terça-feira, setembro 30, 2008

O sol vai brilhar


Sabe quando a gente acorda com uma música na cabeça? E nem imagina como ela foi parar lá, mas fica cantarolando a canção o dia inteiro?
Pois é.
Aconteceu isso comigo e com esta música que vocês estão ouvindo.
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Eu já a conheço faz tempo. Quando ela foi lançada pelo seu autor Johnny Nash, há muuuuito tempo atrás, o Alcir, meu obi wan kenobi em termos musicais, me apresentou a ela e eu a gravei naquele meu gravador Sanyo, de que já falei aqui. Ela está até hoje numa das minhas fitas Basf que nem sei se ainda toca. É um reggae, só que na época a gente não sabia o que era reggae.
Prestando atenção na letra, vemos que é uma canção otimista, falando que as coisas ruins acabam passando. Uma canção solar, com arco-íris e tudo o mais. Fez enorme sucesso na época e muita gente não sabe que Bob Marley e The Wailers fizeram o corinho na gravação para o Nash.
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Eu posso ver claramente agora, a chuva passou
Eu posso ver todos os obstáculos no meu caminho
As nuvens escuras que me impediam de ver se foram
Vai fazer um radiante, radiante
Dia de sol

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Em nossas vidas, todos temos nossos dias de chuva, com nuvens escuras que nos impedem de ver a saída. Quando meu pai se foi, eu tive meus dias nublados. Eu era um menino que perdera o seu principal amigo, o companheiro, o protetor. Meu pai era muito rígido como educador, mas era o meu pai. Ele queria o meu bem.
E me deixou com meus irmãos para minha mãe levar adiante a nossa criação. Minha mãe está velhinha, sei que vai chegar um dia em que ela também vai me deixar e daí em diante ficarei mesmo por minha conta, embora hoje em dia eu já seja o esteio da minha família. Eles não fazem nada sem me consultar. Mas sem ela, a responsabilidade será bem maior. Terei mesmo dias de chuva. Nem gosto de pensar nesta hipótese. Ninguém gosta de pensar em perder a mãe. Mas sabe que um dia ela vai ficar encantada e passará a olhar por nós lá do outro lado.
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É duro ficar sem nossos entes queridos...
No ano passado, uma colega nossa blogueira perdeu o irmão. Ela ficou tão triste que deixou de lado o blog, provavelmente nem queria saber de computador. Eu ia semanalmente no blog dela e deixava um comentário com o sentido da música “I can see clearly now”. Durante muito tempo, seu último post só tinha as minhas mensagens. Mais tarde ela ficou um pouco mais conformada, mas não muito. Voltou a postar muito de vez em quando e eu continuo a deixar recados para ela dizendo que em algum momento “vai fazer um radiante, radiante dia de sol”. É o que eu posso fazer. That what friends are for, como diriam os franceses...
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by3DArt
Recentemente, minha mãe esteve internada, com uma doença grave. Ela ainda não se recuperou totalmente, mas está melhor. E quando ela saiu do hospital com as próprias perninhas dela (eu só tenho um metro e 47cm de mãe...), foi como se eu tivesse vendo um arco-íris depois de uma tempestade.
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Eu acho que posso fazer isso agora, o sofrimento já se foi
Todas as coisas más desapareceram
Eis o arco-íris que eu pedi em oração
Vai fazer um radiante, radiante
Dia de sol

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Pois é essa certeza de que todas as coisas passam, que depois de uma noite escura o sol volta a brilhar, que faz a gente tocar a vida para frente. Mesmo que fiquem marcas da tempestade em nosso quintal,
Este post é dedicado a nossa amiga blogueira Tina, do Blue Moon, cuja mãezinha está agora velando por ela lá do plano espiritual. Força, Tina! Você, que tem andado radiante com o nascimento de seu netinho, que veio trazer tanta alegria para você e seu esposo, levante o rosto. E, em breve, você poderá fazer o que diz o refrão da canção:

Olhe em torno, não há nada além de um céu azul
Olhe adiante, nada além de um céu azul
M.S.

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Eu tinha prometido postar a segunda parte do texto sobre antigos comerciais. Mas bateu a vontade de postar este texto. Na semana que vem, publico o outro.
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Nesse final de semana tem eleição. Você já escolheu criteriosamente os seus candidatos? Acredita firmemente que eles poderão te representar e fazer o melhor trabalho possível pela sua cidade? Eu já escolhi os meus e os conheço bem: Gabeira para prefeito (PV – 43) e Eliomar Coelho, vereador (PSOL – 50.000)
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Johnny Nash cantando a sua canção “I can see clearly now”.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Nossos comerciais, por favor - Parte 1


Meu dileto amigo J.F., com quem tenho tanta afinidade e consideração que o chamo de meu mais novo “amigo de infância”, me sugeriu um post sobre anúncios em bondes. Como pedido de amigo meu vale mais que ouro, aqui vai o seu atendimento. E gostei tanto da idéia que farei posts sobre antigos comerciais divididos em duas partes. Hoje, será o dos bondes e trens. Na próxima semana, será a vez de comerciais de TV, mas aqueles do tempo do seletor de canais, do Bombril grudado na antena e do celofane colorido na tela. Quem é da minha geração sabe do que eu estou falando.
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Bem, amigos do Antigas Ternuras, tenho que confessar que sou do tempo dos bondes. Mas antes que vocês me chamem de velho gagá, que digam que eu escovei a crina do Cavalo de Tróia, e parará, pereré, preciso dizer que eu peguei o finalzinho dos bondes, viu?
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Minha mãe me conta umas histórias minhas daqueles tempos. Diz ela que eu com três, quatro anos gostava de dar o meu show do banco do bonde. Mexia com todo mundo! Chamava de careca, de gordo, se o cavalheiro desse mole com o chapéu eu dava-lhe um piparote só para ver o dito cujo voar e aí ter que parar o bonde pro cara ir pegar o chapéu, minha mãe me dava uma bronca... E quando eu resolvia fazer discurso político? Com quatro, cinco anos, eu subia no banco do bonde e falava para os ilustres passageiros que ia colocar água, luz, telefone na casa de todo mundo. Pode uma coisa dessas? E pelo que disse minha mãe, eu fazia discurso para horário político gratuito nenhum botar defeito. Uma vez, um cara me ouviu discursar e gritou lá de trás: “Fala, deputado baiano!”
Como eu era uma criança inocente, não tive como responder: “Deputado baiano é a p...@#$%&*!!!!!!!!!”
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Já maiorzinho, resolvi encerrar minha carreira política. Já viajava sem encher o saco dos demais passageiros. E lembro que eu gostava de olhar para as propagandas que apareciam no alto da parte interna dos bondes. Eram imagens coloridas, curiosas... Aquilo me distraía e fazia com que o tempo passasse e a viagem fosse até divertida.
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Nos trens também apareciam os mesmos anúncios e estes eu peguei já mais taludo, mesmo quando os bondes acabaram. Os reclames que ilustram este post, em boa parte me foram enviados pelo meu amigo J.F. Outros, eu catei na Internet. Incluindo o anúncio mais famoso de todos os tempos, o do Rhum Creosotado. Os dizeres “Vejam ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado...” são lembrados até hoje, mesmo por quem não é do tempo do Rhum Creosotado! (parêntesis: eu sou! Minha tia me fazia tomar uma boa colherada todos os dias, “para não ficar constipado”, dizia ela...fecha parêntesis).

Noutro dia eu perguntei numa farmácia se ainda existia Rhum Creosotado. O senhor que me atendia sorriu com nostalgia e disse que não. Outros remédios do meu tempo como Biotônico Fontoura e Emulsão Scott estão tão diferentes que nem os reconheci! No Emulsão Scott acabaram com o rótulo em que aparecia o pescador carregando o bacalhau nas costas, onde a gente escrevia um balãozinho nos anúncios dizendo assim: “chato é o bafo no cangote!” Agora tem até óleo de fígado de bacalhau sabor laranja!!!!
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Quando eu morava com meus tios, no bairro da Piedade, volta e meia meu tio Jair me levava para o Centro, viajando no trem da Central. E eu ia olhando para os anúncios, reconhecendo os produtos que minha tia ou minha mãe usavam: cera Parquetina, gordura de côco Dunorte, talco Regina, arroz Brejeiro, sabonete Eucalol, fogãozinho Jacaré, perfume Cashmere Bouquet, Regulador Xavier (que eu nem imaginava para que servia tanto o “número 1”, quanto o “número 2”), ou outros produtos que ainda existem hoje em dia mas com outras embalagens.
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Rever estes anúncios hoje é uma viagem pelos trilhos da lembrança. Só que, como disse Gilberto Gil no “Expresso 2222”:
O trilho é feito um brilho que não tem fim
Oi, que não tem fim
Que não tem fim
Ô, menina, que não tem fim

E eu sigo esses trilhos, revendo nas estações e paradas o menino que se encantava com os reclames, que fazia discursos políticos, que já foi um tipo faceiro “salvo” pelo Rhum Creosotado.
M.S.
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Quero agradecer do fundo do meu coração aos amigos que me deram parabéns pelo aniversário. Os que viram na data escancarada no meu perfil aí ao lado, os que já sabiam, enfim, aos meus amados e queridos amigos que lembraram deste humilde escriba e me mandaram pensamentos felizes, meu muito obrigado. Queria dividir meu bolo com vocês...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Elis Regina, cantando “Comunicação”.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Minha vida de aventuras


Um dos três livros que estou lendo no momento é o “A misteriosa chama da rainha Loana”, de Umberto Eco, aliás, uma de minhas referências como autor. Assim como ele, gosto de colocar bastante informação em meus escritos. Eco ainda gosta de salpicar de humor aqui e ali. Eu já prefiro porções mais largas...
Mas neste livro, ele conta a luta de um homem que teve um AVC e perdeu a memória. Gradativamente, teve que reaprender sobre as pessoas à sua volta, incluindo a mulher, filhas, netos, amigos... Para aprofundar este reaprendizado, ele voltou à casa dos avós para ter contato com suas lembranças. Lá, ele encontra velhos livros, jornais e revistas que leu na infância.
Foi aí que a fina tela que me separa das minhas lembranças mais uma vez se rompeu.
O livro mostra várias capas de revistas que o Eco citava. Ah... As minhas aventuras com livros e revistas nas mãos...
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Quando eu era garoto, gostava de brincar na rua, correr, soltar pipa, jogar futebol, bola de gude etc. Mas nos dias de chuva ou mesmo naquelas tardes modorrentas em que nada acontecia, eu era picado pelo bicho da leitura e saía pela casa catando o que pudesse para ler. Tanto na minha casa, quanto na casa de meus tios paternos, no bairro da Piedade, onde morei por um ano e passava sempre as minhas férias. Lá era até melhor, visto que meu tio Jair me incentivava a ler tudo que me caísse nas mãos. Gibis, inclusive.
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E dali, de um subúrbio carioca ou na minha casa, eu viajava para a Floresta Negra, na fictícia Bangala, junto com o Fantasma, enfrentando os malfeitores com nossos anéis da caveira (eu também tinha um!). Ou então, ia até a lendária Terra de Mu, acompanhando o Brucutu; ou ainda viajava ao tempo das Cruzadas para lutar ao lado do Príncipe Valente. Porém, num piscar de olhos, eu já tinha virado assistente do detetive Nick Holmes, viajando até a misteriosa Hong Kong, para enfrentarmos juntos cruéis assassinos.
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Eu acompanhava todos estes heróis pela página de quadrinhos de O Globo (que na época tinha uma página inteira de quadrinhos e não essa pobreza que é hoje com apenas meia dúzia de tirinhas...) ou mesmo pelas revistas da Rio Gráfica, que publicava estes e outros heróis. Mas lia (e como!) os heróis da Editora EBAL também: meu favorito

Batman, Superman, Superboy, Flash, Lanterna Verde, Roy Rogers... gritava “krig-ha bandolo” junto com Tarzan, “aiô Silver!” junto com Zorro e Tonto, lançava escudo com o Capitão América, enfrentava os perigos dos mares com Namor, desafiava o gênio do Mal com o martelo de Thor, ia a todos os cantos do planeta e a todas as épocas.
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Na Idade Média, eu era o Falcão Negro. Aliás, eu adorava este personagem! Lia o seu gibi e depois assistia na TV Tupi o seriado brasileiro, com Gilberto Martinho de capa e espada na mão. Uma vez, se não me engano a Aveia Quacker lançou uma promoção: bastava juntar sei lá quantas caixas e trocar por um bottom e uma carteirinha do Clube do Falcão Negro. Torrei a paciência do meu tio até ele comprar caixas e mais caixas de aveia e pedir pelo correio os cobiçados prêmios. E lá ia eu de toalha amarrada no pescoço, espada de compensado fininho, máscara providenciada com um retalho de pano por minha tia. “Tome isso, bandido!” “E mais isso!” “Morra, miserável!” Ah! A justiça sempre triunfava com o Falcão Negro! E comigo também, é claro.
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(desenho de Bartholo)
E os livros de aventuras? Li Jules Verne e lá fui eu esburacar o quintal para chegar ao Centro da Terra. A enciclopédia Tesouro da Juventude me ensinou a fazer um pequeno submarino com cabo de vassoura e parti então para enfrentar os perigosos desafios submarinos na caixa d’água lá de casa, onde havia monstros tenebrosos! Para testá-los, eu caçava marimbondos, “convencia-os” a entrar na pequena cápsula do meu submarino e os fazia submergir por horas. Devia realmente haver alguma coisa terrível no fundo do mar da caixa d’água, pois nenhum marimbondo voltava vivo daquela viagem...
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Na casa de meus tios sempre tinha um Ellery Queen, um X-9, um Fantomas. Com eles, eu desenvolvia meus dons investigativos, na solução de cruéis assassinatos. Sim, era elementar, meu caro leitor...
Passei a minha infância procurando passagens secretas em tudo que é lugar. Onde não tinha, eu criava uma.
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Não tinha um canto do mundo que eu não conhecesse a partir do meu subúrbio. Eu era menino e aventureiro destemido. Curioso. Nesta semana fico mais velho, mas meus olhos ainda têm a mesma sede de aventuras daqueles tempos. E se os fecho, vejo o mesmo garoto deitado no sofá ou na cama, atracado com um gibi ou um livro. Como se o tempo andasse para trás.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o tema de James Bond.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Tolas canções de amor


Fui ao cinema para assistir a “Hellboy II – O Exército dourado”, filme baseado em gibi e quem me conhece sabe que quadrinhos são minhas eternas ternuras. O filme é um bom entretenimento, nada mais que isso. Mas o que quero destacar não é o filme em si. Em determinada cena, duas criaturas mutantes, digamos, estranhas, cantam um antigo sucesso de Barry Manilow. Esse mesmo que vocês estão escutando nesse momento (se têm Windows Media Player, é claro).
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Resultado: saí do cinema cantarolando esta bela canção de amor, uma das silly love songs, como muito bem definiu certa vez Paul McCartney (aliás, autor da delícia Silly Love Song). O povo lá do hemisfério norte é perito neste tipo de música de que gosto muitíssimo. São canções românticas, despretensiosas, que entram por nossos ouvidos e fazem nossos corações quererem sair dançando do peito. O próprio Macca compôs várias dessas, como My Love e And I Love Her, só como exemplo. Stevie Wonder também tem suas baladas românticas que fizeram meio mundo suspirar, como All in love is fair e I Just call to say I Love you. O já citado Barry Manilow fez muito sucesso com Ready to take a chance again e a deliciosa The Old Songs, cujo refrão diz: “E talvez as velhas canções trarão de volta os velhos tempos/Talvez antigos versos venham a soar como novos/Talvez ela encoste a cabeça no meu ombro/Talvez antigos sentimentos ressurjam”.
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Nós, aqui no Brasil, também sabemos cantar nossas tolas canções de amor, músicas para consolar um amor perdido, um coração partido, uma paixão arrebatada que espalha e acelera o nosso sangue nas veias. Caetano canta maravilhosamente Eu sei que vou te amar (de Tom e Vinícius), talvez a música brasileira que eu mais gosto na vida. E o que dizer de Chico e Tom e a belíssima Anos Dourados ou dessa pérola chamada Minha Namorada, de Carlinhos Lyra e Vinícius?
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Ah... Cada um de nós tem a sua tola canção de amor favorita, não é? Qual é a sua? McCartney disse na sua música que “Algumas pessoas querem encher o mundo de tolas canções de amor/E o que há de errado com isso?” Nada, Macca, nada. Muito pelo contrário. Como você disse em “My Love”, “quando o armário está vazio/Eu ainda acho lá algo com meu amor”.
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É maravilhoso o poder de uma canção em nos afetar desse modo. Se você tem alguém para cantar a sua silly love song, parabéns. Eu tenho.

Mas se não tem ainda, escolha a sua canção tola de amor, toque-a até fritar o CD, e se prepare para ficar como as criaturas do filme Hellboy II. Uma hora dessas o amor te alcança e você se pega pensando em alguém, esperando ela sorrir para você sorrir também.
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Veja abaixo a cena do filme que me fez escrever este post. Mas antes você terá que clicar no “X” que tem no alto, na sua barra de ferramentas. Ele faz parar a música de fundo. Para ouvir todas as músicas que citei no post, faça a mesma coisa. Aí é só clicar nos links.

M.S.
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Dá tempo para dois informes? O primeiro: convido vocês para conhecerem o blog da minha amiga Rose, o Jóias da Família. Ela escreve bem pra caramba, tem um ótimo senso de humor, está virando blogueira, mas está se sentindo meio deslocada. Recomendo uma visita para deixar a Rose bem à vontade na blogosfera.
O segundo: A Jussara Câmara, responsável pelo site Idade maior me escreveu pedindo autorização para republicar um de meus antigos textos, sobre Cosme e Damião. Fiquei super feliz. Aliás, ultimamente alguns blogs e sites têm entrado em contato comigo me pedindo autorização para divulgar meus escritos. Isso é muito prazeroso... Obrigado, pessoal!
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Barry Manilow (por onde ele anda?) cantando “Can’t smile without you”.
Na TV Antigas Ternuras você vê um trecho de “Hellboy II – O Exército Dourado”.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Ouviram do Ipiranga


Vem aí o 7 de setembro. É a data de nascimento do Brasil, como povo independente. Taí um belo motivo para mais uma seção “A História tem cada história...”: o dia em que o sol da liberdade brilhou no céu da pátria, como diz o nosso hino. Aliás, vocês já perceberam que o parnasiano Osório Duque Estrada escreveu uma letra com boa parte das frases com sujeito escondido (não oculto)?
Lembro das aulas de português na escola: “qual o sujeito da primeira frase do Hino Brasileiro?” “As margens plácidas, professora!”
Tem muita gente que não sabe disso. Na verdade, a frase inicial do nosso hino deveria ser lida assim:
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”.
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Mas vamos ao famoso dia 7 de setembro de 1822, dia considerado pela maioria como o de nossa independência. Tem gente que diz que nossa libertação foi conquistada no grito, sem derramamento de sangue. Nada mais falso. Rolou sangue, sim. E muito! Não digo naquele famoso dia, em São Paulo. Mas nos dias em que se seguiram, quando Portugal não quis reconhecer a emancipação da colônia e engrossou lá nos lados da Bahia.
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A guerra lá foi feia. Teve mortes, saques, estupros (inclusive em freiras nos conventos!), até que o general Madeira entregasse a rapadura, a cocada e o vatapá, no dia 2 de julho de 1823 (para muitos, a verdadeira data de nossa independência).
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No que diz respeito à nossa libertação gritada por D. Pedro I, às margens do riacho Ipiranga, podemos dizer que ali nasceu um país. E, para variar, teve merda no meio (não fosse o Brasil esse Brasil que a gente conhece...). Merda, mesmo. Literalmente falando. E metaforicamente falando também.
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Na manhã daquele dia, D. Pedro, príncipe regente do Brasil, estava passeando por Santos. Ele já tinha conhecido D. Domitila do Canto e Melo, futura Marquesa de Santos, desde o dia 29 de agosto. Quando os dois se viram, aconteceu uma espécie de tempestade eletro-química na cabeça deles. O que se acostumou chamar de “amor à primeira vista”. Acontece que a moça era casada com Felício Pinto Coelho de Mendonça, que era mais brabo que siri amarado em penca. Vivia enchendo a lata da Domitila de bolacha. (E ela se interessa logo por quem, por Pedro de Alcântara, que enchia a Leopoldina de porrada...). E acontece que o Pedrão também era casado, embora estivesse defecando e caminhando para isso.
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Pois é. Naquele dia 7 de setembro, D. Pedro tinha se avistado com Domitila e tiveram uma discussão. Sabe-se lá por quê. Acho que ela deve ter negado alguma coisa para ele. O Regente ficou que nem o cachorro do Mickey: Pluto da vida. E aí, ele estava andando pelas ruas de Santos, quando avistou uma bela negra, toda rebolosa. Na hora, uma certa parte do corpo do Pedro, que fica entre a virilha esquerda e a direita, começou a dar sinal de vida. Ele caiu matando para cima da escrava, que não o reconheceu. O príncipe regente do Brasil andava pelas ruas sem séquitos, sem comitivas, flanava feito um mortal comum. E a negra nem imaginava que aquele sujeito abusado fosse o manda-chuva do pedaço. Ele passou a mão na negra e ela fritou a cara dele. E correu para casa.
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D. Pedro, que já estava puuuuuuraqui, por conta do fora que levou da Domitila, seguiu a escrava e viu onde ela entrou. Bateu na porta e chamou o dono da casa. O regente se identificou e disse que queria comprar a escrava que o tinha esbofeteado. O dono disse que não venderia. Naquela época era possível dizer não na cara do principal mandante...
D. Pedro ficou mais puuuuur conta da vida com essa desfeita.
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Mandou reunir a comitiva e disse que retornaria para São Paulo naquela manhã mesmo. Acontece que na noite anterior, tinham oferecido para o regente um baita jantar cheio de petiscos e guloseimas. Como Santos é cidade litorânea, talvez tivessem lhe oferecido ostras e outros frutos do mar que não estavam lá frescos. Resultado, na subida da serra, o Pedrão descobriu que estava com uma diarréia legal, da melhor qualidade. De vez em quando tinha que parar para aliviar as tripas, se é que vocês me entendem...
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Quando deu umas 16h30min, ele teve mais uma cólica e mandou parar tudo. Procurou uma moitinha na beira de um riacho e desceu o barro. O Ipiranga ouvia o “brado retumbante”, mas não era de um “povo heróico”...
Nisso, chegam mensageiros com cartas da D. Leopoldina e de José Bonifácio. O seu camareiro Chalaça levou as cartas enquanto ele estava fertilizando o solo paulista. E o que dizia a missiva? Bonifácio e Leo avisavam que as cortes portuguesas queriam tirar-lhe os poderes no Brasil, que ele não mandaria nada e ainda por cima o chamavam de “rapazinho”... Iiiih. Fedeu!
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O homem interrompeu aquele momento solitário. Sem nem se limpar, levantou as calças e vociferou com a força de um Vesúvio, expelindo lava! Aquilo já era demais. A mulher por quem ele tinha se apaixonado tinha discutido com ele. A negra com quem ele queria botar a tora para serrar tinha dito não e ainda lhe dado uma bifa. O dono da negra se recusou a vendê-la. O jantar do dia anterior o estava fazendo se esvair em bosta. O calor estava de queimar os miolos. E ainda vinha uma notícia como aquela? Ah, ele se estourou de vez! Pegou a espada, tirou os laços representativos de Portugal do chapéu, mandou que todo mundo fizesse o mesmo, subiu no cavalo e... bem, o resto vocês já sabem.
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Ali, naquele momento, com o rabo sujo de cocô, D. Pedro criava um país às margens do Ipiranga. Já podeis da pátria, filhos, ver contente a mãe gentil! Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil!
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Talvez por termos nascido num momento assim, tão fecal, criou-se a tradição de nossos governantes fazerem merda, uma atrás da outra. E não adianta reclamar!
Consta que depois de ter proclamado a independência, D. Pedro ficou meio arrependido. Tanto que passou a dar muitos privilégios aos patrícios portugueses no comércio. Sem contar que topou assumir a enorme dívida externa que Portugal tinha com a Inglaterra para que o antigo país-matriz aceitasse reconhecer a nossa independência. Uma bobagem, porque eles já tinham perdido tudo mesmo, depois da guerra na Bahia. Se Pedro I não quisesse assumir a dívida, Portugal não faria nada e nós não teríamos começado a nossa existência já devendo a Deus e ao mundo.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Fafá de Belém cantando o Hino Nacional Brasileiro, de Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada.