terça-feira, março 15, 2011

(Mais um) Domingo no parque


Bem, amigos do Antigas Ternuras... Tenho uma confissão a fazer.
Meu corpo está possuído.
Devo ter sido abduzido, contaminado por algum organismo extra-terrestre que se alojou no meu abdome. É evidente que a massa adiposa que vem se acumulando por trás do meu umbigo não me pertence, não é de mim!
Como dizem que com atividade física a gente consegue exorcizar estas entidades maléficas que se incorporam à nossa cintura, lá vou eu caminhar por uma hora na Quinta da Boa Vista. Como venho fazendo nos domingos da vida.
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A Quinta é o maior parque da Zona Norte do Rio. Até a Proclamação da República, era uma das residências da Família Imperial.
Quando aquela área foi colonizada (por volta do Século XVII), coube aos jesuítas aquele vasto pedaço de terra. Como se sabe, o Marquês de Pombal se empombou com a Cia. de Jesus e expulsou os frades jesuítas do Brasil e de Portugal. Aquelas terras foram retalhadas entre particulares. Em 1803, o comerciante Elias Antonio Lopes tinha comprado um bom naco de terra por ali e mandou construir um palacete. Em 1808, a Rainha D. Maria I e o Príncipe Regente D. João chegaram ao Rio, capital da colônia, com um vasto séquito de nobres que precisavam de domicílios para se instalarem. A melhor casa da cidade era a do Elias. Este, que de bobo não tinha nada, sabendo que o estupro seria inevitável, resolveu relaxar e gozar. Correu até o Príncipe e doou sua casa para acomodar a Família Real portuguesa. Ele sabia que ela seria confiscada mesmo...
Com este gesto, ele caiu nas graças da Coroa. Ganhou uma outra propriedade, menor que a anterior, mas muito melhor que nada.
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A antiga casa do Elias virou o Paço de São Cristóvão ou da Boa Vista. Teve que ser reformado, remodelado, ampliado, mas ficou um brinco! Dali, tinha-se uma boa vista da Baía de Guanabara (daí o nome...). Quando D. Pedro casou-se com D. Leopoldina, os pombinhos ficaram morando no lugar. D. João foi viver na antiga Casa dos Governadores (atual Paço Imperial, na Praça XV, em frente a estação das Barcas para Niteroi e Paquetá). D. Carlota Joaquina, que desde muito não vivia junto do marido, se mudou para um casarão na Praia de Botafogo.
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Com a República, o Paço da Boavista teve seu caráter de moradia totalmente desfeito. Móveis e demais pertences foram vendidos ou principalmente roubados. Em 1892, o Museu Nacional, que tinha sido constituído por D. Pedro II, mudou-se para o Paço e lá permanece até hoje. Em 1945, a Quinta ganhou o Jardim Zoológico, transferido de Vila Isabel.
Aí mesmo é que a população suburbana passou a frequentar o local, especialmente nos sábados, domingos e feriados.
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Não sei se vocês sabem, mas eu tenho a alma suburbana. Sou do tempo das “casas simples com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima que é um lar”, como diz a bela canção de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque. E é com gosto que faço minhas caminhadas domingueiras naquele local. Onde o povão vai para estender um lençol no gramado, soltar as crianças, andar de pedalinho no lago, ou de quadriciclo, se empanturrar de comidas gordurentas que adquirem ali ou trazem de casa, fazendo o maior farofal...
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Devo dizer que quando era menino, volta e meia minha mãe nos levava para passar um domingo na Quinta, visitar o Museu, ir no Zoológico... Lembro que uma vez, estávamos vendo a jaula da onça, que resolveu nos abençoar com um jato de urina, que pegou no meu peito e se espalhou pela cabeça da minha irmã. Ficamos os dois com uma catinga de xixi de onça que incomodou todo mundo dentro do ônibus.
Quando íamos na Quinta, fazíamos questão de aproveitar completamente o passeio. Andávamos no trenzinho, no pedalinho, rolávamos nos gramados... Exatamente como vejo famílias e seus rebentos fazerem hoje.
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Eu me delicio caminhando pelas vielas, olhando a “fauna” distribuída por aquele terrenão. Resolvi tirar algumas fotos com meu celular, procurando manter o ritmo da caminhada. Tem de tudo por ali. Do menino catarrento, chorando, depois de ter levado um tombo, procurando pela mãe que está às gargalhadas, conversando com a boca cheia de algodão doce cor de rosa, até o galã com cabelo moicano, enorme corrente prateada no pescoço, dizendo para a menina que passa: “Aê, gramurosa... gostei de você... Chega mais, vamo trocar uma ideia?” (Digam aí, mulheres que me leem: vocês resistiriam a uma abordagem infalível como essa?)
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Tem também o vendedor de bugiganga que é mais grosso que cano de passar tolete, mais esquisito que porco manco mijando, que, quando você pergunta as horas a ele recebe um olhar raivoso como se tivesse lhe arrancando o prato de comida! Eu ia pedir para tirar uma foto da barraquinha do cidadão, mas diante daquela atitude de genro recebendo em casa a sogra com mala na mão, preferi escolher outra. São tantas...
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Guardei para o final um tipo inesquecível que a gente só vê entre os frequentadores da Quinta. Estava eu na descida da rampa do Museu, ao meio dia, quando passa por mim uma menina branca que só maisena no gesso, com uma maquiagem igual a da Amy Winehouse nos olhos, batom preto, camiseta preta, casaco preto, calça comprida e bota de cano longo. Devia estar fazendo uns 45 graus na sombra. Eu, depois da caminhada, suava mais que pobre no penico. E a excomungada vestida daquele jeito! Fiquei conjeturando se devia bater uma foto daquela vampira de Madureira, arriscando levar uma bronca da família que estava com ela. Hesitei. E quando resolvi bater o retrato, meio escondido, por trás de uma árvore, a assombração tinha tirado o casaco preto e guardado na mochila. Eles passaram por mim e eu bati essa foto que está aí em cima.
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Fui deixando o parque. Ao longe, ainda ouvia um funk saindo do rádio daquele casal que estava namorando sobre um lençol estendido no gramado... Tinha feito minha caminhada, estava com alguns centímetros a menos na pança, mas com a alma gorda de imagens e recordações.
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê uma gravação caseira de um passeio de trenzinho pela Quinta da Boa Vista. Avistam-se lugares por onde passo em minhas caminhadas domingueiras... (Duração: 6min 26seg)

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

O tempo passa, o tempo voa...


Bem, amigos do Antigas Ternuras. Admito que estava decidido a fechar esta quitanda, já tinha até escrito o post derradeiro. Ia cerrar as portas por estar envolvido em muitos projetos, e já não tinha prazer e disposição para dizer nada por aqui. Queria outros desafios, outras motivações.
Mas o tempo passou, refleti com mais vagar e decidi não fechar de vez. Entretanto, só virei aqui escrever algo quando me der na telha, estiver com tempo disponível, e tiver algo minimamente interessante para dizer. Daqui por diante, não haverá periodicidade.
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Isto posto, vamos ao que interessa. Ao novo post.
Eu troquei de celular noutro dia e fiquei admirado com as coisas que ele pode fazer. Tem TV, rádio, cinema, internet, toca música... E até serve para ser usado como telefone, vejam vocês! Não me canso de me espantar com a modernidade.
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Para quem tem 11, 12 anos, não acha nada de mais nestes tempos. Acontece que vivi a maior parte de minha vida no século passado. Não tinha telefone em casa e, como já contei aqui, em caso de precisão, se quisesse falar com alguém, tinha que pegar ônibus para ir na Telefônica (Companhia Telefônica Brasileira, os mais veteranos devem estar lembrados...) ou ir na farmácia do Seu Henrique, que era bem mais perto. Na CTB, íamos até um balcão, dávamos o número desejado e esperávamos aquela vozinha fanhosa dizer: “Marco... Cabine 3...”. Depois de falar – sempre brevemente – passávamos no caixa para pagar pelos minutos usados.
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Era o tempo do telefone preto, da televisão com seletor de canais e bombril na antena, do rádio de válvulas, da máquina de escrever, da vitrola, do disco de vinil, do gravador cassete, da câmera fotográfica com filme...
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Fiquei me perguntando o que uma criança de hoje em dia diria se visse um daqueles aparelhos do meu tempo. Como que para responder à minha dúvida, recebi de uma amiga um vídeo exatamente sobre isso.
Dê só uma olhadinha:

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Estamos cercados de tecnologia jamais pensada por nosotros, com mais de...arram... trinta anos... Reveja um seriado ou filme de ficção-científica dos anos 50, 60 e perceba se não estou certo. Dentro de nossa tão curta existência, a humanidade avançou, em termos tecnológicos, muitíssimo mais que em centenas de anos no passado distante.
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Vamos fazer o contrário do filmete do you tube. Imagina alguém que entrou em coma em 1990 e só voltou a si agora, 20 anos depois. Já pensou no choque que ele iria levar? E se eu mostrasse a essa hipotética pessoa o celular que acabei de comprar? Primeiramente, eu teria que explicar para esse alguém o que é aquela engenhoca, visto que a telefonia móvel celular só apareceu por aqui exatamente no ano em que ele apagou. Depois, mostrar para ele computador portátil, internet, TV LCD, iPod, iPhone, iPad... Já pensou como seria difícil para qualquer pessoa explicar para o cara o que é um pen drive? E mais: dizer que dentro daquele brinquedinho cabem milhares de músicas, vários filmes, livros inteiros...
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Nesse capítulo, armazenagem de informação, os tempos atuais são de tirar o fôlego mesmo! Dois pesquisadores da Universidade da Califórnia (Hilbert e López), estimaram o volume de informação em todo o mundo em 295 trilhões de megabytes, algo assim como uma pilha de CD-ROM daqui até a Lua: 404 bilhões de disquinhos. É mole ou quer mais?
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No Século XV, Johannes Gutemberg criou os tipos móveis, acabando com a vida dura dos monges que se divertiam passando a limpo, à mão, pergaminhos e documentos com todas as informações da época. Com os livros impressos, pelos séculos seguintes, era possível acondicionar o conhecimento numa enorme biblioteca, por exemplo. E hoje já tem gente piscando os olhinhos brilhantes para tablets, que daqui a pouco, vão caber toda aquela biblioteca da frase anterior. Tudo isso nas nossas mãos.
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Pois é, queridos leitores... O tempo passa, o tempo voa, como dizia naquele antigo comercial da caderneta Bamerindus... Quando jovenzinho, eu fazia um jornal datilografado, que meus amigos da sala de aula do ginásio liam. Hoje, escrevo numa ferramenta chamada blog e sou lido por gente de vários lugares do Brasil e até nos países representados pelas bandeirinhas aí ao lado, no Live Traffic Feed...
Você já pensou nisso? Na minha cabeça jurássica isso é uma piração...
M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê o vídeo “Il était une fois... les technologies du passe” (Era uma vez... as tecnologias do passado).

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Boas Festas


Então é Natal...
Tempo em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, o Salvador do Mundo. Embora nem todo mundo o reconheça como tal.
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Mas é Natal.
Quando as famílias tentam reproduzir o sentimento que pairava naquele estábulo, há 2010 anos, no dia 25 de dezembro do Ano 1 da cristandade. Apesar da gente saber que Jesus não nasceu no 25/12, que a data foi arbitrada e que erraram nas contas: o ano em que Jesus nasceu provavelmente foi uns seis anos antes do chamado Ano 1.
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Ainda assim é Natal.
Quando trocamos presentes, como os 3 Reis Magos fizeram naquela noite feliz. Mesmo sabendo que a Bíblia não fala em três, nem em reis, nem em magos, só diz que foram “sábios do Oriente”.
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Apesar disso é Natal.
As donas de casa se preocupam com a ceia, as lojas estão cheias, e é importante que estejam, visto que muitas famílias dependem das vendas para ter um bom Natal.
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Esta data é parte importante de nossos ciclos, como são as estações, como é a infância, a adolescência, a maturidade e a velhice.
No Natal, a gente pensa coisas boas em relação aos nossos semelhantes. E ter bons pensamentos é fundamental para o nosso equilíbrio. Cientistas garantem que os seres humanos são os únicos que tem conexão direta entre o que pensam e seu corpo físico. Quando estamos tristes, nossas células, nosso corpo se ressente. Quando estamos felizes, quando temos bons pensamentos, nosso metabolismo fica melhor, nosso organismo se transforma em algo radiante.
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E aí está o Natal. Uma excelente oportunidade de pensar coisas boas para nós, para nossos amigos, parentes, para quem nem conhecemos, mas desejamos que estejam bem.
Esse presente é melhor que ouro, incenso e mirra. Este é o melhor presente que Jesus gostaria de receber: que os homens desejassem, do fundo do coração, bons pensamentos a todas as gentes. Não só no Natal, mas em todos os dias do ano.
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E eu desejo a você, querido amigo, querida amiga, uma imensa cesta de bênçãos. Que o manto luminoso de Deus envolva você, sua família e todos os que seus pensamentos alcançarem. Que nesta cesta enviada por meu pensamento, haja saúde, nosso bem físico maior. Que haja paz e harmonia. Que haja compaixão para os que passam por provas difíceis nessa vida. Que haja reconhecimento pelas muitas bênçãos com que somos cumulados diariamente e talvez nem percebamos. Que você acorde feliz, todos os dias, em sua cama, em sua casa, junto com sua família, algo que nem todos podem fazer por não ter cama, casa e família. Que você siga radiante para o seu trabalho por todos os dias de 2011, coisa que tantos não farão por estarem desempregados. Graças por você poder ler esta mensagem tão simples, porque tem a bênção da visão e sabe ler. Há muitos que não conseguiriam. Muitas graças por ter ceia, trocar presentes que comprou no comércio com tanto carinho, com o fruto de seu trabalho. Há os que não conseguirão fazer o mesmo. Graças por você saber que é Natal, muito mais que uma data: um momento de reflexão, de agradecimento, de ter bons pensamentos.

Feliz Natal. Um 2011 repleto de momentos mágicos que se reflitam beneficamente no seu corpo e na sua alma.
Graças a Deus...
M.S.

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Na TV Antigas Ternuras, você vê Maria Bethânia cantando (lindamente!) a melhor canção de Natal que eu conheço: “Boas Festas”, do inesquecível Assis Valente. E tem também um comercial de 1969 da Cica com a Turma de Mônica, que é uma gracinha! (Claro, ninguém era nascido nessa época, só eu, né?).
Imagens de Vladimir Kush (menos o presépio)

quinta-feira, outubro 21, 2010

De volta da volta ao mundo


Bem, amigos do Antigas Ternuras... Estamos de volta. Fiz um pequeno pit-stop de três semanas para dar a volta ao mundo. Velho Mundo. Estive em Portugal e Holanda. Junto com a Espanha, que conheci em 1998, já são três países europeus no meu modesto cartel.
O que posso dizer dessa viagem? Vou resumir em duas palavras, como diria o nosso bravo deputado Tiririca: MARA VILHA!
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Aliás, lá em Portugal, ouvi muitos comentários sobre a bombástica eleição do Tiririca. Todos seguidos de risadinhas de escárnio. Eu tentava argumentar que o Congresso brasileiro é um circo, logo, é muito natural que o povo mande um palhaço para lá. Ou estou enganado?
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Não vou ficar aqui descrevendo como minhas férias foram fantásticas, como tudo é maravilhoso na Europa, que lá tem cultura e segurança, que vi tudo do bom e do melhor etc. etc. É muito chato ficar ouvindo descrições minuciosas de viagens dos outros. E quando nos empurram álbuns de fotografias, ou nos obrigam a ver trocentos slides das “férias maravilhosas”, a gente tem vontade de botar para fora o Freddy Krugger que existe em nós. Digo isto para alertá-los que não vou ficar aqui contando como minha viagem foi ótima.
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Mas considero que pode ser interessante recordar algumas histórias que aprendi lá. E que tem tudo a ver com a proposta deste blog, de contar histórias, desvendar coisas antigas.
Bem, hoje, vou narrar-lhes algumas descobertas que fiz no Velho Mundo.
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Vocês sabiam que “cafezinho”, em Portugal, aquele que a gente toma em bar, é chamado de “bica”? Já até consigo ouvir o pensamento da imensa maioria que está lendo isto: “Ah... novidade! Todo mundo sabe disso, ô mané!” Sei, sei... Calma... A pergunta que faço é a seguinte: Por que chamam o cafézinho de bica? “Porque sai da bica da cafeteira, ora essa!”, poderiam me responder os espertos mais apressados. Eu mesmo disse isso quando o português me fez essa mesma pergunta.
A verdade é que não é isso.
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Quando o café foi lançado lá em Portugal, nos bares de Lisboa e do Porto, a novidade atraiu a atenção de todos, que queriam sorver essa maravilha que todo mundo falava. Pediram o café, provaram... e disseram: “Ó pá, que esta coisa é muito amarga! Ruim demais!” e saíam, fulos da vida. Não dava nem tempo de receberem a instrução de adoçarem antes.
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Foi quando um dono de botequim resolveu colocar uma tabuleta, esclarecendo. Pediu que um pintor fizesse uma bem visível, para que todo mundo entendesse. E o gajo pintou a frase: “Bebe-se Isto Com Açúcar”. Realçando bastante as letras B, I, C e A.
Perceberam?...
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Nas ruas, para seguirem o hábito dos ingleses e americanos, os portugueses pintaram a palavra “STOP” antes do cruzamento. Não adiantou muito, pois havia gente que saía avançando na rua, por não saber o que estava escrito ali. Até que uma boa alma esclareceu, pintando ao lado a explicação. Segundo ele, aquilo era uma sigla:
Se Tens Olhos, Pare”.
Pronto. Resolveu-se a situação.
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Aqui no Brasil, o português da piada é praticamente uma instituição. Essa figura faz rir por ser ingênua e atrapalhada, com pouquíssima inteligência. Eu quis saber o que eles achavam disso. O mesmo português que me explicou sobre a “bica” me disse que lá em Portugal, eles também contam piadas como as nossas, só que o personagem é o “alentejano”. Esta criatura, obviamente, nasceu no Além-Tejo, ou seja, na região que fica na parte oriental do rio. Eu estive em algumas cidades alentejanas, como Évora, Palmela, Setúbal... E são todas mui lindas, com gente alegre e hospitaleira. Mas para os portugueses das outras regiões, os habitantes de lá são meio lesados, os próprios personagens de piadas. Um exemplo: “sabe por que o alentejano gosta de viajar no primeiro vagão dos trens? Para chegar primeiro nos lugares”. Eles morrem de rir com essas coisas. Dizem até que os próprios alentejanos contam piadas como essas sobre si, rindo deles mesmos, não se levando nem um pouco a sério, como mandam os manuais do bom viver.
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Ouvi uma piada sobre alentejanos que me agradou bastante. É assim:
Um alentejano abriu um bar e no dia da inauguração amarrou um burro no balcão. Os fregueses entravam e estranhavam aquilo. Até que um deles perguntou: “Ó Manuel. O que se passa aqui? Por que esse burro está amarrado no balcão? É para espantar a freguesia, é?” E o dono do estabelecimento esclareceu, com ares de quem é muito esperto: “isso está aí com uma finalidade. É para aposta.” O outro quis saber: “Mas que aposta?” Respondeu o Manuel:
- Eu pago cem euros para quem fizer o burro rir!
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O outro pensou, pensou... E disse que topava. “Mas só se você deixar que eu leve o burro ali fora um instantinho!” O Manuel não viu nada de mais nisso. Concordou.
O gajo levou o burro para o lado de fora do bar e falou alguma coisa no ouvido do animal. E o burro começou a dar risada! Caiu na gargalhada mesmo!
O cara voltou para o bar e pegou o dinheiro do embasbacado Manuel.
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No dia seguinte, ele voltou ao bar, e o burro continuava ali, no balcão. “Ó Manuel! O animal ainda está aqui?” O outro não se fez de rogado: “É para aposta. Desta vez eu pago duzentos euros para quem fizer o burro chorar!”
O outro pensou, pensou e disse que aceitava. Mas novamente, queria levar o burro lá fora. O Manuel consentiu de novo.
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Na calçada, o cara segredou alguma coisa no ouvido do burro, depois se posicionou na frente dele. Passados alguns instantes, o pobre asno começou a chorar inconsoladamente. O tal gajo voltou para o bar querendo o dinheiro da aposta. Mas o Manuel berrou:
“Espera lá! Tudo bem, eu pago a aposta. Mas você vai ter que me dizer qual é o segredo disso? Ontem, fizeste o burro rir; hoje, ele chorou. Como é isso?”
O gajo explicou:
- Ontem, eu cheguei no ouvido dele e disse: “Tenho a piroca maior que a tua!” Ele começou a rir, debochando. Hoje eu falei para ele: “Quer apostar que meu pinto é maior que o teu?”
“E aí?”, quis saber o Manuel. E o gajo respondeu:
“E aí que ele perdeu a aposta!”
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Uma coisa curiosa que eu verifiquei em Portugal. Nos cinemas, no meio do filme, se faz um intervalo de cinco minutos. Eles dizem que é para o público poder dar uma mijadinha, comprar mais pipoca, algo para mastigar... Eu achei aquilo estranho. Não estou acostumado. Mas depois fiquei imaginando quantas vezes me retorci na poltrona, doido para o filme acabar para eu ir no banheiro esvaziar a bexiga.
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Tem mais histórias. Depois eu conto.
M.S.
(Na foto, estou conversando com meu amigo Fernando, que parece ser um poeta muito conhecido em Portugal…)
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Além de Portugal, estive na Holanda, em Amsterdam. Logo, tive que desenferrujar meu inglês. Para isso, contei com uma personal teacher e com um curso audiovisual que me ajudou bastante. Aprendi muito com ele. Caso vocês queiram ver como é a primeira aula, basta clicar na setinha. O método é bem fácil, a gente aprende com música, a pronúncia fica perfeita.


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Na TV Antigas Ternuras, você ouve e vê uma aula do revolucionário método “Aprenda Inglês com os Beatles”. Chega de ficar só no the book is on the table...

sábado, setembro 18, 2010

Diário de um adolescente


Segunda-feira
Uãããã... acordar cedo. Ir para a escola. Hoje tem aula de História, uêba! Se fosse de Álgebra ou de Trigonometria eu ia mandar minha cachorra no meu lugar.

Alguém um dia precisa me explicar para que existe trigonometria no mundo. Por que eu tenho que saber que seno a x cosseno b=seno b x cosseno a. Duvido que eu precise disso em algum dia da minha vida.
Uãããã... Preciso me levantar. Escovar os dentes.

Voltei da aula. Almoço e chamar os moleques para perderem algumas bolinhas para mim.

Fim da tardinha, é hora de ligar a TV. Huuummm… essa ajudante do Capitão Furacão é da pontinha da orelha…

Vou dormir. Amanhã tem aula de Geometria Descritiva. Mais uma inutilidade para eu esquecer quando for maiorzinho.
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Terça-feira
Diacho… Não compraram a Manteiga Aviação. Vou ter que encarar essa margarina mesmo…

Voltei da escola e minha mãe mandou eu cortar a “gafurina”. Vou ter que fazer as pazes com o barbeiro.

Tomara que tenha algum "peixão" na capa da revista que ele vai me dar para eu ler enquanto ele me faz o “príncipe Danilo”. Tomara que ele passe Petróleo Menelik depois…
Passei a tarde de bobeira. Muito sol. O povo não quer jogar bola. Bando de fresco… um solzinho de nada…
Ei, está passando a Família Addams na TV Globo! Esse seriado é uma brasa...

Vou puxar um ronco. Amanhã tem aula. Português. Ôba! Com a gostosa da professora Marília e sua mini-saia. ÔBA!
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Quarta-feira
Omnmmnnn... nham...nham... Ah, minhas férias, quando chegam, meu Deus?
Minha mãe diz que eu estou com espinhela caída e magro demais. Já até sei qual vai ser o remédio...

Volto do colégio e vejo a molecada jogando bafo-bafo valendo dinheiro de maço de cigarro. Já joguei muito isso.

Agora de tarde, vou na casa do Tutuca para ler gibi até dizer chega. Não vou dispensar nada. Vou torrar a mufa de tanto queimar as vistas no Fantasma, no Zorro, no Batman…

E se aparecer um Zé Carioca eu traço também!
Depois, volto para casa para ver o seriado da noite.

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Quinta-feira
Cadê meu caderno de OSPB?

Quando voltar da aula, vou na casa do Luiz para a gente ouvir umas músicas que ele gravou sem microfone, com aquele fio direto.

Volto de lá a tempo de ver TV com a minha família. Vamos ver Os Monstros. Muito bacana, mora?

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Sexta-feira
Hoje tem aula de Geografia. Só quero ver a gracinha que o professor Abelard vai fazer…
Huuummm… Sinto que minha lombriga de estimação está pedindo doce. Vou catar umas garrafas, vender na vendinha e me empanturrar.

Aliás, sera que minha mãe vai trazer alguma gostosura hoje? Tomara que ela traga um pirulito de chocolate da Kibon…

E vou querer ver a página de quadrinhos dO Globo também, antes de tomar banho.

Depois do Repórter Esso, vou brincar de pique-bandeira na rua.

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Sábado
Ah! Deus seja louvado! É aula hoje, amanhã não tem! É dia de Educação Física. Vai ter handebol.
Enquanto almoço, vejo desenhos. Mas já me preparando para a tarde futebolística que vai ter hoje.

Final da tarde, depois do futebol, ainda tem Thunderbirds. Tremendaço, pra frentex!

Na beira do campo, apareceu aquele vendedor de pirulito. Dá o maior trabalho tirar o papel desse treco, mas quem é que resiste a essa maravilha?

Vamos ver filmes na TV, sem me preocupar em acordar cedo amanhã. Ah… A vida vale a pena!

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Domingo
Já acordo com a bola de futebol na mão. Hoje não quero nem saber! Vai ter time-contra. O campinho vai ferver!

Minha mãe reclama por ter que me chamar dez vezes no campo para eu ir almoçar. Alias, todas as mães reclamam a mesma coisa. Por que sera?

Depois de passer o dia chutando o balão de couro, termino a tarde ouvindo o meu Mengão jogar pelo meu radinho. Depois, é só esperar o programa Flavio Cavalcanti.
Pelo amor de Deus! Acabou o domingo! Amanhã, volto para a mesma rotina: acordar cedo, escola parará, pereré…
E quando eu for trabalhar? Será assim?
M.S.
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Há muitos anos atrás, no tempo em que o Abel pulava o muro do quintal de Caim para roubar goiaba, nasceu este garoto da foto ao lado.

Foi num 18 de setembro, como hoje.
Ele nasceu gordinho e careca. Gordo ele não é mais. Mas a exuberância capilar conquistada parece ceder e querer voltar ao estado de penúria da época do nascimento.
De qualquer forma, hoje é dia de aniversário. Quem quiser, clique na setinha do you tube e cante junto com a criançada.

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Queridos amigos. Estou em gozo de férias. Na próxima semana, vou viajar. Volto em meados de outubro. Prometo visitar todo mundo quando voltar. Até lá! Beijo para quem é de beijo, abraço para quem é de abraço.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Feliz Aniversário”, com o ídolo da minha geração, o palhaço Carequinha. Tá certo ou num tá?