segunda-feira, agosto 08, 2005

Sin City

Não é tarefa das mais fáceis resenhar criticamente o filme “Sin City”, ora em cartaz no circuitão.
Baseado (e bota baseado nisso!) na graphic novel de Frank Miller, que também assina a direção junto com Roberto Rodriguez e “o diretor convidado” Quentin Tarantino, finalmente chegamos à mais completa e perfeita adaptação de quadrinhos para a tela.
Mas o filme é bom? É ruim?
*
Não há como reduzir o diagnóstico a esta simplificação dual. Eu, pelo menos, saí do cinema sem saber, com clareza, como responder a esta pergunta.
Antes de abordar o filme, propriamente dito, vale a pena comentar sobre alguns dados curriculares a respeito do criador da história. Com certeza, serão úteis na compreensão da estética do filme.
*
Frank Miller trabalhou como roteirista e desenhista nas duas maiores editoras de comics (quadrinhos) norte-americanas – a Marvel e a DC. Fora outros lançamentos em independentes. Com seu inegável talento, ele foi responsável pela reformulação de super-heróis das duas majors. Na Marvel, por exemplo, ele praticamente recriou o “Demolidor”, que era um herói meio sem graça, cuja revista estava prestes a ser cancelada. De roldão, ele deu outra consistência a vilões como o “Rei do Crime” e criou personagens secundários que fizeram enorme sucesso, como o Stick e a sensacional Elektra.
Na DC, para o Batman, ele criou a graphic novel “Cavaleiro das Trevas”, para muitos a melhor história em quadrinhos de todos os tempos (eu discordo, mas reconheço que é uma extraordinária revista). Posteriormente, em “Batman – Ano 1” (roteiro dele e desenhos de David Mazzuccheli), ele põe definitivamente o Morcegão nos trilhos. Miller ainda lançaria outras obras de fôlego e qualidade como “Ronin”, por exemplo. Há coisa de alguns anos, ele lançou a série “Sin City”, com o êxito habitual.
Mas ele não colecionou somente sucessos em sua carreira. Foi dele o roteiro de “Robocop 2”, aqui pra nós, uma bomba de mil megatons. Não sei se por dinheiro, ou por não resistir ao canto da sereia da DC Comics, ele lançou também o “Cavaleiro das Trevas 2”, uma bobagem do tamanho de Gothan City.
*
É inegável que ele criou um estilo pessoalíssimo nos quadrinhos, baseado em muita violência com toques de humor e incluindo flertes com as artes marciais (especialmente a japonesa). Alguém identificou entre os cineastas alguém com estas características? Ponto para quem disse: “Quentin Tarantino”. Estava claro que mais cedo ou mais tarde seus caminhos iriam se cruzar. Pois se cruzaram em “Sin City”. Roberto Rodriguez (diretor de “O Pistoleiro” e “Pequenos Espiões”), da “tchurma” do Tarantino, serviu de elo de ligação entre os dois.
*
O filme conta histórias de personagens que se entrelaçam no submundo da cidade de “Basin City”. Um tanto pela placa nos arredores, que está com o “B” e o “A” meio apagados (sobrando o “SIN CITY”, grande sacada), outro tanto maior pelos habitantes daquele lugar – polícia e políticos corruptos (marca pessoal de Miller), prostitutas, sujeitos durões, um pedófilo e até um canibal, aquela cidade faria Sodoma e Gomorra parecerem Disneyworld, de tanto pecado (“sin”, em inglês) que rola por lá .
Miller eleva à última potência o conceito de filme noir (aquele em que tudo de interessante só acontece a noite, aliás, em Sin City parece que a noite dura 24 horas). Neste quesito, o filme é brilhante. As cenas e os enquadramentos parecem ter usado a própria revista como story board: algumas são literalmente iguais. Os diálogos também são bem “noir” e bem “Frank Miller”.
*
Os atores escolhidos para darem vida aos personagens são um capítulo à parte. Todos estão rigorosamente perfeitos, parece que saíram da revista para o set de filmagem. Nota mil para a seleção de elenco. Vemos um Mickey Rourke ressurgir das cinzas em um personagem que parece ter sido criado especialmente para ele. Consta que foi o Rodriguez quem teve essa sacação e acabou convencendo o Miller a comprar a idéia. Foi perfeito. Bruce Willis fez o seu personagem “tough guy” habitual. É a melhor coisa que ele sabe fazer. Rutger Hauer, Michael Duncan, Clive Owen, um surpreendente Elijah Wood, fazem pequenas mas significativas aparições. A mulherada gostosuda (fundamental em quadrinhos) parece que foi esculpida pelo traço do Miller, com destaque para Jessica Alba (anotem este nome), a “Susan”. Até o próprio Frank Miller faz uma pontinha como “Priest”. Outros atores que eu não lembro agora também estão ótimos no filme.
*
Os cenários, foram todos praticamente criados em computador, a partir do que já havia sido desenhado na revista. Os atores representaram diante de uma tela verde e depois foram inseridos na Sin City virtual. Tudo feito com a classe habitual do Mr. Miller.
*
Se tudo está tão divino e maravilhoso, qual é o problema então? É o seguinte: uma coisa é ver toda aquela violência num gibi; outra é assistir aquela profusão de sangue espirrando, braços, pernas, cabeças sendo decepadas, socos de arrancar pedaço, tiros tão generosamente distribuídos, mordidas arrancando nacos, shuriken (em forma da suástica nazista, olha o humor negro aí, gente!) se cravando na cara e na bunda, flechaços, granadaços...tudo ao mesmo tempo agora! O acelerador não alivia nem um pouco, da primeira à última cena a gente assiste empurrando o corpo de encontro ao encosto da cadeira e não há quem agüente isso. Chega a um ponto que vira tão banal que perde o impacto que deveria causar. A violência do recente cinema americano transformou em algo corriqueiro o que deveria chocar. Para se ter uma idéia, no gibi, existem mais cenas de nus, com personagens exibindo aqui e ali uma bunda, um peito ou até mesmo as “jóias da família”, como o “homem amarelo”. No filme, taparam as partes pudendas para o filme não cair na classificação “restrito para maiores de 18 anos”, o que nenhum blockbuster pode ser, sob pena de faturar minguada bilheteria. Agora vejam vocês, colocar uma granada em uma cabeça decepada, serrar membros, espirrar sangue para tudo que é lado não faz um filme entrar no “restricted”. Bundas, peitos e pintos fazem. Vai alguém dormir com um barulho desses...
*
Pois é. O que vemos freqüentemente em filmes de Tarantino e que em “Sin City” é explorado às últimas conseqüências não choca mais, ao contrário: faz-nos banalizar o que não deveria, de forma alguma ser banal.
Daí que eu saí do cinema um tanto dividido se tinha apreciado aquele espetáculo estético ou se deplorava aquela estética espetaculosa.
*
Para quem não viu, algumas recomendações: se você gosta de filme noir, corra para ver; se você não gosta de quadrinhos americanos, não vá assistir. Se você, gosta de ver a tela pingando sangue, vá urgente para a fila do Unibanco Arteplex (ou outro local de sua preferência); se você detesta filme violento, nem saia de casa.
M.S.

Hiroshima e Nagasaki

Na semana passada completou-se 60 anos da explosão das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, as únicas na História da Humanidade que passaram pelo pesadelo nuclear.
Li uma matéria que desmentia a versão de que as explosões seriam necessárias para por fim à guerra no Pacífico. Na verdade, o Japão estava combalido, com pouquíssima munição e recursos, não haveria de resistir por muito tempo. As razões da decisão pelo uso da bomba foram outras bem mais pérfidas.
Com o fim da guerra na Europa, a antiga União Soviética começou a se posicionar nos territórios que ela “libertou”. Com a famosa Conferência de Yalta, os líderes vitoriosos Churchill, Roosevelt e Stalin repartiram o mundo entre eles. Nascia ali a Guerra Fria, com a oposição entre a URSS comunista e os EUA e seus aliados do outro.
No início de agosto de 1945, os soviéticos declararam guerra ao Japão. E já foram invadindo as ilhas Sakalinas e Kurilas (onde estão até hoje). Os americanos perceberam que se a URSS invadisse o resto do país nipônico, a exemplo da Alemanha, ele estaria dividido em “Japão do Norte” (comunista) e “Japão do Sul” (pró-USA). Para evitar dar mais terreno para os vermelhos, Truman (que assumiu depois da morte de Roosevelt) autorizou o uso das soluções atômicas, que certamente apressariam o fim da guerra, garantindo a vitória norte-americana.
Para uma decisão “de Estado” como essa, o fato de que haveria centenas de milhares de mortes de civis inocentes era um mero detalhe... Para o “Estado”, seria mais estratégico vencer a guerra e mandar um recado de supremacia para a União Soviética, que não tinha a bomba A.
Cento e tantos milhares de pessoas mortas, parte delas pulverizadas instantaneamente, outra parte morrendo aos poucos (e aos muitos). Gente que ainda iria nascer sofreria as conseqüências daquela decisão.
No tempo das monarquias absolutistas, os reis tomavam decisões de guerra onde milhares morreriam. Mas a patuléia não podia fazer nada, diziam que ele era rei por direito divino. Com as repúblicas, de tempos em tempos a população seria chamada a opinar, elegendo aqueles que tomam decisões em seu nome.
Se eu tivesse sido um eleitor do Truman e dos congressistas, que votaram pelo lançamento da bomba sobre as cidades japonesas, ficaria muito amargurado. De certa forma, seria como se fosse cúmplice.
Guardadas as proporções, é como me sinto por ter votado no Sr. Luiz Ignacio. Mas isto é uma outra história...
M.S.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Quem te escreveu?

Não vou negar: eu adoro um teste, desses que, no resultado, dão diagnóstico e perfil. Pode ser o mais imbecil que eu faço e vou conferir para ver se deu certo.
Zanzando pela internet, achei um site em que tem um teste para a gente saber que escritor "nos escreveu", ou seja, somos personagens de que escritor?
O site deve ser inglês, uma vez que a maioria dos autores é da velha Albion. Portanto, para quem estiver a fim de fazer o teste será necessário ter um bom conhecimento da língua de Shakespeare, Becket e dos moradores da Barra da Tijuca.
As perguntas são interessantes e ajudam ao programa a definir em que perfil de personagem de que autor você se enquadra.
*
Querem saber quem me escreveu? Vou revelar:
Anne Rice.
*
Até que tem a ver. Como ela, gosto de uma boa história de terror, vista pelo lado mais psicológico. Tem até uma "causo" curioso: em 1990, eu estava com vontade de me aperfeiçoar como ator, deixando de ser um mero amador descompromissado. Por falta de informação, pensei em cursar a Escola de Teatro Leonardo Alves. Não seria a melhor escolha, mas eu era inocente, puro e besta no assunto. O "vestibular" para a escola era apresentar uma cena para a banca, formada pelo Leonardo e outros professores. De exibido que sou, resolvi escrever um monólogo que eu encenaria. Pensei em por no papel uma idéia que eu tinha há algum tempo e já havia definido até o título: "Da solidão dos vampiros". Era um texto em que eu desenvolvia a tese de que os vampiros eram seres atormentados por serem eternos e se alimentarem da força vital de mortais. Daí escrevi um monólogo, em estilo bem confessional, onde um vampiro se lastimava de sua sorte.
Pois bem. Escrevi e apresentei na tal escola de teatro. Os professores perguntaram de quem era o texto que eu tinha acabado de representar. Quando disse que era meu, ficaram boquiabertos. Não sei se por admiração ou por achar que eu era muito doido. De qualquer forma, fui aprovado e, quando decidi cursar a CAL (Casa de Artes Laranjeiras, um dos melhores cursos profissionalizantes de Teatro do Rio), o próprio Leonardo Alves me ligava toda semana, me oferecendo bolsa e o escambau.
Como percebi que o texto agradou, fiquei assanhado para desenvolvê-lo em uma peça completa. Estava com esta intenção, quando li no jornal que o livro de maior sucesso na Europa era "Entrevista com um vampiro", cuja temática era praticamente a mesma que eu tinha imaginado. Quer dizer, se eu tivesse escrito a peça, seria certamente acusado de plágio. Sacanagem... Jung e a teoria do Inconsciente Coletivo marcaram mais um gol.
E quem escreveu o livro antes de mim?
Anne Rice.
*
E agora quando um teste revela que eu poderia ser um personagem dela, só posso dizer: "É. Pode ser."
Se você quiser saber quem te escreveu, entre em:
http://quizilla.com/users/bligtgrrl/quizzes/Which%20Author’s%20Fiction%20are%20You%3F/
(Ah, que falta está me fazendo o curso de template do prof. Paulo...Desculpe, pessoal. Não sei criar link)
Caso tenha problemas, digite "Which Author’s Fiction are you?" no Google que você chega lá.
Faça o teste e depois me conte o resultado.
M.S.

Já sei como vou morrer

Ainda sobre este site, o "Quizilla" [http://quizilla.com], além deste que citei acima, lá encontrei um monte de testes com títulos hilariantes. Vejam só alguns deles:
"Você vai para o Céu ou para o Inferno?"
"Quão insano você é?"
"Você é qual princesa da Disney?" (Para garotas ou rapazes alegres, descontraídos e torcedores do vasco)
"Que mentiras se escondem por trás de seus olhos?"
"Que vogal você é? A, E, I, O ou U?"
"Como você vai morrer?"
"Qual o seu verdadeiro signo astrológico?"
Fiz este dois últimos.
Quis saber qual seria o meu verdadeiro signo e...ohhhh! Que surpresa!... Deu que sou REALMENTE do signo de Virgem.
A descrição sobre as minhas características bateram certinho, como aliás batem com qualquer virginiano, fazer o quê... Por mais que a gente deteste isso, nós, de Virgem, somos previsíveis.
No diagnóstico, apareceu como mulheres ideais para mim as do signo de Escorpião, Capricórnio, Touro, Virgem e Aquário. Então, alô mulherada destes signos! Peguem a senha e entrem na fila!
A propósito: querem saber como vou morrer?
De velho. Uma morte tranqüila e sossegada na cama.
E eu achando que morreria aos 120 anos, de um tiro dado por um marido ciumento...
M.S.

terça-feira, agosto 02, 2005

V de Vingança

1. Alô, alô moçada gibizeira! Alvíssaras! Descobri o site do filme "V de Vingança"("V for Vendetta"), baseado na célebre e maravilhosa graphic novel de Alan Moore (esse é o cara!) e David Lloyd. Segundo a página, o filme estréia em novembro deste ano, com produção de Joel Silver, direção de James McTeigue e, no elenco, Natalie Portman (a princesa e senadora Amidala da recente trilogia Star Wars), como "Evey", e Hugo Weaver (o Agente Smith, vilão da trilogia Matrix), como "V".
*
2. Para quem não leu o gibi, deixa eu dar uma resumida na história, a partir da minha memória, uma vez que li a graphic há muito tempo, e ela não está aqui comigo – tenho dois exemplares, mas ambos estão no meu antigo apartamento, que virou depósito da minha biblioteca.
Em um futuro não muito distante, um regime totalitário assume o poder na Inglaterra, mantendo o povo debaixo de um terror fascista. É quando surge um vigilante mascarado e anarquista ("V") que se utiliza de práticas terroristas para subverter aquela ordem ditatorial. Ele salva uma jovem da polícia ("Evey"), escondendo-a em sua base de operações. A partir dali, ele trava com ela uma relação estranha, ora como protetor, ora como doutrinador, enquanto leva os agentes do sistema à loucura.
O visual é um certo futurismo retrô que eu acho muito interessante. Aliás, sempre que eu vejo um Citroen A3 preto lembro da revista. O tom filosófico dos diálogos pode desagradar a alguns, mas eu acho bem instigante. Aliás, esse tipo de diálogo é uma das especialidades do mestre Alan Moore.
Para quem quiser dar uma olhada no trailer e ver as informações do site, entre em http://vforvendetta.warnerbros.com
O slogan do filme é uma porrada: "O povo não deveria ter medo dos seus governantes. Os governos deveriam ter medo do seu povo". Será que valeria para um certo país do Atlântico Sul?
*
3. Os que ficarem curiosos em conhecer a graphic novel, é só visitar alguma gibiteria ou mesmo algumas livrarias especializadas. Estive neste final de semana no Unibanco Arteplex e lá tem. Vamos aguardar novembro ansiosamente. O filme promete. Pelo menos a história é cinco estrelas.
*
4. Já que a moda é levar às telas histórias em quadrinhos, os grandes estúdios deveriam olhar com carinho três opções. A primeira é o "Livro da Magia" – se bem que vai ter gente achando que é plágio de "Harry Potter", quando é exatamente o contrário. A dona Rowlings chupou descaradamente a história do pequeno mago, até no visual "franjinha de óculos". Outra sugestão é "Sandman", do "deus" Neil Gaiman. Pode não ser uma unanimidade, mas eu sou fascinado pela história dos Eternos, incluindo o Senhor dos Sonhos. A terceira opção é o "Watchmen", do Alan Moore (estou dizendo, ele é o cara!) e Dave Gibbons, na minha opinião, a melhor história em quadrinhos de todos os tempos. A Disney e a Pixar deram uma plagiada forte nela quando fizeram "Os incríveis", mas a qualidade da história de "Watchmen" é tão forte que a comparação não dá nem pra saída.
*
5. Por falar em quadrinhos, espero assistir nesta semana ao "Sin City". Talvez até faça uma resenha aqui para o blog.
M.S.

quinta-feira, julho 28, 2005

Vale a pena?

Certa vez, quando eu era garoto, ganhei de presente de Natal uma bola de futebol (“Bola Pelé”, alguém lembra?). No dia 25, pela manhã, eu estava louco para estrear o meu presente. Mas, para a minha decepção, o dia amanheceu chovendo canivetes. Doidinho para dar uns chutes, comecei a fazer embaixadinhas dentro de casa. Minha mãe viu e me avisou: “se você quebrar a minha jarra ou alguma coisa, vai apanhar e ficar sem a bola!” Ela tem até hoje uma jarra que ela adora e que resistiu à infância de dois capetas: eu e meu irmão. A vontade de jogar era muito grande mas avaliei a ameaça e as conseqüências e resolvi que o melhor a fazer era guardar a bola.
*
Eu e meus irmãos fomos educados em princípios rígidos. Às vezes, minha mãe procurava nos convencer na base da conversa, utilizando o “método Piaget”. E em muitas vezes ela optava pelo “método Pinochet”, de ação e resultados muito mais rápidos, embora dolorosos...
Estou contando isto porque ao assistir aos depoimentos de Delúbio, Silvio Pereira, Marcos Valério e sua esposa Renilda, em que foram literalmente massacrados pela CPI, juro que me veio à cabeça o tipo de criação que a dona Ruth e o seu Ferreira deram a mim e ao meus irmãos. Algumas interrogações pairam feito mosquitos ao meu redor:
*
Será que em algum momento passou pela cabeça dessas pessoas que o que eles estavam fazendo poderia ser descoberto e eles seriam exibidos à execração pública? Será que eles avaliaram os riscos e as conseqüências de seus atos?
*
Silvio e Delúbio obtiveram, até onde se sabe, algumas vantagens pessoais nesta lameira toda. Talvez, depois das investigações, se descubra que até ganharam muito dinheiro. A se ver. O casal Marcos Valério e Renilda certamente ficou muito, muito rico. Ambos têm uma montanha de dinheiro no Brasil e no exterior, que certamente lhes garantirá viver confortavelmente, se não forem presos (mas a gente sabe que rico não vai para a cadeia, logo...).
*
Ainda assim, eu me pergunto: vale a pena? Em algum instante eles se questionaram se compensaria enriquecer correndo o risco de passar esta vergonha diante dos filhos, da família, dos amigos, do país inteiro? Será que hoje eles estão arrependidos? Ou acham que depois do vendaval, bastará sair do Brasil e ir curtir a riqueza na Europa, nos Estados Unidos ou na Cochinchina?
*
Não sei se eu tenho condições de avaliar todos os aspectos desta questão. Como todo mundo, gosto de conforto para mim e para meus familiares. Entretanto, mais do que conforto, gosto de colocar a cabeça no travesseiro todas as noites e dormir tranqüilo. Gosto de sair na rua e poder andar anônimo, ir aonde eu quiser sem preocupações (claro, só com o receio de ser assaltado numa esquina qualquer). E quando eu vejo o que essas pessoas estão (merecidamente, fazer o quê) passando, sendo trituradas pela máquina de moer carne e reputação da CPI, não consigo entender como nunca pensaram na hipótese de que se fossem descobertas passariam por tudo isso. Será possível que resolveram correr todos estes riscos somente pelo dinheiro e pelo que de bom ele pode proporcionar?
*
Eu vi o choro convulsivo da dona Renilda. Especialmente quando um deputado perguntou como ela e o marido ficariam diante dos filhos a partir deste todo este escândalo. Vi o Marcos Valério derramar suas lágrimas também, quando depôs. Mas, e aí? Como estes pais podem exigir bom comportamento de seus filhos? Com que cara eles vão lhes chamar a atenção quando fizerem ou quiserem fazer algo errado? Os meus pais me davam ordens, eu obedecia porque reconhecia neles autoridade moral suficiente para poderem mandar em mim. E a dona Renilda? Se o filho dela quiser fazer embaixadinha dentro da sala deles, correndo o risco de quebrar um dos vasos de Limoges, com que autoridade ela mandará que ele pare? Com que cara o Marcos Valério recomendará aos filhos que ajam direito, que sejam bons cidadãos, que respeitem as leis para não terem problemas?
*
Que eles pensem nisto. Que todos os pais pensem nisto. Que cada um de nós reflita sobre os riscos e conseqüências de nossos atos. Depois que a bola quebrar a jarra da nossa reputação, mesmo tentando colar, nunca será a mesma coisa.
M.S.

Aos nossos filhos

(Ivan Lins e Vitor Martins)
Perdoem a cara amarrada, perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço, os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos, perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos, os dias eram assim
Perdoem a falta de folhas, perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha, os dias eram assim
E quando passarem a limpo, e quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos, façam a festa por mim
Quando lavarem a mágoa, quando lavarem a alma
Quando lavarem a água, lavem os olhos por mim
Quando brotarem as flores, quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos digam o gosto pra mim
*
Esta obra-prima foi composta no final dos anos setenta do século passado. Eram anos de chumbo e os autores estavam pedindo desculpas aos filhos pelo legado que aqueles tempos de ditadura militar, de censura, de violência deixavam para eles. Eles tinham a esperança de que, passados aqueles tempos terríveis, haveria água limpa para lavar as mágoas, flores e frutos brotariam. Embora o contexto original seja totalmente diferente, parece que o Ivan e o Vítor fizeram esta música ontem, visando este tempo que vivemos.
Acompanhando o texto que escrevi acima, Marcos Valério, Renilda, Silvio Pereira, Delúbio, José Genoíno, José Dirceu (que sentiram a barra daqueles anos!), quando acabar este processo, poderão cantar esta música para seus filhos. Dá certinho. Não precisa nem mexer na letra.
M.S.

segunda-feira, julho 25, 2005

Parada solicitada

Peraí, deixa eu ver se eu entendi:
o rapaz brasileiro estava saindo de um lugar que a polícia londrina DISSE que era suspeito, aí foi perseguido, jogaram ele no chão do metrô e meteram sete (SETE?) tiros na cabeça dele e um no ombro. Quando viram que o rapaz não tinha culpa nenhuma, apenas disseram: "Desculpa aí. Foi mal". Mas confirmaram que vai ser assim mesmo, na dúvida, é meter um monte de bala na cabeça do "elemento", e, se ele for inocente, é só pedir desculpas.
Imagino que quando o Bin Laden e demais terroristas da Al-Qaeda souberam disso, devem ter esfregado as mãozinhas de alegria, soltando aquela gargalhada de desenho animado: "Rurru-á-huá-huá-huá..."
Fico só pensando se a polícia brasileira vai achar a idéia interessante e começar a po-la em prática aqui em Pindorama. Se é que já não a pôs...
Pára o mundo que eu quero descer!
M.S.

sexta-feira, julho 22, 2005

Guerra dos mundos

Ontem fui assistir ao "Guerra dos Mundos", filme pipoca do Steven Spielbeg. Vale assistir como entretenimento, não mais do que isso.
Mas a cena que eu considerei mais marcante, foi quando o Tom Cruise e filhos estavam fugindo dos invasores, passando de carro pelo meio de pessoas que também estavam saindo da reta das máquinas alienígenas de destruição, cada uma levando o que podia. Umas levavam água e alimentos. Uma outra carregava fotografias dos filhos. Mas uma empurrava um monte de livros em um carrinho de supermercado.
Pois é. O mundo acabando e o rapaz estava tentando salvar os seus livros.
Na hora, me veio à cabeça uma pergunta: se eu tivesse que abandonar tudo para trás e fugir, o que eu levaria?
O meu pragmatismo diria para eu levar água e alimentos, para o meu corpo sobreviver. Mas tenho certeza de que na hora H, a minha alma arrumaria um jeito de enfiar uns livros e uns discos na bagagem.
E você? O que levaria?
M.S.

Victor Giudice

Dia desses, fui ao Espaço Unibanco, e, para matar hora antes de começar o filme, entrei na loja Luzes da Cidade que tem lá. Achei um livro de contos do Victor Giudice chamado "Salvador janta no Lamas". Logo o primeiro é uma pequena obra-prima, vejam só:
AS TRÊS MARIAS
"Com a morte de Socorro, José respirou satisfeito: enfim, poderia casar-se com Prazeres. Com a morte de Prazeres, José respirou satisfeito: enfim, poderia casar-se com Graça. Com a morte de José, Graça respirou satisfeita: José tinha ficado um velho sem graça, sem prazeres, sem socorro".
*
Maravilha, não é?
Conheci o Victor há muitos anos. Eu estava fazendo pesquisa na Biblioteca Nacional e um dia teve lá uma leitura de contos dele, alguns lidos pelo próprio autor. Ele leu, inclusive, o seu grande clássico, o conto "O Arquivo", que é o conto brasileiro mais publicado no exterior.
Victor faleceu há poucos anos. Fica aqui o registro deste grande escritor.
M.S.

quarta-feira, julho 20, 2005

Frases para sempre

Meu amigo blogueiro Evandro me fez um convite para que eu listasse os meus filmes favoritos. E eu fiz. Correndo risco de olhar agora e ver que estão faltando filmes que não deveriam faltar.
Pois bem, agora eu faço o convite. Um dia desses, estava zanzando pela Internet e achei um site listando "as melhores falas do cinema". Uma grande idéia, não? Tentei lembrar das falas de filmes que me são inesquecíveis. São várias. Mas para não ocupar muito espaço, listo minhas três favoritas:
*
1) "O grito do coração do artista ecoa por todo mundo. Eu quero apenas dar o melhor de mim". (Dita pela personagem Babete em "A Festa de Babete", dir. Gabriel Axel – Dinamarca/1987)
*
2) "Meus pais só me bateram uma única vez: a surra começou no verão de 1953 e acabou na primavera de 1957". (Dita pelo personagem Allan Felix [Woody Allen] em "Sonhos de um sedutor", dir. Herbert Ross - EUA/1972)
*
3) "Todos aqueles momentos estarão perdidos no tempo como lágrimas na chuva. É hora de morrer". (Dita pelo personagem Roy Batty [Rutger Hauer] em "Blade Runner, o caçador de andróides", dir. Ridley Scott – EUA/1982)
*
A bola está contigo agora, Evandro (e demais cinéfilos parceiros que aparecem por aqui). Só não vale as "babas" do tipo "Bond. James Bond" nem "Hasta la vista, baby"... Vamos lá, moçada, me surpreendam.
M.S.

Na C&A não tem dessas coisas

1. Desde a sua inauguração, a nova Daslu tem ocupado espaço generoso nos meios de comunicação. Primeiramente, por ser considerada como o "mais luxuoso centro de compras da América Latina". Posteriormente, como antro de sonegação e até contrabando. Uma cliente de lá teria dito sobre a prisão dos donos da Daslu, em especial sobre a grande mentora do local, Eliana Tranchesi: "ser presa por sonegação, tudo bem; mas por contrabando é de quinta!"
Perdão, madame. Mas ser PRESO é de sexta categoria!
***
2. Recentemente recebi um arquivo com fotos da Daslu. Confesso que não me deslumbrei com nada daquilo. Claro que, com o meu contracheque, eu não passaria nem na porta daquele lugar. Aliás, o meu carro sequer conseguiria se aproximar daquele estacionamento onde cobram 30 reais para estacionar por poucos minutos. Pode parecer que lá é uma loja comum mas é uma espécie de clube privê, onde só se entra com convite ou cartão. Não dá para dizer: "ah, vou só dar uma olhadinha, bater vitrine".
3. Mas se eu fosse rico, ricão, ricaço, juro que não iria na Daslu. Ninguém no mundo me convence que existe valor agregado que justifique uma calça jeans custar 1.500 reais ou cobrarem 1000 reais por uma gravata. Logo, não basta ter dinheiro: tem que ter a disposição de entrega-lo em grande quantidade por algo que não vale tanto.
***
4. Mas como as pessoas que freqüentam a Daslu valorizam aquilo! A filha do governador Alkmin é "dasluzete" – como elas chamam vendedoras e recepcionistas. Segundo a coluna "Gente Boa" do Globo, na inauguração a moça ia conduzindo o pai pelos corredores dizendo a todo momento: "Pai, não tá liiiindo?!"
***
5. Curiosamente, ou para marcar as abissais diferenças sociais neste país, exatamente ao lado da Daslu existe uma favela das baitas. No dia em que 250 agentes da Polícia Federal chegaram para invadir o centro de compras dos maganos, uma senhora da favela, ao ver aquela fila de camburões chegarem com sirenes abertas, teria repetido aquela famosa frase de Madre Tereza de Calcutá: "Agora fodeu a porra toda!"
Mas a dona justa não estava interessada nos pés inchados daquele moquifo. Eles estavam atrás dos "pés em calçados de pelica".
***
6. As peruas e deslumbradas garantem que todo aquele luxo da Daslu é absolutamente necessário, que é chique comprar lá. Não sei se vocês sabem a origem do nome "Daslu". A primeira loja foi criada por duas senhoras, uma chamada Lúcia (a "Lu") e a outra de nome Lurdes (também "Lu"). Logo, aquela era a "loja das Lu"... Entenderam? É verdade! Que sorte elas não se chamarem "Custódia", não é?
M.S.

sábado, julho 16, 2005

Minha vida em fotogramas

Relação de melhores filmes é que nem bunda: cada um tem a sua. Pode ser maior ou menor, mas cada um se responsabiliza por ela.
Paulo e Evandro são dois amigos deste blog e visitantes assíduos. Ambos editam o excelente blog Cinelândi@ (http://blogdopaulo.weblogger.terra.com.br), voltado para quem curte cinema e bom texto. O Evandro postou um texto lá em que lista os seus “filmes de cabeceira”. Parece que ele foi “desafiado” por um cinéfilo a relacionar os seus melhores filmes/atores/diretores etc. Daí que além dele enfileirar sua predileções na telinha ainda botou lá uma recomendação para que eu também listasse os meus. Olha só a responsabilidade!
Tudo bem, topei a empreitada. Mas vou logo avisando que estes são filmes que mexeram comigo de alguma forma. Não tenho nenhuma pretensão de apontar os “melhores filmes de todos os tempos” ou coisa que o valha. São os meus filmes/atores/diretores preferidos. Se alguém concorda com a maioria, tudo bem. Se não concorda, tudo bem do mesmo jeito.
Está claro que eu devo ter esquecido de incluir um monte de excelentes filmes, grande atores e diretores, mas...acho que isso faz parte do jogo.
Eu procurei acompanhar as “categorias” que o Evandro levou em conta. E criei algumas outras também. Então...”the nominated are…”


I- MELHORES FILMES DO SÉCULO 21 (DE 2001 PARA CÁ)
(por ordem alfabética)

Abril despedaçado (Brasil/Suíça/França - dir. Walter Salles – 2001)
Adeus, Lênin (Alemanha – dir. Wolfgang Becker – 2003)
Antes do por de sol (EUA – dir. Richard Linklater – 2004)
Batman O começo (EUA – dir. Christopher Nolan – 2005)
Casa de areia (Brasil – dir. Andrucha Waddington – 2005)
Chicago (EUA – dir. Rob Marshall – 2002)
Cidade de Deus (Brasil – dir. Fernando Meireles – 2002)
Deus é brasileiro (Brasil – dir. Cacá Diegues – 2003)
Diário de motocicleta (EUA/Alemanha/Inglaterra/Argentina – dir. Walter Salles – 2004)
Em busca da Terra do Nunca (EUA – dir. Marc Forster – 2004)
A Era do Gelo (EUA – dir. Chris Wedge – 2002)
Fale com Ela (Espanha – dir. Pedro Almodóvar – 2002)
Filme Falado (França/Itália/Portugal – dir. Manuel de Oliveira – 2004)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (EUA – dir. Alfonso Cuarón – 2004)
As invasões bárbaras (Canadá – dir. Dennis Arcand – 2003)
Kinsey – Vamos falar de sexo? (EUA – dir. Bill Condon – 2004)
Mar Adentro (Espanha – dir. Alejandro Amenábar – 2004)
Melinda e Melinda (EUA – dir. Woody Allen – 2004)
Moulin Rouge – Amor em Vermelho (EUA – dir. Baz Luhrmann – 2003)
Narradores de Javé (Brasil – dir. Eliana Caffé – 2003)
O Operário (Espanha – dir. Brad Anderson – 2004)
O outro lado da rua (Brasil – dir. Marcos Bernstein – 2004)
Os outros (EUA – dir. Alajandro Amenábar – 2001)
Quanto vale ou é por quilo? (Brasil – dir. Sérgio Bianchi – 2005)
Quase dois irmãos (Brasil – dir. Lúcia Murat – 2005)
A Queda – As últimas horas de Hitler (Alemanha/Itália – dir. Oliver Hirchbiegel – 2004)
A Paixão de Cristo (EUA – dir. Mel Gibson – 2004)
Procurando Nemo (EUA – dir. Andrew Stanton – 2003)
Shrek (EUA – dir. Andrew Adamson e Vicky Jenson – 2001)
Super Size Me – A dieta do palhaço (EUA – dir. Morgan Spurlock – 2004)


II - FILMES DA MINHA VIDA
(por preferência)

1 – Em Algum Lugar do Passado (EUA – dir. Jeannot Szwarc – 1980)
2 – Amarcord (Itália – dir. Federico Fellini – 1973)
3 – O Sétimo Selo (Suécia – dir. Ingmar Bergman – 1956)
4 – Morangos Silvestres (Suécia – dir. Ingmar Bergman – 1957)
5 – Cantando na Chuva (EUA – dir. Gene Kelly e Stanley Donen – 1952)
6 – Em Busca do Ouro (EUA – dir. Charles Chaplin – 1925)
7 – Tempos Modernos (EUA – dir. Charles Chaplin – 1936)
8 – Blade Runner – o caçador de andróides (EUA – dir. Ridley Scott – 1982)
9 – Encouraçado Potenkim (União Soviética – dir. Sergei Eisenstein – 1925)
10 – Cidadão Kane (EUA – dir. Orson Welles – 1941)
11 – Chuvas de Verão (Brasil – dir. Cacá Diegues – 1977)
12 – Tudo Bem (Brasil – dir. Arnaldo Jabor – 1978)
13 – Psicose (EUA – dir. Alfred Hitchcock – 1960)
14 – Janela Indiscreta (EUA – dir. Alfred Hitchcock – 1954)
15 – O incrível Exército de Brancaleone (Itália – dir. Mario Monicelli – 1965)
16 – Sociedade dos Poetas Mortos (EUA – dir. Peter Weir – 1989)
17 – Limite (Brasil – dir. Mario Peixoto – 1931)
18 – Em Busca da Terra do Nunca (EUA – dir. Marc Forster – 2004)
19 – Faca na Água (Polônia – dir. Roman Polanski – 1962)
20 – Cinema Paradiso (Itália – dir. Giuseppe Tornatore – 1988)
21 - A viagem do Capitão Tornado (Itália – dir. Ettore Scolla – 1991)
22 – A Rosa Púrpura do Cairo (EUA – dir. Woody Allen – 1985)
23 – Encurralado (EUA – dir. Steven Spielberg – 1971)
24 – Topsy Turvy (EUA – dir. Mike Leigh – 1999)
25 – O baile (França/Argélia – dir. Ettore Scolla – 1984)

III – MELHORES ATORES

3.1 – Velha Guarda – com mais de 60 anos (vivos e mortos)

1 – Lawrence Olivier
2 – Charles Chaplin
3 – Vitorio Gassman
4 – Richard Burton
5 – Alec Guiness
6 – Dustin Hoffman
7 – Lima Duarte
8 – Al Pacino
9 – James Stewart
10 – Paulo Gracindo
11 – Robert de Niro
12 – Sean Connery
13 – Jack Nicholson
14 – Marcelo Mastroianni
15 – Peter Sellers

3.2 – Poderosos – com menos de 60 anos
(sem ordem de preferência)

Johnny Depp
Sean Penn
Tom Hanks
José Wilker
Antonio Fagundes
Flavio Bauráqui
Robin Williams


IV – MELHORES ATRIZES

4.1 – Veteranas – com mais de 60 (vivas e mortas)
Fernanda Montenegro
Marilia Pêra
Katarine Hepburn
Bette Davis
Sofia Loren


Poderosas – com menos de 60 anos

Meryl Streep
Cate Blanchett
Holly Hunter
Nicole Kidman
Jullianne Moore
Jodie Foster

V- MELHORES DIRETORES
(sem ordem de preferência)

Federico Fellini
Charles Chaplin
Ingmar Bergman
Alfred Hitchcock
Cacá Diegues
Walter Salles
Mari Peixoto
Ridley Scott
Vittorio de Sica
John Schlensinger
Serge Eisenstein
Pedro Almodóvar
Alejandro Amenábar
François Trufault

VI – MELHOR FILME DE GUERRA
A Queda – As últimas horas de Hitler

VII – MELHORES FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA
1 - Blade Runner – caçador de andróides (disparado)
2 - Alien, o oitavo passageiro
3 - Aliens
4 - O dia em que a Terra parou

VIII – TESOUROS DA JUVENTUDE (incluindo o trash cult)
(sem ordem de preferência)
A Noviça Rebelde
Mary Poppins
Peter Pan
Se o meu fusca falasse
Deu a louca no mundo
Um convidado bem trapalhão
Batman, o Homem-Morcego
Chamam-me Trinity
Santo, o mascarado de prata
Toda a série 007 com Sean Connery e Roger Moore


IX- FILMES QUE NÃO MERECERAM O OSCAR
(por ordem alfabética)
1- Menina de Ouro
2- O paciente inglês
3- Rocky, um lutador
4- Senhor dos Anéis
5- Shakespeare apaixonado

X – TROFÉU “AI, QUE MÊDA!” DE FILMES DE TERROR

No Século 21 (de 2001 para cá)

O grito
O chamado

Em todos os tempos:

Alien, o 8o passageiro
Aliens
Halloween (o primeiro!)
A Hora do Pesadelo (o primeiro!)

XI – TROFÉU ABACAXI (VARIAÇÃO TUPINIQUIM DA “FRAMBOESA DOURADA”)

Pior do ano (até agora)
A Vida Marinha com Steve Zissou

Piores dos últimos dez anos
“Batman e Robin” e “Episódio 1 – A Ameaça Fantasma”

Bem, como diriam os franceses...That’s all, folks! (para quem lembra do Gaguinho, da turma do Pernalonga, aí vai a tradução: P-p-po-po-por enquanto é só, pe-pe-pessoal!)
M.S.

quarta-feira, julho 13, 2005

Minhas frases para o momento

- Eu imaginava que o PT estivesse enchendo o rabo de dinheiro mas isso é ridículo!
- Cem mil dólares enfiados na cueca? Hum, não sei não, mas esse dinheiro não está me cheirando bem...
(desculpe, pessoal, mas não resisti. Este "cuecagate" está excitando a imaginação de todo mundo).
M.S.

terça-feira, julho 12, 2005

Haja cueca!

Deu no jornal:
"Deputado do PFL é preso no aeroporto com 10 milhões em seis malas!"
O cara disse que era "dinheiro do dízimo da igreja".
Aleluia!
Ou, como diria o Pitbicha:
"Cuecão de cou-ro!"
M.S.

Mandou pro pau

O tal "açeçor" do deputado irmão do Genoíno acabou trazendo uma nova variação para a expressão: "marca de batom na cueca não dá para explicar!"
Agora é "dólar na cueca? Ah, me explica que essa eu quero ouvir!"
M.S.

Atendendo a pedidos...

Atendendo a vários pedidos (dois), aí vai mais uma novelinha que eu escrevi em tempos idos para o Rádio. Espero que gostem.
***************************************
O SEDUTOR
Um original de Marco Santos

Personagens: Zé Manduca, Mirinha, Fina, Santinha, Compadre Gervásio, Sô Candelário e Narrador

NARRADOR – Zé Manduca tinha dois grandes prazeres na vida. O prazer da cama e o prazer da mesa. Exatamente nessa ordem. Era o maior sedutor do vilarejo de Espinhaço. Tinha chegado há um mês e já cobiçava e era cobiçado pelas mocinhas donzelas do lugar. Especialmente pelas filhas de Sô Candelário. Ele só deixava de pensar em mulher quando se entregava ao pecado da gula. Quando lhe perguntavam qual o prato preferido ele tinha a resposta na ponta da língua:
ZÉ MANDUCA – Prato grande, de preferência, fundo.
NARRADOR – Mas naquele momento, seu interesse era Ramira, a Mirinha, filha mais velha de Sô Candelário. Moça bem feita de corpo embora de rosto anguloso e imperfeito. Para dizer a verdade, ela era feia que nem o cão chupando manga de aparelho nos dentes. E Zé Manduca se importava com isso? Cercava a moça na saída da missa.
ZÉ MANDUCA – Como vai a senhorita?
MIRINHA – Ri, ri, ri...Como Deus quer, Seu Zé Manduca...Ri, ri, ri...
ZÉ MANDUCA – Seu, não, nosso, Mirinha...
MIRINHA – Ri, ri, ri...
NARRADOR – E com essa conversa de cerca-lourenço, Zé Manduca faturava mais uma...A próxima vítima, quer dizer, conquista, seria a segunda filha de Sô Candelário – Josefina, a Fina. O apelido lhe fazia justiça. Além de ser um diminutivo do seu nome, esclarecia sobre as dimensões de seu corpo. Era magra como se doente fosse. Uma verdadeira tábua de passar roupa, embora tivesse um rosto agradável. Viciada em doces, Zé Manduca foi cercá-la na vendinha do Bebelo.
ZÉ MANDUCA – Um pirolito pelos seus pensamentos...
FINA – Ri, ri, ri...Eu já tenho o meu confeito...E não estou pensando em nada...
ZÉ MANDUCA – Nem em mim, ingrata?
FINA – Ri, ri, ri...
NARRADOR – Mais uma marca na coronha do revólver, quer dizer, ah, vocês me entendem! A mira do artilheiro agora estava voltada para Horácia, a Santinha, a filha caçula de Sô Candelário. Muito carola, os bebuns da bodega do Bebelo duvidavam que ele conseguisse conquistar mais essa virgem. A moça era um tanto gordota, vivia de negro e de véu, sempre com terço e livro de orações na mão. Mas Zé Manduca confiava no próprio taco. Dentro da igreja, durante uma novena, o sedutor rezava contrito: olho no santo, olho na beata. Na primeira oportunidade, escorreu para perto de Santinha.
ZÉ MANDUCA – Acabei de fazer um pedido à São José. Que o meu santo amolecesse o seu coração, que não tem piedade de quem lhe vota amor e respeito.
SANTINHA – O senhor pediu a São José? Amolecer o meu coração?
ZÉ MANDUCA – Quero vê-lo molinho, como broinha de fubá mimoso...
SANTINHA – Ri, ri, ri...
NARRADOR – E o Paraíso perdeu mais uma virgem para aquele demônio de boa lábia. Em pouco tempo, Sô Candelário descobriu que a desgraça tinha feito a perdição de suas filhas. Estava ele se lamentando para o seu compadre Gervásio quando este lhe fez a pergunta de chofre:
GERVÁSIO – Ô compadre! O diabo desse homem vem e faz mal às suas filhas. Na sua família não tem homem não?
SÔ CANDELÁRIO – Tem, compadre Gervásio, mas ele não quer. Ele só quer as mulheres!
M.S.

Há gosto pra tudo. E setembro também

“Gosto não se discute; principalmente com quem não tem”, “gosto não se discute; lamenta-se”. São algumas frases que se ouve quando se está discutindo preferências pessoais.
Quando alguém, por exemplo, veste a camisa do time bacalhoso sebento e sai por aí, alguém pode dizer: “que mau gosto!” (de fato é). Mas alguém poderia achar isto de muito bom gosto e outros ficarem indiferentes. O que é unânime entre as três opiniões é que o fato de alguém sair por aí vestido daquela forma não interfere na vida de ninguém.
Mas quando um indivíduo pára o carro ao lado do seu e de lá saem 240 decibéis de rap ou de hip hop, bem, alguma coisa está esquisita. E quando o seu vizinho te acorda no domingo, às 8 horas da manhã com a Tati Quebra-Barraco estourando as caixas de som, berrando “Dako é bom!” (seu grande sucesso, que fala da famosa marca de geladeira e fogão, e, é claro do duplo sentido), aí ninguém quer saber de gosto pessoal e tem vontade de abrir a janela e mandar o espaçoso “tomar no Dako”. Ou no mínimo, ir lá e dar um “pedala, Robinho!” no pé da orelha do indivíduo. Mas você não faz isso, porque você é educado e civilizado.
Não que um de meus atuais vizinhos me tenha mimoseado com a audição da Sra. Quebra-Barraco. Onde eu morava, antes de vir para a Tijuca, era comum eu ser acordado com o chão tremendo ao som do “pancadão”, como eles chamam. Agora, graças a Deus, não.
Mas, certamente, algum de vocês que me lêem, já tiveram a oportunidade se serem estuprados pelos ouvidos com estas músicas. Atenção: não estou questionando o gosto de quem gosta destas músicas. Estou levantando a seguinte questão: Até onde é gosto pessoal e em que momento vira falta de educação e cidadania?
Por que nosotros temos que servir de descarga para o gosto alheio?
Nestas horas, tento seguir o conselho do compositor Walter Franco:
“Tudo é uma questão de manter
A mente quieta, a espinha ereta
E o coração tranqüilo”.
Mas não é fácil.
M.S.

quarta-feira, julho 06, 2005

Uma reflexão para a reunião do G 8

Começa hoje a reunião de cúpula dos oito países detentores das mais fortes economias no mundo: Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Japão, Itália, Canadá e Rússia.
Muitas coisas estarão sendo decididas por estes "donos do mundo" (pelo menos eles pensam que são), entre elas, questões ligadas ao meio ambiente.
Daqui deste minúsculo blog, envio uma reflexão para eles. As palavras não são minhas. Foram ditas por uma pessoa que não cursou faculdade, não era milionário, nem empresário. Era apenas um nativo norte-americano.
Suas palavras complementam o meu despretensioso conto "Aconteceu no McDonald’s".
Seria bom se os oito chefes de Estado pensassem nestas palavras. Seria ótimo se você também refletisse sobre elas.

"Isto nós sabemos: a Terra não pertence ao Homem. O Homem pertence à Terra. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. O Homem não teceu a Teia da Vida, ele é, meramente, um elo nela. O que quer que ele faça à teia ele faz a ele mesmo".
Chefe Seattle, da tribo Suquamish. Em discurso feito em 1854. (Tradução minha, sujeita às falhas do meu inglês macarrônico)
M.S.

segunda-feira, julho 04, 2005

Aconteceu no McDonald's

Os dois receberam os pedidos e foram sentar na mesa do canto.
- (Olhando para o hamburger em suas mãos, prestes a ser mordido) É muita pretensão nossa...
- (O outro, com a boca cheia de batata frita e coca-cola) Do que é que você está falando?
- A gente acha que o mundo gira ao nosso redor. Que tudo o que existe é para satisfazer ao animal homem.
- Mas o homem é o centro da criação! Está na Bíblia.
- Então tem alguma coisa de errado com a Bíblia. Por que somos o centro da criação?
- Ora, somo os únicos que podem louvar a Deus.
- E quem te disse isso? Só por que construímos catedrais sabemos louvar a Deus? Um pássaro quando constrói o seu ninho para receber sua parceira e dar prosseguimento ao milagre da vida não está louvando a Deus? Uma flor desabrochando, espargindo seu perfume não está, de alguma forma, proclamando aos céus a glória de Deus? Aliás, Jesus já tinha falado sobre isso em um de seus sermões. Até onde eu sei, ele foi o único que falou na Bíblia de outras criaturas na Terra que não o Homem.
- O que é isso rapaz? A Bíblia está cheia de referências a outras criaturas!
- De forma elogiosa assim, não. Olha só os Dez Mandamentos. Algum deles trata das outras criaturas e do meio ambiente?
- Era só o que faltava! Você querer que Moisés fosse um ecologista!...
- Ué... Mas ele não disse que estava trazendo a mensagem de Deus? Deus, sim, é um ecologista. Estou te falando: tem alguma coisa de errado na Bíblia...
- Acho que botaram cocaína demais na sua coca...
- Rapaz, pense! A história do Mundo tem quantos anos? Sei lá, uns 500 milhões de anos. Só a Era Paleozóica tem 545 milhões, segundo os cientistas. E o homo sapiens? Uns míseros 140 mil anos. O surgimento da civilização: uns 4 mil anos antes de Cristo, somando com os dois mil depois de Cristo, significa que temos uns seis mil anos de civilização contra mais de 500 milhões de existência de vida no planeta. E você quer me dizer que somos o centro da criação?
- Ora, o homem fez coisas lindas...
- ...E fez muita merda também...
- ...mas Deus nos fez à sua imagem e semelhança!
- Rá! Quem te disse isso? Moisés? Você há de concordar que a opinião dele é um pouco tendenciosa, né não?... Ah, fala sério! Quer dizer que o Ser Supremo faz o Universo e cinco dias depois, quer dizer, um bilhão de anos depois, resolve fazer o homem à sua semelhança? E que semelhança? De um primata peludo comedor de vermes? Leva a mal, não, mas achar que o Ser Supremo tem a forma humana é um baita exagero!
- Se não tem forma humana tem forma de quê? De golfinho?
- De forma nenhuma que conhecemos, ô mané! Deus, o Ser Supremo está acima da nossa compreensão. Vai por mim: tem coisa errada na Bíblia...
- Mas então, ô inteligente, quem é o centro da criação?
- A criação em si. Nós, os animais, as plantas, os minerais... Nenhum é melhor do que o outro perante Deus.
- E você fala isso com a boca cheia de hambúrguer... Você sabe de que é feita essa carne? Da pobre vaquinha, criatura de Deus! Sabe o que ela come? O capim, outra pobre criatura de Deus... Fala pra vaca que ela não deve comer a grama que eu paro de comer ela...
- Não dá para ser filósofo contigo...
- Dá sim. Me explica dialeticamente como é que basta um final de semana para todos os times cariocas tomarem uma piaba e mostrarem finalmente aos torcedores o que eles devem esperar neste Campeonato Brasileiro!
M.S.

sexta-feira, julho 01, 2005

Deu nO Globo

Briga numa das salas de cinema do UIP do New York Center. Motivo: tinha gente falando alto durante a sessão.
Algo me diz que ainda vem outras confusões por aí sobre este assunto...
M.S.

A pedida é...

“Inconscientes”, filme espanhol, que está no circuito Estação. Muito divertido, muito bem filmado, muito bem representado. É uma comédia de época, passada na Barcelona do início do século 20. Aliás, é incrível ver desfilando na tela os automóveis daquele tempo, todos novinhos, luzidios, como se tivessem saído das fábricas.
Faço duas ressalvas que nada têm a ver com o filme: o crítico de O Globo, Eros Ramos de Almeida, escreveu que “o filme se passa na primeira década do século 20, em 1913”. Pela aritmética básica que D. Hilda, minha primeira professora, me ensinou, “década” são dez anos – de um a dez, de onze a vinte e vai por aí a fora. “1913”, segundo essa matemática elementar, faz parte da SEGUNDA década.
A outra ressalva vai por conta do cartaz do filme. Diz lá que “Em 1913 foi inventado o sutien, as palavras cruzadas, o Titanic afundou...”. Só se foi o “Titanic 2”, porque o famoso naufrágio com o super transatlântico inglês ocorreu em abril de 1912. Está aí o filme do James Cameron que não me deixa mentir.
Apesar destas derrapadas numéricas, o filme é imperdível. Recomendo.
M.S.

quinta-feira, junho 30, 2005

Os abóboras estão vencendo

Deu nO Globo: “Chico Buarque diz que a idiotice está ao nosso redor”. Segundo o grande artista, desde os últimos 20 anos está tudo meio idiota no panorama cotidiano e dá vários exemplos.
Eu concordo como ele. Aliás, quem me conhece sabe que eu venho dizendo há muito tempo que desde os anos 80 estamos vivendo um período de absoluta indigência: cultural, moral, intelectual, política... Só que eu não uso a palavra “idiota”, por ser um pouco forte. Deixo isso para o mestre Chico, que tem cabedal para isso. Prefiro dizer que está tudo ficando “abóbora”. E o que é pior: os abóboras estão vencendo.
Você liga a televisão, abre um jornal ou uma revista, olha ao redor e tem uma sensação de que está em um episódio do “Além da Imaginação”, daqueles que falam de dimensão paralela, invasão de cérebros por organismos alienígenas, uma coisa assim.
Esse pensamento de que vale tudo para se dar bem, essa busca desenfreada a qualquer custo pela “celebridade”, a valorização da futilidade como objetivo de vida. Uma coisa curiosa: eu não acompanho a novela “América”, mas ontem estava com a TV ligada na Globo, esperando começar o “Tela Quente”, quando um personagem (não sei o nome, só sei que é feito pela Daniela Escobar) conversava ao telefone com a Cristiane Torloni, que diz estar deprimida e se queixa do marido. A Escobar diz a pérola de diálogo: “Amiga, casamento não precisa estar maravilhoso. Suas jóias são maravilhosas, seus vestidos de etiqueta são maravilhosos. Marido...é só marido!”
Pois é. A Glória Peres acertou na mosca ao escrever estes diálogos. Este é o pensamento dominante. “Relações pessoais? Caráter? Crescimento individual e espiritual? Bobagem. Nossos bens são maravilhosos, nosso prazer é o que importa. Gente? Ora... é só gente!”
M.S.

terça-feira, junho 28, 2005

Batman - o começo

Quem me conhece mais amiúde sabe que sou um admirador do Batman. Desde 1997, quando comprei o meu primeiro computador, meu login de e-Mail é “batmarco” (já foi “batMengo” também, mas o outro prevaleceu), todos meus carros foram apelidados de “batmóvel”, inclusive o batPálio atual, que é preto ainda por cima... Enfim, aprecio o Morcegão, desde meus tempos de pirralho, quando devorava os gibis do herói criado por Bob Kane.
Na TV, assistia avidamente ao famoso seriado de TV com o Adam “Barriga” West (era comédia, é claro, mas com muitas inovações em termos de linguagem) e vi as reprises do seriado dos anos 40 (aliás, tenho todos os capítulos em VHS).
Quando Tim Burton fez os dois primeiros filmes da grife, nos anos 80, eu detestei. Muita pretensão e pouco conteúdo de Batman. Sem contar que botar o “beetlejuice” Michael Keaton fazendo o Cruzado Embuçado é um absurdo. Vieram os dois filmes seguintes, sob a (ir)responsabilidade do Joel Schumacher. E eu saí do cinema trincando os dentes de raiva, com um archote na mão, querendo a cabeça do Joel fincada em uma estaca! (Alô, moçada! É só uma metáfora, viu!). George Clooney com aquele risinho no canto da boca, fazendo o Batman? E aqueles uniformes com mamilos???? Blasfêmia das blasfêmias!
Na verdade, nunca consegui gostar de nenhum filme de super-herói. Sei que alguns foram “mais ou menos”, como os dois “X-Men” e o “Elektra”, mas foram mais para menos que para mais. Não gostei dos dois “Homem-Aranha” (o segundo é particularmente ruim), lamentei muito pelo “Hulk” e principalmente pelo “Demolidor” (meu segundo herói favorito. Coincidentemente, resgatado do limbo dos quadrinhos pelo mesmo autor: Frank Miller, o cara!).
Bem, todo este baita “nariz de cera” é para falar que assisti ao “Batman Begins”. Fui ver sem muita expectativa, de pé atrás, por conta das decepções anteriores.
O que tenho a dizer? O filme é bom. É muito bom, é excelente!!! Disparado, o melhor filme sobre herói dos quadrinhos feito até hoje. Só não dou nota DEZ por conta de umas derrapadas: a primeira, no nome que escolheram para passar o filme no Brasil. Quem não fala inglês, vai chamar o filme de “Batman Bejins”. Custava chamar de “Batman, o começo”? Ou “Batman Ano 1”, de onde ele claramente se inspira?
A outra derrapada, é pela cena de beijo “the end” que colocaram quase no final do filme. Desnecessário... Entendo que precisavam botar alguma água com açúcar para o público feminino não reclamar. Mas não era preciso. O filme se sustenta, sem beijinho de “Bruce, eu te amo”!
No mais, o filme é maravilhoso! Eu o assisti no Unibanco Arteplex, sala com sistema THX, para ter mais sensação. Deixei passar as primeiras duas semanas para assisti-lo sem adolescente conversando e sem gente chata atendendo a celular perto de mim. Queria vê-lo com toda a concentração possível. Não deu. Tinha uns pentelhos (gente adulta!) com a merda do celular ligado, acendendo luzinha e me desviando a atenção. Que vontade de soltar o Espantalho nelas!
Mas, vamos ao filme.
A história, como disse, foi obviamente inspirada no gibi “Batman, ano 1”, de Frank Miller, quando ele tentou organizar a zorra que fizeram com os quadrinhos do Morcego. Ele já tinha escrito antes a sua obra-prima, “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, na minha opinião a terceira melhor HQ de todos os tempos (sei que é discutível, mas é a minha opinião. Em outro texto aqui no blog eu explico melhor isso e digo quais são as outras duas melhores). Pois é. Estranhamente, não foi dado o crédito como argumentista original para o mestre Frank. Vá lá saber porquê.
Além do “Ano 1”, tem uns toques do “Cavaleiro das Trevas”, também. Quem conhece a obra reconhece facilmente.
A Gotham do filme tem um visual misto de “Metrópolis”, do Fritz Lang, com “Blade Runner”, do Ridley Scott (até a chuvinha no lado miserável da cidade...). O visual sombrio serve de pano de fundo para uma cidade onde os políticos são corruptos, os policiais, vendidos e incompetentes em sua maioria, os capitalistas são gananciosos e está infestada de traficantes de drogas. Como diria mestre Ancelmo Góes, deve ser horrível viver num lugar assim...
O ator que faz o Batman/Bruce, Christian Bale, está muito bem. Ele já tinha me surpreendido em “Psicopata Americano” e mais ainda em “O Operário”, quando ele emagreceu sei lá quantos quilos. Dava pra ver as costelinhas, a saboneteira. O bicho secou. Logo depois ele foi chamado para fazer o Morcego e aí teve de engordar e fazer musculação. O pâncreas dele deve ter ido para o beleléu, mas, tudo pela arte. Ele convence como Bruce e mais ainda como Batman. A alternativa de falar com voz rouca e ameaçadora está adequada e extremamente convincente.
Os demais atores estão muito bem. Morgan Freeman dá o seu show habitual; Rutger Hauer, sólido; Michael Caine me incomodou um pouco no início mas depois mandou bem; Liam Neeson faz uma composição bem interessante do R’as al Ghul, o que não é novidade, pois é ótimo ator, Gary Oldman faz um Gordon bem parecido com o do gibi “Ano 1”, a mocinha (Katie Holmes) que faz a promotora, está adequada: nem muito sem sal, nem bonita demais para roubar a cena. Chamo a atenção para o ator Cillian (pronuncia-se “Kilian”) Murphy, que fez o Dr. Crane/Espantalho. Antes de começar o filme, passou o trailer de um filme chamado “Red Eye” (do Wes Craven!! Valendo o trocadilho, ‘olho nele’ ainda neste ano!) e o cara estava nele (e bem). Ao que parece, é a aposta dos grandes estúdios como ator revelação.
Vale a pena ver a construção da bat-caverna e das bat-bugigangas. Pelo menos eu sempre tive curiosidade quanto a isso.
Meus aplausos calorosos para o diretor Christopher Bale (seria parente do Christian?)! Tiro o meu capuz orelhudo para você! Bob Kane está sorrindo no céu dos autores, te abençoando!
Uma das coisas que mais gostei no filme foi constatar algo que nunca me tinha apercebido. Batman tem um aspecto arquetípico que, além de explicar claramente a razão dele colocar o capuz e sair distribuindo porrada na malandragem, demonstra como ele influenciou outros heróis. Sua relação com os pais, tragicamente interrompida, serve de mote para transformá-lo em herói sombrio. E isto é interessante, pois, como disse, foi repetido em outros heróis criados posteriormente. Quem conhece, sabe que “Demolidor”, “Homem-Aranha”, “Justiceiro”, “Magneto”, “Elektra” entre outros, perderam pais ou entes familiares em condições trágicas, o que os levou a tornarem-se justiceiros vingadores. Meu saudoso professor de Mitologia Grega, Junito Brandão, me respondeu certa vez a uma pergunta dizendo: “Marco, em se tratando de heróis, os arquétipos são iguais em qualquer lugar do mundo”. Como se vê, ele estava certo.
Alguém poderia dizer que o “Super-Homem” também se enquadra neste caso, uma vez que ele perdeu os pais e foi criado anteriomente ao Batman (SH é de 1937, o Morcego é de 1939). Só que o modelo não cabe: o Super perdeu os pais em Kripton e ganhou outros na Terra, que não morreram em condições trágicas. Até onde eu sei, o Batman foi o primeiro criado no citado arquétipo.
O filme tem bons diálogos, com a dose certa de filosofia, psicologia e humor (isso, humor! A do “você não viu o memorando?” é simplesmente dez!). Poderia ter um pouco menos de explosões, sinal de mais uma concessão ao público habitual de filmes de ação. Entretanto, não chega a comprometer. Só são desnecessárias as destruições do templo de R’as al Ghul e da Mansão Wayne.
Aliás, uma das coisas que mais me irrita nos filmes de ação, e nos de super-herói em particular, é fazerem o vilão explodir em milhões de pedacinhos no final. Seria bem mais interessante que o vilão escapasse, ou até que sofresse um acidente em que ficasse em dúvida se ele escapou ou não. Pois este “Batman, o começo” é assim! Um vilão, o “Espantalho”, escapou, e o outro, R’as al Ghul, sofreu um acidente e não ficou claro se ele morreu ou não. Beleza! Bonequinho aplaudindo de pé!
M.S.

quinta-feira, junho 23, 2005

Nós não sabíamos o que era colesterol

Li no jornal que a justiça liberou a venda de petiscos gordurosos nas cantinas dos colégios. Eu nem sabia que estavam proibidos! Que coisa... Lembrei que eu (e todo mundo) me empanturrava de pastel com grapette no colégio, fora jujuba, delicado, pirulito Zorro, caramelo Embaré, mariola, doce de leite e quase não tínhamos obesos na época. Um ou outro, por problema genético, era mais gordinho, e sofria horrores na mão da gente. A lista de apelidos que o fofo recebia era enorme: hipopótamo, rinoceronte, baleia, elefante, o neologismo "hiporrino baleiofante", que era a mistura de todos os animais anteriores, rolha de poço, barril de banha, ton-ton (de tonelada) e vai por aí a fora.
Nós, os muito magros, também éramos mimoseados: filé de borboleta, costela, magriço, saco de osso, caveirinha, pé na cova, ossada da Dana de Teffé (melhor nem explicar quem foi Dana de Teffé...), esqueleto humano etc e bota etc nisso.
Mas por que tínhamos poucos gordos naquela época? Claro, todo mundo sabe a resposta. Porque éramos hiper-super-mega ativos na nossa infância. Ficávamos brincando na rua até dez horas da noite e acredite, ilustre passageiro: NADA ACONTECIA CONOSCO. Muitas mães também ficavam no portão, vendo a gente brincar de garrafão, pique-bandeira, pular carniça e outros quetais.
Hoje não vejo isso. Está certo, tem o problema da violência e estes são, definitivamente, outros tempos. Mas acho reducionista simplesmente atribuir o problema da obesidade das crianças aos tempos brabos em que vivemos. No meu condomínio tem uma área enorme para o lazer da petizada e eu não vejo os garotos a usarem constantemente.
Uma outra teoria? Bem, no meu tempo, em mil novecentos e não vem ao caso, nós fazíamos pipa, comprávamos pião e fieira na venda, fazíamos vaquinha para comprar bola, jogávamos bolas de gude, e especialmente criávamos nossos brinquedos – jogo do finco, futebol de preguinhos, jogo de botão com casca de coco... Tudo isso fazia a gente queimar muita energia.
Atualmente, a garotada não sabe o que é isso e - aí é que mora o perigo - prefere brincar sedentariamente no computador.
Não tem jeito: se não queimar energia, vai engordar mesmo!
Eu não entendo como um garoto prefere ficar dando tiros no Godzilla a jogar búrica.
Recebi uma mensagem pela internet com o título "Como conseguimos sobreviver?". Falava de coisas que a minha geração desfrutou, como andar no banco de trás do carro sem cinto e fazendo bagunça, subir em árvore, correr em carrinho de rolimã etc. Até o Paulo Coelho escreveu sobre isso na coluna dele, nO Globo.
Eu proporia uma mudança no título daquela mensagem: "Como essa nova geração conseguirá sobreviver?"
M.S.

quarta-feira, junho 15, 2005

Pelas ondas do Rádio (quem sabe um dia?...)

Quem me conhece sabe que eu morro de amores pelos antigos tempos do Rádio. Atuei em uma peça chamada "Na Era do Rádio" e fui um dos pesquisadores que reuniram material para escrever o roteiro. Por conta disto, montei um banco de dados e virei "especialista" sobre a época de ouro daquela caixinha mágica. Há cerca de uns três anos, me convidaram para gravar, como ator, capítulos de radionovela em uma emissora comunitária. Fui, é claro. E com os olhos brilhando.
No início, fazíamos e gravávamos adaptações de contos de Arthur Azevedo. Depois, acabamos nós, alguns dos atores, criando estórias originais em forma de capítulos de novela. Eu mesmo escrevi dezenas deles.
Infelizmente, o projeto acabou. Eu lamentei muito o fim das gravações. Pelo menos, sei que as gravações estão lá, guardadas.
No outro dia, escarafunchando uns arquivos velhos do meu computador, achei os capítulos que escrevi. Eu os reli e acho que passaram pelo crivo do tempo (um dos melhores controles de qualidade de textos que existe). Quem sabe, um dia, eu não consiga regrava-los como radionovelas em outro lugar.
Resolvi colocar alguns aqui no blog. Experimentalmente, vou colocar dois. Se vocês que me visitam tiverem interesse, eu coloco outros. Combinado? É só clicar em "coments" e dizer se eu "vou para o trono" ou se mereço o "troféu abacaxi" como escritor de radionovelas.
ANJOS NO INFERNO
Um original de Marco Santos
Personagens: Maria da Consolação, Maria das Dôres e Narrador.
NARRADOR – As duas irmãs, Maria da Consolação e Maria das Dores chegaram juntas à casa do pai. Por sobre a cabeça de uma, o xale negro de viúva. No coração da outra, o veneno da infelicidade.
MARIA DA CONSOLAÇÃO (MC) – Pai, esta sua filha é só infelicidade. Morreu a luz da minha vida, aquele que dava o meu sustento e do meu filho. Ai de mim! Ai de mim!
MARIA DAS DÔRES (MD) – Paizinho, eu não agüento mais o Dalvan. Minha vida é uma chaga só. Os sete infernos não se comparam com a minha casa se é que se pode chamar aquilo de casa.
MC – Pai, como eu amava aquele homem, como ele era bom para mim. Era só eu suspirar de desejo por alguma coisa e ele atendia. Todo dia trazia da rua sonho quentinho, embrulhado com barbante fino e me dizia: "pro meu doce".
MD – Meus olhos estão secos de tanto chorar. Quando ele chega, vindo da roça ou vindo do bar, cisma que eu quero matar ele. Aí meu lombo é que sofre. Eu apanho sem nem saber porquê. Eu peço a ele de joelho que me poupe. Sabe o que ele diz? "Você é o meu encosto!"
MC – O que é que eu faço com os meus desejos de mulher, meu pai? O meu homem me deixava na porta do paraíso com aquele jeito manso de tocar no meu corpo. E ele nunca se cansava. Era todo o dia, todo o dia. Depois de me saciar ele me dizia baixinho: "tem agrado pra você". E sabe o que era? Corria para o bolso do paletó e encontrava lá jóia folheada, pacote de bala azedinha, tudo o que eu mais gostava.
MD – Ultimamente nem me procurar mais ele me procura. Diz que tem outra pra servir ele. Vira pro lado e dorme e eu que me vire pro outro sem gemido. Ele me acorda pela manhã com sopapão, me pegando pelos cabelos. "Sua porca, o que que você faz em casa que não limpa nem isso?" Pai, eu tenho que limpar o penico dele?
MC – Pai, me dê a sua bênça. Eu volto pro meu canto, pro meu lar onde o corvo da morte pousou. Não quero mais saber de homem. Nem do Seu Quinzinho da quitanda, que pega na minha mão e me olha com aquele olho de cachorro pidão. Ele diz que compreende o meu sofrimento, que quer me dar outra chance de ser feliz. Não quero nem saber...Nem olho quando ele encosta a minha mão nas coisas dele...E quando ele roça a barba no meu cangote e me chama de mulher cheirosa eu nem ouço. Ele quer ir lá em casa de noite, bem de noitinha...Eu digo que ele pode ir se quiser...Até deixo a porta da rua encostada. Mas não esqueço o meu falecido!
MD – Vou indo, meu pai. Me dê a sua bença. Está na hora daquele traste chegar. Meu feijão está no fogo e tenho que cuidar da casa. Tão exigente! Só quer comer o feijão se o alho for bem queimado antes. Vou me lavar com sabão cheiroso. Quem sabe ele hoje me quer...
(Fim)
AS PARALELAS SE ENCONTRAM NO INFINITO
Original de Marco Santos
Personagens: Homem, Mulher e Narrador
NARRADOR - Esta é uma história sobre um homem e uma mulher. Uma história que pode ter acontecido há algum tempo...ou poderá acontecer daqui a segundos, minutos ou anos.
HOMEM - Você vai embora, mesmo?
MULHER – Hum-hum...
H - E se eu...e se eu...
M - ...me pedir para ficar? É isso? Você ousaria tanto?
(Pequena pausa)
M - O medo é a mais fiel de suas qualidades.
H - Não é medo. Eu não tenho medo de nada.
M - Talvez só de você mesmo.
H - Eu quero que você fique.
M - Ora, viva! Até que enfim eu sei de alguma coisa que você quer!
H - Olha, por que é que você não vai pra...
M (INTERROMPENDO) - Mas eu já estou indo!
H - Não, não é isso...Eu não quis dizer...Ah, você me deixa nervoso!
M - Eu sei exatamente como você está se sentindo.
H - A ironia é como uma lâmina. Quem a usa demais acaba se cortando.
(Pequena pausa)
H - Você vai devolver o livro do Neruda que nunca leu e ficar com o disco do Pixinguinha, sim?
M - Foi assim que a gente começou. Nossas vidas não estão nas letras das músicas. (CANTANDO) "O nosso amor a gente inventa...", não é assim? Não, não é assim.
H - A sensação que eu tenho é que a minha escravidão começa onde termina a sua liberdade. Não se trata de saber quando ou por que eu te perdi. Mesmo porque a dor da perda não se agrava ou se atenua com explicações.
M - Não estou te fazendo um mal...Talvez até seja um bem, no fim das contas...
H - Não! Por favor...Não cometa o absurdo de se justificar nestes termos!
M - Eu não estou me justificando. Você também não precisa fazer esse drama todo.
H - Uma comédia de costumes ficaria melhor?
M - (PAUSA) Bem, eu já vou. Se eu esqueci alguma coisa, você guarda pra mim.
H - Agora começa a pior parte, não é? Sempre que me acontece alguma coisa assim eu espero o último minuto para acordar e respirar aliviado, sabendo que foi um sonho.
M - Então não acorde.
H - Eu só quis ser legal pra você.
M - Mais cedo ou mais tarde, as pessoas boas e honestas sempre recebem o justo castigo.
(PEQUENA PAUSA)
M - Você me ajuda a chamar um taxi?
H - (PAUSA) Claro.
NARRADOR: ...E no princípio era o Caos. De algum lugar, partiram dois pontos se deslocando no espaço...E em um segmento daquele universo, seus olhos se cruzaram e aquele olhar contava da vida de cada um...tudo o que tinham visto, ouvido, sentido naquela vastidão. E perceberam que se amavam... Mas como eram retas paralelas, estavam condenados a se encontrarem somente no infinito. (Fim)
(M.S.)

terça-feira, junho 14, 2005

Sr. e Sra. Bag

Noite de sábado. Cinemark, Botafogo Praia Shopping. Na tela, o filme-pipoca "Sr. e Sra. Smith" e as tiradas cínicas do casal Brad Pitt e Angelina Jolie. Na platéia, um outro casal, nada cínico, muito inconveniente. Ela atende ao celular, uma, duas, três vezes, só para dizer "não posso falar agora, estou no cinema, tchau." Às vezes ela liga para alguém e diz que não pode falar alto porque está no cinema, diz alguma outra bobagem e desliga. Aí pergunta para ele o que aconteceu e porque estão todos rindo. O rapaz explica, sem baixar muito a voz. Ele também tem celular mas quando toca ele passa para a moça, que sempre atende.
O carinha não fala no celular, ele prefere comentar as cenas do filme em alto e bom som. Algumas vezes ele tenta advinhar o que vai acontecer: "Ih, ele vai ser pêgo!", "Ó, o vizinho vai chegar!"...
Todos em volta do casal só tem um pensamento: "Por que uma dessas milhares de balas perdidas detonadas no filme não acerta na testa deste par de baús sem alça e sem rodinha"?
M.S.

terça-feira, junho 07, 2005

Quando Jornalismo é História e vice-versa

Falar AINDA no caso "Garganta Profunda" quando o Roberto "Boca de Lixo" Jefferson está detonando o governo(?) Lula é como falar na queda de Constantinopla em plena invasão do Iraque. Mas, de certo modo, vai realçar ainda mais o que quero mostrar.
Na semana passada (embora, com os últimos acontecimentos, parece ter sido no ano passado...), os jornais de todo o mundo foram inundados com a carinha risonha de "bom velhinho" do W. Mark Felt, ex-segundo diretor do FBI, revelando ser ele a famosa fonte oculta do caso Watergate. Os jornalistas Woodward e Bernstein, do Washington Post, que ajudaram a derrubar o presidente Nixon, em 1974, não revelaram durante todo este tempo a identidade da fonte que eles apelidaram de "Deep Throat" ("Garganta Profunda", nome de um filme de altas saliências daquela época. Na verdade, um outro tipo de sacanagem, diferente da promovida pelo Poder...).
Pois bem. O assunto vem à tona quase trinta anos depois de acontecido. E eu pergunto: tratar disso hoje é "jornalístico" ou já virou História?
Mas o que divide o histórico do jornalístico? Não será muito tênue a linha que medeia os dois campos? Escrevo isto com um inegável sorriso afivelado nos lábios, uma vez que sou jornalista e estudioso de História.
Eu acredito firmemente que a investigação jornalística é de extrema ajuda para a pesquisa histórica e o método historiográfico é valioso para o jornalismo. A idéia de atualidade de uma notícia é relativizada pelo interesse que ela pode ainda despertar, na sua capacidade de afetar indivíduos e categorias sociais, profissionais. Afinal de contas, o que acontece hoje é decorrência do que aconteceu ontem. E se "aconteceu, virou manchete", como dizia o slogan daquela antiga revista.
De tanto militar nas duas frentes, sei que existe uma ponte entre os dois campos e não estou sozinho neste pensamento. O ilustre sábio José Murilo de Carvalho já escreveu sobre o tema.
Vemos cada vez mais o jornalista buscar o passado não só para expressar suas opiniões mas também para comparar com o fato presente e informar melhor. Só nisso, já se estabelece uma ponte entre a História e o Jornalismo. Por conta disto, a objetividade dos jornalistas faria muito bem a historiadores, assim como a seriedade e profundidade destes seriam fundamentais para os primeiros.
Tudo o que acontece ao nosso redor tem uma visão jornalística (se for notícia, é claro) como também pode ter uma contextualização histórica. Veja, por exemplo, a crise política que se instaurou no governo atual. Todo esse excremento que o "parceiro" do PTB está lançando aos ventiladores de Brasília merece e deve ser tratado pela Imprensa e pela História. E também pela polícia, mas isso é uma outra história.
M.S.

Eu só queria entender...

Um perguntinha básica: Por que um filme sensível, inteligente, bem filmado, bem representado, que deixa a gente pensando quando sai do cinema como "Filme Falado", de Manoel de Oliveira, está em apenas uma sala, sendo tão pouco comentado e um filme que não acrescenta nada a ninguém como "Star Wars – Episódio III", de George Lucas, está em trocentas salas, teve milhares de minutos/páginas de espaço na mídia?
De qualquer forma, fica aqui a dica: se você gosta de História, de uma boa história, de diálogos interessantes vá ver "Filme Falado". Se você gosta de efeitos especiais, explosões pirotécnicas e não é muito exigente com desempenho de atores vá assistir a "Star Wars – Episódio III". Mas se você gosta de cinema, vá ver os dois.
M.S.

segunda-feira, junho 06, 2005

(No tempo da) Cidade Maravilhosa

Já que falamos no bairro de Botafogo, no hall de entrada do Unibanco Arteplex tem uma mostra de fotos antigas do bairro, incluindo panorâmicasda enseada, com o Pão de Açúcar ao fundo, ainda sem o bondinho. Vendo aquelas fotos, nossa! como o Rio já foi realmente bonito! A gente vê nas fotos uma cidade veramente maravilhosa, limpa, arrumada, organizada. Bem, no início do Século 20 o Rio era governado por gente da envergadura de um Pereira Passos, e não pelo "Trio Calafrio" (mentiRosinha, AnthonyBolinha e César Mala). E isso faz toda a diferença...
M.S.

Passagem para o prazer

O Miguel Falabella costuma dizer que "Botafogo não é bairro; é passagem". Pois está virando um ótimo bairro, como referência cultural. Atualmente, averdadeira Cinelândia é lá, pela grande concentração de cinemas: 22 - destaque para o Unibanco Arteplex. Tirando os três do Rio-Sul, todos os outros estão próximos, o que significa dizer que a distância entre eles pode ser percorrida a pé. Uma grande vantagem na hora de decidir o que assistir. A Barra da Tijuca ainda tem mais salas - 41 telas, todas em Shoppings. Entretanto, de um cinema para outro, só de automóvel. E Botafogo não oferece apenas cinemas. Tem ótimos restaurantes - só para dar uma idéia, lá foi criado o "Bota na mesa", polo gastronômico com 23 restaurantes associados. Tem ainda três teatros. O Poeira, das atrizes Andrea Beltrão e Marieta Severo, na Rua São João Batista (inaugura em breve); a sede da Cia. de Teatro Contemporâneo, do nosso querido DinhoValladares, ali na Conde de Irajá; e o Espaço Café Cultural, na SãoClemente. Sem contar o Canecão, onde acontece algumas peças no estilo grande produção.
Para quem quer dar um mergulho no passado ou simplesmente sentar debaixo deuma árvore e ler um livro em paz, acompanhado pelo canto de pássaros, é só dar uma chegadinha na Casa de Ruy Barbosa, na São Clemente.Gosta de um pão quentinho e no capricho?
Visite a Golden Bread (o nome é cafona mas tem pães maravilhosos!), também na São Clemente, próximo à Casade Ruy.
Claro, Botafogo não é um bairro perfeito. Tem um trânsito infernal nas três grandes avenidas - São Clemente, Voluntários da Pátria e Mena Barreto. Lá também está a sede do canil alvinegro, aquele time de futebol que leva o nome do simpático bairro. Se você tem bom gosto, não vai nem olhar para aquela casa amarelo-mijo, próxima ao Canecão. Apesar destas desditas, Botafogo não é só passagem. No mínimo, podemos dizer que é uma passagem para o prazer.
M.S.

sexta-feira, junho 03, 2005

Dicas para a telona

Tela quente: O filme “Quanto vale ou é por quilo?” é uma grande pedida. Dirigido por Sergio Bianchi, o filme trata das mamatas envolvendo as ONG e as empresas “dedicadas” à benemerência. Um dado curioso no filme é a correlação entre casos reais ocorridos no tempo do Brasil Colônia (e documentados no Arquivo Nacional, pesquisados por Nireu Cavalcanti) e os dias atuais.

Tela fria: Fuja do filme “A vida marinha com Steve Zissou”. Uma verdadeira bomba. É de se admirar como um super elenco como aquele se dispôs a filmar aquela bobagem.
M.S.

sexta-feira, maio 27, 2005

Estatística do c(@#$%&*)aralho

Este é um texto da série: "quem não tem o que fazer só pensa m(@#$%&*)erda!.
Estava eu outro dia pensando no falecimento da fêmea jovem do gado bovino quando me ocorreu uma idéia de jerico: Até que ponto os palavrões viraram coisa banal?
Há coisa de uns vinte, trinta anos – ou seja, há uma geração atrás – os meios de comunicação não poderiam sequer pensar em divulgar uma "palavra de baixo calão, ofensiva à moral e aos bons costumes". O jornal O Pasquim, por exemplo, foi processado, em 1975, com base na Lei de Segurança Nacional, por ter feito um cartum onde se lia "Porrada’s Bar". Não demorou muito e esta palavra sequer passou a ser considerada palavrão. Não me admiraria se a Fátima Bernardes dissesse no Jornal Nacional que a taxa de juros já "aumentou uma porrada de vezes neste ano".
Ao tempo dos "Mamonas Assassinas", víamos criancinhas cheirando a leite cantar bobagens como o "sabão Crá-Crá que não deixa os cabelos do saco enrolar". E nenhuma freira carmelita se enrubescia de ouvir tal coisa.
Ou seja: até certo ponto, o palavrão ficou mesmo banal. Já não choca como antes. Não sei se é bom, se é mau. Nem cogito de entrar neste mérito. De vez em quando, eu mesmo solto os meus, que me escapam como perdigotos faiscantes.
Mas não vamos digressionar. Até que ponto o palavrão se banalizou nos meios de comunicação? Quis verificar na Internet, por exemplo. Escolhi oito expressões consensualmente consideradas como de baixo calão. Fui ao Google e escrevi cada uma delas, anotando em quantos "saites" apareciam. O resultado desta estatística não deixa de surpreender.
A expressão que menos aparece é uma das mais utilizadas no nosso cotidiano: "vá para a puta que o pariu", com 31 menções. As variações "vá para a puta que pariu" (19 vezes) e "vai para a puta que pariu" (4 vezes) tiveram menos aparições ainda. Não é fantástico isso? Em qualquer discussão hoje em dia, uma das primeiras recomendações que um dos contendores faz ao outro é recomendá-lo para a senhora de vida airada que o pôs no mundo. Mas na Internet, como se vê, não faz muito sucesso.
Uma outra surpresa acontece com o tradicionalíssimo "vá se foder", com míseras 633 inserções. Tá certo, temos que ver outras variações. Daí pesquisei o "vai se foder" (968 vezes) e os "vá se fuder" (794 vezes) e "vai se fuder" (8.060 vezes). Somando tudo, dá um total de 10.455 menções. Mas eu ainda acho muito pouco! É um xingamento muito mais rápido do que o "vá para a puta que o pariu" – hoje em dia as pessoas preferem palavras e expressões menores – de disparo rápido e só aparece com insignificantes dez mil e pouco aparições em páginas da Internet? Convenhamos: é pouco. Vale destacar, também, que a forma incorreta "fuder" prevalece sobre a certa "foder". Provavelmente porque os usuários da primeira forma sabem que a palavra vem do latim "futere" e aí fazem a grafia com "u".
Outra quebra de expectativa veio com o famosíssimo "vá a merda": só 744 aparições. A variação "vai a merda" teve número parecido – 796. Ora, uma expressão que até os evangélicos utilizam só aparecer 1540 vezes (somando as duas variações) é uma decepção!
Querem saber de outro fraco desempenho? O "vai tomar no cu" chegou somente a 4.650 aparições! Na variação "vá tomar no cu", somente ridículas 272 menções. Uma decepção do tamanho daquela de Brasil x Itália, em 1982, não é mesmo? Uma das expressões mais redondas (tudo bem, vale o trocadilho) da língua portuguesa e tão poucos a inscrevem em suas páginas da Internet.
Outra que não faz o menor sucesso é o "seu veado", com ínfimas 210 inserções. Está certo, as pessoas "preferem" grafar com "i". Daí o "seu viado" ter um desempenho um pouco melhor: 907. Mas qualquer um há de convir que ainda é pífio! Hoje em dia, em qualquer berçário, qualquer creche, se ouve um "sai daí, seu veado!" e na Internet só aparece tão poucas vezes?
Uma expressão que tem o intuito de encerrar qualquer discussão, desconstruindo qualquer argumento que o outro venha a estabelecer aparece menos de mil vezes, vejam vocês! O famoso "é o caralho!" só está em 876 páginas. Talvez porque na forma escrita não tenha a mesma força da versão falada, no calor de uma discussão. É, vai ver que é isso...
As duas expressões campeãs de utilização não constituem surpresa: "filho da puta", com 43 mil aparições e a campeoníssima "foda-se", com 102 mil.
Acreditem: eu já imaginava que ia dar "foda-se" na cabeça. Ninguém resiste ao "foda-se". Seja na dúvida cruel, no momento de fúria, na tomada de decisão, no fim de uma discussão, nada é melhor que um bom "foda-se".
Bem, é isso. Sim, o palavrão virou banal tanmbém na Internet, mas não tanto quanto se imaginava. Mesmo assim, jovens, velhos, crianças, homens, mulheres, todos se utilizam deste incrível relaxante e distensionador recurso.
Você não concorda? Bem, lá vamos então para o 102 mil e um...
M.S.

segunda-feira, maio 23, 2005

Pais e Filhos

No outro dia, estava na casa de meu "amiguirmão" Luiz, quando ele me mostrou um site na Internet onde mulheres, em tempo real, tiravam a roupa e atendiam aos pedidos ou respondiam a perguntas que pessoas conectadas faziam, também em tempo real.
Se o computador dele tivesse o equipamento necessário para a comunicação, eu faria as seguintes perguntas às moçoilas: "vocês não têm vergonha, não? Seus pais sabem que vocês estão fazendo isso?"
Provavelmente, elas iriam me ridicularizar em tempo real. E os milhares de internautas voyeurs que acompanhavam aquele "Peep show" digital também ririam de mim.
Corta para outro dia, dentro de um ônibus para o Centro do Rio.
Na minha frente, duas senhoras conversavam, em tom suficientemente alto para que eu não me sentisse um enxerido (se bem que, como escreveu Dalton Trevisan, uma de minhas referências em literatura, "todo escritor é um vampiro de almas, sempre atento, ouvindo conversas alheias em busca de uma nova história").
Uma dizia para a outra que estava preocupada com o filho, que estava andando em más companhias, que ela tinha medo dele se envolver com coisas ilegais etc. O tom de voz dela revelava a sua real preocupação com o filho.
Tanto a história do site de saliência virtual quanto a conversa da mãe preocupada me trouxeram reflexões. Surgiu em minha mente uma música do Queen: "Bohemian Rhapsody". Na letra desta canção – eleita como uma das melhores de todos os tempos por ouvintes de FM - um rapaz está perto de morrer e diz para a mãe que matou um homem. Ele não revela arrependimento, embora diga que "não foi minha intenção fazê-la chorar". (Abaixo deste texto colocarei a letra completa e a minha tradução com possíveis erros).
Até que ponto os filhos que fazem seus pais chorarem não tiveram esta intenção? Eles podem não querer entristece-los mas o fazem. E pelo menos no momento em que o fazem, não se importam de causar sofrimento ao pai ou a mãe. Não estou generalizando, é claro. Falo de modo geral.
Em todas as religiões que conheço existe um mandamento ou uma advertência para filhos não desonrarem os pais. No nosso mundo judaico-cristã, está lá o quarto mandamento: "Honrarás pai e mãe". No Islã também há o preceito de respeito aos pais, assim como nas demais religiões, tanto ocidentais quanto orientais. Mesmo assim, não é raro filhos de todas as religiões causarem sofrimento a quem lhes pôs no mundo. E partindo do pressuposto de que Deus é o Pai de todos, fico imaginando quanto desgosto não Lhe trazemos a cada dia.
Tempos difíceis, estes. Tempos de olhos molhados. Olhos de pais e de filhos. E as lágrimas de filhos que fazem chorar seus pais são bem mais amargas, talvez porque venham revestidas de remorso ou de uma sensação de, como diz na letra de Freddie Mercury: "Nada realmente importa. Qualquer um pode ver. Nada realmente importa". Mas eu creio que importa, sim.
M.S.

Rapsódia boêmia (Bohemian Rhapsody)

Letra e música de Freddie Mercury
Certa vez, li que muitos jovens consideram esta música "como a história de suas vidas". Creio que isto reforça o que escrevi acima...

Is this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landslide
No escape from reality
Open your eyes
Look up to the skies and see
I'm just a poor boy, I need no sympathy
Because I'm easy come, easy go
A little high, little low
Anyway the wind blows, doesn't really matter to me, to me

(Isto é a vida real?
Isto á apenas fantasia?
Preso em um desmoronamento
Sem escapar da realidade
Abra os seus olhos
Olhe para o céu e veja
Eu sou apenas um pobre rapaz, que não precisa de nenhuma simpatia
Porque fácil venho, fácil vou
Um pouco animado, um pouco deprimido
De qualquer forma, o vento sopra mas isso não importa para mim, para mim...)

Mama, just killed a man
Put a gun against his head
Pulled my trigger, now he's dead
Mama, life had just begun
But now I've gone and thrown it all away
Mama, ooo
Didn't mean to make you cry
If I'm not back again this time tomorrow
Carry on, carry on, as if nothing really matters.

(Mãe, matei um homem
Pus uma arma contra a sua cabeça
Puxei o gatilho, agora ele está morto
Mãe, mal a vida começou
Mas agora estou perdido, joguei tudo fora
Mãe, uhuhuh
Não quis fazer você chorar
Se eu não voltar novamente amanhã
Prossiga, prossiga como se nada tivesse importância).

Too late, my time has come
Sends shivers down my spine
Body's aching all the time
Goodbye everybody - I've got to go
Gotta leave you all behind and face the truth
Mama, ooo - (anyway the wind blows)
I don't want to die
I sometimes wish I'd never been born at all.

(Tarde demais, meu tempo acabou
Sinto arrepios na espinha
Meu corpo dói o tempo todo
Adeus a todos – Eu tenho de ir
Vou deixá-los e encarar a verdade
Mãe, uhuhuh – (de qualquer modo, o vento sopra)
Eu não quero morrer
Às vezes eu desejo nunca ter nascido.)

I see a little silhouette of a man
Scaramouch, scaramouch will you do the fandango
Thunderbolt and lightning - very very frightening me
Gallileo, Gallileo,
Gallileo, Gallileo,
Gallileo Figaro – magnifico.

(Eu vejo uma pequena silhueta de um homem
Scaramouche, Scaramouche, você fará o palhaço
Trovões e raios – realmente me assustam
Galileu, Galileu
Galileu Figaro – magnífico).

But I'm just a poor boy and nobody loves me
He's just a poor boy from a poor family
Spare him his life from this monstrosity
Easy come easy go - will you let me go
Bismillah! No - we will not let you go - let him go
Bismillah! We will not let you go - let him go
Bismillah! We will not let you go - let me go
Will not let you go - let me go (never)
Never let you go - let me go
Never let me go – ooo
No, no, no, no, no, no, no –
Oh mama mia, mama mia, mama mia let me go
Beelzebub has a devil put aside for me
for me
for me.

(Mas eu sou só um pobre rapaz e ninguém me ama
Ele é só um pobre rapaz de uma pobre família
Poupe sua vida desta monstruosidade
Fácil vem, fácil vai – vão me deixar ir?
Bismillah! Não - nós não o deixaremos ir –Deixe-o ir
Bismillah! Nós não o deixaremos ir - deixe-o ir
Bismillah! Nós não o deixaremos ir - deixe-me ir
Não o deixe ir - deixe-me ir (nunca)
Nunca deixe-o ir - deixe-me ir
Nunca deixe-me ir – ooo
Não, não, não, não, não, não, não –
Oh mamma mia, mamma mia, mamma mia deixe-me ir
Belzebu tem um demônio reservado para mim?
Para mim?
Para mim?).

So you think you can stone me and spit in my eye
So you think you can love me and leave me to die
Oh baby - can't do this to me baby
Just gotta get out - just gotta get right outta here
(Então você acha que pode me apedrejar e cuspir em meu olho?
Então você acha que pode me amar e me deixar morrer?
Oh baby – você não pode me fazer isso, baby
Agora saia – saia daqui imediatamente).

Ooh yeah, ooh yeah
Nothing really matters
Anyone can see
Nothing really matters - nothing really matters to me

(Oh, sim, oh, sim
Nada importa de fato
Qualquer um pode ver)

Anyway the wind blows...

(De qualquer modo, o vento sopra...)

N.T. "Scaramouche" é um personagem da Commedia dell’arte, uma espécie de bufão.
"Bismillah" em árabe significa "em nome de Alá".
M.S.

sexta-feira, maio 13, 2005

O homem e o monstro

Ultimamente, temos estado bem servidos de bons filmes. Já recomendei aqui o "Quase dois irmãos", o "Kinsey – vamos falar de sexo" e agora trago para vocês o meu ponto de vista sobre o filme "A Queda! Os últimos dias de Hitler". Absolutamente imperdível!
Ele trata, como diz o próprio título, dos momentos finais vividos pelo fuhrer Adolf Hitler em seu bunker. O ator que interpreta o ditador alemão tem um desempenho magistral (Bruno Ganz é o nome dele). Os demais atores também estão fantásticos. Houve quem acusasse o filme de "humanizar" Hitler. Pois isto é uma das melhores coisas que o filme apresenta: mostra que por trás daquele monstro tinha um homem. O que ele fez, outros homens poderiam fazer também, se tivessem chance e poder para isso.
Achei fantástico o depoimento de uma alemã que trabalhou para Hitler e viveu com ele aqueles dias de derrocada. Ela não se exime de culpa, embora não tivesse matado ninguém e sequer soubesse que judeus estavam morrendo feito moscas nos campos de concentração.
Nenhum de nós é inocente sobre atos dos governos que nós mesmo apoiamos/instalamos.
Não deixem de ver!
M.S.

Reabrindo a Caixa de Pandora

Quem me dá o prazer e a honra de ler minhas mal tecladas linhas, aqui neste modesto blog, tem visto a minha, digamos, admiração pela revolução nos costumes, acontecidas nos seriados americanos. Já escrevi aqui a minha surpresa em assistir às séries modernas e ver temas, linguajar inimagináveis nos anos 60/70.
Pois é. Quando eu assisti ao ótimo filme "Kinsey – vamos falar de sexo", atualmente em cartaz, senti que a minha ficha tinha caído. Ou que o cartão tinha sido creditado.
O filme é uma biografia romanceada do professor Kinsey, autor do célebre "Relatório Kinsey", realizado nos anos 40/50, nos EUA, a respeito da sexualidade de homens e mulheres americanos.
Com pesquisa rigorosamente metodológica, como a ciência faz questão, ele entrevistou milhares de homens e mulheres, fazendo trocentas perguntas sobre assuntos de natureza sexual de cada um. Coisa pouca, assim como "você se masturba? Com que freqüência? Quando começou? Em que posições você e sua parceira costumam fazer sexo?" E vai por aí a fora.
As respostas? Bem, tinha de tudo, mas de TUDO mesmo! Desde "inocentes" (poucos e poucas), daquelas que achavam que beijo na boca podia engravidar, até pessoas com fantasias e práticas absolutamente incomuns (muitos), para se usar um termo brando. E ainda perguntavam depois: "Eu sou normal, doutor?"
Ou seja: a cabeça do norte-americano dos repressivos anos 40/50 já era altamente promíscua. A forte repressão da época, aliada ao comportamento protestante anglo-saxão, impedia que a devassidão saísse das cabeças e dos quartos das pessoas. Aqueles tempos de forte intolerância, de código para isso e para aquilo, só permitiam manifestações culturais que de forma alguma expressassem o permitido. Nada de insinuações, de comportamentos considerados inadequados...
Com os libertários anos 60, a fortaleza puritana começou a ruir. E no fudevu de caçarolê instaurado a partir dos anos 80, não dava mais para segurar a moçada. O que era secreto virou público. A sacanagem estava liberada. Já podia ir para os seriados, para os filmes, que, curiosamente, passaram a ser mais violentos que antes. Hoje, não basta o vilão morrer por um tiro ou ir para a cadeia como iam os vilões dos filmes do Hitchcock. O bandido agora tem que morrer despedaçado, explodido em mil pedacinhos, para delírio da platéia!
Daí, que os seriados "comportadinhos" de 40, 50 anos atrás não cabem mais hoje. Soltaram a besta-fera. A Caixa de Pandora foi reaberta e estava na cabeça das pessoas!
É interessante que desenvolvi todo este raciocínio a partir do filme "Kinsey".
Eu sugiro a você que me lê assisti-lo também e depois tirar suas próprias conclusões. Ou a concordar comigo...
M.S.

Já está pra lá de Marrakesh...

Em 1902, quando foi nomeado prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos estava decidido a realizar transformações na cidade. Além de literalmente botar abaixo casarões e cortiços infectos, ele queria acabar com o aspecto de "mercado persa" que a então capital do Brasil ostentava. A bagunça era tanta que fazia com a Cidade deixasse de ser Maravilhosa, conforme batizara Coelho Neto.
Nos quiosques, vendia-se carnes, especialmente vísceras de animais, exibidas sem um mínimo de higiene. Vendilhões cruzavam a cidade, mascateando de tudo o que se possa imaginar: roupas, comidas prontas, vassouras... O leiteiro da época atravessava o centro da cidade de ponta a ponta com suas vacas. Bastava aparecer freguês, ele assentava em um banquinho que carregava e ordenhava ali mesmo. Evidentemente, as vaquinhas do comerciante não pediam para ir ao reservado – despejavam seus resíduos pelas ruas do Rio.
Com Pereira Passos na prefeitura, acabou essa farra, pelo menos no centro da cidade.
Mais de 100 anos se passaram. Hoje, na principal artéria comercial do centro do Rio, a Avenida Rio Branco, que foi exatamente construída pelo prefeito Passos, vemos que houve um retrocesso aos tempos anteriores ao século 20.
Em pleno 2005, vê-se nas calçadas da Rio Branco camelôs vendendo camarão cru, comidas prontas (cachorro-quente, churrasco grego, churros, o escambau...), vassouras, modeladores de seios, material elétrico e a última novidade: na esquina com Almirante Barroso, está parado um carrinho de mão (!!!) com um cidadão vendendo cofres-porquinho de barro!
(Não vou me admirar se passar alguém com uma vaca e um banquinho...)
Eu imagino o que um estrangeiro deve pensar sobre o Rio de Janeiro, vendo a "zona" instalada em suas vias principais... Isso aqui está pior que o Marrocos!
O curioso é o prefeito Cesar Maia ter afirmado, certa vez, que desejava ser "um novo Pereira Passos". Rá! Ele deve estar de sacanagem com a nossa cara...
E o Pereira Passos deve estar dando cambalhotas no túmulo, querendo sair de lá e apertar o pescocinho do Maia...
M.S.

quarta-feira, maio 04, 2005

Pasto para as bestas

Eu confesso que gosto de assistir a filmes de terror e de suspense. Pode vir Drácula, Lobisomem, Freddy Krugger, Hannibal Lecter, o escambau, que eu levo susto, atiço a adrenalina mas saio do cinema tranqüilo, a história não me afeta mais.
Ontem eu vi um filme que me deixou apavorado. Chama-se "Quase dois irmãos", da Lucia Murat, com Caco Ciocler e Flavio Bauraqui (ambos excelentes) no elenco. Quando eu vejo filmes de terror, eu tenho certeza que não vai aparecer nenhum vampiro para me chupar o sangue, nenhum "serial killer" de olhar medonho para me atacar. Mas, se eu não sou personagem de uma "Sexta-feira 13" qualquer, admito que sou uma vítima em potencial da violência que grassa pela cidade. Aliás, quem não é...
Quando eu era mais jovem, eu via na polícia uma entidade que me protegia. Hoje, ela me amedronta tanto quanto o criminoso, de quem ela deveria me proteger. Eu me sinto como se fosse "alimento" para bestas-feras que estão ao meu redor.
Quando eu fazia faculdade de jornalismo na UFF, em Niterói, saía de lá muitas vezes na barca das 22h 30min, chegava no Rio vinte minutos depois e saía andando, calmamente, da Praça 15 até a minha casa, a uns três quatro quilômetros dali. Atualmente, estar no meu carro, correndo a 80km por hora, em dia claro, não me deixa tranqüilo.
Tergiverso, eu sei. Comecei este texto falando do filme. Pois é. Quem for assisti-lo verá na tela assuntos que estão aí, à disposição dos sociólogos de plantão: o tráfico convocando crianças, a polícia vendendo armas pesadas para os traficantes, a absoluta e total falta de senso moral que faz com que jovens traficantes matem por qualquer razão ou sem qualquer razão, o envolvimento amoroso de moças da classe média e alta com rapazes do tráfico... Está tudo lá.
A impressão que eu tenho é que abriram as portas do Umbral, do Inferno, sei lá, e todas aquelas almas torturadas resolveram encarnar e nos transformar em seu "pasto" particular. E que ninguém me venha com discursos babacas, de sociologia de botequim da Zona Sul, assegurando que isso é decorrência da "falta de dinheiro, de emprego"... porque é muito mais do que isso! Pode oferecer emprego e escola para estes jovens do tráfico que eles rirão na sua cara. Emprego nenhum, escola nenhuma dá a sensação de poder que uma AR-15 dá a estas pessoas. As moças de boa família que se envolvem com os traficantes não tem problemas de dinheiro nem de falta de escolas. E elas insistem em subir os morros, concordando em se tornar componentes do harém de algum dono de boca de fumo.
Não há solução? Acredito que deva haver alguma. Eu não tenho idéia do que seja. Mas não é possível que não haja uma saída para isto. A cidade de New York já foi extremamente perigosa. Entretanto, em 1997, eu andei por lá, altas madrugadas, saindo dos teatros, pegando metrôs ao lado de velhinhas e nada me aconteceu. O que deu certo lá, no combate a violência? A "Tolerância Zero" do prefeito Giuliani? Em grande parte, sim. Mas se a comunidade nova-iorquina não colaborasse com um "Basta!", nada daria resultado. E este "basta1" não quer dizer pendurar nas janelas faixa com esta palavra. É muito mais. É talvez a classe média e rica parar de comprar drogas, enriquecendo os traficantes. É dar um choque de cidadania e civilidade no trato com a população. É uma porção de coisas que eu levaria semanas digitando aqui e não chegaria ao fim.
Recomendo a todos que assistam a "Quase Dois Irmãos". Desde já, o meu candidato brasileiro à indicação para o Oscar. Recomendo a todos que pensem na situação em que vivemos. Que Deus nos ajude. E que ajudemos a Ele nesta salvação.
M.S.

Aliás...

Saí do cinema completamente atarantado por conta do filme, paro em uma banca de jornais e vejo as manchetes: "Flavio Assunção assaltado diante de casa", "Guilherme Karam testemunha do assassinato do motorista do taxi em que estava", "Apresentador Leão apavorado depois de ser assaltado". Todas três notícias, uma embaixo da outra. Me deu uma vontade de vender tudo e me mudar para o interior de Santa Catarina, do Espírito Santo, para o deserto da Austrália!
M.S.

Direto do meu guarda-louças

Há alguns dias, li nO Globo, na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, uma crônica sobre "espinhela caída". Talvez você que esteja me lendo não saiba o que diabos vem a ser isso. O Joaquim lembrou bem que esta era uma "doença de suburbano". Eu vou mais além: De morador da periferia, também. Mas atenção, muita calma nesta hora: não há nenhum tipo de preconceito no comentário Joaquim ou no meu. Espinhela caída dava (acho que não dá mais...) na criançada do subúrbio e do Grande Rio (onde me criei) por fazer parte daquela cultura. Como jogar bola de gude, soltar pipa, rodar pião, comer goiaba no pé, jogar futebol em campinho de várzea, brincar de pique-bandeira, carniça, garrafão, pular corda...Vocês entenderam, não é? Eu não consigo imaginar um morador de Ipanema, do Flamengo e arredores indo numa rezadeira para rezar espinhela caída. Como não imagino uma criança de lá jogando búrica em quintal de terra.
Esclarecimento feito, passemos à espinhela. O que será, com mil tubarões, espinhela caída? Eu, que segundo minha mãe e minha tia, tive muitas vezes, não tenho a menor idéia do que seja. Suspeito que tenha a ver com o estado de magreza absoluta que as agitadas crianças do meu tempo viviam. A gente não tinha videogame, via pouco televisão, daí, estávamos sempre correndo, brincando, agitando. Acho que por isso o pastel e o cachorro-quente da cantina da escola não viravam gordura no nosso corpo. Queimávamos aquilo tudo em uma hora de pique-tá.
Sei que, de tempos em tempos, a minha mãe ou a minha tia Avelina, que morava em Piedade e com quem eu cheguei a passar uns tempos, me olhavam com olhos críticos e diagnosticavam: "espinhela caída!" Daí, a minha tia falava: "Marquinho, vai chamar a Dona Maria!"
Era a rezadeira da vila em que morávamos, na Rua Padre Nóbrega, 494. A casa da minha tia era a 4, ou "IV", já que os números eram escritos em romanos. A da D. Maria era a I. Eu adorava ser acometido pela tal espinhela caída. Justamente para ser rezado pela Dona Maria e ter que ir na casa dela para chama-la. Lá, morava a sua neta, Ângela, um de meus amores infantis. Eu tinha uns 7 anos. A Ângela, uns 13. Já tinha até peitinho. (Imagino a matrona em que ela deve ter se transformado...)
Pois bem. Eu ia lá, chamava a D. Maria, via a minha paixonite, e voltava para casa. Logo em seguida, chegava aquela velha senhora, com um galhinho de arruda nas mãos. Eu ficava em pé, diante dela, ela começava a me rezar. Murmurava umas palavras que eu não conseguia distinguir, sempre me cruzando com a arruda. "Vira de costas". Eu obedecia. Ela fazia a mesma coisa que tinha feito antes, com um detalhe: ela sempre começava a bocejar durante o processo de reza. Acredite se quiser: eu sentia um formigamento de leve pelo corpo, durante aquele ritual. Uma sensação gostoooosa... Depois de rezado, e, imagino, curado do ataque de espinhela caída, minha tia dava um dinheirinho para D. Maria, que se ia com passos rápidos, cuidar de seus afazeres na casa I, na casa da minha amada Ângela.
É possível que a ciência diga que a reza da D. Maria servia tanto como a colherada de Rum Chreosotado que minha tia me dava toda noite, antes de dormir ("para não ficar constipado"). Mas é inegável que tanto uma quanto outra faziam da minha infância um imenso guarda-louças de lembranças que eu, muito tempo depois, teria muito gosto em abrir. Nem que seja apenas para espanar o pó.
M.S.