quarta-feira, junho 27, 2007

Esse coqueiro que dá coco...


Lembram daquela canção de Caymmi que diz assim: “Coqueiro de Itapoã... Coqueeeeeeeeeeiro!...”?
Uma bela canção, uma bela imagem.
E daquela outra, mais famosa: ...“Depois sentir o arrepio do vento que a noite traz E o diz-que-diz-que macio que brota dos coqueirais”... ?
Quem não gostaria de agora estar numa praia paradisíaca, estirado numa rede entre coqueiros, só escutando cabelo crescer?
Ah, coqueiros...Típica imagem do Brasil, não é?
Pois é. Não é. Ou melhor, não era.
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E lá vamos nós para mais um post da séria série: “A História tem cada história...”
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Por incrível que possa parecer, o coqueiro não é vegetação nativa do Brasil. Foi trazido para cá, do Sudeste Asiático, pelos colonizadores portugueses. Os gajos eram dados a fazerem este tipo de experiência. Como eram grandes comerciantes e foram os primeiros ocidentais a estarem nos cinco continentes, levavam daqui pra ali, dali pra aqui plantas que introduziam em outros ecossistemas. Atualmente, seria uma atitude politicamente incorreta, mas naquela época os lusos estavam pagando e andando para isso.
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Outra do nosso cancioneiro:
“Mangueira, teu cenário é uma beleza... Que a natureeeeeza crioooooou...”
Sim, foi a natureza. Mas a natureza do Sudeste Asiático. A manga foi mais um vegetal trazido de lá pelos portugueses para o Brasil. Assim como as batatas, inglesa e doce, o inhame, a pimenta-do-reino, o chuchu...e até a banana!!!
Duro de acreditar, não é?
Mas assim foi.
A batata-inglesa é originária do Peru, foi levada de lá para a Espanha, de onde os portugueses a introduziram no Brasil. A batata-doce veio também dos Andes (embora há fontes que garantem ter vindo do Oriente). O inhame nos chegou da Ásia. A pimenta-do-reino é mais uma planta transplantada do continente asiático. O chuchu, da América Central. E por aí vai...
Ah, sim. Yes! Nós temos banana! Mas ela veio do Sudeste Asiático.
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Aposto que vocês estão se perguntando: “Mas, com mil quiabos... O que é natural do Brasil?”
Pois é. O quiabo, não. É africano. Mas a mandioca é brasileira! Assim como o pau-barbado e o picão-preto (você está com lombriga? Entra no picão-preto que limpa tudo. Veja acima a flor do picão, que está neste site, pra vocês não acharem que eu estou de sacanagem...).
E além desses vegetais de duplo-sentido, também são do Brasil a pimenta malagueta, o caju, o guaraná, o amendoim, o cacau (também cultivado na América Central), a seringueira...
Bem sei, vocês dirão: “oh, a seringueira!”... Mas não desdenhem da seringueira, não! Essa história dos caras que entram na floresta para tirar leite do pau já deu muito dinheiro pro Brasil E os ingleses pegaram mudas daqui e levaram para o Sudeste Asiático (talvez como forra pelo tanto que aquela região deu ao Brasil) e agora lá tem mais do que aqui.
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Bem, essa foi minha modesta contribuição para vocês terem a confirmação da frase de Caminha: “Aqui, se plantando, tudo dá!” E deu mesmo.
Mas, quando vocês estiverem comendo um prato típico brasileiro, como arroz, feijão, bife, ovo frito e salada de alface e tomate, saibam que nada disso é verdadeiramente nativo do Brasil. E se pedirem um cafezinho com muito açúcar, estarão completando o cardápio de produtos estrangeiros da sua dieta.
Bom apetite!
M.S.

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A amiga Adelaide Amorim do blog Umbigo do Sonho (entre outros), teve a extrema gentileza de indicar o Antigas Ternuras como uma das “7 Maravilhas do Mundo Blogueiro”. Olha... Né pouca coisa, não heim! Pelas regras do jogo, tenho que indicar outros sete blogs que eu ache que mereçam esta denominação. E é aí que o bicho pega... Só sete? Mas vários blogs que eu costumo visitar são maravilhosos!
Bom... regra é regra, vamos fazer o possível para cumpri-la. Mas, olha, gente... Quem não estiver entre estes sete não fica triste, porque todos os blogs de minha lista são verdadeiros Coliseus, Pirâmides, Taj Mahals, Grandes Muralhas, Cristos Redentores de tão maravilhosos. Lá vão meus sete:
Abrindo Janelas
Apoio Fraterno
Caminhos dos Contos
Lino Resende
Nãnaninanena
Ramsés do Século XXI
Transmimentos de Pensações

As regras são as seguintes:
1. Podem participar na votação todos os blogueiros que mantenham blogs ativos há mais de um mês.
2. Cada blogueiro deverá referenciar sete nomes de blogs. A cada menção corresponde um 1 voto.
3. Cada blogueiro só poderá votar uma vez, e deverá publicar as suas menções no seu blog [da forma que melhor lhe aprouver], enviando-as posteriormente para o seguinte e-mail: 7.maravilhas.blogoesfera@gmail.com. No e-mail, além das escolhas, os votantes deverão indicar o link para o post onde efetuaram as nomeações. A data limite para a publicação e envio das votações é dia: 01/07/2007.
4. Para evitar constrangimentos os organizadores avisam que serão considerados votos nulos:
- O voto do blogueiro em si próprio ou em blogs em que participe;
- Os votos no blog O Sentido das Coisas. No dia 7.7.2007 serão anunciados os vencedores e disponibilizadas todas as votações.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Aquarela do Brasil”, cantada pela sempre ótima Gal Costa.

sexta-feira, junho 22, 2007

Pula a fogueira, iaiá...


Existe coisa mais gostosa do que festa junina? Dos comes e bebes até a quadrilha, tudo é muito prazeroso. Quando menino, minha mãe vestia os três caipirinhas dela a caráter e lá íamos pro arraial. Lembro do meu irmão, com quatro anos, falando bem alto: "Mãe, olha a fudeira!"...
Tenho várias antigas ternuras ligadas às festas juninas. Uma, por exemplo, não vejo mais hoje em dia.
As barraquinhas de fogos.
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Até imagino que a geração depois da minha nem saiba o que seja isso. Talvez nas cidades do interior a tradição se preserve, mas tenho lá minhas dúvidas...
Para quem não sabe do que eu estou falando, explico:
Quando eu era moleque, no tempo em que Adão era escoteiro, ia chegando o mês de junho e tinha gente aprontando a sua barraquinha para vender fogos de artifício. Para construir a sua, era só pegar um caixote largo ou mesmo algumas tábuas. Forrar com papel fino, pendurar uma lanterninha na frente... pronto! Até sei que não vou encontrar imagem disso na internet, por isso, desenhei uma para vocês terem uma idéia do que era uma barraquinha de fogos. Essa aí a direita.

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Pois é.
Ia chegando o fim da tarde, os "comerciantes" tomavam banho, botavam a barraquinha apoiada em uma cadeira na porta de casa e esperavam pela freguesia que ia comprar bombinha, estalinho, estrelinha, busca-pé, roda de fogo, cabeça-de-negro, cobrinha e os fantásticos barbantinhos-cheirosos. Esses merecem ser detalhados:
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Eram pedacinhos de barbante com um centímetro mais ou menos, preparados e embalados em papel roxo. Bastava acender um que tudo em volta ficava com cheiro de pum e enxofre como se o próprio belzebu-capeta tivesse uma diarréia no ambiente. Quando a gente soltava um deles em sala de aula, se a professora ou professor descobrisse, dava três dias de suspensão pro engraçadinho. (vou confessar: uma vez acendi um na aula de matemática... ri, ri, ri... Não fui descoberto, e era um dos mais indignados, falando bem alto: "pô! Quem foi o porco que soltou isso! Assim não é possível! Que coisa horrível!"... ri,ri,ri...)
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Eu sempre tive vontade de ter a minha própria barraquinha. Mas a minha mãe me conhecia muito bem e sabia que aquele desejo era "fogo de palha"... Que logo eu me cansaria de ficar até sei lá que horas, sentado na frente de casa esperando aparecer fregueses para a minha birosca. E era a pura verdade... Meus amigos brincando de pique, garrafão, pular-carniça e o escambau, imagina se eu iria ter saco de ficar preso, ali, vendendo estalinho e bombinha...
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E por falar em bombinha, nos idos de junho, ela era uma verdadeira praga. Todo mundo comprava uma caixa ou mesmo algumas no varejo, e saía soltando por aí, atazanando Deus e o mundo. Quem viu o filme "Amarcord" sabe do que eu estou falando.
Lembro que uma vez, na saída do colégio, eu e meus comparsas tínhamos comprado um monte de bombinhas e ficávamos acendendo e jogando uns nos outros. Uma vez, o meu amiguirmão Luiz (que lê assiduamente este blog...) acendeu uma e jogou dentro do fichário do Mira...

Em vez do cara abrir logo o fichário e tirar a bombinha... não, ficou segurando o fichário e sacudindo ele de leve... aí: PÓU!... Parecia cena de desenho animado. O mané com o fichário todo estourado na mão, a cara de bunda... E a gente rolando e se mijando de rir. Pois na primeira oportunidade, o Mira foi à forra: acendeu uma bombinha e botou dentro do bolso de trás da calça do Luiz. Este, se não a retirasse rápido, teria ficado sem uma banda da bunda...
- Pô, Mira... sacanagem! Chegou a queimar a cueca!... – queixou-se o Luiz. E nós lá, rindo de doer a barriga. Aliás, a gente vivia rindo mesmo... Sacanear uns aos outros era a nossa especialidade.
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Naquele tempo, a minha rua ficava cheia de vendedores de fogos, com suas barraquinhas forradas de papel colorido. À noite, acendiam a vela dentro da lanterna multicor, pendurada na frente da barraquinha e chegávamos a ver de longe um caminho de luzes em cor, quebrando o negrume noturno.
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Hoje não tem mais barraquinha com lanterna colorida. Mas nestes dias de junho, olho para o alto, nas noites estreladas, e é como se os antigos vendedores estivessem no céu da minha memória. E quando um fugidio balão vai subindo, tremeluzindo no escurão, vem caindo a garoa, faço de conta que ele é uma estrela cadente. Secretamente penso num pedido. E se o frio da noite vem cutucar meus ossos, canto baixinho:
"São João... São João... acende a fogueira no meu coração..."
M.S.
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A partir deste sábado, 23, tem mais um texto do PteroMarco (o escrevedor que vos tecla) no Playground dos Dinossauros. Quem me der a honra de lê-lo, vai descobrir o que aconteceu no dia em que eu dediquei uma música, num parquinho de diversões, a uma moça por quem meu coração batia mais forte...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve uma seleção de músicas de festas juninas. Anarriê, pessoá! Olha a cobra!

segunda-feira, junho 18, 2007

O milagre do pão


Não sei vocês, mas eu gosto de pilotar o fogão de vez em quando. Faço coisas sem receita, mas se tiver alguma me guiando, fica melhor e mais fácil. Noutro dia, vi numa revista a receita de um pão com azeitona, ervas finas e tomate seco e fiquei salivando que nem um cão hidrófobo. Comprei os ingredientes e, literalmente, meti a mão na massa.
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Meu querido pai, que desde meus sete anos ficou encantado e foi morar nas mansões celestiais, era um cozinheiro de mão cheia. Lembro dele fazendo uma fornada de suspiros, para celebrarmos uma vitória da Seleção Brasileira e só de pensar nisso, sinto aquela iguaria apetitosa derretendo na minha boca. Quando ele fazia feijoada para nossos parentes, nossa!, era de comer rezando e, depois de encher o bucho, tinha gente chamando Jesus de “Genésio”. Mas pedindo repeteco.
Não posso dizer que herdei seus dotes culinários. Entretanto, por ser solteiro e morar sozinho há 20 anos, tive que aprender a me virar numa cozinha.
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E desta vez, escolhi aquele pão, cuja foto me atraía feito o canto de uma sereia do Mar Egeu...
Comprei os ingredientes com todo esmero, juntei tudo ao meu redor e comecei os trabalhos. Dá um certo nervoso olhar pra mão da gente toda melada naquela massa. Porém, gradativamente, com a ajuda de mais farinha, ela vai soltando e fica aquela bola maleável, que aceita o nosso toque e se abre toda generosa. E eu lá, sovando a massa, tornando-a uniforme, fazendo desaparecer a individualidade de cada ingrediente. Agora, ela era um todo. Um coletivo.
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Separei as bolinhas e guardei uma boa porção para um pão maior. Coloquei nas formas, levei ao forno. Esperei.
Em não muito tempo, o aroma da massa cozida preencheu toda a cozinha e até a sala. Fui ver como estava a minha criação.
UAU!
Ficou lindo!
Rapidamente, retirei a primeira fornada e coloquei a forma com a bola maior. E fiquei lambendo a cria... Que coisa maravilhosa é fazer pão! Abençoado o lavrador que plantou e colheu as douradas espigas de trigo! Ao “recolher cada bago do trigo”, ele nem imaginaria que aquele gesto impessoal dele geraria um produto absolutamente pessoal: o meu pão!
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Lembrei de uma coisa que li há tempos. Depois que o filho Sean nasceu, Yoko Ono virou para o John Lennon e disse: “a minha parte eu fiz. Agora, você vai cuidar dele, enquanto vou trabalhar”. John achou ótima a idéia. Pendurou a guitarra e ficou em casa cuidando do bebê. Um dia, ele cismou de fazer pão. Ficou tão maravilhado com o que fez, que tirou foto, telefonou para God e o mundo, só para avisar que tinha feito um pão. O autor de diamantes como “Imagine”, “Help”, “A day in the life”, “Norwegian Wood” se deixava maravilhar com um modesto pão.
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Eu sei exatamente a sensação que ele teve.
Mas, já era hora de deixar aquela admiração visual e passar para a fase seguinte: provar. Afinal de contas, ele podia ser muito bonito, mas ter gosto horrível, o que seria uma lástima. Parti uma daquelas bolinhas douradas. A massa interna, de tom levemente rosado, se deixou abrir, fumegante. Provei.
Huuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!
Meu Deus! Como era bom!!!!!!!!!!!
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Continuei comendo, achando que iria ficar estufado de tanto pão. Nada! É levíssimo! Tomando um cálice de vinho, então, você nem sente!
Levei um pouco para a minha mãe. Afinal de contas, a opinião de outra pessoa seria importantíssima! Deixei com ela e voltei para casa. Ao chegar no meu modesto chatô, a luzinha da secretária eletrônica tremeluzindo. Era ela. Dizendo que tinha comido o pão mais gostoso da vida dela, que pretendia comer só um pedacinho, mas não resistiu e emburacou por dentro do pão. Iria guardar um pouco para o meu irmão.
Fiquei muito feliz.
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E aí? Querem experimentar esse manjar do Olimpo? Aí vai a receita.
Eu não sou a minha amiga Fugu, do Fruit de la passion, que arrebenta nas comidinhas, mas o Antigas Ternuras abre aqui a sua seção culinária.
Bom apetite!

Pão Rústico com Azeitonas, Tomate Seco e Ervas Finas
Ingredientes
2 tabletes de fermento biológico (30g)
1 xícara de chá de azeitonas picadas
1 xícara de leite morno
5 xícaras de farinha de trigo
1/3 de xícara de azeite extra-virgem
1 colher de chá de sal
1 colher de chá de ervas finas (eu usei manjerona, manjericão e orégano)
1 colher de sopa de alecrim fresco
1 xícara de chá de polpa de tomate
1/2 xícara de tomate seco picado

Modo de Preparo
Dissolver o fermento no leite morno e misturar uma xícara de farinha de trigo. Deixe descansar por 30 minutos, cobrindo com um pano. Colocar o azeite, o sal, as ervas finas, o alecrim, a polpa de tomate, o tomate seco e as azeitonas nesta mistura e misturar bem. Acrescentar aos poucos o restante da farinha de trigo e sovar. Além das 5 xícaras, vai precisar de mais farinha para ir jogando na massa, para ela soltar das mãos e da pedra da pia. Quando a massa estiver sem grudar, separar porções em forma de pequenas bolas (ou, se preferir como eu, separar uma porção maior para fazer um pão tipo italiano) e já colocar em assadeiras untadas e enfarinhadas. Polvilhe um pouco de farinha sobre os pães. Cobrir com um pano molhado e deixar repousar, até que dobre de volume. Assar em forno pré-aquecido a 200 graus, por cerca de 30 minutos (mas vai acompanhando com o nariz e com os olhos).
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Para comer, abra um vinho especial e acompanhe ou não com queijos e pastas de sua preferência.
Nham! Nham! Nham!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Cio da Terra”, com o Quarteto em Cy e MPB-4.
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E os prêmios continuam chegando!
Que barato quando nossos amigos lembram de nós! Bem, o grande Lino, depois de me indicar como um blog que faz pensar, percebeu que esta modesta página também tenta fazer rir. E daí, me indicou com o selo: “Este Blog faz rir”. Valeu, Lino! Muito obrigado!
E meu outro grande amigo, o DO, me indicou para o “Blog com Tomates”, prêmio que surgiu em Portugal, cruzou o Atlântico e já está em terra brasilis. Logo em seguida, a Claudinha me indicou também. Obrigadaço, amigos!
Seguindo a corrente, tenho que indicar cinco blogs para receberem estes prêmios e os passarem adiante. Esta é a parte mais difícil... Especialmente por que procurei escolher os que ainda não tinham recebido estes prêmios. Mas vamulá:

Blogs que fazem rir:
Marconi Leal
Playground dos dinossauros
Eu não sei trigonometria, da Yumi
Transmimentos de Pensações, da Claudinha
Quase História de Amor, da Lili

Blogs dos Tomates:
Nãnaninanena, da Nena
Brincando com palavras, da Marcia
Labirinto do Sol e da Lua, da Claudia
Taís Morais
Loving me for me, da Fernanda
Agora, é com vocês, amigos! Colem os selos nos seus blogs e passem adiante!

segunda-feira, junho 11, 2007

O que a canção nos traz


Quando preciso acordar cedo, uso o rádio digital para me despertar. Os antigos despertadores, quando tocavam aquele “triiiiiiimmmmm” neurotizante, me faziam pular e grudar no teto, que nem gato de desenho animado. Quando inventaram um rádio que podemos programar para tocar quando a gente quiser, ah... achei a oitava maravilha do mundo! Aquela história de levar sustos logo pela manhã tinha chegado ao fim. Hoje, sintonizo o aparelhinho na Rádio MEC e costumo acordar ao som de um quarteto de cordas tocando Mozart, que tal? Ou então, para variar, coloco na Rádio MPB, que só toca a boa música brasileira (sertanojo, pagode e hip hop nem pensar!), e, com sorte, desperto ao som de um Djavan, um Tom Jobim, uma Zizi Possi (ah! A Zizi cantando!...).
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Hoje, eu acordei ao som de Selma Reis, espargindo pelo ar a canção “O que é o amor”, de Danilo Caymmi. Que beleza de música e de voz! Comecei muito bem o dia. É claro, fiquei com ela na cabeça e a estou cantando direto.

Percebo sua letra memorável. “O que é o amor... Onde vai dar... Parece não ter fim...”
Não tenho resposta para estas perguntas. Não sei definir o amor, mas sei todos os seus sintomas. Tenho convivido com ele desde tanto tempo... O que ele é? Para onde nos leva? Saber, quem haveria de?
Uma sensação agradável? Nem tanto? Seria, no dizer de Camões: “É um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer”?
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Penso no meu amor. Como nos conhecemos. Na festa e na alegria que é cada reencontro. O meu amor mora em mim, mas não mora perto de mim. Não vivemos na mesma cidade, sequer no mesmo estado. O que não me impede de amá-la e ser amado com intensidade e força que, se fosse transformada em energia, daria para iluminar um município inteiro. Às vezes, nossa relação tem nuvens pesadas; às vezes, como agora, brilha sobre nós um céu de brigadeiro.
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Ouço a canção, penso em quem amo e reflito sobre este sentimento louco de que nenhum ser humano é isento. No amor cabem todas as palavras do dicionário, todas as conjugações de verbos. Mas cabem também silêncios, cumplicidades sem que nenhuma letra sequer seja pronunciada. Ter quem amamos nos braços é sensação que não se consegue descrever no limitado reino das palavras ditas ou escritas. Da mesma forma, sofrer por amor, não cabe em poemas, por mais lindos, por mais profundos que sejam. Nenhum mal de amor está contido inteiramente nas palavras. É como tentar colocar a Via Láctea num copo de geléia. E mesmo assim, tentamos expressar nosso amor, ou falta dele, alinhando letras, uma depois da outra, como pedras de dominó.
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Pois que sentimento é esse que nos faz acreditar em algo de mágico acontecendo quando temos o nosso ser amado num terno abraço? E ao nos separarmos, sentimos que deixamos nele o nosso coração, trazendo em nosso peito o dele... E que uma canção ouvida num despertar matinal põe nossos olhos naquele espaço vago da cama, desejando que ele não estivesse vazio naquele instante...
M.S.
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Feliz Dia dos Namorados, amorzinho.
Feliz Dia dos Namorados para todos.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “O que é o amor”, cantada magistralmente por Selma Reis.

terça-feira, junho 05, 2007

$onhar é o bicho!


Dia desses, sonhei com um porquinho da Índia que falava comigo. (Não reparem, mas os meus sonhos costumam ser muito doidos, mesmo...). Ah, se fosse em meus tempos de moleque, já ia eu direto pro bicheiro jogar uns caraminguás no coelho – afinal de contas, também é mamífero roedor e bastante parecido com o famoso preá, ou porquinho da Índia...
No bairro onde me criei e mesmo em Piedade, onde também morei por uns tempos, jogar no bicho era atividade cotidiana, embora meus pais nunca jogassem, muito menos meus tios carolas. Mas eu vivia solto nas ruas e me dava muito com gente que fazia regularmente a sua fezinha. Eles me ensinaram os meandros do jogo do bicho e lembro que eu costumava deixar adultos espantados com o meu conhecimento sobre o assunto.
Aliás, até hoje em dia, gente que me vê como um intelectual (Rá! Tolinhos...) se admira de eu saber cercar um milhar pelos sete lados, por exemplo...
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Não sei se vocês sabem, mas o jogo do bicho é invenção estritamente brasileira, e carioca, mais precisamente. Começou como uma idéia do Barão de Drummond para poder manter o Jardim Zoológico que ele tinha criado e que lhe dava muita despesa. Querem saber como foi? Péraí. Vou apertar o rewind da fita e voltar até os idos de 1873. Fica este post como mais um da séria série "A História tem cada história..."
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João Baptista Vianna Drummond (1825-1897), a partir de 1888, Barão de Drummond, foi um grande empreendedor. Tinha um enorme tino comercial. Por volta de 1873, ele comprou da Princesa Isabel, com a intermediação do pai da moça, um certo Pedro II, de quem Drummond era amigo, uma enorme porção de terra, chamada Fazenda dos Macacos. Pagou 120 contos de réis, uma soma respeitável, que ele pretendia ver de volta e com dividendos. João Baptista se associou à Companhia Arquitetônica e juntos, pretendiam transformar aquelas terras no primeiro bairro residencial planejado do Rio de Janeiro. Para começar, ele foi pedir a concessão de uma linha de bonde puxado por animais (cavalos, burros, mulas...).

O núcleo central da cidade ficava distante dali e sem meio de transporte, nem com ordem do Papa alguém se dignaria a ir para aquelas lonjuras. Pois bem. Linha de bonde instalada, traçaram o plano urbano do bairro, todo feito em ruas paralelas, cortando um boulevard (avenida larga e arborizada) que se chamaria 28 de setembro, data em que foi assinada a primeira Lei Aúrea, que depois ficaria conhecida como Lei do Ventre Livre (a de 13 de maio de 1888 é a segunda Lei Áurea, embora tenha ficado definitivamente conhecida assim). Drummond era um abolicionista convicto. O bairro se chamaria "Vila Isabel" (a de Noel e de Martinho da Vila), para dar aquela puxada de saco básica na Princesa, de quem tinha comprado as terras.
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Até aí, tudo bem. Só que os vendedores montaram suas barraquinhas e nada dos compradores aparecerem. Drummond viu que precisava de alguma coisa muito interessante para atrair as pessoas. Teve a idéia do Jardim Zoológico. Comprou um punhado de animais e os dispôs em jaulas para serem observados. Pronto! Foi na mosca! O povaréu começou a chegar. Vinham para ver os bichos e acabavam se interessando por um lote naquele empreendimento.
Um sucesso! Mas, como eu escrevi lá em cima, manter o zôo custava caro. O leão comia como um leão. O jacaré passava o dia de boca aberta só esperando o rango. O camelo nem fazia questão de beber, mas estava seco por comer. Alimentar a tropa estava fazendo o caro Drummond gastar uma nota branca (não digo "preta", pois, como eu disse, o cara era abolicionista...).
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Primeiro, ele pensou em meter a faca no Imperador. Metaforicamente, é claro... E durante um bom tempo, o Pedrão patrocinou a alimentação da bicharada. Aí veio a República e o muquirana do Deodoro falou que não daria um centavo para amigo da monarquia. Foi quando Drummond teve uma brilhante idéia! Criou uma loteria onde cada número representava um bicho e cada ingresso daria direito a um bilhete numerado para o participante concorrer no sorteio que era feito no fim do expediente, onde era apontado o "bicho do dia". O prêmio era ingressos grátis para o Zôo.

O negócio fez tanto sucesso, o carioca sempre foi tão chegado a uma jogatina, que a proposta do jogo do barão foi desvirtuada. Já corria dinheiro nas apostas do bicho. Posteriormente, o jogo do bicho foi proibido, embora alguns governantes (especialmente alguns chefes de polícia) o tolerassem.
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Mesmo proibido, o jogo fez um baita sucesso, ganhou as ruas do Rio e de outros estados. Apareceram pessoas que bancavam as apostas, correndo os riscos (que nem eram tantos assim...). O sistema foi organizado, com prêmios estipulados (que permanecem até hoje...), desta forma: quem acertasse no milhar, receberia quatro mil vezes o dinheiro apostado, ou seja: para cada real apostado em um milhar, em caso de acerto o vencedor levaria quatro mil réis. No caso da centena, 200 réis, da dezena, 70, e assim por diante.
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O brasileiro, esse povo tão criativo, quando o assunto é sacanagem ou possibilidade de ganhar algum, criou um sistema de palpites pelos sonhos. Sonhar com rei, joga-se no leão; com muitas crianças, bota-se fé no coelho; com a sogra, vai-se com tudo na cobra; com algum tipo de saliência, o macaco será o preferido... E vai por aí afora.
O grupo 24 – o do veado - virou sinônimo do rapaz homossexual, mas essa forma pejorativa de se referir a quem pratica o sexo "que não ousa dizer o nome", como se falava antigamente, não veio daí. Um dia eu conto essa história...
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E nesta terra onde o jogo é proibido – embora o governo seja o maior banqueiro da parada – sonhar com um bicho pode ser o passaporte para a fortuna fácil. Não deixa de ser uma ironia: sonhar para realizar os sonhos... E sonhar, como vocês sabem, não custa nada...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o grande Altamiro Carrilho em "Eu sonhei que tu estavas tão linda"...Maravilha, né não?