terça-feira, maio 29, 2007

Rituais


Dia desses, eu acordei na hora habitual, sentei-me na beira da cama, com a cara cheia de sono, e disse baixinho, para mim mesmo: “lá vamos nós para mais um dia...”. E fui cumprir meus rituais matinais – tomar banho, escovar os dentes, escolher a roupa para ir pro trabalho, preparar e comer o meu desjejum lendo o jornal que eu pego na porta do apartamento, pegar a chave do carro, a pasta, ir para o trabalho, estacionar no mesmo lugar, passar o crachá na catraca, maldizendo aquela bosta, entrar na sala, ligar o computador e meter a cara nas minhas tarefas cotidianas.
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Pois é. Já tive tantos rituais na minha vida... Qual seria o mais antigo que eu me lembre? Talvez acordar, escovar dos dentes com creme dental Kolynos, tomar uma xícara de Toddy com pão e margarina Claybon e ir para a escolinha da professora Hilda, onde estudei o pré-primário e o primeiro ano.
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No que parei para pensar, descobri que tive vários outros. Até para brincar eu tinha meus processos ritualísticos: para selecionar as bolinhas de gude que eu iria apostar no jogo à vera, para preparar o cerol e a pipa para soltar, para subir nas árvores do quintal e pular de um galho para o outro, que nem eu tinha visto o Tarzan fazer...
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Mas os rituais que eu mais gosto de lembrar são os que eu tinha ao tempo em que morava com minha tia, no bairro carioca da Piedade. Ela era bem velhinha. A filha dela, minha prima, tinha a idade de minha mãe. Muita gente pensava que ela era minha avó. Até mesmo os seus cuidados para comigo eram de avó para neto. Sintam só o drama:
Ela me acordava com uma xícara com Melhoral infantil diluído em água morna, com um tiquinho de mel de abelha. Era para não me “constipar”, como dizia. (Se eu tivesse mesmo gripado, ou melhor, “constipado”, ganhava também uma colherada de Rhum Creosotado). Depois, ela me dava uma xícara de café bem quente, com manteiga derretida. Para “expectorar”, como dizia. Mas antes de tudo, eu precisava lhe pedir a bênção, assim como ao meu tio. No café da manhã, tinha café, leite, pão, manteiga, queijo, frutas, bolo, torrada... Eu tinha que comer de tudo. Era para “deixar de ser tão magrinho”, como dizia. Se eu não quisesse comer, entrava em ação a ameaça do “Velho do Saco”, que pegava crianças que não comiam direito. Eu me borrava todo de medo do “Velho do Saco” e tratava de devorar tudo o que me ofereciam.
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Às seis horas da tarde, eu tinha que estar em casa para a “hora da Ave Maria”. Aí, ela acendia todas as luzes da casa, dizendo: “louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Eu tinha que pedir a bênção aos mais velhos. Minha tia defumava a casa toda, ao som da voz de Júlio Louzada (nessa eu peguei pesado, heim? Quem é que lembra aí do Júlio Louzada no Rádio e a Hora da Ave Maria? Podem confessar! Ou só eu que sou velho aqui nessa joça?), com um copo d’água ao lado do Rádio. Nessa hora, nada de brincar, nada de ficar estirado na cama do meu tio, lendo o “Tesouro da Juventude” ou gibis do “Batman”. Era momento sagrado.
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Meus ritos. Minhas velhas liturgias cotidianas.
Hoje, acordo sozinho, sem Melhoral infantil, nem café com manteiga. Às seis horas são uma parte do dia como outra qualquer. Almoço com gosto, tendo que ficar regulando o que como para não engordar. Chego a raspar o prato. (O Velho do Saco ficaria orgulhoso de mim...).
Meus tios, Júlio Louzada e a Hora da Ave Maria já não existem mais, a não ser na memória do menino grande que olha para as árvores com vontade de voltar a brincar de Tarzan.
Acordo cedo e murmuro baixinho: “lá vamos nós para mais um dia”. E sigo construindo outros rituais cotidianos. Fazeres que um dia serão minhas antigas ternuras, partes integrantes de mim.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Cotidiano”, do grande Chico Buarque.
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Na semana passada, eu já tinha postado texto novo quando descobri que o nobre Mario do Apoio Fraterno tinha me indicado para o selo “Blogs que fazem pensar”. Eu tinha lido lá que, pelas regras, eu deveria indicar cinco outros blogs que me fazem pensar. Como o meu texto já estava grande, resolvi que iria divulgar no seguinte a minha relação de blogs que me mexem com a minha cabeça. (Mas só cinco??? Vou escolher seis: três mocinhas e três mocinhos. Mas entrava mais gente na minha lista, podem acreditar...)

Abrindo as Janelas, da Saramar
Quase histórias de amor, da Lili
Transmimentos de pensação, da Claudinha
Lino Resende
Na ponta do lápis, do Rubo
Ramsés do Século XXI, do grande Do

Agora é com vocês, moçada. Copiem o selo para os seus respectivos blogs e indiquem os que lhes fazem pensar (e verão como é dureza escolher poucos entre muitos merecedores...)

quarta-feira, maio 23, 2007

Pintando o...


Admito que ultimamente não tenho sido muito de aderir a postagens coletivas. Este é um blog mais ou menos temático e nem sempre o mote de antigas ternuras cabe nos temas que os colegas propõem. Mas a Fernanda Ruiz, do Loving me for me, me indicou para esse jogo de sete coisas e, como essas perguntas me fizeram lembrar de uma “febre” no meu tempo, os famosos cadernos de perguntas, tudo bem, vou aderir. Fica como uma gentileza à amiguinha que freqüenta aqui minha página desde tanto tempo. Mas vou responder do meu jeito, tudo bem Fernanda?
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As questões propostas são: 7 coisas que faço bem, 7 coisas que não faço e/ou não sei fazer, 7 coisas que me atraem no sexo oposto, 7 coisas que não suporto no sexo oposto, 7 coisas que digo com freqüência, 7 atores/atrizes que admiro, 7 filmes favoritos, 7 livros favoritos e 7 lugares favoritos. Então, vamulá!
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Acho que sei fazer as pessoas rirem. Pelo menos, sou chamado de “engraçadinho” desde que me entendo por gente. Nos bancos escolares, já tinha esta fama, nem imagino o porquê. O povo costuma dizer que eu “mando bem” quando vou dar aula ou fazer palestra. Deve ser por procurar me preparar direitinho antes... Também costumo ouvir elogios ao meu modo de escrever. Costumo dizer que quem lê muito já tem meio caminho andado para desenvolver a habilidade de por no papel suas idéias. Quando cismo de pilotar um fogão, costuma sair coisas interessantes. Minha massa nunca recebeu críticas... Procurar (e encontrar) defeito nas coisas é a especialidade de todo virginiano. Recebo muitas críticas por isso e tento segurar a minha onda, mas... Gosto de trabalhar, mas sei direitinho a hora de descansar. Ô como eu sei!
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Não tem ninguém que me faça jogar lixo nas ruas, falar no celular em cinema ou teatro, incomodar o próximo, fumar o que quer que seja e ficar acordado quando estou com sono!
Admito que sou atolado para mexer com coisas de informática e embora eu saiba cuidar de tarefas domésticas, costurar uma mísera bainha não está entre minhas habilidades.
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Gosto do sorriso da minha namorada, aliás, procuro sempre fazê-la rir para ter este prazer. Também aprecio muito a sua meiguice, a sua inteligência ao dar as suas opiniões e mexer com informática. Ela muito carinhosa e isso me faz subir aos céus. Da mesma forma, fico encantado com sua competência no trabalho, vibro com suas conquistas. Ela tem um jeito de me olhar tão lindo!... E a sua capacidade de me amar, me deixa comovido.
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De forma geral, admiro as mulheres. Sempre me dei bem quando fui chefiado por elas. Por ter perdido meu pai muito cedo, reconheci na minha mãe a força do gênero feminino. Mas a minha admiração pela mulherada cessa quando vejo alguma que tem gosto por “armar um barraco”. A pretensão também lhes faz muito mal à imagem, assim como a falta de inteligência, o egoísmo, a ausência de hábitos de higiene, a mania de fofoca e o mau humor.
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Não sou muito de falar gírias da moda, prefiro mesmo as antigas. Mas tenho o costume de falar caraco! como interjeição de espanto, e também “pataquiosparéula!” com o mesmo sentido. Outras que falo: pelamordeJesus!, e aí, meu (minha) jovem?, olha, não sei vocês, mas eu..., foi uma “deceptude”... (aprendi esta com o Odorico Paraguaçu) e foi uma tristeza triste!
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Falar de atores que eu admiro é um prazer. Sou ator também e me orgulho de ter aprendido muito do meu ofício com três mestres que tive: Clarice Niskier, Sergio Britto e Cecil Thiré. Sem contar que para mim é sempre uma aula quando vejo a Fernanda Montenegro e o Paulo Autran atuando. Entre a nova geração, dois atores me chamam muito a atenção: Selton Melo e Matheus Nachtergaele.
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Ah, os filmes!... Para quem vive enfurnado em uma sala de cinema, e até difícil escolher só sete. Tenho um carinho mais que especial por “Em Algum Lugar do Passado”, muito menos por suas qualidades cinematográficas e muito mais pelo que ele me provocou nas 34 vezes que eu o assisti. Da mesma forma, costuma passar no projetor do meu coração os filmes: “Amarcord”, “Cantando na Chuva”, “Morangos Silvestres” e “Cinema Paradiso”. Entre os brasileiros, gosto muito de dois filmes bem singelos: “Chuvas de Verão” e “Tudo Bem”.
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Para quem vive lendo, também não é tarefa fácil escolher apenas sete livros. Entre os livros que me deixaram em estado de alucinação, destaco: a trilogia “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo; “As Brumas de Avalon”, de Marion Zimmer Bradley; a série “Harry Potter”, de Joanne K. Rowlings; “Novelas nada exemplares”, de Dalton Trevisan; “Dom Quixote de la Mancha”, de Miguel de Cervantes Saavedra, “Nosso Lar”, pelo espírito André Luiz (psicografado por Chico Xavier) e “Perdôo-te”, de Amalia Domingos Soler.
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Viajar é um de meus prazeres favoritos. Fisicamente ou pela imaginação, quando estou estirado no meu sofá, só escutando cabelo crescer. Entre os lugares em que estive e que gostaria de morar, destaco:
Ávila, na Espanha – tive uma ligação total com o lugar.
Gramado, no RS – sonho em morar lá, quando ficar velho.
Goiás, em GO – terra da Cora Coralina; quando estive lá tive a nítida impressão de já ter vivido lá.
New York, EUA – onde passei dias maravilhosos.
Natal, no RN – outro lugar onde eu viveria feliz que nem caranguejo no mangue...
E tem lugares onde nunca estive mas que eu gostaria de conhecer, como:
Hogsmeade – que nem existe, mas quando li a sua descrição nos livros Harry Potter me deu uma vontade de conhecer.
Veneza, na Itália – eu tenho a impressão que vou ter lá a mesma impressão que tive em Goiás...
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Bem, aí está, jovem Fernanda. Espero ter satisfeito a sua indicação para este “caderno de perguntas” virtual.
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O jogo pede que eu indique outras sete pessoas para também relacionar suas coisas. Prefiro deixar a sugestão para quem topar. Será um prazer ler seus relatos.
Mas, se me permitem propor um tema para vocês, tenho um aqui na minha algibeira.
O autor do “Livro de Pi”, Yann Martell, se propôs a enviar um livro a cada quinze dias para o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, acusado por ele de ser um “inimigo da cultura”. Ele quer que o político se interesse mais por assuntos culturais. Na coluna do Ancelmo Góis, ele sugere que se mande para o Lula um livro para que o presidente, hum... digamos... adquira algumas luzes. E pergunta a algumas pessoas qual seria.
Pois pego daí. Sugiro que quem quiser escreva nos seus blogs ou no comentário aqui no AT o seguinte: escolha sete personalidades brasileiras ou mundiais e diga que livro você mandaria para cada um deles.
Os meus estão relacionados no primeiro comentário deste post.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras você ouve “Somewhere in time”, minha música favorita e tema eterno deste blog.
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O Mario, do Apoio Fraterno, me deu a honra e o prazer de me indicar para este selo de “um blog que faz pensar”.

Fico muito agradecido, caro amigo! Eu escrevo para pessoas amigas que me dão um pouco de seu precioso tempo para ler esta velha cristaleira de antigas emoções. Não é outra a minha intenção além de fazê-los refletir e também diverti-los. Não necessariamente nessa ordem...
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Amigos, com muita honra e satisfação para mim, fui convidado para ser um colaborador mensal do blog Playground dos Dinossauros . Toda a última semana do mês eu coloco alguma coisa lá do meu velho guarda-louças de antigas emoções. Nesta semana o PteroMarco (é como me chamo lá...) colocou um texto sobre a TV Tupi e os tempos da TV a lenha. Se alguém quiser me dar o prazer de ler...

sexta-feira, maio 18, 2007

De nojeiras e sacanagens


Não sei vocês, mas quando eu era moleque uma das coisas que a minha geração mais gostava era falar porcaria.
Ou então sacanagem.
Ou então as duas coisas.
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Lá em casa, na hora de dormir, se alguém quisesse silêncio, bastava dizer: “Vaca amarela! Quem falar agora vai comer todas as porcarias do mundo!” Às vezes, a gente exemplifica as tais porcarias... Normalmente, se fazia um enorme silêncio, no máximo entrecortado por risinhos contidos.
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No colégio, havia uma enorme lista de perguntinhas imbecis de duplo sentido que fazia a festa da garotada. Especialmente se algum distraído não tinha percebido a cota de maldade contida na pergunta. Um exemplo? Perguntávamos, falando rapidamente: "jacaré no seco anda?" Se o incauto respondesse "anda"...pronto! Era a maior gozação!
Mas quando a pergunta era feita para alguém que conhecia o truque, ele respondia de bate-pronto: "no meu anda, no teu atola e ainda faz campo de jogar bola!".

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O que significava? Nada! Besteira de criança que se achava esperta e só queria se divertir às custas dos outros.
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“Mas por que o Marco inventou de escrever sobre isso?”, vocês poderiam perguntar com mui justa razão. É o seguinte: ao ir para o meu trabalho, eu passo por muitos colégios, com muitas crianças e adolescentes pelas portas, pelas ruas e calçadas. Quando eles não estão de esfregando uns nos outros (o que, infelizmente, era impensável no meu tempo...), estão rindo, falando alto e sacaneando uns aos outros.
Noutro dia, eu passava perto de um aglomerado de estudantes quando ouvi um deles falando assim: “se você tivesse um cachorrinho chamado Nabunda e estivesse num barco afundando, o que você faria: levava Nabunda ou deixava Nabunda?”
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Meus caros, posso lhes afiançar que ouvir esta antiga ternura escatológica me fez retroceder muitos anos, num vertiginoso túnel do tempo. Voltei para uma era que não tinha assalto a estudantes, não tinha traficante na porta dos colégios, não havia o menor risco de se levar uma bala perdida no pátio de um colégio... Nossa única preocupação era não cair nessas pegadinhas bobas.
Nesse tempo, as moças conversavam sobre a festinha que haveria na casa de alguém e que só esperariam a hora de tocar “Do you wanna dance?” ou “I started a joke” ou “Uma coisinha estúpida” para dançar coladinho com um paquerinha, se ele tivesse coragem para tirá-la para dançar, é claro.

Nessa época, não existia funk, hip-hop, nem uma criatura chamada Tati Quebra-Barraco cantando coisas como “Me chama de cachorra”, “Siririca” ou “Mete até gozar” (vocês acham que estas músicas não existem? Entrem aqui ).
Nesta época, nossos pecados juvenis consistiam em travar diálogos como este:
Querida, vamos chupar ferida?
Ferida não me seduz. Prefiro um copo de pus !
Pus ? Só na caneca…Vamos chupara meleca ?
Meleca só no jantar, abra a boca que eu vou vomitar…
Seu vômito estava quentinho, mas faltou cocô no espetinho….
Amor, mas eu quero mesmo é lamber tumor !
Tumor me causa pigarro, que tal um chá de catarro?
(Tenho certeza que os quarentões – moços ou moças - se lembram desta coisa nojenta! Estou certo ou não estou?)
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Eu não tenho filho. Só sobrinhos. Alguns de sangue, outros por consideração. Eu me preocupo muito com o mundo que eles vão encontrar adiante deste tempo. Por mais que os pais de hoje se esforcem no sentido de incutir valores morais sólidos aos filhos, não há absolutamente certeza de que esses valores serão absorvidos. O mundo fora de casa é uma selva. Uma espécie de parque de diversões onde o brinquedo principal é o “Trem Fantasma”. A diferença desse para o do parquinho, é que neste os sustos são bem maiores.
Aqui no Rio, vejo adultos que jogam lixo nas ruas, que falam ao celular dentro do cinema, no Teatro... Há no ar uma espécie de comando dizendo: “cada um por si e o resto que se dane!”
E as crianças estão vendo isso, assimilando isso.
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Em português, o título desta música que vocês estão ouvindo é “eu comecei uma brincadeira”. E, de propósito, eu comecei este post com uma brincadeira. E estou terminando convidando à reflexão os que me dão o prazer de ler. Sobre estes tempos em que vivemos. Sobre o que virá aí pela frente. Sobre as sacanagens e nojeiras de antigamente e sobre as atuais. Essas que a gente diariamente lê nos jornais.
Deixo no ar a tradução dos últimos versos desta canção:
Até que eu finalmente morri,
o que fez o mundo inteiro começar a viver.
Se eu apenas tivesse percebido
que a piada era comigo...
Oh não, que a piada era comigo...

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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “I started a joke”, com Bee Gees. Ah minhas noites dançantes nas festinhas da Rua Marambaia...
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Em tempo: a resposta correta para a perguntinha do cachorrinho é: “Nabunda nada...” O garoto não respondeu assim. Ficou lá rindo, com cara de mané... Eu segui adiante. Mas o menino que ainda vive em mim ficou lá, para sacanear o cara.
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Estas são as duas últimas semanas para rir e se divertir com a engraçadíssima peça “Nhoque em tempos de crise”, no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana. No elenco, este modesto escriba que vos tecla, fazendo umas gracinhas no palco.

sábado, maio 12, 2007

És Mãe Gentil

(video com 2min 32seg)


Na segunda-feira passada, fui aos jardins do Palácio Itamaraty, aqui no Rio, para ver a aula-espetáculo “Uma visão do Brasil”, ministrada por um dos brasileiros que mais admiro, de quem sou fã declarado. Seu nome: Ariano Suassuna.
Eu conto nos dedos de uma mão as pessoas no Brasil que têm minha incondicional admiração. No resto do mundo, conto na outra mão. E este grande, notável brasileiro, terá sempre o meu aplauso pela sua sabedoria, pela intransigência ao defender o nosso bem mais valioso: a cultura de nossa gente.
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Os jardins do Itamaraty estavam lotados. Até os cisnes que nadavam solenes no laguinho pararam para escutar Ariano expor a sua visão sobre o nosso país. Ele deu um show! Lembrou de memória versos de Camões, de cantadores do Nordeste (isso com quase 80 anos!). Que delícia é ouvir aquelas histórias, aqueles “causos”! Ele começou contando um que me fez rir direto por um tempão. Vejam só:
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Disse ele, que logo depois de aceitar ser novamente o secretário de Cultura de Pernambuco, recebeu uma ligação de uma professora, indignada com a indigência dos brasileiros que falam mal e escrevem pior ainda. Disse Ariano que, naquele momento pensou: “mas o que pode um pobre secretário de Cultura fazer por isso. Talvez seja melhor encaminhá-la para o secretário de Educação”. Mas continuou ouvindo a furibunda criatura.
“Pois é, professor Ariano, esse povo fala muito mal Eles falam ‘estudano’ em vez de estudando; ‘fazeno’ em vez de fazendo, ‘comeno’ em lugar de comendo, é uma coisa horrível! Noutro dia, eu vi um troço que foi demais! Vinha um caminhão de gás, escrito na lateral: Butano. Eu corri e parei o caminhão gritando: vocês estão errados! Não é butano, é BOTANDO!”
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Embora eu não seja tão radical na defesa de nossa cultura como o é o nobre Ariano, concordo com ele quando diz que estamos sitiados. Segundo ele, até literalmente, pela quantidade de bases militares que os norte-americanos estão construindo, na América do Sul... Mas nossa cultura, nossos valores culturais, estão sendo massacrados e o que é pior: por uma cultura infinitamente inferior a nossa.
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Fico triste quando vejo que o ambiente blogueiro está repleto de jovens que claramente optaram pela língua inglesa, pela cultura norte-americana. Dizem que é por conta da globalização. Prefiro dizer que é por conta da “americanização”, visto que não vejo, nem ouço nada da Bulgária, da Mongólia, de nenhum país da África... Que raio de “globalização” é essa que só divulga a cultura anglo-saxã, especialmente a dos EUA?
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E mais triste ainda quando vejo que em Portugal os jovens estão capitulando diante da cultura norte-americana, especialmente da língua inglesa. Meu Deus! A História e cultura tradicional portuguesa dá de um milhão a zero na do país de George Bush! A língua portuguesa é infinitamente mais bonita, mais rica que a inglesa! E não sou só eu e Ariano Suassuna quem o diz: Miguel de Cervantes Saavedra, o célebre autor de “Don Quijote de la Mancha”, afirmou que a sonoridade da língua portuguesa é única no mundo, que é um dos idiomas mais belos do planeta. E, detalhe: Cervantes, como vocês sabem, era espanhol!
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Quando vejo palavras inglesas ou derivadas do inglês entrando no nosso idioma, quando existem palavras similares e até mais de uma, chega a me dar aperto no coração. Quando o Saramago esteve recentemente no Brasil, ele se arrepiou quando ouviu uma mocinha falar que precisava dar uma “checada” numa informação. Eu também me arrepio quando leio ou ouço “vamos checar isso”, “checa aquilo”... Ah! Que saudades dos tempos em que a gente conferia, analisava, verificava, comparava, confrontava, observava, examinava, classificava, apreciava, estudava, se certificava, investigava, pesquisava, ponderava, sondava... (viram quantas palavras ótimas para substituir a feia “checar”?).
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E quanto aos valores culturais ianques? Não me conformo! Não me chamem para festinhas do tipo “halloween”. Podem marcar a minha falta, me incluam fora dessa! Daqui a pouco, vai ter “thanksgiving day” aqui no Brasil!
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Não tenho nada contra apreciar a cultura americana. Também gosto de muita coisa de lá. Mas está havendo exageros. Não tem um prédio aqui lançado com nome em português; nos shoppings, 90% das lojas têm nome em inglês; A Barra da Tijuca daqui do Rio parece Miami (vida anúncioao lado, de uma loja do Barrashopping)... E, para a minha tristeza, essa “praga” está chegando em Portugal...
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Ariano Suassuna ergue sua lança qual Quixote diante de moinhos de ventos. Eu fico ao seu lado, feito Sancho Pança. Não sou xenófobo, longe disso. Minha música favorita na vida é americana (“Somewhere in Time”), sou assíduo cinéfilo dos filmes americanos, adoro os seriados de TV que eles fazem, estive em New York e gostei muito de lá. Mas... e faço questão de negritar este mas... Gosto do meu país, amo a cultura popular do Brasil, uma das mais lindas, belas e variadas do mundo, reverencio a nossa pátria... Sou um filho deste solo, desta Mãe Gentil. Minha pátria é minha língua. E minha formação cultural também.

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E por falar em mãe, este domingo é dia dedicado às nossas mãezinhas. Não tenho a menor dúvida de que eu seria uma outra pessoa se fosse criado por outra mulher que não a minha mãe.
Quando eu vejo aquela figura velhinha, baixinha (eu só tenho um metro e 47 centímetros de mãe, mas ela é uma gigante, acreditem!), aquelas rugas no rosto e nas mãos...

Minha mãe se enfurece com a iniqüidade, com a estupidez humana, é implicante, fala alto e discute quando acha que está certa, tem mania de seguir as regras, as leis, é irônica, sarcástica, explode e depois se arrepende, tem absoluta compaixão pelas pessoas, pela humanidade, é capaz de tirar a roupa do corpo para ajudar os desvalidos, reza até por quem lhe faz mal, não mede esforços para ajudar uma pessoa amiga...
Curioso. Eu estou cada vez mais parecido com ela em todos estes defeitos, em todas estas virtudes...
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Só numa coisa não sou parecido com ela: na inacreditável capacidade que ela tem que puxar conversa com estranhos, se abrir com eles e ouvir confidências de pessoas que ela pouco ou nada conhece.
Tem uma história que ilustra bem isso que eu falei. Certa vez, eu saí com ela e tínhamos que pegar um ônibus. Eu pedi: “Mãe, não fica conversando com estranhos no ônibus, não fica falando da sua e principalmente da minha vida para quem não conheço”. Ela concordou. Entramos num ônibus cheio. De repente, surge um lugar, ela senta. Eu estava distraído, pensando na morte da bezerra. Quando percebi, ela estava conversando com o rapaz ao lado. Pensei: "Minha mãe não se emenda, mesmo...” Mas o papo dela com o moço, não durou muito. Logo chegou o nosso ponto. Saltamos. Ela diz pra mim: “Esse rapaz... Que coisa...”. Eu ri, tentando imaginar o que viria dali. Ela falou: “a irmã dele se matou e o cunhado está doente. Ele está procurando emprego, mas ainda está estudando...”
Eu cheguei a arregalar os olhos: “Mas, mãe... A senhora não ficou nem cinco minutos ao lado do rapaz, como é que já sabe de tudo isso?” E ela me disse, com a expressão mais inocente do mundo: “Ué... Eu só perguntei se o ônibus passava no Hospital dos Servidores! Ele disse que sim. Daí, uma coisa foi puxando a outra...”
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Feliz Dia das Mães, minha mãezinha querida. Seu dia é todo dia. Mas não custa nada celebrar este domingo especial. Obrigado por ser o que é na minha vida.
Feliz dia para todas as mães que me lêem, que me dão o prazer de vir aqui. Feliz dia para todos os que têm mãe viva e podem comemorar com elas. Feliz dia das Mães para aqueles cuja “flor que só nasce no jardim do coração” já tenha partido para o plano espiritual, mas que ainda viva está na memória e na saudade. Meu beijo e meu abraço a todas as mães do mundo.
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras você vê e ouve Antonio Nóbrega, outro que considero meu ídolo, um artista completo, apresentando “Clovinho no Frevo”. Isso é Brasil, gente! Pátria da maior diversidade cultural do planeta! Viva nós!

domingo, maio 06, 2007

Quem vê cara não vê que horas são


Acho que vocês conhecem a expressão “quem vê cara, não vê coração”, não é? Ela tem como sinônima uma outra frase famosa: “as aparências enganam”. São duas expressões que traduzem os pré-julgamentos que costumamos fazer, quase sempre baseados no preconceito que cada um traz dentro de si. Esse preconceito pode ser de cor, de credo religioso, de classe econômica, de sexo, de opção sexual... Rotulamos pessoas pelo que estão vestindo, pela aparência de seu rosto, pelo time que torcem...
Quase sempre, este preconceito vem da formação familiar, da opinião que pais ou outros adultos têm sobre o mundo e passam para os mais jovens.
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Você acha que não é preconceituoso? Que tal fazer um teste? Topa?
Vou mostrar cinco figuras e algumas descrições. Tudo o que você tem a fazer é atribuir a descrição à imagem. Pela cara da pessoa, de acordo com o que está escrito, tente imaginar quem é quem. Certo?
Eis as imagens:
foto 1

foto 2

foto 3






foto 4




foto 5





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Eis as descrições:
a) pessoa talentosa, cujas obras encantaram e encantam a todos que as conhecem; mas ao mesmo tempo, alguém que apreciava orgias e gostava de ridicularizar outras criaturas menos talentosas.
b) criatura extremamente devassa, corrupta, corruptora, fornicadora, seus filhos entraram para a História como verdadeiros canalhas.
c) pessoa com reconhecidas características de liderança, que se apiedava de seus pares, passando a lutar contra a injustiça. Suas atitudes heróicas são reconhecidas até nos dias atuais.
d) pessoa fria, calculista, que não hesitou em matar uma criança inocente para se vingar.
e) pessoa extraordinária, que venceu adversidades, superou deficiências e hoje é um símbolo de otimismo e força de vontade.
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(As respostas estão no primeiro comentário. Mas antes de lê-las, tente acertar, que descrição se refere a que foto, anotando o número e a letra: 1a ou 1c ou 3d etc )
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E aí? Ficou surpreso com o resultado?
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Certa vez, eu estava ministrando um curso de Relações Humanas e fiz esta espécie de joguinho, na verdade, uma dinâmica de grupo em que procurava trabalhar o assunto rótulos. Só não usei figuras históricas como agora. Utilizei imagens de pessoas absolutamente desconhecidas e pedi que cada um dos alunos tentassem identificar pela aparência deles quem era o quê. Os treinandos ficaram absolutamente surpresos com os resultados.
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Quando eu era moleque, racismo era coisa absolutamente inexistente para nós, crianças. Aliás, para mim, desde que nasci. Minha mãe conta que eu não queria mamar em seus seios brancos. Só queria saber de amas de leite, quanto mais fartas em peitos, quanto mais negras, mais eu gostava. Chegava a resfolegar de satisfação.
Desde bem menino, meus amigos mais chegados eram negros. E bem mais pobres do que eu. E foi assim durante muito tempo. Lembro, quando era maiorzinho, a empregada lá de casa foi me chamar para almoçar. Eu estava no campinho, conversando com meu amigo Alcir, meu obi-wan kenobi em termos musicais. A Maria me chamou, fomos para casa e no caminho ela perguntou: “esse crioulo é seu amigo?” Eu perguntei: “Que crioulo?” Ela apontou meu amigo e ali eu percebi, pela primeira vez, que o Alcir era da raça negra. Juro que não tinha percebido, aliás, ninguém daquela época se ligava nessas coisas. Gostávamos das pessoas pelas afinidades, não por cor de pele ou condição econômica semelhante à nossa.
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Recentemente, li em algum lugar que na Universidade de Brasília, duas estudantes de Psicologia fizeram uma pesquisa entre os outros alunos para saberem sobre o comportamento sexual e os estigmas que isto trazia às mulheres. Basicamente, queriam descobrir como as pessoas viam as mulheres a partir de seus rótulos, da forma como elas percebiam as colegas. Chegaram a dois comportamentos típicos: a “santinha” e a “periguete”. Esta última expressão eu ouvi no filme “Cidade baixa” e era destinada a uma menina que mantinha relações sexuais sem envolver afeto; fazia sexo, não fazia amor. Achei que fosse uma expressão tipicamente baiana. Não é. Em Brasília, usam a mesma terminologia para quem tem os citados comportamentos.
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As pesquisadoras entrevistaram 100 alunos, metade de cada sexo, e olha só que “surpresa”: as pessoas identificavam como “periguetes” as moças que andavam com roupas mais decotadas e tinham aparentemente um comportamento mais, huuum... digamos, efusivo. O curioso da pesquisa é que algumas das “santinhas” pesquisadas admitiram práticas sexuais associadas às “periguetes”, como sexo anal e oral. E que muitas das moças “da pesada”, como eram vistas, na verdade eram bastante conservadoras em seu comportamento na hora do “vamu vê”.
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Ou seja: “periguetes” eram assim rotuladas, mas nem faziam justiça a fama; “santinhas” admitiam que nem eram tããão santas assim. Estereótipos. Nada mais do que isso. E pelo estereótipo, abrimos espaço para o preconceito, uma coisa reconhecidamente odiosa na sua essência, mas praticada, mesmo que veladamente, por tantos.
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Tenho amigos negros, homossexuais, mulheres, pobres, tenho amigos até entre os torcedores vascaínos, que são reconhecidamente o ponto mais baixo da evolução humana. E amo profundamente todos eles. Isso me faz uma pessoa absolutamente sem preconceitos?
Não diria isso.
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Recentemente, uma campanha publicitária perguntava: “onde você esconde o seu preconceito?”
Não deveríamos escondê-lo. Deveríamos aniquilá-lo. Quem vê cara não vê que horas são. Que já é mais do que hora de extirpar uma das piores características do ser humano.
E você, o que acha?
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Mais uma vez”, com Renato Russo.
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Em tempo:
É CAMPEÃO! É CAMPEÃO!
ESSE TIME SÓ ME DÁ ALEGRIAAAAAAAAAAA!!!!

quarta-feira, maio 02, 2007

Piruetas na memória


Dizem que a política é um circo.
Acho injusto com os circos e com os profissionais circenses. Eles não merecem essa triste comparação.
Trago na minha memória antigas ternuras relacionadas com aquela tenda colorida e toda a fantasia que acontecia debaixo de suas lonas.
Ah... Os circos!
Vi tantos quando era pequeno!...
Minha mãe nos levava para ir nos grandiosos e também nos mambembes. E, por incrível que pareça, eu preferia estes mais mixurucas.
Onde eu morava, tinha um imenso terreno baldio que usávamos como campinho para nossas peladas. De tempos em tempos, era justamente para ali que iam os circos. Inicialmente, ficávamos chateados por deixar de jogar bola com a freqüência habitual. Mas, por outro lado, teríamos um circo ali, a metros de casa.
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Duas companhias circenses costumavam parar por ali: o Circo Irmãos Tampinha e o Circo Império. Este último vinha com mais freqüência. Ambos eram bem furrecas, do tipo tábuas como arquibancada, não tinham animais, só atrações como mágico, equilibristas, contorcionistas, palhaços e... trapezistas. Ah, meu Deus! Aquela trapezista do Circo Império! Era a paixão de todos os meninos do bairro. Tinha um corpaço! Pelo menos, parecia ser, por baixo do maiô colante e da meia-calça. Depois da função, íamos para trás do circo, perto de onde os artistas estacionavam os seus traillers. Ali, víamos a trapezista passar. Às vezes, ela nos olhava e sorria. E a briga para disputar para quem ela tinha sorrido? A trapezista, de cujo nome não me lembro, era uma espécie de "namorada" comum da molecada. Para aquele bando de guris que só conhecia mulher pelada pelas revistinhas do Carlos Zéfiro - e isso quando os adultos nos deixavam espiar - a simples visão da trapezista de maiô colorido, ali, pertinho, já era material para os sonhos da Sagrada Confraria dos Descabeladores de Palhaço, a turma que apresentava a mão direita como noiva, que, na solidão dos banheiros ou cantinhos afastados, dedicava-se ao doce esporte do cinco contra um.
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Posso não lembrar do nome, mas lembro perfeitamente daquelas pernocas, daquele corpo do tipo violão, infelizmente tão fora de moda entre as anoréxicas (e sem graça...) mulheres de hoje. Ela pulava pra lá a pra cá no trapézio, mas só tínhamos olhos para aquele par de coxas monumentais.
Depois de investigarmos, descobrimos que ela era casada com um dos equilibristas do circo. O que foi o bastante para imaginarmos como seria a transa de uma trapezista com um equilibrista... Cabeça de moleque tarado é um caso sério...
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Mas hoje, lembrando daquele sorriso, percebo o quanto de tristeza havia nele. Seria ela infeliz? Talvez preferisse não levar aquela vida cigana de não ter casa, não poder criar os filhos como as mães da época criavam. O que fazia aquele sorriso ser triste? Quem sabe ela sonhasse com uma vida melhor financeiramente, ter dinheiro para ir ao salão de beleza, de ir pras lojas e gastar uma boa grana em roupas, como a gente via nos anúncios da Manchete e do Cruzeiro.
Quem sabe ela queria ter uma outra profissão. Talvez aeromoça, viajar pelo estrangeiro... Talvez médica pediatra, cuidar de crianças com aquele sorriso que ela afivelava no rosto depois de dar dois saltos mortais no trapézio.
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Pensando na trapezista que inundou de hormônios minhas fantasias de criança-adolescente, escrevi umas palavras, uma singela homenagem de um menino-adulto sempre em revisita ao seu passado:

A flor de carne volteia no escuro da noite
entre luzes e aplausos.
Rompe a gravidade e cai
aninhando-se no sonho,
nos olhos.
no sorriso quase inocência
do menino que fui.
A carne se esvai em brumas do passado.
A flor permanece no jardim da memória.
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Ah, minha querida trapezista... Quantas vezes embarquei naquele seu trailler, fugindo com você para um planeta distante! (E que menino não sonhou em fugir com o circo, com a artista bonita?) Onde quer que você esteja, saiba que também fui seu equilibrista, mantendo um sonho por um fio. E hoje, jogo minhas lembranças pelos ares, como malabares... cada ano que vivi, cada história que presenciei passa sempre por minhas retinas, num ir e vir. Sem deixar nenhuma saudade cair no chão.
M.S.
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