querem um exemplo? Meu primeiro terninho, comprado na Casa Príncipe. Lembro perfeitamente de seu slogan: “Príncipe veste hoje o homem de amanhã”. Inclusive eu ganhei um plástico com a logomarca da loja e este slogan. Para quem mora ou conhece o Rio de Janeiro, a Casa Príncipe ficava na Av. Rio Branco, próxima à Rua Buenos Aires.
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Quando estava maiorzinho, minha mãe me levava para comprar calças de tergal na Ducal. Essa loja foi uma coqueluche no Rio de Janeiro da minha época. O seu nome vinha da sua promoção: “compre um terno e leve outra calça”. Logo, um paletó e DUas CALças. Na segunda metade do anos 60, a Ducal passava por dificuldades financeiras e então se juntou com a cadeia de lojas Bemoreira. Também tive o plástico desta loja, cujo mascote era o “PEP” (da sigla ‘Preço E Prazo’). Tinha uma loja da Ducal e da Bemoreira bem perto do colégio em que eu estudei (lembra, Luiz, meu amiguirmão?)

Eu me recordo bem dos comerciais da Ducal com o Tarcísio Meira/Gloria Menezes e da Bemoreira com o Raul Longras... (eita, que agora é que o povo vai achar que eu lavei os pratos na Santa Ceia...).
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Quem me acompanha há mais tempo lembra que eu já falei aqui da cama de campanha e do sofá-cama Drago. No post Escutando cabelo crescer eu, inclusive, descrevi como era a tal cama de campanha e os problemas que ela poderia causar em partes discretas da anatomia masculina... Pois é. Eu lembro quando fui com meu tio numa loja da Drago para comprar uma poltrona-cama (que seria para eu dormir...). Ele já tinha visto na televisão e no jornal o anúncio da dita cuja. Veja só, que beleza que ela era...

Agora, vejam a cama de armar da Drago (noutro dia, eu estava fazendo uma pesquisa em microfilmes de periódicos antigos e achei este anúncio. Fotografei-o com meu celular. Sou o primeiro a colocar estas imagens na internet!)

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Uma outra loja que fazia anúncios legais, e que meu pai frequentava, era a Lutz Ferrando. Ele só revelava filmes e fazia cópias lá. Eles davam albinhos como este para guardar as fotos. Minha mãe tem trocentos deles com as fotografias que meu pai tirou com sua velha Flexaret. A Lutz Ferrando Ótica e Instrumentos Científicos ficava no Largo de São Francisco (hoje no lugar tem uma filial da Kalunga). Estive lá várias vezes, mesmo depois de meu pai ter falecido. E é claro que me lembro dos anúncios da loja nos jornais...

(A loja aparece por trás do bonde)
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Não quero que este post fique muito longo. Na semana que vem eu vou postar a segunda parte, com mais lojas cujos anúncios povoaram minha infância e adolescência.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Comunicação”, na interpretação da sempre fantástica Elis Regina.

domingo, maio 23, 2010

Tanto tempo


Tem dias em que eu amanheço. Acordo o sol, me sinto menino serelepe, como se tivesse vindo ao mundo anteontem, cheio de disposição.
Tem outros, em que entardeço ou mesmo anoiteço. Isso ainda com o sol principiando seu expediente diário. Eu me sinto velho como os chinelos de Matusalém.
(este post é melhor apreciado se você clicar na setinha do you tube abaixo, e ouvir, enquanto lê, a seleção musical que a minha, a sua , a nossa Rádio Antigas Ternuras, a rádio que toca no seu coração, selecionou para você)

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Na verdade, nem sou tão velho assim, como também não sou um rapazote. Mas provavelmente já vivi a primeira metade de meus anos de vida. E, meu Deus, como está passando rápido! O Padre Antonio Vieira escreveu em um de seus sermões: “somos como folhas ao vento... Vem o vento e nos eleva... Um dia o vento cessa... Vento vida...”
É isso. A vida, o tempo... é como o vento. Passa no seu movimento inexorável, não dá para segurar.
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Já vi tanta coisa acontecendo, tanta novidade. Sou do tempo de muita coisa que virou peça de museu para as novas gerações. Vitrola, máquina de escrever, gravador de fita cassete, TV em preto e branco com seletor de canais no aparelho (aquele que fazia trec-trec, quando a gente mudava de canal e só ia do 2 ao 13), disco de vinil, câmeras fotográficas de filme, rádio de válvula, bonde elétrico, ferro a carvão, máquina de costura de pedalar...
Se eu sentar com meus sobrinhos e começar a contar para eles como era no meu tempo, talvez eles se assombrem, talvez eles acabem rindo à socapa, tentando imaginar como era possível viver no tempo da pedra lascada como eu e os pais deles vivemos...
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Por mais novidades que eu tenha visto, por mais mudanças que eu tenha presenciado, tem muita gente que desde muito olha as engrenagens do tempo passando e já viu muito mais coisas novas que eu. O arquiteto Oscar Niemeyer, por exemplo. Ele nasceu em 1907. Quando ele veio ao mundo, praticamente não existiam automóveis no Rio de Janeiro. Gradativamente, ele viu as ruas da cidade se encherem de bólidos e até chegando nos dias atuais, onde vê engarrafamentos colossais. Ao longo de sua vida, ele viu aviões se desenvolverem, duas guerras mundiais, ele é do tempo de Machado de Assis, Arthur Azevedo, Olavo Bilac, Ruy Barbosa, acompanhou a Revolução de 1930, a Revolução Constitucional de 1932, em São Paulo, viu surgir o comunismo na URSS, viu o fim do comunismo por lá, viu 29 presidentes do Brasil tomarem posse (fora interinos e a junta militar), acompanhou o futebol se transformando numa paixão nacional, viu a bomba atômica, o medo da bomba, o homem pisar na lua, acompanhou todas as Copas do Mundo...
Fico imaginando como ele vê cada dia dos tempos atuais, cada notícia que lê nos jornais...
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Antes dele, teve uma pessoa que também viveu muito e viu muitas e grandes novidades: Chiquinha Gonzaga.
Quando ela nasceu, em 1847, as únicas formas de transporte que havia eram o navio e o cavalo. Até morrer, em 1935, ela viu o trem, o automóvel, o avião. Quando era jovenzinha, ela escrevia cartas que eram entregues em mãos. Ela viu surgir o correio, o telégrafo, o telefone, o rádio e quase foi contemporânea da TV, cuja primeira transmissão no mundo aconteceu um mês depois dela ter falecido.
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Ah, o tempo... Corremos atrás dele ou será que é ele que nos empurra para a frente? Costuma-se dizer que há tempo para tudo nessa vida, que as coisas acontecem no seu tempo certo, que o tempo é o senhor da razão...
Eu vi tantas coisas acontecerem no meu relativamente curto tempo de vida. Outros viram bem mais do que eu. Mas, sei lá, me fica a impressão de que o que realmente importa não é o tempo em que fatos acontecem. Talvez seja mais prazeroso apreciar a força, o poder com que estas coisas nos afeta. As traquitanas eletro-eletrônicas que vi surgir (e desaparecer) tem valor para mim pelo tanto de emoção que cada um deles me trouxe e traz. Minha formação como pessoa, cidadão, ser do mundo foi afetada e constituída pelas músicas que ouvi, textos que comecei a escrever numa velha Olivetti Lettera 22 e posteriormente em Remingtons jurássicas, nas muitas fotos que bati na minha infância e juventude, que hoje trazem para diante de minhas retinas cansadas fragmentos do menino e rapazote que fui, assim como de pessoas e lugares que me foram muito queridos, dos antigos programas de TV que trouxeram para minha mente a tão necessária fantasia para temperar a rudeza do cotidiano... Enfim, marco minha presença neste mundo com o auxílio luxuoso de coisas de meu tempo. E com a ajuda do próprio tempo, este mestre tão querido.
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Os que viveram mais que eu talvez tenham opinião semelhante. Sempre gosto de ouvir os mais idosos, saber de suas reflexões e vivências. Seus momentos que não se esquece, as pessoas formidáveis que conheceram, os momentos mágicos de que foram testemunhas.
Tanto tempo... tantas vidas para a gente viver numa só. Que em cada dia a gente, como o apóstolo Paulo, combata o bom combate, para quando completarmos a carreira, guardarmos a certeza de que realmente vivemos e que isso valeu a pena.
M.S.
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No outro blog em que escrevo, o Playground dos Dinossauros, está postado um texto meu sobre os animais heróis da nossa televisão, do tempo em que “espetar a perereca” era apenas catalogar o pequeno batráquio.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve The Beatles, com “Strawberry Fields Forever”. Que maravilha, né não?

sexta-feira, maio 14, 2010

Ah, essa cana...


Dia desses eu vi, na feira, um rapazote vendendo roletes de cana fincados em varetas de bambu. Pois bem, aconteceu de novo: aquela velha sensação de ser tragado por um torvelinho que me arremessa no passado para reviver antigas sensações, antigas ternuras. (Aqui entra a dica para você clicar na setinha e ouvir a canção que a Rádio Antigas Ternuras, a rádio que toca no seu coração, selecionou para este post)

Eu me vi, ainda menino, sem o que fazer de útil para a sociedade em determinado momento do dia, olhando para o quintal, procurando me decidir entre subir no pé de cajá, no de goiaba, no de manga ou pegar o facão amolado e cortar e descascar cana, acabando por optar por esta última atividade.
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Aquilo era quase um ritual litúrgico! Abrir a gaveta da mesa da varanda, desembainhar a peixeira do tempo de meu pai e selecionar naquela touceira o melhor caule da planta do gênero Saccharum, tão estreitamente vinculada com a História do Brasil. Com um golpe só, decepava a bicha no talo. Os pés de cana do nosso quintal eram grossos feito bambus. Diziam que não eram tão doces quanto a cana caiana, aquela que quando madura ficava amarelinha e era fina feito as canelas de minha irmã. Digo isso me referindo às canelas dela naquele tempo. Hoje, não lembram mais cana. Estão mais para tronco de peroba-do-campo ( se ela ler isso, me arranca o couro...).
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Independente da grossura do caule da nossa cana, ela era tão docinha...
Uma vez cortada, eu me dedicava a limpar, cortar os olhinhos, seccionar a parte das folhas afiadas feito navalha. Uma vez limpinha, eu cuidava de cortá-la em pedaços menores para facilitar o descasque. Os anos de prática me davam extrema habilidade nesse processo. Era fazer um pequeno talho na parte alta do nó e, com um movimento da faca, um pedaço da casca grossa levantava, daí era só deslizar a lâmina e ele voava longe. Criteriosamente, eu removia todo aquele invólucro cor de vinho tinto e a carne da cana, em tom entre o amarelo claro e o verde lavado se me oferecia com languidez. O passo seguinte era cortar o nó, e isto eu fazia segurando o pedaço da cana com a mão esquerda e, com a outra mão decepando a parte indesejada com um movimento em círculo feito com a peixeira. Cortava o nó de cima, cortava o nó de baixo. Eis que eu tinha um rolete de uns dez centímetros implorando pelos meus dentes.
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Calma, ainda faltava um bocadito para o meu prazer. Apoiava a lâmina da faca em transversal no alto do rolete e batia com a mão na parte sem corte para que a faca deslizasse rompendo aquele pequeno cilindro que se dividia em duas metades. Juntava estas partes e fazia a mesma coisa, cortando em cruz. Logo, eu tinha quatro pequenos talos umedecidos pelo corte do facão. Era como uma mulher amada, molhada de desejo, pronta para ser sorvida pelo amante hábil e carinhoso. Introduzia na boca aquele pedaço de prazer, mordendo com molares e pré-molares num canto da bochecha, recebendo na língua o gozo da cana, sumo generoso, mel de prazer que me enchia a boca, excitando-me as papilas gustativas, misturando-se às minhas secreções. Eu praticamente fazia amor com aquele pedaço de vegetal.
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Para me tirar daquele enlevo, só a voz de meu irmão, quebrando o momento mágico, pedindo:
- Me dá um pedaço?
Eu cortava mais um rolete e entregava ao pidão, dizendo: “desinfeta, pirralho!” e o via realmente sumir, mordiscando o naco adocicado, cuspindo o bagaço no chão do terreiro.
Naquele momento, eu não imaginava que estava revivendo um gesto histórico, que tantos outros fizeram. Imagino quantos negros escravos, em raros momentos de descanso, também se dedicavam a sorver o caldo da cana abocanhada entre os dentes, para depois lançar longe o bagaço exangue.
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Tudo isso passou pela minha mente, num átimo, na velocidade do pensamento, quando vi os roletes de cana que o rapaz vendia na feira de uma rua de um Rio de Janeiro urbano, esquecido desses pequenos prazeres. O torvelinho da feira me engoliu e diluiu meus pensamentos, como que me chamando para a realidade. Mas eu sabia muito bem que dentro de mim o menino ainda chupava aquela cana e assoviava um chamamento para que eu me juntasse a ele...
M.S.

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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Alceu Valença e a sua “Morena tropicana”... Melhor que isso só caldo de cana caiana...

domingo, maio 09, 2010

Ônibus - uma viagem


Noutro dia, estive numa exposição de carros antigos. Ah! Que viagem! Os velhos veículos já renderam dois posts de histórias no Playground dos Dinossauros, o outro blog em que escrevo.
Na exposição, eu encontrei este ônibus da foto. Meninos, eu vi! E andei em um desses. E nos outros que aparecem nesta postagem. Mais um pouco e eu teria dito que trafeguei em uma diligência da Wells Fargo, sendo perseguido por ferozes apaches...

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Mas antes de prosseguir a leitura deste texto, que tal lê-lo acompanhado pela trilha sonora que a minha, a sua, a nossa Rádio Antigas Ternuras, a rádio que toca no seu coração, traz até você? É só clicar na setinha e prosseguir a sua leitura ouvindo esta ótima canção, que faz lembrar uma agradável viagem num ônibus do passado.

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Quando era menino, ônibus exerciam um fascínio sobre mim. Lembro que eu brincava com minha bicicleta, dizendo que ela era um ônibus. Eu pedalava fazendo com a boca o som do motor de um coletivo.
Eu tenho uma história envolvendo esses carrões que levam a gente para tudo que é lado. Uma só, não. Um monte delas. Mas uma está ligada à afetividade e tem no meio uma personagem que eu quero homenagear especialmente hoje.
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Quando eu tinha os meus quatro, cinco anos, minha mãe me levava num ônibus para cima e para baixo, visto que na época não tínhamos carro (nem nós, nem a imensidão de pessoas da vizinhança, uma vez que ter o seu meio de transporte particular não era para qualquer um...). Os ônibus do meu tempo eram numerados, iniciando por 1, 2, 3 e assim por diante. Quando eu entrava no ônibus com minha mãe, sempre perguntava a ela qual era o número que estava na plaquinha. Ela dizia, por exemplo, “4”. Eu olhava bem para o formato dele, procurava memorizar suas características. E fazia o mesmo com os outros números que ela me dizia, pois está claro que eu infernizava a paciência da boa senhora perguntando sobre qualquer número que eu não sabia. De tanto inquiri-la, de tanto observar os números dos ônibus, acabei sabendo ler números de 1 a vinte e tantos, exatamente o número de veículos que a empresa tinha. Quando eu fui para a escola, já sabia ler, pois meus pais me ensinaram pelos gibis e tirinhas de quadrinhos dos jornais. E já sabia contar e identificar números, aprendidos nos lotações de minha época, graças a paciência de minha doce mãezinha. Com isso, aproveito para homenagear todas as Mães que me dão o prazer e a honra de ler minhas mal tecladas linhas.
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Mas há outras histórias envolvendo ônibus e outros modelos também. Ao longo dos anos 60 e 70, andei em vários tipos e me lembro claramente de todos. Tinha o lotação, com motorzão na frente e uma porta só, aberta manualmente pelo motorista com uma alavanca. Tinha o ônibus elétrico, que a gente chamava de “ônibus com suspensório”. Este era diferente, pois praticamente não fazia barulho algum.
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Quando ia visitar meus tios, pegava um ônibus que tinha um lugar para um só, ali na frente, ao lado do motorista. Eu adorava viajar ali! Eu tinha a mesma visão que o motorista (só que do outro lado) e chegava ás vezes a fazer os movimentos que ele fazia com a alavanca do câmbio, com o volante, com os pedais...
Uma coisa legal que muitos vão lembrar. Não tinha roleta ou catraca naquela época. O cobrador cobrava as passagens andando, ou melhor, se equilibrando, no corredor do ônibus. Ele vinha com um monte de fichas nas mãos, como estas da imagem.
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E costumava fazer um barulho curioso, manipulando o monte de fichas, justamente para a gente saber que ele estava vindo cobrar a passagem. Dependendo do trajeto, o preço da passagem era diferenciado e cada um recebia uma ficha da cor referente ao seu trajeto. E ao sair, devia depositá-la na caixa que ficava ao lado do motorista.
Tempos depois, o cobrador, ou trocador, passou a ficar naquele balcãozinho que a gente conhece até hoje. Eles não gostavam muito de estudantes... A gente tocava uma zoeira no banco de trás e em muitas vezes saíamos sem colocar a ficha na caixinha e acabávamos dando prejuízo para motoristas e cobradores, que tinham que pagar pelas fichas não devolvidas. Posteriormente, as fichas foram substituídas por talões de papel. Não tinham a menor graça...
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Lembro que motoristas e cobradores chamavam os estudantes depreciativamente de “pardais”, porque andávamos em bando e fazíamos muito barulho, igualzinho àquelas aves. Hoje, as campainhas para avisar que alguém quer descer não fazem barulho, ou se fazem é mínimo. Na minha época, aquele barulho de cigarra ficava tocando enquanto se estivesse puxando a cordinha. E quando alguém se demorava ao acionar a cigarra, o trocador logo gritava: “Ei, não vai sair leite, não!”
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Ah, as histórias são tantas... este post viraria um livro se fosse contar todas. Hoje em dia quase não ando de ônibus. Ter carro hoje em dia é para qualquer um, e se não pego o meu batmóvel, dou preferência ao metrô. Mas quando opto pelo coletivo, não deixo de lembrar de meus tempos de moleque. Chego quase a ouvir as musiquinhas que o bando de estudantes cantavam lá do banco de trás... “Motorista, se eu fosse como tu... tirava o pé do freio e... corria pra chuchu!” Na verdade, o final dessa música era um pouco diferente. Nós mandávamos o motorista enfiar o pé numa rima pobre para “tu”...
Eita nós...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Tema de Cristina”, da novela Pigmalião 70, tocada pela Orquestra Briamonte.