segunda-feira, outubro 30, 2006

Túnel do Tempo


Quem me acompanha há mais tempo sabe que eu sou fascinado pelo tema “viagem no tempo”. Meu filme favorito é “Em Algum Lugar do Passado” e ainda tenho um blog que se dedica em relembrar os bons tempos vividos.
Logo, não é de admirar a ninguém que eu tenha a antiga série “Túnel do Tempo” como uma de minhas favoritas.
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Ela foi produzida entre 1966 e 1967 e infelizmente só durou uma temporada de 30 episódios. Irwin Allen, seu criador, disse que a baixa audiência que teve no canal ABC não justificava os altos custos da produção de cada episódio. Depois que a série foi cancelada, virou cult, sendo reprisada sempre. Atualmente, pode ser vista aos sábados, no canal pago TCM.
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A série tratava das histórias vividas por dois cientistas que trabalhavam para o supersecreto Projeto Tic-Toc, que tinha custado bilhões de dólares ao governo americano. Tratava-se de uma máquina, o Túnel do Tempo, que podia transportar pessoas e objetos através do tempo. O elenco básico da série era: James Darren (Dr. Anthony Newman), Robert Colbert (Dr. Douglas Phillips), Lee Meriwheter (Dra. Ann McGregor), Whit Bissel (General Kirk) e Jon Zaremba (Dr. Raymond Swain).

Logo no primeiro episódio, para impedir que um senador americano cortasse a verba para o projeto, primeiro Tony e depois Doug, entram no Túnel e vão para o passado, caindo a bordo do Titanic, na véspera do choque com o iceberg. Já deu para sentir a agonia que dava vê-los tentar convencer o comandante do navio (na foto) que aquela joça iria afundar...
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Como a máquina do tempo ainda estava em estágio experimental, os dois não podiam retornar ao tempo presente. Por isso, nos episódios seguintes, eles foram para diversas épocas, vivendo aventuras com personagens da História mundial ou presenciando fatos históricos marcantes: uma aparição do cometa de Halley (1910),

Pearl Harbour, um dia antes do bombardeio japonês (1941) (veja a foto), a Guerra de Tróia, a Revolução Francesa (1789), o presidente Lincoln (1861), Merlin e o Rei Arthur, Josué e as Muralhas de Jericó, Genghis Khan... E o mais curioso é que onde quer que caíssem, todo mundo falava em inglês!
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De qualquer forma, no Brasil, a série foi um grande sucesso tendo sido até utilizada como referência por professores de História. O menino Marco ficava fascinado por aqueles caras que podiam viajar no tempo pra lá e pra cá. Eu imaginava se um dia isso seria mesmo possível e que eu adoraria ser voluntário para um projeto desses. Pensava que eventos eu gostaria de conhecer ao vivo e em cores.

De cara, o primeiro que eu gostaria de presenciar seria os últimos dias de Jesus na Terra. Além do lado religioso, eu ia querer conferir aspectos que estão nos Evangelhos e que eu acho que foram deturpados ao longo do tempo. Mas, como não falo hebraico antigo, ia querer viajar no Túnel do Tempo imaginando que Jesus, Pedro, Judas, Pôncius Pilatos, todos falassem em inglês para eu poder me comunicar com eles.
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Dos atores que participaram do elenco da série, Bissel e Zaremba já faleceram. Lee Meriwheter

virou uma vovó lindona, aos 71 anos (veja a foto), James Darren (70 anos) se tornou um cantor de Las Vegas, com um jeitão brega toda vida

(veja a foto da capa de um de seus discos) e Robert Colbert (75 anos) vive aparecendo em eventos que celebram as antigas séries de TV. Só que engordou, ficou careca, mais parecendo aquele tio-avô super-divertido que a gente tem (veja a foto também).

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E você, gostaria de viajar no Túnel do Tempo? Que evento histórico gostaria de presenciar?
M.S.


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Na TV Antigas Ternuras, você vê um clip com cenas de alguns episódios da célebre série.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Uma visita do passado


Noutro dia, estava chegando ao meu condomínio e o porteiro me avisou que tinha alguém à minha espera na recepção. Vou até lá e vejo, de longe, um homem velho com um imenso saco vazio nas mãos sujas e sem viço. O aspecto geral daquele idoso era de absoluta derrocada.
- Pois não. O senhor quer falar comigo? – perguntei, curioso.
Ele me olhou com olhos enevoados, mas ainda vivazes. Um leve sorriso encrespava-lhe a comissura dos lábios.
- Você não se lembra de mim? – inquiriu-me com voz rouca e um tantinho zombeteira.
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Curioso. Ao ouvi-lo, me deu a impressão de que já tinha escutado aquela voz. Entretanto, passando mentalmente sua fisionomia por toda uma lista de pessoas possíveis não conseguia obter resultado favorável.
- O senhor me conhece de onde?
- Desde quando você era bem pequeno e se recusava a comer o que sua tia colocava no prato.
Naquela hora eu gelei. Claro! Só podia ser ele! Eu tinha ali, diante de mim, o “Velho do Saco”!
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Quando eu morei um tempo com meus tios, no bairro da Piedade, na hora do almoço eu costumava ficar enrolando para comer o que não fosse apetitoso para crianças de seis anos, como era o meu caso. O bife e a batata frita eu encarava na boa. Mas arroz e feijão, se eu pudesse, ficava engabelando até pararem de insistir com a famosa frase “Come, Marquinho!” Era aí que entrava em ação o “Velho do Saco”. Meu tio Jair dizia assim:
- Ah, não vai comer, não? Então eu vou chamar o “Velho do Saco”!
E ia para a varanda, falando alto: “Velho do saco! Aqui tem um menino que não quer comer arroz e feijão!”
Em seguida, eu ouvia um som gutural, que dizia:
- Cadê o menino que não quer comer! Vou botar ele aqui no saco!
Era o bastante para o pânico e o pavor tomarem conta de mim! Em rápidas garfadas, eu dava cabo de tudo o que estivesse no prato.
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Tudo começou com uma história que meu tio contou sobre um velho que pegava crianças, colocava em um saco e as levava para fazer sabão. Meu tio narrava com detalhes sórdidos e absolutamente aterradores. Na cabeça de uma criança, que já fantasiava tudo, que lia gibis, Monteiro Lobato, livros de aventuras com monstros mitológicos, aquilo era uma festa! Daí, o “Velho do Saco” era sempre convocado para resolver questões básicas sobre minha alimentação.
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E eis que eu o via ali, diante de mim. E justamente no momento presente, quando mais preciso fechar a boca e não comer desembestadamente. Quando tento evitar que esta massa adiposa, que insiste em crescer ao redor da minha cintura, não se desenvolva além do razoável!
- Olha, já não tenho mais medo de você... Eu estou crescidinho... – tentei contemporizar.
O Velho riu gostosamente.
- Já percebi. E não cresceu só pra cima, não. Pros lados também...
Aí já era demais:
- Péralá! O senhor veio aqui pra me chamar de gordo?
- Não. Preciso de um favorzinho. Pelos velhos tempos. – disse-me, piscando um olho cheio de catarata e buscando cumplicidade.
- Favor? Que tipo de favor?

- Explico. Hoje em dia, ninguém acredita mais em mim. Os pais que assustei quando pequenos se recusam a me invocar pra assombrar seus filhos. Tem um bando de desocupados, esses psicólogos que ficam inventando essa bobageira de que não se deve assustar as crianças, que traumatiza. Besteira! É melhor que elas tenham medo de personagens do imaginário a estarem desde cedo envolvidas no mundo real dos adultos. Hoje, elas já têm medo de ladrão, de bala perdida... No outro dia, eu vi uma mulher dizendo ao filho que se ele não se comportasse iria chamar a polícia. Ao terem medo de mitos, estão estimulando a fantasia. Logo crescem e deixam de se amedrontar com este pobre Velho do Saco. Passam a ter medo de coisas bem mais paupáveis... Estou te dizendo: mito não traumatiza. A violência, sim.
- É... De certa forma eu concordo com você. Minha família me criou me botando medo de você e nem por isso eu virei um serial killer de pais.
- Não é o que eu digo? Pois é. Com isso, muitos personagens do imaginário infantil estão desaparecendo ou tendo que se adaptar aos novos tempos, como a Cuca, que agora tem crachá da Rede Globo, inclusive.

O Bicho Papão faleceu no mais completo esquecimento. Fui no enterro. Que tristeza! Que abandono! Somos criados e nutridos pelo medo infantil. Se as crianças nos desconhecem, como poderemos sobreviver?
- É. Faz sentido. Mas onde eu entro nisso?
- Soube que você escreve sobre coisas antigas... Que gosta de relembrar histórias gostosas dos bons tempos... Daí...
- Daí?
- Não dava para você falar de nós? De mim, por exemplo? A simples lembrança da minha figura já me sustentaria por algum tempo. Escreva sobre o seu bom amigo “Velho do Saco”.
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Eu olhei para aquela criatura tão estranha, que, no entanto, fez parte de mim, de minhas lembranças por longo tempo.
- Vou ver o que eu posso fazer. Não prometo nada.
Ele sorriu um sorriso sem dentes a mostra. Será que eu percebi mesmo um certo brilho, uma faísca naquele olhar?

Por um instante fiquei pensando nos medos que tive quando criança, em quadros mentais que eu criava masoquistamente para sofrer, para expressar a minha dor.
Quando levantei os olhos, o Velho já tinha se afastado. O menino que há em mim sentiu um calafrio lhe percorrendo a espinha. Na mesma hora, vi o saco que ele levava às costas adquirir um pequeno volume. Ele parou a sua caminhada, girou e me olhou agradecido. Fiquei acompanhando a sua figura se perder de minhas retinas, virando numa esquina de minha memória.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras você ouve “Adagio Albinoni”, por André Rieu.
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Para quem nunca ouviu falar no “Velho do Saco”: Mito antigo de origem européia, que chegou ao Brasil via Portugal. Aqui, se desdobrou em algumas variações. No Sul brasileiro, é um velho que arranca os olhos das crianças mal-comportadas. No Nordeste é conhecido como Papa-Figo, um velho que se alimenta do fígado de crianças que atrai com doces e brinquedos. No Sudeste, alguém que pega crianças desobedientes para fazer sabão. Cada um a recontava segundo seus próprios objetivos para assustar os pequeninos.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Abraços grátis


Imagine você andando na principal avenida de sua cidade e então subitamente encontra alguém com um cartaz escrito:
“Abraços grátis”
O que você faria?
a) Virava o rosto para o outro lado e passaria batido
b) Pensaria na razão de o hospício deixar esse maluco solto por aí
c) Apertaria a bolsa ou a carteira de encontro ao corpo achando que o cara é um tremendo 171
d) Abriria um sorriso e os braços e topava o convite.

Vamos ver, na TV Antigas Ternuras, o que fizeram os passantes da rua onde o cara exibia o tal cartaz.



Como vocês viram, mais de cinco mil pessoas entraram no jogo. Ficou até uma cena bacaninha, algo com bastante humanidade (no sentido de benevolência e amor ao próximo). Eu acho muito legal a chamada "Terapia do abraço". Nada como um pouco de sentimento no nosso cotidiano.
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Mas fico pensando no que aconteceria se alguém fizesse isso aqui, no meu Rio de Janeiro. Uma pessoa, com um sorriso largo, em plena Avenida Rio Branco, ou no Largo da Carioca, com o tal cartaz.
O historiador Sergio Buarque de Holanda (pai do Chico) disse que o brasileiro é um “homem cordial” (há controvérsias; dizem que o primeiro a falar isso foi Rui Ribeiro Couto). Essa tal cordialidade seria, segundo ele, relativa ao fato deste homo brasilis agir segundo o coração; nem tanto no sentido de ser bondoso e bem mais por orientar suas ações pelo afeto e pelo rápido clima de intimidade que ele logo estabelece.
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Nesta linha, imagina-se que uma empreitada como essa seja um baita sucesso, com o Largo da Carioca ou a Avenida Rio Branco se abraçando, com todos emocionados.
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Pessoalmente, tenho minhas dúvidas se isso aconteceria mesmo.
Os costumes, hábitos, práticas sociais são adequados a cada tempo. Na época das antigas ternuras, o riso e o abraço eram bem mais francos do que hoje. Atualmente, andamos pelas ruas assustados, imaginando se a “roleta russa da violência” não vai nos alcançar desta vez. Aqui no Rio, no último final de semana, uma família estava em seu carro, na Tijuca, quando foram parados por dois assaltantes. Os sujeitos depenaram a família e os passaram para o banco de trás, saindo com o carro. Os meliantes não andaram nem 500 metros e foram parados por outros dois ladrões, que fizeram a limpa nos “colegas de profissão” (realmente, já não se tem mais ética neste país...) e saíram com o carro deixando todos na rua.

Num clima como esse, daria para a gente sair abraçando desconhecidos por aí?
Não me admiraria se aparecesse mesmo por aqui um cara com esse cartaz, alguém fosse abraçá-lo e ele diria baixinho no ouvido da vítima: “Perdeu! Perdeu! Não reage que isto é um assalto. Vai passando a grana!”
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Estou exagerando?
Talvez sim, talvez não. Na dúvida, se alguém vier me dar um abraço grátis, antes vou “dar uma geral” no cara, revisto-o de cima a baixo e se ele estiver “limpo”, sem nenhum “ferro”, aí, sim, abraço na boa.
Como se dizia no tempo das antigas ternuras: “seguro morreu de velho!”
M.S.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Vaias em Palmas


Não sei vocês, mas eu sempre gostei de uma boa prosa, daquele papo descontraído entre amigos, onde a gente relata histórias mirabolantes, descreve com minúcias fatos hilariantes, conta vantagens descaradamente para tentar impressionar os outros.
Isso costuma ocorrer com freqüência quando uma roda de homens se faz em torno de uma mesa num boteco. Eu não sei se o mesmo ocorre em um círculo só de mulheres. Para mim, por exemplo, continua insondável o mistério das idas coletivas delas ao banheiro feminino. Sabe-se lá o que conversam naquele recinto! Ou talvez nem conversem tanto, mas prefiram ir juntas para evitar que uma fale mal da outra, ou para impedir que uma avance no homem da ausente. Vai saber...
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Mas quando um grupo de homens está junto, e os trabalhos e conversas são abertos com uma cervejinha gelada, pode apostar que teremos um festival de risos e gargalhadas.
Uma vez encontrei um amigo meu, começando a contar um de seus “causos”. Como eu conhecia a “peça”, pressenti que dali vinha coisa...
- Ô, grande Marco! Tá sumido! Senta aí, ouve só essa...
Esse meu amigo – vamos chamá-lo de “Carlos” – é um manancial de histórias daquelas da gente ficar com dor na coluna de tanto rir. O curioso é que ele não sabe contar piadas. As histórias que ele narra aconteceram com ele ou com a família dele e são engraçadíssimas. Ouvi-las é certeza de mandíbulas doendo de tanto gargalhar. Eu tinha sabido que ele esteve fora por uns quatro meses, em viagem a serviço pela empresa em que trabalhamos. Mas, deixa o Carlos contar...
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- O meu chefe me mandou para Palmas, no Tocantins, para coordenar um trabalho lá. Disse que eu ficaria pelo menos uns três meses. Minha mulher detestou a idéia. Reclamou pra dedéu. Mas eu a convenci dizendo que com as diárias que eu ia economizar poderíamos trocar de carro. Ela já estava cansada de ficar na estrada, com as meninas, por conta de enguiços do “Trovão Azul”.
“Trovão Azul” era como ele chamava o carro deles. Era um Chevette 81 que roncava feito um enceradeira, sacolejava feito uma batedeira de bolos, esquentava mais que um fogão quatro bocas. Quer dizer, aquilo era um eletrodoméstico, nunca um meio de transporte!
Prosseguindo:
- Fomos pra Palmas eu e o “Peixoto” (melhor não dar o nome real de ninguém envolvido nessa história...). Chegando lá, fomos prum hotel baratinho, mas limpo. Em pouco tempo eu já estava nos braços da putalhada.

E eu acredito! Poucos caras que eu conheço tem tanta vocação para “cair nos braços da putalhada” do que o Carlos. Ele não rejeita ninguém! Com ele, se o coração está batendo, se for mulher, se fizer sombra no chão e der pra ele, não tem jeito! Ele cai dentro!
Mas, fala Carlos:
- Uma noite eu estava numa boate, eu e o Peixoto, aí fizemos amizade com a filha de um figurão de lá, que estava acompanhada por um grupo grande. Juntamos as mesas e ficamos lá de papo. A mulher me olhava de um jeito que eu senti que iria me dar bem. Começamos a tomar uns uísques. Eles estavam me chamando de “Branco”. Numa hora lá, a Maísa (nome fictício, é claro...), botou a mão na minha perna. Pensei: “essa morre hoje”... E era um tal de Branco pra cá, Branco pra lá...
O apelido de “Branco” tinha as suas razões. Carlos tem mais ou menos um metro e 85 de altura, é louro, de olhos verdes. Lá em Tocantins, uma figura quase nórdica como essa devia se destacar. Daí, virou “Branco”. O apelido pegou e até os companheiros de trabalho o chamavam assim.
Prossiga, Carlos:
- Uma hora lá, a Maísa, cheia de birita nas idéias, chegou no meu ouvido e disse: “Quero dar pra você, Branco. E vai ser hoje!” Topei na mesma hora, claro. Pensei em levá-la lá pro quarto do hotel.

Chamei o Peixoto e falei: “Aí, eu vou comer essa mulher lá no nosso quarto. Posso contar com a sua colaboração?” O Peixoto disse: “Tudo bem, mas eu quero ver!” “Que isso? Vai querer entrar no quarto? Ela não vai topar...” “Não, eu fico escondido lá na varanda. Você deixa a janela aberta, puxa a cortina que eu fico só espiando por uma fresta. Ah, deixa, vai!...” “Tá legal. Mas, ó, não vai me empatar a transa, heim?” “Não, fica tranqüilo. Só quero dar uma olhadinha”.
E assim foi. Levei a Maísa pro quarto, o Peixoto ficou lá na varandinha, só de butuca, só olhando.
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Enquanto a Maísa tirava a roupa, Carlos foi até o banheiro do quarto e voltou de lá com uma latinha de Pomada Minâncora (nem me perguntem o que ele pretendia fazer com ela!...). Começaram os embates amorosos. Peixoto só de olho. Foi quando Maísa começou a apresentar o seu repertório de gritos:
- Ai, Branco, vai, Branco! Ai meu Deus! Huuuummm, vem, Branco! AHHHHHHH, BRANCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!
A mulher gritava, bufava, resfolegava, gemia, gania, rangia, rugia, vociferava tudo ao mesmo tempo e EM ALTOS BRADOS! Ela berrava mais que porco na faca, fazendo um escândalo que excitava mais ainda o nosso herói.

Aliás, numa hora lá, ele levantou a cabeça e viu, por trás da janela, Peixoto pulando e agitando os braços. Aí pensou: “Ele está gostando. Vou caprichar mais ainda na performance.”

Dali pra frente o que se viu é absolutamente inenarrável neste blog de família. Era lept! lept! lept! E vap! vap! vap! E tome-lhe! tome-lhe! tome-lhe! Com a mulher se esganiçando cada vez mais e cada vez mais alto:
- AI, ME MATA, BRANCO! VAI, BRANCO! ME CHAMA DE VAGABUNDA, BRANCO! AIIIIIIIIIIIII, BRANCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
(Fora o que ele contou que ela gritou, mas que eu não reproduzo aqui de jeito nenhum!...)
Do lado de fora, na varanda, Peixoto pulava alucinado e, para o Carlos, era sinal de que estava aprovando a sua, digamos, exibição.
Na verdade, as razões da agitação do Peixoto eram bem outras.

Naquele hotel também estava hospedada uma delegação de evangélicos da Assembléia de Deus que ia participar de um Congresso na cidade. Quando os crentes ouviram aquela gritaria, começaram a sair dos quartos aos brados de “É o apocalipse! Isso aqui é o reino de Satanás! Salve-nos, Senhor Jesus!”
Eles se reuniram em frente ao estabelecimento em total desespero achando que tinham se hospedado no hotel dos infernos, em meio a luxúria e a perversão.
Quando os ardorosos amantes encerraram aquela verdadeira batalha de sexo, saliência e libidinagens, Maísa foi até o banheiro para tomar um banho. Nisso, Carlos chegou até a janela para perguntar se o Peixoto tinha gostado do espetáculo.
- Se eu gostei? Vem só dar uma olhada lá pra baixo...

Carlos foi e viu um bando de crentes, alguns rezando ajoelhados, outros falando em línguas e outros puxando o coro de “Glória, Glória, Aleluuuuuuuuia!”
Os evangélicos procuraram a direção do hotel para protestar e tentar parar com aquela pouca-vergonha, mas como achar o gerente às duas horas da manhã?
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No dia seguinte, Carlos entrou no refeitório do hotel para tomar café da manhã com a cara mais limpa. Mas já tinham identificado de qual quarto saiu aquele escândalo todo. No que ele botou os pés no refeitório, recebeu a maior vaia dos crentes da Assembléia. Sem contar os chamamentos de “tarado”, “safado”, “sem-vergonha” e “belzebu-capeta” que ele teve que ouvir.
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A direção do hotel, gentilmente convidou os dois, o saliente e o voyeur a se retirarem do hotel. E eles tiveram que procurar outro lugar para encostar seus panos de bunda.
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Enquanto ele narrava essas histórias pra todos nós que estávamos na mesa, de ouvidos ávidos, sem nem piscar, mais e mais pessoas foram atraídas para o grupo pelas nossas risadas, quase tão histéricas que os gritos da Maísa.
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Se aquilo foi verdade? Parece que sim. Procurei o Peixoto e ele me confirmou tudinho e disse que nunca passou tanta vergonha como naquela noite.
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Bem, meninas, vocês agora têm uma mostra do que rola nas mesas de bar em grupos só de homens. Aos meninos, recomendo que não façam essas estripulias do Carlos sem acompanhamento profissional. Afinal de contas, o Ministério da Saúde adverte: “Fazer saliência com mulher histérica é prejudicial a qualquer reputação”.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Je t’aime moi non plus”, com Serge Gainsbourg e Jane Birkin.
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Queridos amigos: o Antigas Ternuras ficou fora do ar neste fim de semana por alguma razão que desconheço. Provavelmente esta anta que vos escreve fez alguma lambança. Quando republiquei o blog, ele voltou a aparecer. Peço desculpas pelos entreveros.
E continuamos no rumo do visitante número 20.000! (Quem será?...)

sexta-feira, outubro 20, 2006

Para refletir

Antes de mais nada, gostaria que vocês assistissem a este vídeo:


Uma equipe de jornalistas de uma TV australiana (Dateline TV, nada a ver com nenhum partido político brasileiro) esteve no Brasil durante a Copa do Mundo para fazer uma matéria sobre as ações do Primeiro Comando da Capital, vulgo PCC, que acarretaram na morte de dezenas de pessoas.
O candidato Geraldo Alckmin, na qualidade de ex-governador de São Paulo, foi convidado a dar esta entrevista. A pauta da matéria lhe foi adiantada. Durante a entrevista, ele fugiu da responsabilidade, abandonou a gravação sem mais, nem menos, como vocês puderam ver.
Geraldo Alckmin, que vem clamando por ética, que assegura que não foge de debates, que diz querer mudar o Brasil.
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Boa parte da população brasileira, e quase totalidade da imprensa, está de forcado e archote na mão, com cães ferozes ladrando, querendo avançar sobre o Lula.
Realmente, a banda podre do PT, e especificamente o presidente Luís Ignácio Lula da Silva, têm satisfações a dar ao país, aos militantes do partido, às pessoas que acreditaram que existia uma forma diferente de fazer política. O que se viu, foi um bando de facínoras, bandidos da pior espécie, usando métodos e práticas de governos anteriores, justamente aqueles a quem o PT mais combatia.
Lula e o Partido dos Trabalhadores DEVEM, POR OBRIGAÇÃO, esclarecer o País esta história do dossiê e os muitos casos de corrupção que temos visto.
Quero ver o presidente Lula responder clara e objetivamente a esta pergunta:
DE ONDE VEIO O DINHEIRO PARA COMPRAR O DOSSIÊ FAJUTO?
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Mas há algumas outras perguntas que eu gostaria de ver respondidas pelo candidato Alkimin e pela coligação PFL-PSDB, que estão empunhando a bandeira da ética e da honestidade. Dá gosto ver Antonio Carlos Magalhães, Jorge Bornhausen, Fernando Henrique Cardoso, o próprio Alkimin e seus aliados Garotinho e Rosinha aparecerem na TV, indignados, querendo o fim da desonestidade. São pessoas reconhecidamente íntegras, honestas e que nunca estiveram envolvidas em nenhuma maracutaia. Portanto, não teriam nenhum problema em responder a estas perguntas. Por favor, candidato Geraldo Alckmin, responda:
1) O senhor que promete um banho de ética, não percebeu que sua filha trabalhava com a maior quadrilha de contrabandistas de roupas, a Daslu?
2) O Senhor não percebeu que sua esposa recebeu 400 vestidos de luxo, em troca sabe-se lá de que, e depois, sem jeito, ela declarou que havia doado para instituições de caridade, o que foi negado pela instituição?
3) O senhor ao assumir o segundo mandato, afirmava que a segurança pública era o maior problema do Estado. Porque menosprezou o PCC, e permitiu que a população vivesse dias de pânico com os ataques?
4) O que o senhor acha a respeito dos secretários do seu Governo negociarem com bandidos durante os ataques?
5) Enquanto Governador, por que a bancada de seu partido não permitiu a criação de nenhuma CPI, o senhor não acha que as CPI são importantes?
6) Por que o senhor e seu partido privatizaram todas as empresas estatais de São Paulo, como as estradas, que cobram pedágios astronômicos, com as empresas elétricas, o Banespa... Se assumir a presidência o senhor vai privatizar a Petrobrás como FHC fez com a Vale do Rio Doce, e até hoje ninguém sabe onde foi parar o dinheiro?
7) Se o senhor for Presidente, vai invadir a Bolívia com o exército e se alinhar aos EUA, liderando a política de opressão aos povos da AL?
8) Por que o senhor gastava tanto dinheiro com publicidade numa revista insignificante, que por coincidência era de seu acupunturista?
9) Por que o senhor superfaturou o pagamento para os empresários que exploram os restaurantes de comida a R$ 1,00, pagar mais R$ 3,50 por prato para o dono do restaurante, que tem uma clientela garantida de mais de 1.000 refeições por dia, além de algumas benesses do Estado, não é um assalto ao bolso do contribuinte?
10) O senhor que fala tanto em choque de gestão, por que está deixando um rombo de 1 bilhão e duzentos mil no estado de São Paulo, que pode levar seu vice, Cláudio Lembo, para a cadeia? Ainda neste tema, o que o senhor achou da declaração do recém eleito José Serra, dizendo que vai cancelar a privatização da Nossa Caixa, iniciada na surdina pelo senhor durante seu governo?

Para eu definir em quem votarei no segundo turno, preciso que o Lula e o Alckimin respondam às perguntas que lhes dirigi.

Com a palavra, os candidatos.
M.S.
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Este assunto não tem nada a ver com antigas ternuras. Mas fala bem de perto a todos nós, cidadãos brasileiros. Por conta disso, em edição especial, estou propondo reflexão política sobre o segundo turno.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Filme Noir


Meu nome é Robert MacMoney. Pelo menos é o que está escrito na porta, sobre as palavras “DETETIVE PARTICULAR”. Meus amigos e meus inimigos me chamam de “Big Bob” ou de “Big Mac”. Os amigos, por causa do meu tamanho. Os inimigos, pelo tamanho da minha arma. Eu estava no meu escritório, concentrado, tentando lembrar quem ganhou o Campeonato de Basquete de 1969, quando a porta deixou passar o maior e mais suculento par de seios que eu já tinha visto.
Sem perder tempo, ela me perguntou, com aquele ar arrogante de Bette Davis em “A Malvada”.
- Robert MacMoney?
- Ponto para você - eu disse, cinicamente. Soube ler direitinho o que diz ali na entrada.
Ela caminhou na minha direção e eu pude sentir algo endurecido entre a minha virilha esquerda e a direita. E não era o cano da minha Magnum 45...
- O que posso fazer por você, benzinho? - disse eu, secamente, para não lhe dar maiores intimidades. Ela se debruçou sobre mim com tanta sensualidade que o meu velho problema de ejaculação precoce voltou com força total.
- Preciso que você encontre alguém para mim..
- Você já tentou a Lista Telefônica? - respondi, tentando, com a maior naturalidade possível, ocultar as provas de minha libido.
- Falo sério. E pago bem.

Ela respondeu isso enquanto subtraía um cigarro do maço. Eu falei:
- OK, benzinho. Você disse as palavras mágicas.
Mal conseguia disfarçar a superprodução das minhas glândulas salivares por aquelas tetas superdesenvolvidas. Então ela falou, acendendo o cigarro e me olhando de lado, fazendo com que me percorresse um arrepio da nuca até uma parte remota de minha anatomia traseira.
- Eu estou procurando o Diabo. Quero fazer um pacto com ele.
Eu senti ali que aquele não seria um caso normal.
- Certo, certo, benzinho. Por 50 dólares por dia mais despesas eu procuro até o filho bastardo do Papa.
Isso seria o que Humphrey Bogart diria. Não o que Robert MacMoney diria. Eu apenas olhei para aquela doadora em potencial do Banco de Leite Materno e disse:
- Desculpe, little baby. Mas não envolvo religião com negócios. Tente um terreiro de vudu ou a Casa Branca.
Ela me olhou com tanto gelo nos olhos que eu pensei que tinham ligado o ar condicionado da sala. Se eu tivesse um, é claro. Em seguida, virou as costas e foi deslizando pela sala na direção da porta.
Ao ver aqueles peitos fantásticos saírem de minhas retinas, balançando para baixo e para cima, como uma quicada de Michael Jordan, subitamente tive um lampejo de memória: “Lakers de Los Angeles. 1969. Na final em Dallas, com os Toronados, pelo Campeonato Nacional de Basquete!”
É como eu digo: Nada escapa a Big Bob. Ou Big Mac, como queiram...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve dois caras chamados Miles Davis e John Coltrane tocando “In a Sentimental Mood”. Tá bom assim?

segunda-feira, outubro 16, 2006

O pato e o paquete


Lá vamos nós para mais explicações espantosas sobre a origem de expressões que costumamos usar, embora não saibamos de onde vem. Quer dizer, não sabíamos. O seu blog Antigas Ternuras, preocupado com o seu bem-estar, está providenciando para que seus leitores aprendam sobre a origem destes ditos. Sinceramente, não sei como temos vivido sem saber dessas coisas. Já publiquei algumas aqui, quem me lê há mais tempo sabe disso. Pois hoje, falaremos de mais duas. A primeira é:

Pagar o pato

Segundo Deonísio da Silva, a origem da expressão é bem remota. Isto significa dizer que só Deus sabe quando ela apareceu. O que se conhece é que ela surgiu em Portugal, a partir de um jogo um tanto ou quanto sem graça. Mas que fazia a diversão da moçada naquele tempo. Era assim: num terreno descampado, amarrava-se um pato em um poste ou num pau fincado na terra. Quem quisesse entrar na brincadeira tinha só que vir a cavalo, num galope, e tentar cortar a corda com um único golpe de facão. Quem errasse mais vezes, pagaria o pato. Divertido, não é? Pois é. Os portugas de antanho não tinham TV a cabo, não tinham videogame, não tinham revista Playboy, nem transmissão de algum jogo importante, como Portuguesa contra o 15 de Piracicaba, para assistir nas tardes de folga... Precisavam arrumar algo para passar o tempo! Aí inventaram este empolgante folguedo. Nossa! Tinha até aposta! Que excitante, não?
*

Com o tempo, a frase decorrente deste jogo passou a significar algum ato pelo qual pagamos sem conseguir nenhum benefício. Esta expressão aparece em diversos textos antigos portugueses e mesmo em escritos brasileiros, como num de Gregório de Matos, que compôs a seguinte modinha para uma mulata:
Quem te curte o cordovão
Por que não te dá o sapato?
Pois eu que te rôo os ossos
É que hei de pagar o pato?

*
Ah, vai... Diz aí que não gostou de saber disso? De qualquer forma, eu me esforcei para pesquisar essas coisas. Me deu trabalho. Alguém vai ter que pagar o pato!
*
A outra expressão que trago pra vocês é:

Estar de paquete

Confesso que na primeira vez que ouvi esta expressão eu era menino, estava numa roda de rapazes e um deles falou algo como: “Ih, fulana está cheia de coisa. Acho que ela está de paquete”.
Lembro de ter perguntado: com mil tubarões, o que seria estar de paquete? Riram na minha cara. É curioso que no Brasil, terra de ignorantes, quando um confessa ignorar alguma coisa é ridicularizado. Um esperto tentou me explicar: “É quando a mulher tá com regra; tá sangrando, entendeu?”
Não, eu não entendi. Mas percebi que o cara também não sabia muito sobre o assunto. Naquele tempo, alguns temas eram tabu. Menstruação era um deles. Hoje, sei que quando a Johnson & Johnson lançou no Brasil o Modess, foi uma brabeira para fazer o comercial explicando que aquele absorvente íntimo vinha substituir as famosas toalhinhas para amenizar os incômodos mensais. Dizia-se, na época, que a mulher ficava “incomodada” naqueles dias de menstruação. Já no meu tempo, teve um comercial que entrava logo rasgando a lona: “Incomodada ficava a sua avó!”
Hoje em dia se fala em TPM e menstruação até no programa da Xuxa. Até a Rita Lee já cantou pra quem quiser ouvir: “Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra!”. Mas não era assim em tempos idos.
*

Voltemos ao “estar de paquete”. Como surgiu esta expressão como sinônimo de estar menstruada?
Pois é. Diz o “pai dos burros”, o Dicionário, que “paquete = Navio veloz e luxuoso, ordinariamente a vapor, para transporte rápido e regular de passageiros entre certos portos”.

A partir de 1810, chegava da Inglaterra ao porto do Rio mensalmente um paquete sempre no mesmo dia. Com a bandeira vermelha inglesa a tremular no mastro. Algum gaiato fez a ligação entre o ciclo menstrual e a periodicidade dos paquetes com bandeira vermelha. Criou-se a expressão estar em paquete para designar os dias em que as mulheres também estavam com “bandeira vermelha” hasteada. Ao longo do tempo, a expressão se consagrou como “estar de paquete”. E se disseminou por todo o país. Certa vez, eu estava em Caxias do Norte, no Maranhão, e ouvi uma menina se referindo a outra como estando ela de paquete.
*
Portanto, jovem leitora, quando você estiver em seus padecimentos mensais, saiba que existe uma imagem romântica entre o seu sofrimento e a regularidade de uma linha de barcos que vinham da terra do Fog, do chá das cinco, do Big Ben e das mulheres com a sensualidade de um saco de batata inglesa.
M.S.

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Como estou falando de um assunto tão “Carinhoso”, a Rádio Antigas Ternuras traz até você o próprio, pela flauta mágica de Altamiro Carrilho.

sábado, outubro 14, 2006

Receita (infalível!) da Felicidade


Como você está hoje? Está feliz? Que ótimo! Não está? Oooohhh... Mas seus problemas acabaram!
Chegou a sensacional Receita Infalível da Felicidade do Dr. Marco. Siga os seus passos e terá um dia maravilhoso. Vamos começar?
Primeiro passo: assista a este vídeo.

E aí? Assistiu? Cantou junto? Bom.
Próximo passo: Clique aqui e ouça esta canção. Aumente o som. Comece a dançar pela casa. Dane-se se alguém estiver olhando. Vá até o seu pote de bombons. Pegue um. Ah, quer saber? Pegue outro, dane-se, a vida é sua, o corpo é seu.

Sempre dançando, mastigue com gosto cada um dos bombons. Agora, pegue aquela garrafa de vinho que você estava guardando para uma ocasião especial. A ocasião chegou. É hoje. Pegue uma taça de cristal, daquelas que você esconde e só libera com visitas ilustres. É essa mesmo! Encha uma taça. Acabou a música? Clique outra vez. Dance pela casa cantando junto e em alto e bom som.
Fez isso direitinho?
Então próximo e último passo:
Se você tem o seu amor aí juntinho de você, vá até ele, pegue-o distraído, tasque-lhe um beijo na boca, daqueles de desentupidor de pia, de terem que chamar o Corpo de Bombeiros para separar vocês (e não deixe que ninguém chame!). Abrace o seu amor. E não seja o primeiro a tirar as mãos das costas dele.

Segure o rosto dele entre as suas mãos, olhe dentro dos olhos dele e fale exatamente isso:
“Eu já te disse hoje que te amo muito, muito?”
Agora faça aquela cara de alguém que só pensa em saliência. Diga com os seus olhos: “vem cá, se aproveite do meu corpinho e me faça contar estrelas no céu!”. Se o seu amor não entender o que você disse com os olhos, diga com a boca, mesmo! Ele vai entender direitinho!
Ah, você é como eu, não está com o seu amor aí pertinho? Pegue o telefone e ligue pra ele agora. Ou escreva um e-mail. E diga os seus planos para quando estiverem juntos. E quando estiverem, faça exatamente o que eu recomendei acima. Sem tirar nem por.
E fique torcendo para o tempo passar rápido, ansiando pelo dia em que você vai rever o seu amor e fazer todas essas coisas.

Hum, você não tem nenhum amor. Calma, faça o seguinte. Cumpra os dois primeiros passos desta receita. Vá até um espelho, segurando a taça de vinho, ouvindo a música recomendada, olhe para a imagem e diga:
“Homem (Mulher) da minha vida: você não sabe o que está perdendo!... Venha logo!”
Pronto!
O Dr. Marco garante que essa receita é mesmo infalível. Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!
Tenha um maravilhoso final de semana!
M.S.
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Estive viajando por uns dias. Estou de volta e já respondi aos comentários dos dois últimos posts.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Crianças do nosso Brasil


“Criança feliz, feliz a cantar
Alegre a embalar, seu sonho infantil
Ô meu bom Jesus, que a todos conduz
Olhai as crianças do nosso Brasil.”

Hoje eu estive em uma congregação espírita que fazia preces para a família. Como nesta quinta será o Dia da Criança, ao final da prece a coordenadora pediu que todos cantássemos “Canção da Criança” (composta por Renê Bittencourt e Francisco Alves). E todos a entoamos com muita alegria. Fazia tempo que eu não ouvia essa música... Ela me trouxe muitas recordações, despertou-me antigas ternuras. Embora tenha sido primeiramente gravada pelo Chico Alves (muuuuito antes de eu nascer), eu tive o disquinho com a gravação dela feita pelo Carequinha e a ouvia bastante no meu tempo de menino.
*
É uma canção muito simples. Fala em criança feliz, em sonho, alegria, bando de andorinhas e ainda pede para que o mestre Jesus olhe pelas crianças do nosso Brasil.

Pois hoje, enquanto eu a cantava junto com os irmãos da congregação O Samaritano (no ABC paulista, estou fora do Rio), lembrava que eu fui uma criança feliz. Que cresceu entre outras crianças felizes, algumas bem pobres, outras “remediadas” como eu e meus irmãos (era assim que chamavam a classe média), mas onde vivi não havia meninos de rua. Nenhuma criança tinha que ficar jogando bolinha de tênis pro alto nos semáforos em troca de moedas, nenhuma cheirava cola de sapateiro para enganar a fome...
Na localidade onde eu cresci, brincávamos de ser criança. Jogávamos futebol, subíamos em árvores para comer fruta no pé, bola de gude, pião, pique, cantigas de roda... Estávamos alegres a embalar nosso sonho infantil. Claro que algumas famílias tinham dificuldades. Havia criança que era obrigada a sair da escola para trabalhar e reforçar o orçamento dos pais. Mesmo essas tinham seus momentos de brincar de brincar. De serem, em algum momento, felizes qual um bando de andorinhas.
*

Hoje, eu cantei essa música que me acompanhou boa parte da infância. Mas não cantei com o mesmo espírito que cantava naquela época. Eu a cantei em espírito de oração. Pedindo a Jesus Nazareno, que foi criancinha também, que olhasse pelos pequenos que estão nas ruas, nos faróis e sinais, debaixo de pontes, entocados qual bichos, olhos esgazeados pela droga, mas que acompanham vítimas em potencial para tomá-las de assalto...
*
Ó meu bom Jesus, que a todos conduz, olhai por essas crianças... Quem te pede não é este jovem velho que teve oportunidades na vida e as soube aproveitar. É aquela criança que gostava de dividir com os necessitados os brinquedos que ganhava. Que dividia a merenda com o coleguinha que não tinha levado nada por não ter nada para levar. É aquela criança que cresceu sem saber que um dia veria uma infância de falcões, de meninos e meninas que inspiram medo, nunca ternura.
Olhai por elas Jesus, tende piedade delas... E se te restar alguma piedade ainda, olhai por mim que me sinto tão impotente diante do dragão da maldade que consome a infância do nosso Brasil.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o meu, o seu, o nosso eterno palhaço Carequinha cantando “Canção da Criança”.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Em Algum Lugar do Passado


Quem acompanha este blog há mais tempo, quem me conhece, sabe que há um filme e uma trilha sonora que me são extremamente caros. Eu me refiro a “Somewhere in Time” (Em Algum Lugar do Passado, USA, 1980, dir. Jeannot Szwarc), com Christopher Reeve e Jane Seymour. Já assisti a este filme exatas 33 vezes. E já ouvi as músicas de sua trilha talvez 33.000 vezes.
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Eu sempre me interessei por filmes que apresentem viagens no tempo. Pode ser a maior bomba, o maior “trash”, que eu vejo, só porque o assunto me interessa. E nesse, que é maravilhoso, a primeira coisa que me chamou a atenção foi alguém fazer uma viagem ao passado sem utilizar máquinas ou parafernálias. Só com a força da mente.
*
O roteiro do filme é baseado no livro de Richard Matheson, “Bid Time Return”, de 1976, que ele escreveu depois de ter visto a foto de uma atriz do passado (Maude Adams) e tê-la achado bonita, passando a pesquisar sobre sua vida.
A história trata de um escritor de peça de Teatro, "Richard Collier", que em um certo dia, recebe de uma velha senhora um relógio de algibeira e um pedido: “Volte pra mim!”.

Alguns anos depois, este escritor, já relativamente conhecido, está em plena crise de criatividade e resolve viajar para espairecer. Encontra um hotel (Grand Hotel, em Mackinac Island, Michigan, que realmente existe e é meta de peregrinação dos aficionados pelo filme até hoje), onde resolve se hospedar. Na Sala da Memória do hotel, ele vê, maravilhado, a foto de uma linda mulher. Descobre ser o de uma atriz que lá se apresentou em 1912. E mais: ela era a senhora que lhe deu o relógio, tempos atrás. A partir dali, ele empreende todos os esforços para viajar no tempo até encontrá-la. E consegue.

Depois de muitas peripécias, ficam juntos até que uma fatalidade os afasta e ele retorna ao ano em que estava, 1982. Ali, ele aguarda o momento de reencontrá-la na eternidade.

*
Há algo neste filme que me cativou a ponto de eu reverenciá-lo desde que eu o assisti pela primeira vez. Descobri posteriormente que não sou o único. No Brasil e no mundo, e mais especificamente nos Estados Unidos, ele tem um enorme número de fãs. Existem vários sites especializados nele até no Japão.
Para alguém como eu, que ama suas antigas ternuras, imagina ver em um filme um escritor de peças (como eu sou) que volta ao passado (o que eu sempre quis fazer) e se envolve no mundo do Teatro (ambiente em que já estou)...

Deste filme, eu selecionei dois vídeos para apresentar na TV Antigas Ternuras. O primeiro, é uma espécie de grande trailler. O segundo, é de uma cena que particularmente me emociona sempre que a vejo. A atriz, “Elise McKeena”, está em cena em uma peça do gênero comédia de costumes, com seu amado Richard na platéia. Subitamente, ela sai do texto original e vai à frente do palco, improvisando uma belíssima declaração de amor, olhando diretamente para o objeto de sua paixão. Depois volta ao texto da comédia.
De tanto ver esta cena, houve época em que a tinha quase decorada. E sonhava em um dia dizê-la para a mulher que eu amo, que porventura estivesse me assistindo na platéia de uma de minhas peças.
Eis as falas para que você possam acompanhar a cena:

ELISE – O homem dos meus sonhos está quase desaparecendo agora...
ATRIZ QUE FAZ UMA DOMÉSTICA (desconcertada pelo improviso de Elise) – E que homem é este, senhorita?
ELISE – Aquele que eu criei em minha mente... O tipo de homem com o qual toda mulher sonha lá no fundo e que mais secretamente atinge o seu coração. Quase que posso vê-lo agora, diante de mim. O que eu diria a ele se estivesse realmente aqui? “Perdoe-me”. Nunca tinha conhecido este sentimento. Vivi sem ele por toda a minha vida. É de se admirar, então, que tenha falhado em reconhecê-lo? Você o trouxe a mim pela primeira vez. Há algum modo de que eu possa lhe dizer como a minha vida mudou? Qualquer modo de fazê-lo saber que doçura você me deu? Há tanto a dizer que eu não consigo encontrar as palavras. Exceto por estas: eu amo você... É o que eu diria a ele se estivesse aqui...
*

Curiosamente, já me aconteceu de ficar impressionado ao ver a foto de uma linda mulher. Tive a sorte dela não ser de 1912... Fomos nos conhecendo e eu me apaixonei por ela. Há uma cena no filme em que Richard fala de seu trabalho para Elise e ela o observa encantada (veja no trailer). Já vivi esta cena também com o meu amor.
*
Em algum lugar no passado, dois seres cruzaram os olhos pela primeira vez. E era tanto brilho, e era tanta luz, que a esperança deles sempre se reencontrarem se transformava em uma certeza para os que têm a persistência das estrelas.
Em algum lugar no futuro, a dúvida será certeza, o desconhecimento, a sabedoria e o sonho será realidade.
Em qualquer lugar no presente, emoções, sentimentos e sensações são certezas ao alcance das mãos, dos olhos... Certeza de saber que o maior prazer do mundo mora aqui e agora. E que ele persistirá enquanto as estrelas brilharem, enquanto a lua derramar seus reflexos de prata sobre o azul profundo do mar.
M.S.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Que pecado! (7) - Avareza



“... tão logo soube que seu primo tinha morrido por sua causa, ela afastou-se dali. Sem deixar rastros. Tragada pela cidade voraz. Até encontrar aquele mulato sestroso, que a seduziu só com o olhar. Manuel era o seu nome. Dado a prática de umbandas e quimbandas. Dizia-se que era um amante insaciável. Ela teve a chance de confirmar a teoria. Amaram-se por três dias seguidos, sem parar nem para comer. Se saciavam um ao outro. Resolveram viver juntos e foram morar num subúrbio. Ao lado de um jornalista e escritor de folhetins com sua esposa fofoqueira. Esta, admiradora inveterada de Ângela Maria, dividia o seu tempo entre cuidar de suas prendas domésticas, cantando um velho sucesso da cantora, e vigiar a vida dos vizinhos. Incluindo o casal.
Manuel, vulgo “Manelão”, morreu de um fulminante ataque cardíaco na cama. Acreditava-se que tinha sido em pleno ato sexual. Soube-se depois que foi por absoluto estresse causado pela vizinha e por já não contar com a ajuda de seus santos pagãos, que abandonara pela mulher.
Esta, depois da morte do marido, mais uma vez deixa tudo para trás e vai para São Paulo, tentar ganhar a vida como recepcionista num magazine de alto luxo. Retorna ao Rio para visitar a mãe e descobre que seu antigo vizinho, o jornalista e escritor, investigava a sua vida para escrever um de seus folhetins. Ele finalmente a conhece.
A paixão acontece.
FIM”

- Terminou o argumento de seu folhetim, meu anjo?
Lilibeth Monteiro, Lilith, abraçou Duarte por trás, enquanto ele estava diante do monitor do computador.
- Já. Acabo de colocar o ponto final.
- Vai levá-lo pro tal editor? Vai dividir a minha história... a nossa história com todos os seus leitores?
Duarte sorriu. Apenas sorriu.
Aproximou o dedo da tecla “Delete”... Viu o cursor devorar letra por letra de seu texto. A mão passou para o mouse e clicou em um pequeno “X” no canto da tela.
“Deseja salvar as alterações em Lilith?”
Uma pequena seta apontou para o retângulo “Não”.
Clic.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve a “Polonaise N. 6”, por Arthur Moreira Lima.
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Algumas explicações: Eu freqüento o blog da Lili e vejo a sua habilidade em escrever contos curtinhos e sempre fantásticos. Tomado pelo pecado da inveja (que coisa feia...), eu, que vivo escrevendo posts de, no mínimo, duas laudas, resolvi me desafiar a escrever contos de uma lauda no máximo. E mais: teria que ser com um assunto comum, teriam que sobreviver isoladamente, mas fazendo parte de uma grande história. Para complicar, quis escrevê-los em formas diferentes, que se aproximassem do estilo Harold Pinter. Os textos deste autor inglês parecem que foram capturados de uma conversa onde não se sabe o começo nem o final. O leitor que crie o pré e o pós.
Foi um exercício interessante. Eu tinha que sentar no computador e escrever na hora o que me viesse na telha. Sem poder maturar o texto, sem revisá-lo. De prima. Não tinha a menor idéia de como a história que eu iniciei iria terminar. Resolvia na hora em que estivesse escrevendo o pecado do dia.
Bem, é isso.
Obrigado a todos pela paciência de me aturar nesses contos.
M.S.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Que pecado! (6) - Gula


- O senhor gostou da minha comida, ah e eu preparei tudo tão às pressas, nem sei se ficou bom, quer um pouco mais de angu a baiana?, ah, aceite, deixe de luxo, é casa de pobre, mas graças a Deus nunca nos faltou nada, me dê o seu prato aqui, mas o senhor disse que queria me entrevistar sobre o que mesmo? olha, essas torradinhas feitas no alho estão uma coisa, é tão simples de fazer, huuum, está gostando? esse meu angu é famoso na família, meu marido dizia que só se casou comigo por causa do meu angu a baiana, exagero dele, nem acho tão bom assim, mas o povo diz que gosta e se eles gostam, fazer o quê, não é, mas o senhor vai parar já? só repetiu duas vezes, fica tranqüilo que tem mais na panela, ah, o senhor ia dizendo que queria me entrevistar e eu interrompi, não me disse bem o motivo, eu nunca falei com jornalista, mas nem sei se o senhor é jornalista, o senhor está sentindo o cheirinho? é a minha torta de maçã que está na janela esfriando, o senhor precisa ver como ela derrete na boca, é a coisa mais simples de fazer, é só pegar seis maçãs médias, quatro gemas, quatro colheres de farinha de trigo, uma lata de leite condensado e uma lata de leite, aí o senhor corta as maçãs em fatias e forra uma travessa com cerca de 40 cm, leve ao forno para dar uma secadinha, cinco minutos são suficientes, enquanto isso, misture as gemas, o leite condensado, o leite e a farinha de trigo e bata no liquidificador, depois despeje a mistura sobre as maçãs e leve ao forno por mais 20 minutos, o ponto é quando ficar um creme firme, parecido com pudim, e pra fazer o merengue da cobertura é só misturar as claras e o açúcar numa panela, levar ao fogo, mexer até dissolver o açúcar, aí em seguida o senhor bata na batedeira até formar um merengue, depois é só cobrir as maçãs e colocar no forno até dourar, fica dos deuses, precisa ver, mas o senhor ia dizendo da razão dessa entrevista e eu lhe cortei, desculpe, eu às vezes falo um pouquinho demais, mas sim, a entrevista, me dá só um tempinho para eu tirar a torta da janela, mas pode falar que eu estou ouvindo, e vou aproveitar para lhe trazer uma conserva de berinjela para o senhor comer com essas torradinhas que é de ajoelhar, ainda bem que o senhor tem apetite, que eu estou vendo, faço muito gosto e fico feliz por estar apreciando minhas coisinhas simples, olha só que beleza essa conserva, pode meter os queixos, já estou tirando a torta e aí a gente pode conversar mais sossegado, sim, a entrevista, e então, o que eu posso ajudar o senhor, se é que eu possa dar alguma ajudinha, não é, eu não tive muito estudo, só aprendi mesmo foi a cozinhar, pronto, veja só que beleza a torta ficou, vou cortar um pedaço pro senhor ir distraindo o estômago, deixe de ser luxento, o senhor só comeu três pratos de angu a baiana e uma bobaginhas de nada, toma, vou pegar o chantily feito por mim mesma, mas, sim, o senhor estava falando sobre o que ia me entrevistar, é sobre o que mesmo? se for para alguma coisa de televisão, ah, moço, o senhor me desculpe, mas eu sou tímida, não saberia o que falar, eu tenho vergonha, já comeu o pedaço? então prove mais um pedaço com o chantily, e acho que ainda tenho um sorvete de maracujá que fiz ontem, só pra rebater o doce da torta, aqui, ó, deixa de cerimônia, isso, quero ver papar tudinho, como eu dizia pra minha filha, eu não sei se falei pro senhor, mas eu tenho uma moça, linda, de cabelos morenos descendo pelas costas, ela sumiu, depois que um primo dela morreu e ela foi viver com um tal de Manuel, que acabou de bater as botas também, mas o senhor está empurrando o prato por que? não senhor, passei um cafezinho fresquinho pro senhor comer com uns biscoitinhos, ah o olhinho cresceu, não é?
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Eu te devoro”, na voz do poderoso Djavan.