quinta-feira, novembro 29, 2007

Na SEXTA, tem Marco no Jô!



Bem, amigos da Rede Globo…
Já gravei a entrevista e ela vai ao ar nesta SEXTA-FEIRA (amanhã, 30/11) no Programa do Jô, divulgando o meu livro “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo”.

Depois eu comento aqui.

Beijo do magro…quer dizer…do Marco! Uôu!

M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o prefixo do Programa do Jô.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Antigas Ternuras no Programa do Jô!!


Pois é, meus caros. Fui convidado para ser entrevistado sobre o meu livro no Programa do Jô. A gravação será na próxima terça-feira (27/11), ainda não sei quando irá ao ar, deverá ser em algum dia da semana que vem, entre terça e sexta. Eu prometo que aviso aqui o dia em que o programa vai passar.

Quem não me conhece, nem tem idéia de como seja a minha cara de pau, vai ter a oportunidade de saber. Olha, não aceito reclamações! Não tenho culpa de ser desse jeito!

Aproveitando o ensejo, quero agradecer muito à Fernandinha que me incluiu num post-corrente onde o objetivo é declarar amizade por dez blogueiros. O post-corrente pede que eu relacione meus dez amigos, que deverão relacionar outros...
Só que eu tenho mais de dez grandes amigos entre os blogueiros. Embora eu só conheça pessoalmente uns cinco dessa longa lista aí no “Outras Palavras”, eu tenho profunda admiração e respeito por TODOS. Então fica valendo! Meus dez grandes amigos são todos os que visito e que me dão a honra de visitar. A começar pela Fernandinha, que é um doce de pessoa.

Quero dar parabéns ao Valter Ferraz pelo lançamento do seu livro. Eu sei muito bem o prazer e o trabalho que dá! Ainda estou dando o maior duro na busca de distribuição e divulgação do “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo”. Sucesso, Valter!

Um lembrete: o Claudio teve a feliz iniciativa de rifar um gravador de DVD (só dez reais! E a pessoa concorre com seis números!) com o dinheiro apurado sendo revertido para obras de caridade. Eu já comprei a rifa! E você?
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve a vinheta do Programa do Jô.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Um atual mal passado


“A História se repete”.
Quem aí não ouviu esta frase porrilhões de vezes? Às vezes acho que vivemos numa espécie de looping, um continuum que volta sempre a um ponto de partida, feito quando a gente está perdido num lugar e reconhece que já passou por algum ponto mais de uma vez.
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Na moda, então, isso ocorre com uma freqüência alucinante. Noutro dia, eu estava num shopping, quando vi passar uma moça com um vestidinho-bata cheio de triângulos, círculos e quadrados coloridos. Cheguei a pensar que ali por perto estavam fazendo um filme passado nos anos 70. Que nada! A moça andava serelepe, crente que estava no auge da modernidade, com seu traje do tempo da novela “Selva de Pedra”. Aquela com a Regina Duarte fazendo papel de mocinha romântica.
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Na série “A origem de expressões que usamos sem saber de onde vieram”, hoje trago duas frases que tratavam de coisas de trocentos anos atrás, mas que cabem perfeitamente nos dias de hoje, feito pirulito em boca de menino.

A primeira é:

Pôr em pratos limpos.

O significado, como se sabe, é esclarecer coisas. Investigar algo que está nebuloso e dar uma explicação plausível. Jogar luzes sobre alguma coisa envolvida em sombras. Explicar suspeitas, deixar claro, enfim... você já entenderam, não é?
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Pois é. A origem dessa expressão vem da segunda metade do Século 18, na França, quando foi aberto o primeiro restaurante de que se tem notícia. (Parêntesis: restaurante no conceito que conhecemos hoje em dia, não estou falando de pousadas, estalagens e aqueles pé-sujos que a gente vê em filme de época. Fecha parêntesis). Foi estabelecido que a conta seria paga após a pessoa fazer a sua refeição. Não tinha essa de pegar ficha no caixa, pesar o prato, nada. O cliente entrava no recinto, sentava-se, o garçom vinha atender com o cardápio, escolhia-se o prato desejado, pedido feito na cozinha, quando pronto, entregava-o ao comensal, que caía de boca. Só depois de tudo isso é que chegava a “dolorosa”. Cabia ao cliente se coçar para pagar a despesa.
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Só que no meio da confusão, a novidade fazendo sucesso, um monte de gente lotando o recinto, tinha vez em que o garçom ou o dono do restaurante vinha com a conta para quem nem tinha feito o pedido ainda. O cliente reclamava, é óbvio. Ficava aquele clima “pagou, não pagou” e, para esclarecer, o cliente mostrava o prato limpo. “Ahhhh, então tá!”. Estava esclarecida a celeuma. Daí, o povo, essa entidade criativa que só, sempre que tinha alguma questão complicada pedia: “bota o prato limpo aí para eu ver!”
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A outra expressão que trago hoje, de certa forma, tem a ver com esta.

A emenda saiu pior que o soneto.

Ela significa que quando se tenta consertar alguma coisa, uma situação, pode ficar pior ainda. E tudo começou quando um candidato a escritor apresentou um soneto ao grande poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), o memorável Bocage (foto ao lado)que inspirou tantas piadas de sacanagem, com seus poemas satíricos cheios de saliências.

O tal poeta iniciante pediu uma avaliação para o seu soneto, solicitando que Bocage marcasse com uma cruz um erro porventura encontrado. O grande poeta leu tudo e não fez nenhuma marcação. O rapaz ficou empolgado: “Não marcastes nada? Está tão bom assim?”. E Bocage bateu de primeira, sem deixar a bola cair no chão: “Não marquei porque seriam tantas cruzes, que a emenda sairia bem pior que o soneto!”
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Agora vocês sabem a origem dessas antigas expressões. E o que elas tem de modernas? Bem, é só ler o jornal. Ou ver um telejornal. Ou ainda assistir a TV Senado, se vocês tiverem estômago de crocodilo. É tanta coisa que precisa ser posta em pratos limpos! E quando os caras tentam se explicar, a emenda fica sempre muito pior que o soneto!
Fico imaginando o dono do primeiro restaurante francês, num bate-papo imaginário com Bocage, lá no limbo:
- Povinho engraçado esse do Brasil, não é poeta?
- Muito. Gostam de uma sacanagem ainda mais que eu. Aliás, eles deram um novo significado ao termo “sacanagem”...
- Fico imaginando o que aconteceria aqui, no meu estabelecimento, se um brasileiro cá visse deitar os costados... No mínimo, iam arranjar um jeito de comer, não pagar e ainda mostrar o prato limpo...

M.S.
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Queridos amigos!
Mais uma vez quero agradecer a generosidade e confiança dos que adquiriram o meu livro. A noite de autógrafos foi um sucesso, em que pese a chuva prolongada pelo dia e noite inteiros.

Gostaria de pedir aos que solicitaram o livro que me avisem se ele chegou e em bom estado. Não confio nos Correios.
O livro pode ser comprado na minha mão e agora também em duas livrarias no Rio de Janeiro: a Leonardo da Vinci



e a Rio Antigo.



Ambas atendem por telefone e principalmente pela Internet, podendo enviar o exemplar para qualquer lugar do planeta. Nelas, ainda é possível comprar pelo cartão de crédito.
Eu consegui uma distribuidora para Belo Horizonte. O que significa que algumas livrarias da capital mineira, especialmente as ligadas a Teatro vão ter o livro.
Estou entabulando negociações para conseguir um ponto de venda forte em São Paulo. Aliás, pretendo fazer uma noite de autógrafos lá também.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “É”, do e com o Gonzaguinha. É ou não é?

sábado, novembro 10, 2007

O Estripador era terrível, mesmo!

(Platéia do Theatro São José, no RJ, em 1907)

Bem, amigos da Rede Globo…
Estou envolvido nos preparativos para a noite de autógrafos do meu livro, que acontecerá nesta próxima segunda-feira, 12, a partir das 19h, no Centro Cultural Memórias do Rio (Av. Gomes Freire, 289, no Centro).

Quero aproveitar e agradecer do fundo do coração aos amigos que já me compraram o livro: Saramar, Erika, Lino, M. Martha, Jack, Bené Chaves, Francisco Sobreira e Claudinha. Muito obrigado, amigos blogueiros. Além do enorme talento que vocês têm, quero ressaltar a gentileza e a fidalguia em adquirir uma obra às cegas. Espero mesmo que apreciem as loucas histórias do Brandão.



Mas o livro não tem só causos do “Popularíssimo”. Recolhi muitas, muitas outras histórias envolvendo Teatro e a vida cultural da época dele. Uma delas é esta aqui:

"Em muitas vezes, uma cena particularmente trágica acabava saindo de forma inesperada, provocando uma saraivada de gargalhadas, como na representação do drama “Jack, o Estripador”, pela Cia. Dias Braga, no Teatro Recreio, em abril de 1904. Em um determinado momento o ator Pedro Nunes entrou em cena com olhos esgazeados, foi até uma cadeira onde deixou desabar o corpo pesadamente. Virou-se para os atores que com ele contracenavam e disse com toda ênfase:
- Jack, o terrível assassino, acaba de arrombar minha filha!
É claro que ele queria dizer assassinar...Sabe-se lá o que o levou a trocar as palavras, mas foi o bastante para o espetáculo parar por vários minutos, até que a platéia parasse de rir daquela frase desastrosa."
(páginas 237/238)

Quem é ator sabe muito bem que é normal eventualmente a gente engasgar com alguma frase, esquecer um pedaço do texto ou mesmo trocar palavras, como neste caso. Já aconteceu comigo e com atores que comigo contracenavam. A gente tem que segurar a onda. Mas se esta cena acontecesse comigo eu precisaria de muita concentração para não me esbodegar de rir.
(Brandão como “Seu Eusébio”, na peça “A Capital Federal”.)
Quer encomendar o seu exemplar de “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo”? Envie um e-Mail para popularissimo@gmail.com dizendo "eu também quero me escangalhar de rir com este livro!”. E eu mando as instruções.
M.S.
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Quer agradecer muitíssimo aos amigos blogueiros Saramar e Mario pela divulgação que deram ao meu livro em seus respectivos blogs. Não tenho como agradecer por este gesto de amizade e gentileza. Do fundo do coração, meu muito obrigado!
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Estou com mais um post publicado no excelente blog
Playground dos Dinossauros. Se você quer saber como eu e meu pai prendemos, de forma dolorosa, partes sensíveis de nossa anatomia, dê uma chegada lá.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Leila Pinheiro e “A História de Lily Brown”, do sempre ótimo Chico Buarque.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Antes que apareça o rapa...

Meus prezados leitores, um minuto da sua atenção. Estou montando a minha banca de camelô para divulgar...
... O lançamento do meu livro.

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Sim, eu escrevi um. Eu o comecei há exatos dez anos e o terminei há cinco. Levei outros cinco procurando editora. A J.K. Rowlings também teve dificuldade para publicar o primeiro livro da série Harry Potter. Ela acabou conseguindo... E deu no que deu.
Bem, eu tive que bancar a edição de 1000 exemplares. Por conta disso, estou aqui, dando uma de camelô, com a minha banca montada, de olho no rapa...
Deixando os “entretantos” e partindo para os “finalmentes”, vou falar do livro.
O título é:
POPULARÍSSIMO – O ator Brandão e seu tempo.
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Trata-se da biografia do ator de Teatro mais popular do final do Século 19/início do Século 20. Ele era o pai do Brandão Filho, o famoso “Primo pobre”, do “Balança mas não cai”. Mas além de biografá-lo – e acreditem: ele é um personagem e tanto! – eu trato também de seu tempo, da vida cultural e cotidiana no Rio, em São Paulo, em Minas...
Quem me lê aqui sabe que os meus textos são sempre repletos de informação, em estilo jornalístico leve, e com fartas pitadas de humor. Pois é. O livro é exatamente isso. Sem tirar nem pôr.
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Querem saber as coisas que eu pesquisei e coloquei no livro?
- a origem de algumas expressões ligadas a Teatro, como “canastrão”, por exemplo.
- explico o porquê de chamarem os homossexuais masculinos de “veado”.
- conto tim-tim por tim-tim a razão de atrizes serem confundidas com prostitutas. Aliás, explico a origem da expressão “Tim-tim por Tim-tim”.
- descrevo várias histórias de mortes teatrais que não deram certo em plena cena aberta.
- falo sobre o que acontecia nos bastidores das peças, na platéia e depois dos espetáculos.
- o que acontecia nas companhias mambembes que zanzavam pelo país, e olhem que tem é histórias engraçadas!
E mais, muito mais...
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O livro tem 384 páginas, 167 fotos/ilustrações, tudo em uma edição pra lá de caprichada, desde a bela capa até a apresentação feita pelo ator e diretor Domingos Oliveira.
O preço? Uma pechincha!
Só R$ 40,00. E para quem mora em outros estados, eu nem cobro despesas postais para remetê-lo.
Para quem está na cidade do Rio de Janeiro, a noite de autógrafos será no dia 12 de novembro, segunda-feira que vem, a partir das 19h, no Centro Cultural Memórias do Rio (Avenida Gomes Freire, 289 – Centro – quase na esquina de rua do Senado). É um daqueles antiquários que são bar e restaurante – o grande charme da Lapa e arredores no momento. Vai ter música ao vivo!
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Pois é. Os meus amigos blogueiros que morarem no Rio e quiserem me dar o prazer e a honra de festejarem esta grande vitória comigo... vai ser mais que ótimo!
Eu ainda estou negociando a distribuição. Por isso, inicialmente a forma de adquirir o livro é escrevendo para o endereço
popularissimo@gmail.com
Dizendo: “eu quero adquirir este monumental livro que vai mudar a minha vida!”. Daí, eu escrevo de volta, revelando o número secreto de minha secreta conta na Suiça, onde você poderá fazer o depósito. E voilá! Em poucos dias você estará recebendo “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo”! Certamente seus problemas acabarão!
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O que está esperando? Escreva já pedindo o seu exemplar! Caso deseje que eu faça uma dedicatória, é só pedir! E se alguém quiser comprar mais de dez exemplares, eu levo em casa e ainda aproveito e lavo as janelas, passo uma vassoura e dou um brilho nas panelas!
Amigos! Eu preciso vender os 1000 exemplares! Me ajudem!
Para vocês terem uma idéia do que está escrito no livro, dou uma pequena mostra:

Mas não era só o maquinista que deveria estar sempre atento. Os contra-regras também não poderiam relaxar. Àquelas montagens eram cheias de detalhes. Quando algum detalhe era esquecido, certamente acarretava em algum tipo de confusão, como naquela peça onde, em uma determinada cena, um ator recebia uma carta sinistra e a queimava. Em seguida, entrava um outro ator e dizia:
- Hum...Que cheiro de papel queimado!
Até que em uma noite, o contra-regra esqueceu de pôr no palco o braseiro onde a carta seria incinerada. O artista leu a missiva, rasgou-a e a atirou numa cesta. O outro ator entrou, e, para não perder a fala, disse:
- Hum...Que cheiro de papel rasgado!
(Pág. 231)

Estou aguardando os pedidos!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Palco”, do ministro Gilberto Gil.

quinta-feira, novembro 01, 2007

"A Paz invadiu o meu coração"


Eu não costumo aderir a postagens coletivas. Este blog é temático e nem sempre o tema sugerido se coaduna com a minha proposta aqui. Mas o nosso grande Lino fez uma sugestão e será um prazer fazer parte da corrente.
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Pois bem. Está proposto o tema da PAZ. Paz para o mundo. Teremos a partir de hoje muitos blogs escrevendo sobre este anseio de tantos. Certamente escritores muito melhores que eu vão discorrer sobre o tema, com belas palavras.
De cara, lembro de uma bela música do Gil, cantada pela minha “ídala” Zizi Possi. Essa mesmo que vocês estão ouvindo.

Vivemos tempos difíceis. Tempos de guerra. Bem diferente daqueles que muitos viveram nos tempos das antigas ternuras. Daí, ansiamos pela paz, essa palavrinha de três letras que quer dizer tanto. Com a violência que anda por aí, ela virou um sonho distante. O que fazer para se ter PAZ? Antes de falar em paz para o mundo, falo de paz para a minha aldeia. O que fazer para se ter paz aqui?
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Bem, não é tarefa fácil. Infelizmente, não se pode conseguir paz pelos textos da internet. A repressão da violência passa por ações de Estado, por ações políticas e pelo esforço de cada um. O Estado não tem dinheiro e, pelo que se vê, nem competência para diminuir o clima de guerra em que vivemos. Os políticos, além de não terem competência, não têm moral para determinar ações que reduzam e inibam a violência.
O que fazer? Nada a fazer e sim a lamentar? Bem, sim, há algo a fazer. Mas o que se pode fazer é tão ou mais difícil que ações de Estado ou da classe política. A solução para este mal passa necessariamente por algo chamado natureza humana. E a História, a Ciência (vide evolução darwiniana) e a Economia mostram como somos seres belicosos. Li uma vez que ao longo de TODO o Século 20 (e vale para o 21 também...) o planeta não passou um só dia em PAZ. Em algum lugar do globo sempre existia algum conflito. Então, o que podemos fazer pela paz?
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Vou lhes contar uma história que ouvi em Sabará, em minha recente viagem pelo planeta Minas.
No Século 19, havia na cidade uma senhora muito católica, membro de irmandade, que ia muito à missa, comungava, orava, respeitava todos os sacramentos da Igreja... Só que ela era extremamente perversa com seus escravos. Sentia um enorme prazer em torturá-los, espancá-los; nem precisava ter motivo para isso. Bastava ter vontade. E sempre tinha vontade de descer o relho na criadagem.
Ela possuía uma escrava de nome Peregrina. E esta deu à luz a um menino. Desgraçadamente, o menino devia sentir muitas cólicas, pois chorava muito a noite... Certa vez, a tal senhora foi acordada pelo choro do bebê. Irada, foi até a cozinha, tirou o neném dos braços de Peregrina e o matou para que parasse de chorar. Matou a criança na frente da mãe. Esta, tomada pelo desespero, pegou o pau do pilão e bateu, bateu até abrir a cabeça de sua dona. Claro, ela foi presa e sua condenação era certa. Imagine se a moda pegasse: escravos matando seus senhores...
Peregrina tinha uma amiga também escrava. Chamava-se Rosa. E Rosa era amante do juiz da cidade. Ela foi pedir ao amante que intercedesse pela amiga no julgamento. O juiz disse que poderia fazê-lo se ela se envolvesse no crime, ou seja, se dissesse que tinha participado da morte da tal senhora. Com a amante do juiz envolvida, os jurados abrandariam a pena de Peregrina. E Rosa, por amizade, foi se entregar ao delegado, se dizendo cúmplice.
O que ela não sabia era que o juiz, homem católico, que ia muito à missa, membro de irmandade, orava e respeitava os sacramentos da Igreja... Já, desde muito, planejava se livrar da amante. Ele viu naquele caso a chance que queria...
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No julgamento, ele se empenhou pessoalmente na condenação das duas escravas. Ambas foram condenadas à forca.
No dia da execução em praça pública, Peregrina falou para todo o povo que lá fora assistir que Rosa nada tinha a ver com o crime, que era inocente, que a poupassem. O povo entendeu e começou a pedir pela vida da escrava. O juiz, apavorado com aquela hipótese, mandou o carrasco apressar a execução. Primeiro, Peregrina foi enforcada. Depois seria a vez de Rosa. E o povo pedindo que a libertassem. O juiz exigindo que a enforcassem. O carrasco coloca a corda no pescoço de Rosa, que clamava inocência. O alçapão se abriu sobre os seus pés e... a corda arrebentou. Todos viam naquilo uma intervenção divina. Mais ainda pediram pela escrava. O juiz, colérico, exigia que a sentença fosse cumprida. Arranjaram uma nova corda e Rosa finalmente foi enforcada.
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A partir daquele dia, todas as vezes que o juiz saía à rua, todas as pessoas fechavam suas portas e janelas. Se estavam na calçada, entravam em algum lugar, que prontamente cerrava suas portas. Ninguém mais dirigia a palavra ou sequer o olhar para o tal juiz. Sem condições de lá permanecer, ele deixou a cidade para sempre.
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Pois é. Muita gente que pede paz, coloca faixa na janela, participa de passeata, não ajuda à paz. Não faz por onde ela existir. A paz passa necessariamente por ações de Estado, por ação dos políticos, mas passa por gestos de cada um dos cidadãos. Sem cidadania não existe paz. Clamar pela paz e pagar salários humilhantes aos empregados, não acompanhar com interesse e cuidado a educação dos filhos, dirigir pelo trânsito como se estivesse em guerra pessoal com os semelhantes, inundar as ruas de lixo... Existe uma série de pequenas ações que não se coadunam com quem pede paz. Gestos como os pais do menino João perdoando os bárbaros que arrastaram o filho pelas ruas se diluem em milhares de pequenas violências diárias de envolvidas na lei do “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
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Ontem assisti ao filme-sensação do momento: “Tropa de Elite”. Quem já o assistiu, já percebeu que estamos a anos-luz de obter a PAZ. A natureza humana que leva o mau cidadão a corromper e se corromper, trabalha ativamente contra a paz.
O notável escritor Zuenir Ventura escreveu uma crônica, dizendo que quando estava iniciando o seu livro “Cidade Partida”, subiu à favela para tentar descobrir porque tantos jovens se envolviam com o tráfico. Saiu de lá admirado por tão poucos estarem envolvidos.
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Existe uma enorme massa de jovens, crianças e adolescentes que são tangidos feito bois para a alternativa da droga. Segundo Zuenir, 99% conseguem ficar fora, mas o 1% que sucumbe é muito significativo. Não sei se estes números são reais. No livro “Falcão, os meninos do tráfico”, de MV Bill e Celso Athayde, a gente pode constatar a falta de futuro de crianças que sequer chegam a uma escola. Como falar de paz para mim, para outras pessoas que têm casa, carro, comida, computador, EMPREGO, se existe uma enormidade de gente que não tem e não vai ter NUNCA isso?
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Eu tive chances na vida. Embora órfão de pai, cresci com valores que minha mãe deu a mim e a meus irmãos. Tive acesso a escola, tive acesso a emprego. Nasci branco, e isso também é algo que faz enorme diferença. É desastroso dizer isso, mas é verdade. A estatística diz que pela cor da minha pele mestiça tenho mais oportunidades que outros.
Eu quero paz. Eu procuro fazer por onde. Não faço mal a ninguém, na medida do possível, ajudo a meus semelhantes, procuro ser cidadão.
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Será que isso é o bastante?
M.S.

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Eu queria agradecer do fundo do coração às pessoas que me deram prêmios e selos: Érika, pelo belo selo “Proncovô”, Renata pelo Selo “Corrente da Amizade”, e Bruxinhachellot pelo “Esse blog é 5 Estrelas”. Sei que pelas regras eu deveria indicar os que devem receber o post-corrente pelo meu repasse. Pois eu repasso os dois prêmios a todos os blogs da minha lista “Outras Palavras”. Todos vocês são mais que merecedores.
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Quando eu escrevi o post sobre as Janelas de Minas era minha intenção convidar os mineiros que me dão a honra de freqüentar este blog para escreverem também sobre suas janelas. O meu olhar de forasteiro as viu daquela forma. Tenho curiosidade de saber como vocês, nativos do planeta Minas, vêem as suas próprias janelas. Portanto, Luma, Érika, Claudinha, Renata, meu caro amigo Rubo... Sintam-se convidados a abrirem suas janelas de Minas.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “A Paz”, de Gilberto Gil, cantada pela sempre ótima, e esplêndida Zizi Possi.