segunda-feira, julho 31, 2006

Inverno


Olho pela minha varanda e vejo um dia típico de inverno. Faz frio, chove, o Rio de Janeiro está cinza e, curiosamente, sem barulhos matinais. Nesta manhã de silêncios, preparo o meu desjejum, que como silenciosamente.
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É costume dizer que um dia como hoje é triste. Vincula-se inverno à tristeza, à velhice, à melancolia. Neste sentido então, o inverno está fora de mim. Meus dias, minhas sensações têm estado bem mais para primavera e verão do que para essa tonalidade de chumbo, acompanhando um frio úmido de enregelar os ossos.
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No sábado passado, meu amigo e mestre Sergio Britto me convidou para assistir à peça que ele está fazendo no Centro Cultural Banco do Brasil. E a peça chama-se “Outono, Inverno”, fala de relações familiares frias, em uma Suécia de relações gélidas. No final do espetáculo, vou aos camarins para parabenizar o meu amigo que tinha dado mais um habitual show. Encontro-o tão envelhecido, sob o peso de seus 83 anos. Trabalhamos juntos por alguns anos e sempre me espantava com sua vitalidade. Desta vez, eu vi o título da peça em suas feições.
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Saio na rua, nessa segunda-feira, caminhando para mais um dia de trabalho. Cruzo com pessoas de cenho franzido, trazendo no rosto o cinza do dia. Resolvo que vou andar de cabeça erguida e com um sorriso nos lábios para alegrar e incentivar as gentes ao meu redor. Não deu certo. Caminho pelas ruas, no meio dos transeuntes, como se fosse invisível. Ninguém costuma reparar em mim, nem há na verdade o que reparar. Tenho cara, corpo e jeito muito comuns.
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Reflito sobre a atual estação. Os livros de Geografia nos ensinam que o inverno é decorrência do afastamento e posicionamento do planeta em relação ao sol. Filosoficamente, o inverno não teria nada de triste. A semente na terra aguarda o momento de germinar; as folhas secas que caem, indicam que virá uma renovação nas árvores; um bom número de espécies de animais se recolhe, hibernando, reagrupando forças, em momento de introspecção. Logo, inverno é tempo de recolhimento, de espera, de prévia sobre mudanças em curso.
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E neste sentido, percebo que o inverno não está só fora de mim. Também meu interior inverna.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Gymnopedie”, de Erik Satie.

sexta-feira, julho 28, 2006

Encontros


Marília abre os olhos e vê onde está. Naquele promontório de onde se avista um mar sereno, perolado por gotas de um luar manso, ela percebeu que não estava só. Ao seu lado, Dirceu a olhava sorrindo e ela sentiu que aqueles olhos lhe acariciavam os cabelos, a face...como mãos e beijos e toques de um ser amado.
- Vejo que despertaste. Deixa agora o mundo mais feliz com o som de tua voz.
- Dirceu?
- Oh, graças, Marília bela! Graças à minha estrela!...Teu primeiro som foi o nome de teu gentil pastor. E me junto à felicidade do mundo por te ouvir falar.
- Por acaso é este o Paraíso dos que amam? Fechei meus olhos em terra para abri-los na celeste morada?
- Ah! Não, não fez o Céu, gentil pastora, para glória de Amor igual tesouro. Neste momento, importa que te vim ver e que te fazes mostrar a mim. Como tem que ser, como há de sempre ser.
- Fala, fala mais que o teu canto me traz a felicidade que almejo. Há tanto te procuro! Em que desvãos tu te escondestes de mim, amado Dirceu? Minha casa está vazia sem ti...
- Mas eu, amada Marília, sou pastor de tua aldeia. E haverei de manter sua casa do que preciso cheia.
- Minha casa carece de ti. Eu te preciso e não te tenho.
- Mas me tens! Olha em volta, vê a terra aromal... Pois estou no perfume das plantas, no orvalho que umedece de lágrimas o chão... Olha no céu e lá estou na estrela que reflete em teus olhos, na luz morna da lua...
- Quero ter-te em meus braços! Não na meiga poesia, na dimensão paralela em que pairam os poetas! Quero abraçar-te forte, ficar junto...Tu me fazes melhorar e é melhor quando dividimos as coisas, as forças se multiplicam...
- Pois haveremos de estar juntos pelas campinas...
- E te poderei cobrir com meus melhores beijos? E tu estarás ao alcance de meu toque que te anseia?
- Sim, sempre... E estarás sustentada no meu braço e em teus braços descansarei a quente sesta, dormindo um leve sono em teu regaço...
- E te farei repousar com minha voz...e te cantarei para que durma bem, me queira bem, meu amor...

*
Uma aragem leve se transforma em neblina e faz com que os amantes não mais se avistem.
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O rapaz fecha o livro, com um sorriso, se perguntando mentalmente:
“Será que os personagens conseguem sonhar?”
E recoloca o livro na estante.
M.S.
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Tomaz Antonio Gonzaga, autor de “Marília de Dirceu” (as frases de meu texto em itálico são originalmente deste livro), morava em Vila Rica quando conheceu Maria Joaquina Dorothéa de Seixas Brandão. Apaixonaram-se. Ele a pediu em casamento, apesar da oposição da família da moça, que desaprovava a união com um homem 23 anos mais velho. Estavam noivos, prontos para se casar quando Joaquim Silvério dos Reis denunciou Gonzaga como “o primeiro cabeça da conjuração”. Tomaz Gonzaga foi condenado ao degredo, em Moçambique, e nunca mais viu sua amada Maria Joaquina, a quem chamava de “Marília” em sua mais conhecida obra.
Em terras d’África, ele viveu o resto de seus dias, suspirando por sua amada. Mesmo assim, casou-se com Juliana de Souza Mascarenhas, moça simples moçambicana, que tinha se desvelado em cuidados a ele dispensados quando o poeta caiu gravemente enfermo. Conta-se que foi um casamento por agradecimento e que ele nunca esqueceria “Marília”. Morreu no degredo, em 1810, com 66 anos.
Já a bela Maria Joaquina, nunca quis se casar com homem nenhum, passando toda a vida recordando seu amado, vivendo reclusa em seu casarão na atual Ouro Preto. Faleceu em 1853, aos 85 anos. Quem sabe quando e em que dimensão eles tenham se reencontrado...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Ivete Sangalo e “A Lua que eu te dei”.

quinta-feira, julho 27, 2006

Mengão Campeão da Copa do Brasil 2006!



Flamengo, minha eterna ternura, meu amor!
Obrigado aos bacalhosos sebentos! Eu teria um desgosto profundo se faltasse o bacalhoso no mundo!

Parabéns! O Brasil não conseguiu, mas os bacalhosos foram rumo ao HEXA e conseguiram!
São HEXA- VICE Campeões em decisões com o Flamengo!
Eu estou mais feliz que pinto no lixo! Mais sorridente que caipira de dentadura nova!

“Ó meu Mengão...eu gosto de você...Quero cantar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro-negro! Conte comigo comigo, Mengão! Acima de tudo rubro-negro!”
M.S.
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Eu queria agradecer à Lili pela citação elogiosa do Antigas Ternuras em seu belo blog Quase Histórias de Amor
Obrigado, querida! A casa, penhorada (na Caixa Econômica Federal!), agradece...
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Por favor, prossigam lendo o post abaixo...Obrigado.

quarta-feira, julho 26, 2006

Uma tarde na confeitaria


Um original de Marco Santos
Personagens:
Gilcilene
Amiga
Narrador
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NARRADOR – Gilcilene era gorda. Ela se sentia assim. Não adiantava virem com eufemismos como “fofinha”, “fortinha”, “espaçosa”, “excesso de fofura”...Era gorda, por mais que odiasse isso. Vivia se queixando com as amigas:
GILCILENE – Se tem um tipo de mulher que eu odeio é a Mulher MST.
AMIGA – Mulher MST?
GILCILENE – É. A “Malhadora Sem Trégua”. Aquela que vive em academia, levantando ferro e endurecendo o traseiro.
AMIGA – Por que é que você não faz o mesmo?
GILCILENE – E você acha que eu não tentei? Mas é mais fácil o saci pererê cruzar as pernas e o morcego doar sangue que eu manter disposição para fazer ginástica.
AMIGA – Mulher MST...Você tem cada uma...
GILCILENE – Pior que essa só a Mulher DETRAN.
AMIGA – Como é?
GILCILENE – Mulher DETRAN...Mulher DE...cidida a se TRAN...sformar. Sempre fica achando que vai perder peso e ficar com corpo de fadinha do Peter Pan.
AMIGA – Mas que paranóia com seu corpo! Você tem que se aceitar como você é!
GILCILENE – E você fala isso com a boca cheia de brigadeiro! Só de olhar para você comendo adquiri 5 mil calorias!
AMIGA – O que é que eu posso fazer se o meu metabolismo é assim e não me deixa engordar?
GILCILENE – Cada vez que eu ouço falar em metabolismo tenho vontade de puxar uma peixeira...
AMIGA – E nessas suas definições, como é que você se enquadra?
GILCILENE – Eu? Eu sou uma mulher CEP...
AMIGA – Mulher CEP? CEP igual aquele que a gente escreve nas cartas?
GILCILENE – CEP, Carente Especializada Profissional. A carência aumenta e eu me consolo com um quindão do tamanho do Maracanã. Meu melhor amigo é o Garoto...
AMIGA – Que garoto?
GILCILENE – A caixa de Bombons Garoto...
AMIGA – Rá! Rá! Rá!...Você não tem jeito, amiga...Hummmm e o pior é que essa sua conversa me deu fome. Acho que vou pegar um pedaço daquela torta que está piscando o olho pra mim. Já volto...
GILCILENE – Vai...vai...ô frieira! Ô meu Deus! Senhor, se não puder fazer com que eu emagreça, faça com que todas minhas amigas engordem!!! Amém!!!
M.S.
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Mais uma de minhas radionovelas. Lembro que a atriz que o diretor escolheu pra gravar o personagem da Gilcilene só ficava repetindo: “Mas sou eu direitinha! Essa cara escreveu a minha vida!”
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Doida Demais”, pérola na voz do inimitável Lindomar Castilho.

segunda-feira, julho 24, 2006

Globalizaram o Super-Homem


Mais rápido que uma bala... Mais forte que uma locomotiva...Capaz de erguer um edifício sem qualquer esforço...
Olhe lá no céu...é um pássaro! ...Um avião...
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Imagino que a quase totalidade dos leitores que me dão o prazer de ler não está exatamente familiarizada com as palavras dessa apresentação acima. Bem, amigos do Antigas Ternuras... Lamento informar, mas sou do tempo do “Super-Homem” em seriado de TV, com George Reeves no papel principal (o rapaz aí da foto, ao lado da “Lois Lane” interpretada pela atriz Phyllis Coates).
Esse Super-Homem me fazia amarrar uma toalha no pescoço e sair correndo pela casa, com a minha mãe me ameaçando se eu quebrasse alguma coisa. Pois é. A abertura desse seriado começava desse jeito que eu contei.
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Claro que por essa época, eu já lia as revistas do Homem de Aço editadas pela Editora EBAL. Embora meu favorito já fosse o Batman, eu não perdia um filminho do kriptoniano na TV Globo de meus primeiros anos.
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Em 1978, assisti ao Super-Homem do Christopher Reeve (“Superman, the movie”, 1978, dir. Richard Donner), com participação especial de Marlon Brando, como Jor-El. Era muito bem feito, em que pese aquele final absurdo e uma “Lois Lane” feiosa pra dedéu (Margot Kidder, com o Christopher na foto). Foram quatro filmes que consagraram o Reeve, embora só os dois primeiros valessem realmente a pena.
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Eis que em pleno Século 21, chega às telas um novo Super-Homem (“Superman returns”), com direção de Bryan Singer, que já tinha feito bonito nos dois primeiros “X-Men”. Nos papéis principais, o novato Brandon Routh, como o azulão de capa esvoaçante, Kate Bosworth, encarando o papel de “Lois Lane” (pessoalmente, achei inapropriada para o papel e não vi muita “química” entre ela e o Routh), e Kevin Spacey, como “Lex Luthor”. É inacreditável, mas o sempre ótimo Spacey está um canastrão de marca maior no filme.
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Eu vi o trailer e achei tudo muuuuito esquisito. Mas como cinéfilo que sou, fui ver o filme assim mesmo, mas pronto para detestar. Surpreendentemente, gostei mais que não gostei. E até resolvi sair de minha inapetência para escrever posts sobre filmes (a safra este ano está muito ruim...) e tecer alguns comentários sobre este blockbuster.
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Pra começar, nota mil para os efeitos especiais. Definitivamente, o céu é o limite para o cinema atual. A impressão que a gente tem é não haver nada atualmente que não possa ser feito com computação gráfica. Você vê tudo aquilo e acredita que o cara está voando, flutuando, disparando no céu... Comparando com os efeitos da série televisiva de minha infância, chega a ser brincadeira...E mesmo na comparação com os filmes do Reeve, os efeitos de agora estão a anos-luz daqueles.
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Quanto ao ator que faz o Azulão, arrumaram um cara que faz lembrar o ícone Christopher Reeve. Ele realmente não compromete, mas só vemos algum trabalho de ator nele quando ele está de Clark Kent. Como Super, ele só tem que fazer “carão”, como chamamos no jargão artístico. E cara de Super-Homem é aquilo que a gente sabe... Sério, consciente que é o poderoso do pedaço.
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O filme traz algumas contribuições ao arquétipo do verdadeiro super-herói? Sim, ao meu ver, traz. Em que pese o roteiro estar repleto de pontas soltas, vi algumas coisas interessantes. Uma delas: globalizaram o Super-Homem. Desta vez ele não fica restrito a fazer atendimentos a Metrópolis. O cara está atento a todo o planeta. Não sei como não apareceu em São Paulo, saindo no pau com os traficantes do PCC! Ou no Rio, acabando com os tiroteios na Rocinha e no Morro de Santa Marta!
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Outra coisa interessante: os roteiristas fizeram analogias entre Jesus Cristo e o Super-Homem, especialmente nas citações envolvendo Pai, Filho, Enviado... Nas cenas em que o herói entra no cacete, cheguei a visualizar a paixão de Cristo. É um dado novo para quem gosta de discutir sub-textos, abordagens filosóficas e coisas que tais.
E as novidades não param por aí. O diretor deste filme fez homenagens explícitas aos filmes do Richard Donner, com o Christopher Reeve, e identifiquei também algumas citações às histórias dos gibis do Super-Homem. A começar pela cena que quase reproduz a capa da primeira revista em quadrinhos do herói. (veja a foto). Claro que só quem leu os gibis do kriptoniano vai perceber as referências.
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O que, no meu modo de ver, não funcionou: aquele filho de uma Lois Lane casada me incomodou tremendamente. Piorou quando descobri de quem ele é filho!
Outra coisa: Além da canastrice do Kevin Spacey (e pensar que quase contrataram o sempre fantástico Johnny Depp para o papel de Luthor... Seria, com certeza, muito melhor!), o “Perry White” de Frank Langela não convence nem à Velhinha de Taubaté! Tremenda bola fora!
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De qualquer forma, é um bom entretenimento e que merece continuar a grife. Este Super-Homem custou baratinho: só 250 milhões de dólares... Filmaram na Austrália onde tiveram até que plantar o milharal que aparece no início. Ficamos aguardando o próximo filme da série. Na verdade, eu até aguardaria que ele desse um rolé pelos ares daqui do Rio. A Lois Lane pergunta, em uma matéria jornalística que escreveu no filme, “Por que precisamos do Super-Homem?”. Eu respondo à intrépida repórter:
- Para a gente poder sair à noite sem a impressão de que existe uma roleta russa em andamento e que a próxima bala vai nos acertar. Se o Super desse uma olhadinha aqui na minha cidade, eu bem que agradeceria e ainda cataria qualquer eventual kriptonita...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Gilberto Gil e a belíssima “Super-Homem, a canção”. Não tem as famosas fanfarras do tema do John Williams, mas também é excelente.

sexta-feira, julho 21, 2006

Teatro de Sombras


Essa aventura daquele meu amigo, que para preservá-lo chamei de “Jerry Lewis”, me foi contada pelo meu parceiro Heitor.
Vinha o Lewis descendo pela Estrada do Alto da Tijuca. Para quem não conhece, é uma estradinha muito sinuosa, em mão dupla e em uma espécie de serrinha que liga o bairro da Tijuca à Barra da Tijuca. É muito difícil fazer ultrapassagens naquela estrada. Se um cristão tiver a má sorte de ficar atrás de um caminhão ou ônibus, está lascado. Vai ficar naquela marcha lenta por muito tempo.
Pois é. Mas, como eu dizia, lá vinha o Lewis descendo a estrada quando encontrou um ônibus bem morrinhento pela frente. A uns 10km por hora... O cara ali, desesperado atrás do ônibus e atrasado para um compromisso.
Na primeira chance que ele viu de ultrapassar o ônibus pela contramão, jogou o carro para a esquerda, socou a bota no acelerador e lá foi ele.
O que ele não contava é que o motorista do ônibus, só de sacanagem, também acelerasse. O cara na contramão, descendo o Alto e nada do ônibus dar passagem pra ele. Lá iam os dois, emparelhados, Jerry não tinha mais como voltar para onde estava, pois um outro carro encostou na traseira do ônibus. Entram numa curva e vem subindo um caminhão de bujões de gás; o ônibus acelerando; Lewis acelerando; se continuasse daquele jeito, a colisão seria inevitável entre o carro de Jerry e o caminhão. A única alternativa seria jogar o carro todo para a esquerda e subir na calçada. Eis que providencialmente surge um borracheiro bem adiante, à esquerda de Lewis. Ele nem pestaneja: entra no borracheiro cantando pneu, freando, quase um cavalo de pau, numa nuvem de poeira. Fregueses e funcionários olharam praquilo de boca aberta, mal acreditando que alguém pudesse entrar ali daquele jeito.
Nisso, Jerry sai do carro com toda a calma, quase assoviando, olha em volta, assim, displicentemente e pergunta:
- Hammm...Escuta...Quanto é que está o jogo de pneus, heim?
*

Outra.
O Heitor tinha conseguido uma casa na praia de Maricá pra nossa turma. Íamos uns oito. Heitor já estaria lá, nos esperando. Dividimos as pessoas pelos carros, o Jerry era o que melhor sabia chegar na tal casa. Teríamos que segui-lo. Olha só o perigo...
Tirante o fato dele não se decidir quando estava diante de uma bifurcação, entre entrar à direita ou à esquerda - ele optava por ir pelo meio, mesmo se tivesse uma placa no caminho – chegamos à Maricá sem problemas. Lá, só tínhamos que chegar até a tal casa, que ficava perto da praia. Seguíamos o Jerry. E era um tal de entra à direita, entra à esquerda... Daqui a pouco o carro do Lewis desapareceu. Como tinha um no grupo que sabia um pouquinho como chegar na casa, fomos atrás dele. Passamos por uma rua cheia de casas com quintal e muro baixo. Nos quintais, varais exibiam “roupas comuns dependuradas tal e qual bandeiras agitadas”, como diz na música “Chão de Estrelas”. Eis que de um desses quintais, surge o carro do Jerry, arrastando um varal, com lençol, camisola agarrado na capota e até uma calcinha pendurada na antena do carro.
- Pô! Cadê vocês???? – perguntou a alucinada criatura.
Depois de um ataque coletivo de gargalhadas, fomos ao encontro do Heitor e passamos um final de semana maravilhoso.
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Uma outra vez, fomos para uma casa em Itaipava, dos pais do Heitor. Clima de serra, beleza pura. Chegando lá, um do grupo resolve pregar uma peça no Jerry. Tínhamos levado uns belisquetes (amendoim, biscoitinhos, fandango, só besteira...). Aí o cara viu lá um saco de Bonzo. E teve a idéia de botar um pouquinho num prato junto com os potinhos de tira-gostos. Com certeza o velho Lewis não perceberia e iria atochar a mão no pratinho de Bonzo. No que ele propôs esse plano maquiavélico, o demente aqui, olhos brilhando, não só aplaudiu como se ofereceu para ajudar na encenação. Lá fui eu e o outro sádico delinqüente armar a parada toda.
Quase que deu certo.
Na hora H, estávamos na sala batendo papo, Jerry vai lá e enfia a mão no pote de Bonzo. Os dois tarados com a respiração (e a gargalhada) em suspense. Nisso, o Heitor percebe e avisa ao Jerry, sob protestos e vaias dos dois mequetrefes. Jerry provou assim mesmo. E disse que não era ruim. Mas aí já não tinha mais graça.
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Nessas histórias, vocês perceberam que além do Jerry (que eu não revelo o verdadeiro nome de jeito nenhum) um outro cara estava em todas. O Heitor. Parceirão, grande camarada da gente.
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Nesta quarta-feira, fim de tarde, recebo um telefonema de uma das moças do nosso antigo grupo:
- E aí? Tudo bem?
- Tudo péssimo! – ela disse, chorosa – O Heitor se matou.
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...
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O cara estava há muito morando no Sul do país. Sem emprego, sem ânimo, em fase de separação no seu casamento, entrou em um quadro de depressão que ficava mais grave quando ele bebia. Há coisa de umas duas semanas, ele esteve aqui no Rio. Jerry e outros amigos saíram com ele. Eu não estava nessa.
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Aparentemente, ele parecia estar bem, falou de seus projetos e tudo o mais. Na hora de ir embora, ele se despediu de alguns com um abraço bem forte. Ficou abraçado longamente com uma amiga, falando ao ouvido dela. Disse ela que agora percebeu que ele estava dizendo adeus aos amigos.
Voltou para casa, e na noite de terça passada, esperou a esposa (ou melhor, ex-esposa) dormir, pegou o revólver que tinha comprado e deu um tiro na boca.
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No velório - em pleno Dia do Amigo, que ironia... - eu e alguns membros de nossa turma, todos atarantados com o sucedido. Eu lembrei de nossas discussões sobre futebol. Ele, vascaíno doente. Eu, apaixonado pelo Flamengo. Discutíamos, mas nunca brigamos.
Almoçávamos juntos quase todo dia durante um período. Como conversávamos! Principalmente sobre música. Foi ele quem me apresentou ao Dire Straits. E eu, de cara, fiquei alucinado por “Sultans of Swing”.
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A turma foi casando, os filhos nascendo, não dava mais para sairmos em bando como antigamente. O grupo se revia nos aniversários das crianças.
E de repente, estávamos ali. Num cemitério. As risadas de antes foram trocadas por sussurros à meia voz. Os bufões de tempos outros se transformavam em personagens de um Teatro de sombras, esboços pálidos de nós mesmos.
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Todas estas histórias que contei acima passaram ali pela minha cabeça e outras mais. Via a cara de tristeza de meus antigos camaradas, nossa!, a gente nunca conseguia ficar sério mais que três minutos e no entanto passamos horas ali, olhos baços, um soluço parado no ar...
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Levamos nosso amigo à sepultura e fomos nos afastando devagar, talvez esperando que tudo fosse mais uma das peças que pregávamos uns nos outros e de repente o Heitor surgisse ali, com aquele sorriso peculiar e dizendo: “Arrá! Peguei vocês!”
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Para honrar nossas antigas tradições, eu falei para meus amigos: “Foi muita sacanagem dele fazer isso na véspera de uma vitória do Mengão sobre o vasco. Acho que ele sabia que ia ser vice de novo e disse: “Prefiro morrer!”.
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Até a viúva riu.
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Puxa, Heitor, essa sua brincadeira não teve graça nenhuma. A gente vai sentir falta de você...
Que o amor de Deus te envolva e te traga a luz que você esqueceu em algum canto.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Dire Straits com “Sultans of Swing”. Aí, Heitor, essa é pra você...

quarta-feira, julho 19, 2006

Levanta o mouse quem lembra! (Volume III)


Prosseguindo com a séria série “Antigas Ternuras em reclames”, trago mais um post sobre os eternos comerciais que sempre recordaremos.
No Volume II (logo aí, abaixo), prometi contar a história do célebre comercial dos cigarros Luiz XV (que nem existem mais...) utilizando a canção “The Closer I Get To You”, que continua tocando na Rádio Antigas Ternuras.
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Em plenos anos 70, numa noite, em pleno horário nobre (se não me engano, foi num intervalo da novela das oito), o país assistiu, encantado, a um filmete de um minuto (!!!), onde um casal, em roupas diáfanas, passeava por um jardim muito bonito, num clima pra lá de romântico, ao som de uma música belíssima. A fotografia era difusa, o que dava um ar etéreo ao filminho. A gente vendo aquele comercial, ficava se perguntando: “Mas é propaganda de quê? De roupas? De absorvente íntimo? Um lançamento imobiliário?” No finalzinho daquele minuto, aparecia um maço de cigarros e a voz do locutor: “Luiz XV – O prazer de fumar” (não tenho certeza se o slogan era esse, mas era algo assim). Nos outros intervalos, repetiram o comercial de um minuto (sabe lá o que é i$$o?) e, nos dias seguintes, apresentaram uma versão editada nos 30 segundos regulamentares. Mas sempre naquele esquema: música, belas imagens, produto no final.
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Lembro que correu uma história de que aquele comercial fez vender muito disco da Roberta Flack & Donny Hathaway, mas não vendeu muito cigarro. Um dia, quando fazia pós-graduação em Marketing, perguntei a um de meus professores (que era publicitário) se aquela história era verdade. Ele garantiu que era lenda, que o comercial (ele chamava de "peça") tinha feito disparar as vendas da tal marca de cigarro. Eu retruquei: “Mas fez vender muito disco também...Eu próprio comprei o compacto simples com a música.” Ele disse que isso às vezes acontece.
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Bem, lenda ou não, a história é essa. O comercial fez história por apresentar o produto daquela forma sofisticada, praticamente sem falar nada sobre suas características.
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Outro comercial que deve trazer lembranças aos quarentões é o do Jeans US Top, que foi feito na mesma linha (e mais ou menos na mesma época) do célebre jingle da Pepsi (que eu mostrei no Volume I). Jovens passando uma idéia de liberdade, em plena época da ditadura militar.
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Liberdade é uma calça velha
Azul e desbotada
Que você pode usar
Do jeito que quiser
(Não usa quem não quer)
US Top
Do jeito que quiser...
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(Não consegui nenhum arquivo com este jingle)
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Um outro comercial me traz grandes recordações. Alguém lembra?

Nescau tem gosto de festa
Dá mais vontade de brincar
Nescau dá força e alegria
Dá mais desejo de estudar
O novo Nescau é instantâneo
E se prepara sem bater
Nescau é vitaminado
Pra criança fortalecer!
Nescau, Nescau, Nescau
Parará-timbum!
(Para ouvir, clique aqui e depois no título do jingle. Antes de tocar o comercial, tem uma rápida explanação do publicitário Lula Vieira)
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Acho fantástico esse slogan: "Nescau tem gosto de festa". Algo que tem gosto de festa só pode ser muito bom. Huuummm...Talvez eu faça um post participativo perguntando: "O que vocês acham que tem gosto de festa?"
Eu sei o que tem gosto de festa pra mim...
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Na época desse comercial, na rua onde eu morava, inventaram um sistema de punição baseado nesse jingle. Se alguém falasse ou fizesse alguma merda, a rapaziada cercava a vítima e cantava: “Nescau, nescau, nescau...parará-timbum!” No “timbum”, desciam o braço no infeliz para ele deixar de ser besta.
*
Esse é um pouco mais moderninho, acho que muita gente vai lembrar. Eu, cantor profissional de banheiro, já cantei essa musiquinha trocentas vezes enquanto lavava o meu corpinho sensual:
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Apanha o sabonete
Pego uma canção e vou cantando sorridente
Duchas Corona, um banho de alegria
Num mundo de água quente
Apanha o sabonete
Abro a torneira e de repente a gente sente
Duchas Corona, um banho de alegria
Num mundo de água quente
Apanha o sabonete
É Duchas Corona dando um banho em tanta gente
Duchas Corona, um banho de alegria
Num mundo de água quentchiiiii!
(Para ouvir, clique aqui)
*

E pra terminar, vou lembrar um jingle que eu não consegui achar em nenhum site, mas tenho certeza de que muita gente lembra dele. E fica também como uma homenagem a uma grande amiga que fiz no Teatro, amiga mesmo, de verdade, que me deu muitas oportunidades. Hoje ela é uma das estrelas do céu. É dela a voz dessa musiquinha que toda criança de “alguns” anos atrás deve lembrar. Estou falando da minha queridíssima Nádia Maria (foto à esquerda) e o jingle é esse aqui:
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Plá-Plé-Pli-Pló-Plus Vita, Plus Vita
Na nossa mesa tem Plus Vita todo dia
(Plus Vita na mesa todo dia)
Por isso é que lá em casa todos vivem
Com mais saúde, mais alegriaaaaaa!
*
Pois é, meus caros... Eu poderia fazer uns dez volumes só com propagandas de minhas antigas ternuras. Mas acho que o assunto já rendeu. Pode ser que mais tarde eu o retome. Por hora, ficamos por aqui. Os mais novos que me dão o prazer de ler meus textos, em algum lugar no futuro, lembrarão de alguns comerciais que estão passando na TV atualmente e contarão para os jovens como era gostoso ouvir e ver aquelas musiquinhas que têm a função de nos fazer consumir determinado produto, mas que, por suas qualidades, acabam se incorporando ao nosso tesouro de recordações.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras você continua ouvindo “The Closer I Get To You”, na voz de Roberta Flack e Donny Hathaway. Ouve só: ... The more you make me see...
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Caramba! Daqui a pouco o blog alcançará o 10.000 visitante! Quem será o escolhido para fazer a visita cravada neste número?
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A Nancy, do belo blog Lua em Poemas, conferiu ao Antigas Ternuras o selo "Award Lua em Poemas". Ei-lo. Obrigado, amiga. O Antigas Ternuras se sente honrado e agradece pelo seu presente.

segunda-feira, julho 17, 2006

Levanta o mouse quem lembra! (Volume II)


No capítulo anterior (que está logo abaixo desse), falávamos dos jingles que fazem parte de nosso passado, constituindo-se em nossas antigas ternuras. Antes de prosseguir recordando mais dessas pérolas, uns poucos comentários.
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O jingle da Pepsi que eu lembrei no post anterior foi o primeiro a mostrar uma imagem de juventude e de liberdade. Veja bem que ele foi produzido em plena ditadura militar (é de 1972), quando a censura comia solta. Acho que os censores paparam mosca (ainda bem! Eles eram tão estúpidos!) e não perceberam quem era a tal “tanta gente” que queria modificar os jovens.
*
Também no post anterior, eu lembrei um jingle do Cremogema. Aquele foi criado nos anos 80, lembro e gosto dele, mas não é o da minha infância, que até tenho gravado, mas não em arquivo midi. Era assim, ó:
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Cremogema
Se come se toma se bebe
Se bebe, se come, se toma
Cremogema
Tudo é gostoso com Cremogema
A mais completa alimentação
Se come em pudins e bolos
Se toma em mingaus e cremes
Se bebe vitamina e milk-shake Cremogema
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Tem um jingle não muito antigo, mas que me traz boas recordações. Ele é de 1978. Acho que vocês vão lembrar e cantar junto, ao som dessa violinha, especialmente na parte: ...”quando o baleiro parar...”
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Roda, roda, roda baleiro, atenção
Quando o baleiro parar, põe a mão
Pegue a bala mais gostosa do planeta
Não deixe que a sorte se intrometa
Bala de leite Kid’s
A melhor bala que há
Bala de leite Kid’s
Quando o baleiro parar
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
Por conta desse comercial, sempre tive vontade de ter um baleiro. Não tenho esse grandão. Mas tenho um pequeno...
*
Ainda do meu tempo, que passava na nossa velha Philips, em preto e branco, com seletor de canais e quatro pés palitos, tinha essa preciosidade. Um clássico:
*

Quem bate?
É o frio
Não adianta bater
Que eu não deixo você entrar
As Casas Pernambucanas é que vão
Aquecer o meu lar
Vou comprar flanelas, lãs e cobertores eu vou comprar
Nas Casas Penambucanas eu não vou sentir
O inverno passar.
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
E eu me lembro de um outro, absolutamente delicioso. Eu já era um jovenzinho e adorava ficar cantando debaixo do chuveiro, aos brados, até minha mãe me dar um esporro:
- Marco! Os vizinhos estão ouvindo essa cantoria!!!
E eu, com o chuveirinho na mão, abria o peito:
*

Dá-me um Cornetto
Molto crocante
É piu cremoso
É da Gelatto
Cornetto
Sei própria Itália
Te voglio tanto
Corneeeeeeeto mio!
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
Lembrou, né? O que? Você também cantava esse debaixo do chuveiro? A sua mãe reclamava também? Pra você ver como são as coisas...
Tem um outro do qual eu gosto muitão e do qual já falei aqui no Antigas Ternuras. Pois é...A Varig agonizando, e eu só me lembrando do jingle do “Seu Cabral”...
*

Seeeeeu Cabral vinha navegando
Quando alguém logo foi gritando
- Terra à vista!
E foi descoberto o Brasil
Turma gritava: “Bem-vindo Seu Cabral!!”
- Escreve aí, ó Caminha, ao nosso querido rei
e diz que a terra é generosa e tem gente muito bondosa.
Mas Cabral sentiu no paaaaito
Uma saudade sem jeito
- Volto já pra Portugal!
Quero ir pela Varig!
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
Como vocês estão gostando, vem aí o terceiro volume. Todos estão recordando seus antigos preferidos. Eu já tinha escrito os três textos com os jingles antigas ternuras. Alguns vocês pediram e já estavam previstos. Não dá para inserir todos eles aqui. Eu tenho fitas cassete com horas de jingles do tempo do Onça. Aqui, estou dando preferência aos que encontrei em arquivo mp3 ou midi. Basta clicar onde indiquei e vocês não só podem ouvi-los como gravá-los nos próprios computadores. Na quarta-feira, o terceiro volume.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “The Closer I Get to You”, com Roberta Flack e Donny Hathaway, tema da propaganda dos cigarros Luiz XV. No próximo eu conto a história desse comercial.

sexta-feira, julho 14, 2006

Levanta o mouse quem lembra! (Volume I)


Quando eu estava em idade de pensar o que fazer da vida teve gente que me deu uma sugestão:
- Marco, você é criativo. Por que você não faz vestibular pra Publicidade e Propaganda?
A sugestão fazia sentido. Eu sempre gostei de inventar coisas. Meus professores diziam que eu tinha bom texto... Mas, publicitário... Como é o trabalho de um publicitário?

Foi quando me lembrei da série “A Feiticeira”. Era o emprego do marido da Samantha, o “James” (tinha esse nome na dublagem brasileira. O nome original do personagem era “Darren”). Ah, sim. Então, em teoria, eu sabia o que fazia um publicitário.
*
Eu me formaria, iria trabalhar em uma agência de publicidade, participaria da criação de campanhas publicitárias... Mas, péra lá! Eu não fumo e odeio cigarro! E se me mandassem
criar um comercial pra fazer as pessoas fumarem uma marca dessas chupetas do demônio? É...Desisti. Na minha cabeça, publicitário era o cara que vendia a alma em troca de um prato de lentilhas ou de trinta dinheiros. Eu nunca iria colocar a minha (suposta) criatividade para vender o que eu próprio não consumiria.
*
Independente disso, sempre tive ligações afetivas com comerciais. Dos bons tempos do Rádio e do tempo da TV a lenha, os jingles sempre foram e serão minhas antigas e queridas ternuras. Resolvi selecionar algumas peças que mexem particularmente com a minha emoção. Quem lembrar, cante junto.
*

Hoje existe tanta gente
Que quer nos modificar
Não quer ver nossos cabelos assanhados, com jeito
Nem quer ver aquela calça desbotada
O que é que há?
Se o amigo está nessa
Ouça bem:
Não tá com nada

Só tem amor quem tem amor pra dar
Quem tudo quer do mundo, sozinho acabará
Só tem amor quem tem amor pra dar
Só o sabor de Pepsi que mostra o que é amar
Só tem amor quem tem amor pra dar
Só o sabor de Pepsi que mostra o que é amar
Só tem amor quem tem amor pra dar
Nós escolhemos Pepsi e ninguém vai nos mudar.
(Autores: Sá, Rodrix e Guarabyra)

(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com uma nota musical)
*
Se você tem mais de quarenta, certamente lembrou desse. E esse agora?
*

Crem, cremo, cremo, Cremogema
É a coisa mais gostosa desse mundo
Eu esqueço a boneca
Eu esqueço a minha bola
Quando tomo,
tomo,
tomo,
tomo,
Crem, cremo, cremo, Cremogem
Tem um gosto que a gente gosta muito
A mamãe quer sempre o que é o melhor pra gente
Crem, cremo, cremo, Cremogema!
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
Ei! Não vai chorar aí não! Calma que tem mais!
Esse aqui vai fazer você exclamar um “Aaaaahhhhh!” bem alto:
*

É hora do lanche que hora tão feliz
Queremos biscoitos São Luiz
Pergunte à mamãe
Para ver o que ela diz
O biscoito mais gostoso
É o biscoito São Luiz!
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
O que me diz? Está fungando, enxugando uma lágrima furtiva?
Huumm...Talvez o pessoal mais novo esteja boiando? Tudo bem. Vou dar uma colher de chá pra vocês. Essa é pra “garotada” que freqüenta o Antigas Ternuras!
*

Pipoca na panela
Começa a rebentar
Pipoca com sal
Que sede que dá
Pipoca e guaraná
Que programa legal!
Só eu e você e sem piruá
Que tal?
Quero ver pipoca pular
(Pipoca com guaraná!)
Quero ver pipoca pular
(Pipoca com guaraná!)
Quero ver pipoca pular, pular
Soy lôca por pipoca e guaraná!
Guaraná!
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com a nota musical)
*
Desse aí todo mundo lembrou, né?
Por hoje fico por aqui. Na segunda-feira eu volto com o segundo volume. Agora é hora de você ir pra caminha:
*

“Já é hora de dormir
Não espere mamãe mandar
Um bom sono pra você
E um alegre despertar...
Cobertores...Parahyba!”
(Para ouvir, clique aqui e depois no quadradinho com uma nota musical)
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras você ouve o "Tema de A Feiticeira" (ringtone do meu celular)

quarta-feira, julho 12, 2006

Velha infância


Essa música dos Tribalistas tem para mim o sentido de me fazer relembrar que mesmo depois de burro velho ainda mantinha resquícios de minha tenra infância. Só Deus sabe o que aprontei nos meus primeiros anos na empresa onde tiro o pão com o suor do rosto. E não estava sozinho nas “reinações”. Éramos um bando de bobos, de adoráveis bobos, sem nada na cabeça. Hoje, quando encontro alguém daquele tempo e pergunto se recorda de nossas travessuras, uns riem nostalgicamente, outros dizem não lembrar... E quando alguém me vê fazendo palestras, ministrando cursos, fazendo minhas pesquisas históricas deve imaginar algo como: “Eis aí um rapaz sério!”
Rá! Ledo engano. Já fui um caso sério, isso sim. Claro que hoje não dá para ser o gaiato que era em priscas eras. Com o tempo, realmente fiquei mais “respeitável” (eu sei, há controvérsias...).
*
Entretanto, este blog serve para recordar minhas antigas ternuras. E meus primeiros anos de trabalho são relembrados por mim com muito carinho. Bem, não sei se vocês perceberam, mas eu sou chegado em fazer umas gracinhas. E acreditem: já fui bem pior.
*
O ambiente onde eu trabalhava favorecia minhas “aprontações”. Eu e alguns dementes como eu nunca perdíamos a chance de uma piada. Por exemplo: no nosso setor, deixar bolsa ou carteira dando sopa era um perigo sério. Bastava a vítima sair da sala que pegávamos a carteira e grampeávamos todas as suas notas. Fim do expediente, a criatura entrava no ônibus de volta para casa, na hora de pagar descobria que todo o seu dinheiro estava preso por milhares de grampos. Ficava ali, diante do cobrador, na catraca, arrancando um por um, e a fila atrás, só protestando: “Ô cobrador! Ó essa roleta aê!”
Dar mole com o guarda-chuva também não era aconselhável. Picávamos quilos de papel e enfiávamos entre as palhetinhas do bicho. Quando na rua, o incauto abria o guarda-chuva, virava bailarino de frevo sem querer, debaixo de uma chuva de confete.
*

Tinha um cara no setor que, um dia chegou e tirou os sapatos e impregnando o ar com um chulé monumental. Aquela inhaca matava gambá na curva. O pé do cara deveria ser registrado na ONU como arma química de destruição em massa! Manja incêndio na fábrica de queijo gorgonzola? Pois é. E não adiantou protestar, o mané disse que a gente estava exagerando. Escolhemos um voluntário para surrupiar um pé de sapato daquele fedorento. Deu tudo certo. O indivíduo quando descobriu, implorou para que devolvêssemos. E olha, até onde eu sei, não devolveram, não. O cara voltou pra casa com um pé descalço, empestando a humanidade com aquele fedor de urubu com inhame.
*
Poucos anos depois de eu ter sido admitido, me deram um cargo de chefe de equipe. E eu montei o meu grupo com esses elementos. Eu era o chefe mais esculhambado da paróquia. Sacaneava todo mundo e todo mundo me sacaneava. Mas, curiosamente, quando eu falava: “Gente, agora é sério”, nenhuma outra equipe rendia como aquela! E quando eu tinha que chamar alguém na chincha por ter cometido excessos, falava na boa e a pessoa compreendia e me dava razão. Nunca tive problemas com nenhum deles.
*

Um dos componentes do meu grupo era o “Cristo” da turma. Vamos chamá-lo de Osmar. Pois é. O cara era tímido pra caramba. Bom de trabalho, talvez fosse o meu melhor funcionário. Super simpático, agüentava todas as brincadeiras que a gente fazia com ele. Não tínhamos como não gozar daquele cara! A postura dele ao andar praticamente o transformava em um personagem cubista do Picasso. Ele era curvo e empenado prum lado. Eu fiz uma música pra ele, pra ser cantada com a melodia de “Paisagem da janela”, do Beto Guedes. Era ele chegar e a gente cantava: “Seu andar é lateral...Parece um zumbi...” E o pior é que ele ria!
*
Não satisfeitos em cantar paródias pro cara, eu e outros maus elementos resolvemos criar uma “história” pra ele. Inventamos que ele só sentia prazer sexual se estivesse fantasiado de Cavaleiro Negro, aquele justiceiro de gibi de faroeste.
*

Ficávamos contando essa história pro setor inteiro. Obviamente, o Osmar ganhou o apelido de Cavaleiro Negro! E se ele tivesse algum interesse em alguma das moças, que esquecesse. Nenhuma toparia nada com ele. O Osmar até se engraçou com uma, que foi logo avisando: “O que? Nem morta! Ele pula de Cavaleiro Negro na minha frente e eu nunca mais vou ter concentração pra fazer sexo na minha vida!”
Não houve jeito de convencer a moça de que aquilo era inventado por um bando de canalhas. Não teve acordo.
*

Mas a sacanagem não parou aí. Um dos rapazes, que não devia ter nada na cabeça, ficou em casa um dia, recortando cartolinas em forma de duas esporas. E o bicho foi caprichoso! Recortou com todo o cuidado, pintou na cor de prata e levou pro setor. Perto do final do expediente, ele foi devagarzinho, pelas costas até o Osmar. Prendeu as esporas na parte de trás do sapato dele com fita adesiva sem ele perceber. Pronto!
*
Na saída, organizamos um grupo para segui-lo, pois queríamos saber até onde ele iria daquele jeito. Lá ia o Osmar, como se fosse um peão pronto para montar no touro Bandido e a gente atrás. O negócio estava organizado. Tinha uma tropa de choque pronta para impedir que alguém o avisasse. Ele andando na direção da estação de trem e nós o seguindo, segurando o riso. Teve uma hora que quase a vaca foi pro brejo. Um do grupo não se agüentou e começou a cantar alto: “Ó, Suzanaaaa...Não chore por mim!” Primeiro rimos. Depois quase linchamos o cara. Depois rimos de novo.
*
Na estação, vem o trem. Todos entram. A tensão estava no ar. Será que ele iria de caubói urbano até sua casa? Olha, faltou pouco.
Ele só percebeu quando, no vagão, um menino olhava pra ele, olhava pro sapato dele; olhava pra ele, olhava pro sapato dele. Até que cutucou a senhora ao lado e falou bem alto:
“Manhê! Eu quero um brinquedinho igual ao desse moço!
Não sei como o trem não descarrilou. A explosão de gargalhadas foi sentida até no primeiro vagão.
*
Definitivamente, o meu passado me condena...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Velha Infância”, com os Tribalistas..."Meu riso é tão feliz contigo..."

segunda-feira, julho 10, 2006

Lamentos


- Ó trevas... Por quanto tempo havereis de ouvir meus ais?
- Quem está aí? De quem é este lamento?
- Sou Tristão de Aragon. E vós? Quem sois?
- Meu nome é Romeu Montecchio. Por que suspiras?
- Devíeis inquirir por quem murmuro meus penares... É por minha dona. Por aquela de quem sou cativo. Não a vejo e no negror que me envolve cada partícula de mim clama por ela.
- Também estou apartado da luz de meus olhos. E se minha amada não aqui está, não há em mim prazer em ver e não me importo de estar imerso em penumbra.
- E como se nomeia a luz de seus olhos?
- E se eu vos dissesse que ela se chama “meu amor”? E se eu confessasse isso mil vezes ao vento, a música de seu nome me transportaria para junto dela? Sim, posso chamá-la assim, pois se digo “meu amor” não estou dizendo com a mesma devoção: “Julieta”?
- Vós usais as palavras com exímia esgrima. Receio não ter a mesma habilidade para descrever o que me representa Isolda, a senhora de minha mente e de meus lábios. Palavras podem me faltar, todavia cada sopro de meu peito revela seu nome.
- O fascínio dos castelos e dos campos de flores não se pode comparar à visão de Julieta. Pois, se a pedra fria, mesmo disposta com engenho e arte, nos comove...e se a beleza singela da flor, mesmo sendo obra divina, nos afaga a sensibilidade... o que eu poderia falar do abstrato mais que concreto sentimento de amar minha senhora?
- Dize-o bem, caro senhor. E não te posso superar. Pois nem que eu usasse todo firmamento como pergaminho e toda a água do mar da Inglaterra como tinta, não esgotaria nas palavras meu amor por Isolda.
- E onde está tal gentil senhora?
- Decerto haverá de estar em nosso refúgio secreto, onde nos víamos sempre à noite, acobertados por uma lua que mais parecia uma moeda de prata saindo do mar calmo de Cornwall. Nosso recanto ficava no alto de um penhasco, não íngreme. O céu totalmente estrelado, nos envolvia e quando lá nos víamos nenhum animal, nem o fugaz pirilampo, ousava ferir o nosso sossego.
- Pois o rouxinol e a cotovia insistiam em tirar-me dos braços de minha amada Julieta. Eu a deixava, mas levava comigo o perfume de nardos de seus cabelos e o de manjerona emanado por seus lábios.
- E onde ela está agora?
- Como o onipresente Deus, ela está por toda parte ao meu redor e dentro de mim. E na inspiração dos enamorados que ousam amar um amor proibido.
- Sei bem a que vos referis. É essa também a minha história. Mas a natureza insiste em proclamar o amor oculto de Tristão e Isolda. Onde jaz o meu corpo, minha amada fez plantar dois salgueiros que se perenizaram e nos eternizam.
- Esperai!...Ouço passos que se aproximam! Ouvis?
- Sim, decerto que sim... Alguém haverá de nos libertar deste cativeiro?
Foi então que um rapaz interrompeu a conversa dos dois personagens, retirando os livros da prateleira de sua biblioteca, levando-os em seguida para um escaninho onde se via escrito numa etiqueta: “Idéias a serem desenvolvidas”. Afastados os dois livros, seus personagens finalmente se calaram.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras você está ouvindo “Somewhere in Time”, de John Barry.

sexta-feira, julho 07, 2006

Conversa de homem pra homem


Os comentários que meus posts recebem são em ampla maioria de leitoras. O que acho ótimo, pois não é tarefa simples agradar à sensibilidade feminina. Mas, se recebo em média de 20 a 30 comentários por post, o relatório de visitantes do contador SiteMeter me diz que, em média, umas cem pessoas por dia aparecem por aqui. Ou seja, um percentual muito grande não deixa comentário. E quase aposto que essa maioria equilibra a divisão entre rapazes e moças que me dão a honra de lerem meus textos.
*

Baseado nessa suposição, de que mais ou menos metade dos que aparecem por aqui são do gênero masculino, resolvi ter uma conversa com eles. De homem pra homem. Clube do Bolinha, mesmo. Portanto, peço gentilmente às moças que vão retocar a maquiagem no toalete ou coisa semelhante, que a conversa agora é pra macho. Tudo bem? Obrigadíssimo a vocês, meninas, pela compreensão!
*
Legal. Agora que as moças saíram, chega mais. Tenho um papo sério pra levar com vocês. Como todo mundo sabe, homem só gosta de conversar basicamente sobre duas coisas: futebol e mulher. Não necessariamente nessa ordem. Por conta de razões óbvias, ninguém tá a fim de discutir futebol... Então, pulemos essa parte e vamos às fêmeas.
*
Eu sei que a gente vive dizendo pra elas: “Pô! Num te entendo!” Eu também já falei muito isso. Mas, como sou também pesquisador, o que eu não entendo vou pesquisar, pra descobrir como funciona a caixa preta. Não tem livro de auto-ajuda sobre o assunto. Pelo menos não conheço nenhum confiável. Daí que preferi ir direto à fonte para tentar entender a mulherada. Conversei muito com várias, não só as que namorei, mas as que são só amigas também. Sabem a que conclusão cheguei? A gente não consegue entendê-las porque elas vibram numa dimensão diferente da nossa: elas se guiam pela intuição e nós somos, na maior parte das vezes, totalmente racionalistas. Para nós, as coisas são ou não são. Para elas, não é bem assim. “Quatro” é apenas uma das possibilidades de “2+2”.
*
E não difícil entender isso. Ó só: sabe aquele jogador que na hora do escanteio nem fica lá na muvuca, mas o rebote sempre cai na cabeça ou no pé dele? Pois é. Ele não sabe explicar o motivo, mas ele “sabe” onde a bola vai sobrar. Intuição é isso. Elas não sabem explicar, só sabem que sabem.
*

Antes da gente sair esbravejando, cuspindo marimbondo pra cima delas, veja bem, uma boa tática é tentar acompanhar a lógica delas e, por mais ilógico que possa parecer, há uma grande lógica na maneira delas agirem. Vou falar só de algumas coisas que refleti, se não este post vai ficar muito grande.
*
Uma delas é: elas gostam de ser surpreendidas. Vai por mim! Tô falando sério! Mas é surpresa boa, não é pegar você olhando pra bunda da melhor amiga dela, nem se surpreender com o seu sorrisinho canalha quando uma outra mulher te dá mole assim, na maior. Não, cara. É surpresa que faça ela sorrir. Ó só, há um tempinho, eu liguei pra minha namorada e disse que estava ouvindo uma música que me fez lembrar dela (e era verdade). Era aquela do Jorge Vercilo, a do “a saudade bateu foi que nem maré”. Não satisfeito, botei o fone perto da caixa de som pra ela ouvir.

Maluco! Você não imagina como a bichinha ficou! Perdeu até o rumo e não conseguiu trabalhar direito! Outra coisa que sempre dá certo e que aprendi com meu pai: pegar elas “a traição”. Quando ela menos esperar, agarre, dê-lhe uma sova de beijos, mão aqui, mão acolá, boca sei lá aonde... É uma técnica que eu chamo de “apaga-balão”. A gente vem, ataca, dá-lhe um trato e depois deixamos ela lá, chamando Jesus de “Genésio”, com um sorriso de satisfação que dura uns dois dias.
*

Sabem por que isso faz efeito? Simples. Porque faz com que elas se sintam especiais. Isso é o que toda mulher quer! Que a gente a reconheça, que a elogie, que a faça se sentir a única do sistema solar. Vão por mim, é ótimo investir nisso. Mas se você acha que a sua não vale a pena, aí lascou-se, não tenho nada pra te dizer. Se você acha que vale, experimente fazer “huuuuuuuuummmmmm!”, que nem boi, ao dar a primeira garfada na comidinha que ela fez pra você, com o maior carinho. Quando ela for falar alguma coisa com você, preste atenção, ouça (acredite, elas têm coisas muito legais pra dizer!).

Quando você a vir com cara de “criança que perdeu o cachorro”, vai lá e só abraça ela, com firmeza. Conte uma história engraçada, faça ela sorrir. Peça ajuda em um assunto que ela possa te ajudar. Tem filhos? Então tire um final de semana, pegue os catarrentos, saia com eles e diga que ela ganhou um “spa” pra cuidar das coisas dela. Faça um esforço, repare na roupa nova que ela botou pra sair contigo e elogie o gosto dela (cara! Você não tem noção do efeito de um elogio desses!). Se ela reclamar que está gorda, não discuta!, ela sabe disso melhor que você, simplesmente arrebate-a, dê-lhe um chupão bem dado e diga: “vamos fazer dieta? Eu topo!” ou “Quer fazer esteira ou caminhar? Tô dentro!”.
*
Vai por mim, o segredo é fazê-la se sentir absolutamente especial pra você...não tem erro. Faça um teste. Experimente tudo isso que eu falei. Miraculosamente, você vai começar a entendê-la, sem perceber.
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Ih, sujou...Elas estão voltando do toalete...
- Arram, arram...Mas heim...Tô falando pra vocês: esse Parreira nunca me enganou!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Odair José, cantando “Eu vou tirar você desse lugar”, música pra macho que sabe arrebatar uma mulher!