domingo, outubro 28, 2007

Janelas de Minas



As janelas de Minas deixam o tempo passar devagar
A poeira do tempo se deixa assentar em seus beirais
Só para ouvir os lamentos
Do povo de Minas Gerais


As janelas de Minas podem ser humildes, ricas
Exibidas ou castas como vestais
Trazem personagens que fugiram de contos
Das histórias de Minas Gerais


As janelas de Minas olham o sol e a lua
Como se olhassem a saudade de um antigo cais
Olhos baços e silentes
Dos velhos de Minas Gerais


A História passa por essas frestas
Suas igrejas, seus cardeais
Lá moram querubins e serafins
Os anjos de Minas Gerais


As janelas de Minas vêem procissões
Passando com suas velas e castiçais
Suplicam a misericórdia divina
Ao Senhor Deus de seus pais


As janelas de Minas também vão nos trens
Sobre trilhos longos demais
Estas passam por outras janelas
Das casas de Minas Gerais


As noites de Minas são pesadas
Ocultam sombras nos umbrais
Guardam segredos e mistérios
Histórias que não se contam mais


Pelas janelas de Minas vejo terreiros
Até escravos pelos quintais
Catando a fruta mais doce
Para os doces imortais


Minas tem casas de pedra
Com janelas tão desiguais
Escondem almas de ferro
Das gentes das Gerais


As janelas de Minas têm flores
Que vêm de tempos imemoriais
Meus olhos forasteiros vêem cores
Que só existem em Minas Gerais


As janelas de Minas são altares
Emoldurando igrejas e seus metais
Lavam os olhos de pecados
Mostram mansões celestiais


Janelas que contam histórias
Falando de muitos ais
Que afligiram os corações
Das mulheres de Minas Gerais

Texto e fotos de Marco Santos (janelas que fotografei em Ouro Preto, Sabará, Tiradentes, São João Del Rei, São Tomé das Letras, Caraça e Mariana)
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Quero agradecer aos queridos amigos que passaram pelo Antigas Ternuras para abrir as janelas e arejá-lo. Em quinze dias, recebi mais de 3000 visitas, ultrapassei a casa das 100 mil visitações (quem seria o visitante 100 mil?). É para mim uma enorme honra fazer parte desta comunidade de blogueiros, escritores de tanto talento. Estou de volta. Na medida do possível vou visitá-los todos.
Outro coisa: o texto anterior, “Noite de terror”, não é ficção. Aquilo aconteceu mesmo comigo.
Valeu, moçada! Considerem-se devidamente abraçados.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Ponta de Areia”, magistralmente cantada pelo grupo Boca Livre. Andando agora por Minas, eu cantava sempre esta música quando olhava aquelas janelas das Gerais.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Noite de Terror


CABLAM!
O estrondo do trovão fez o menino acordar subitamente. O vento e a chuva uivavam lá fora, acompanhando os rilhares daquela noite de tempestade. Foi quando ele avistou um vulto encasacado, de pé, junto a parede do quarto. Um calafrio percorreu a espinha do garoto, que contemplava, horrorizado, aquela figura sombria ali próximo à porta.
*
Mas, quem era aquele homem? Como conseguira entrar na casa? Será que alguém tinha deixado a porta dos fundos sem trinco? Já acontecera uma vez e a mãe do menino dera uma bronca, com voz furiosa, feito os trovões que ribombavam naquela noite. Então foi isso. Alguém tinha deixado de passar a chave na porta dos fundos e um estranho penetrara na casa. Com que intenções?
*

Naquele momento, ele pensava nos irmãos menores que dormiam seu sono inocente, sem sequer desconfiar do perigo que se instalara naquele cômodo. E a mãe, dormindo a sono solto no outro quarto? O que aconteceria com ela se aquele vulto abrisse o seu saco de maldades? Claro, ele só podia estar ali para fazer o mal. Quem entra na casa dos outros, em plena madrugada, em meio a uma tempestade, se não um bandido?
*
É curioso como o medo entra no corpo da gente, feito uma febre que paralisa músculos, entorpece as juntas e faz porejar de suor toda a superfície da pele. O que fazer diante daquela situação? Talvez gritar, com toda a força dos pulmões? Pedindo ajuda a vizinhos, fazendo um escarcéu, acordando todo o quarteirão para virem em seu socorro? Mas, e se aquele vulto estivesse armado? Se colocasse toda a sua família em perigo? Não, melhor não assustá-lo. O menino pensava em todas as possibilidades que a sua mente febril podia considerar naquele momento.
*

Resolveu que não faria nenhum movimento brusco. Se fosse um ladrão, que roubasse o que quisesse, mas deixasse ele e sua família sãos e salvos. Isso! Ele não mexeria um músculo, paralisaria até as batidas do seu coração, que naquele momento mais parecia um gongo, igual àqueles que apareciam no cinema, iniciando os filmes. Quieto... Nem sequer olhar para aquele ser maligno... Será que ele ainda estava lá?
*

Estava! O garoto percebera aquela sombra amaldiçoada de casaco escuro ali, no seu quarto. Meu Deus! Por que ele não vai logo embora!
Isso! Pediria a Deus com todas as suas forças. Começou a rezar baixinho, as palavras brotavam em sua mente e ele as murmurava contrito, sem emitir um som sequer. Nunca fizera uma oração com tanta fé, com tanto ardor no coração. “Oh, Jesus, tu que deixastes passar as criancinhas, e as abrigastes em teu braço amigo e protetor, proteja a mim e aos meus irmãos, toque o coração endurecido deste homem malvado e o afaste daqui!”
*

O menino se manteve assim, em atitude de oração por um longo tempo. Lá fora, a chuva passara de todo. Sobrara uns restos de trovão ao longe. O dia amanhecia preguiçosamente, como se uma cortina de chumbo se abrisse bem devagar, deixando passar um sol ainda muito tímido. Silêncio. Ele não ousava abrir os olhos, nem para se certificar da presença ou ausência do homem encasacado. Preferiu manter-se em ligação direta com o Alto, rogando as graças e misericórdias divinas.
*

O suor corria em bagas grossas pelo seu rosto. Sua respiração era um filete de ar que mais lhe oprimia o peito que lhe oxigenava o sangue. Por entre as pálpebras semicerradas, percebera que o quarto se iluminava mais e mais pelos primeiros raios da manhã. Por quanto tempo durava aquela sua agonia? Lá na sala, como se lhe ouvisse o pensamento, o relógio carrilhão martelou vigorosamente...Tin-téim-téim-tin...téim-téim-tin-tin...
*

O menino vira que o quarto estava razoavelmente iluminado. Agora, se ele olhasse para o tal sujeito até conseguiria ver-lhe os olhos. Certamente seriam olhos de fogo a vigiar-lhe o menor movimento. Talvez só esperando um gesto em falso para lhe cravar um punhal ou um machado nas costas. Ele pensava em todas estas possibilidades. Mas, talvez pela carga de adrenalina a inundar-lhe as veias naquele momento, um clarão de coragem crescia em seu corpo magro. Resolveu que encararia o seu algoz. Não mais temeria. Estava pronto para enfrentar o seu destino. Virou-se com vagar, mas decididamente na direção daquela criatura sombria. Mãos crispadas, o menino estava pronto para tudo. Foi quando divisou frontalmente quem lhe aterrorizara por toda aquela madrugada.
*
E ali estava o vulto ameaçador. O menino olhou longamente para o seu próprio casaco, pendurado na enceradeira junto a parede. Ele levantou da cama, retirou o casaco que envolvia o corpo daquele aparelho e o guardou no armário. Voltou a se deitar. Um coro de pardais avisava que um novo dia estava começando.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve a Quinta Sinfonia de Beethoven... BWA-HA-HA-HA-HA-HA....
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Queridos amigos: Estou saindo de merecidas férias. Ficarei fora durante alguns dias, descansando e aproveitando momentos de lazer. Vou, mas volto. Eu sempre volto... Até daqui a pouco.
Em tempo: A partir deste sábado, tem texto meu no blog Playground dos Dinossauros. Quem quiser ver e ouvir jingles do passado dê uma passadinha por lá. Será um prazer tê-los a bordo.
Tchau!

sábado, outubro 06, 2007

A lenda do "homem cordial"


Recentemente assisti a uma palestra que abordou a célebre tese do historiador Sérgio Buarque de Holanda (também conhecido como “o pai do Chico”) a respeito do brasileiro como um “homem cordial”, conforme ele dissertou em sua magnífica obra “Raízes do Brasil”.
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O assunto é interessante e sempre atual. Mas antes, cabe um pequeno grande reparo: não foi o Sergio quem criou o conceito de homem cordial. O primeiro a tratar disso foi o jornalista, poeta, acadêmico e magistrado santista Ruy Ribeiro Couto (1898-1963). O velho Buarque só deu uma fundamentação sociológica ao termo. Outro reparo mais importante ainda: o “cordial” aí do conceito não é sinônimo de afetuoso, afável, simpático, polido, educado, cortês... Não, nada disso! Cordial é por conta de seu radical latino “core, cordis”, que significa “do coração”. O homem cordial de que falavam Ribeiro Couto e Sergio Buarque diz respeito ao caráter emocional, passional, do brasileiro.
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Mesmo porque nós não temos nada de educado ou de afável. Aquela imagem do brasileiro como um povo alegre, gentil, sempre de bem com a vida... Rá!... é uma lenda. Falo especificamente pelo carioca e pelo paulista, que conheço muito bem. Não dá para considerar como gentil um povo que dirige no trânsito como se estivesse num rodeio de boi brabo em Barretos; que fala ao celular em cinema e Teatro, sem se importar se está incomodando ou não; que larga o carrinho do supermercado no meio do corredor, pouco se lixando com os demais passantes; que finge estar dormindo nos ônibus e trens, só para não dar o lugar para idosos, pessoas com criança ou com dificuldades físicas; que joga lixo pelas ruas e ainda reclama que o governo não limpa a cidade; que entra com a porra do cigarro aceso dentro de elevador, tentando escondê-lo na concha da mão; que fura fila na maior cara de pau se vê algum conhecido bem localizado... Enfim. A relação é grande. E de “afetuoso” com o próximo essa gente não tem nada!
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O Homem Cordial de Ribeiro Couto e especialmente de Sergio Buarque não é gentil. Ele é emocional, age deixando a razão de lado, é pouco afeito às leis, confunde o público com o privado, abomina formalidades e despreza a ética, a civilidade e a cidadania. Vocês conhecem alguém com essas “qualidades”?
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Veja só como age o homem cordial. Alguns exemplos. Alguém é bem atendido por um servidor público e faz uma carta para os jornais elogiando o tal funcionário. Um gari acha uma carteira cheia de dólares e procura o proprietário para devolvê-la intacta e por isso recebe medalha e matéria nos jornais.
Perceberam?
Ambas situações não são mais do que obrigação de cidadão! Mas são tratadas como exceções dignas de louvor. Faz-se uma festa para celebrar o que deveria ser corriqueiro.
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Vamos ver outros exemplos? Um motorista anda por um pequeno trecho em contramão só para não dar uma volta maior. E se um guarda o multa, ele vai conversar com o cara, pedindo para ele dar uma aliviada... Ou ainda. Um assessor de deputado força uma barra para atravessar em uma área fechada para o tráfego e quando o guarda o impede, ele mostra a sua carteira. E se o guarda insiste na proibição, ele cresce para cima do policial, fazendo ameaças, perguntando se ele tem idéia de quem ele está importunando.
Para vocês, estes dois exemplos parecem distantes, coisa impossível de acontecer? Pois são exemplos do homem cordial brasileiro em ação.
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Aliás, estes dois últimos exemplos são característicos de duas posturas tipicamente brasileiras, que nem a jabuticaba. Ambas traduzem o desprezo pela formalidade e pela ética. O primeiro caso é nacionalmente conhecido como “o jeitinho brasileiro”. O segundo, como o não menos famoso “você sabe com quem está falando?” Um dia desses eu escrevo sobre isso com mais vagar.
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Depois que o safado do atual presidente do Senado conseguiu se livrar da cassação com a ajuda de seus comparsas ou asseclas, uma carioca escreveu carta para O Globo, esbravejando, pedindo de volta o voto que dera ao senador Francisco Dornelles, um dos que votaram favoravelmente ao Renan Canalheiros e ainda justificaram o voto. Ora, se ela votou consciente no seu candidato a senador, não há do que se arrepender. Até as pedras das calçadas do Rio conhecem a biografia de Francisco Dornellles, sua subserviência e o seu caráter. Ela votou nele porque quis. E agora exibe uma típica atitude de homem cordial. Tsc, tsc, tsc... Só ouvindo o Chico:
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

M.S.
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Tive a honra de ser agraciado pelo grande blogueiro Lino Resende com o selo “Este blog vale a pena conferir”, pelo qual agradeço muitíssimo. É um enorme prazer ser indicado por um dos mais talentosos blogueiros que conheço.
De acordo com a praxe nestes posts-correntes, devo indicar outros cinco para receber o selo. Nunca é fácil escolher apenas cinco, entre tanta gente talentosa. Em princípio, todos os blog que estão listados aqui ao lado, no Outras Palavras, valem a pena serem conferidos. Mas, da mesma forma que me agraciaram, dou prosseguimento agraciando outros. Os meus indicados – que poderiam ser mais de dez - podem ficar à vontade para indicar outros ou não. Ei-los:

Eu não sei trigonometria
Playground dos Dinossauros
Umbigo do Sonho
Ramsés do Século XXI
Apoio Fraterno

Agora é com vocês. Colem o selo e parabéns por serem tão especiais.
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Outro post-corrente que anda por aí eu o considero como muito criativo. Alguém propôs que cada indicado pegue um livro qualquer, vá à página 161 e transcreva a quinta frase. Depois repasse para outros cinco blogs.
O grande Mario, do Apoio Fraterno, me indicou para entrar no jogo. Pois bem. O meu livro escolhido é o que estou lendo no momento, ou seja, “A Coroa, a Cruz e a Espada”, do Eduardo Bueno.

Livro interessantíssimo, um dos melhores da Coleção Terra Brasilis que é sensacional por si só. Neste, ele descreve como foram os dois primeiros governos-gerais do Brasil Colônia, especificamente Tomé de Souza e Duarte da Costa. Eu não quero me deter muito no livro, pois pretendo escrever um (ou mais) post sobre as coisas que estou descobrindo nele. Aí vai a seleção pedida:
Eis o trecho da carta, redigida em Salvador, em 1 de junho de 1553: “Eu entrei no Rio de Janeiro, que está nesta costa da capitania de de Martim Afonso. Mando um debuxo (um desenho) dela a Vossa Alteza, mas tudo é graça o que dela se pode dizer”.(p.161)
Este trecho do livro fala de como Tomé de Souza se extasiou quando entrou na Baía de Guanabara e viu aquela pujança toda da natureza do lugar. Pois é. Ele não foi o primeiro, nem o único...
Para dar prosseguimento ao post-corrente, indico:
Moacy Cirne, do Balaio Porreta
Theo, do Museu de Tudo
Claudinha, do Transmimentos de Pensações
Minha amigapratodavida Marcia, do Brincando com Palavras
Bruxinhachellot, do Labirinto do Sol e da Lua
Ah, quer saber? Vou indicar mais dois. Gosto do número 7:
Lara, do Tema de Lara
Armando, do Livro sem Final.
Vamulá, moçada! Estou curioso para saber das indicações de vocês.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Deus lhe pague”, de e com o cara que dispensa comentários: Francisco Buarque de Holanda.

terça-feira, outubro 02, 2007

Mentiras sinceras interessam?


Certa vez, quando eu era bem menino, minha mãe estava conversando com alguém que lhe perguntou a idade. Ela disse: “29”. E eu, que estava ao lado, lhe corrigi: “Não, mãe, a senhora tem 32!”
Minha mãe sorriu amarelo, disse para a pessoa que eu estava enganado e quando eu tentei argumentar, ganhei um baita beliscão assim... muuuuuito discretamente... Achei melhor ficar quieto. Quando saímos de perto da tal pessoa, a minha mãe me deu umas sacudidelas, com os olhos fuzilantes de raiva: “Nunca mais me desminta na frente das pessoas, está ouvindo?”. Quase que o tempo fechou para mim naquela hora. E eu, criança que ainda não entendia uma coisa chamada “mentira social”, fiquei sem saber o que dizer ou pensar. Eu tinha certeza da idade dela, ela se enganara. Por que tive que ouvir a voz de trovão da minha doce mãezinha?
Bem... Ela deve ter tido os seus motivos.
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Pois é. Viver em sociedade é ser obrigado a dizer pequenas mentiras a cada dia, sob pena de passarmos por pessoas desagradáveis. Alguém totalmente franco vai angariar mais inimigos que o George W. Bush no Iraque. Lembro de uma frase de Nelson Rodrigues que disse: “Se as pessoas pudessem adivinhar o pensamento uma das outras, não se olhariam na cara”.
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Dia desses, eu recebi um e-Mail com o título: “As mentiras mais contadas”. No texto, há o personagem e sua frase. Exemplo: O Dentista: “Não vai doer nada”; O Devedor: “Amanhã sem falta”; O Orador: “Apenas duas palavras...”; O Pobre: “Se eu fosse milionário distribuía dinheiro pra todo mundo!”; O Vendedor de sapatos: “Depois alarga no pé”. E vai por aí a fora.
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A mentira é cultural. A mentira está no DNA do ser humano. Os políticos mentem e a gente finge que acredita. O marido mente pra mulher e ela nem finge; não acredita mesmo, porque sabe que é caô, 171, papo de migué, embromação. Você que me dá o prazer de ler, já pensou em quantas mentiras diz por dia? Algumas até mesmo sem sentir, como: “Pode deixar que depois eu te ligo!”, “Aparece lá em casa!”, “Não, eu gosto. Só estou sem fome.”
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Claro que estas mentiras sociais são, na maior parte das vezes, inofensivas. Há mentiras mais sérias, que podem prejudicar, trazer prejuízo. Ou podem magoar bastante. Claro que existem ocasiões em que falar a pura verdade é muito mais complicado que deixar escapulir uma “cascata”, como chamávamos a mentira no tempo das antigas ternuras.
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E me diga você: mentiras sinceras interessam? Você acredita que uma boa evasiva, um torcicolo no pescoço da verdade pode salvar uma situação? Uma das frases que me fazem empalidecer feito defunto de véspera é: “você acha que eu estou gorda?” Ai do homem que ousar responder a esta pergunta, seja com que resposta for!
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Para os antigos vikings, Loki era do deus da mentira, do logro, do engano. Na cultura greco-romana, este papel ficava a cargo de Hermes/Mercúrio. Para a civilização judaico-cristã ocidental, o diabo é o pai da mentira. Como o ser humano é bom em arranjar desculpas e culpados para as suas próprias falhas, não é não?
A mentira não tem deus, nem pai. O ser humano mente, sempre mentiu e vai continuar mentindo, em qualquer tempo, em qualquer cultura. E nos tempos em que vivemos, parece que existe uma convenção sócio-econômica de que mentir é a melhor política.
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Nada é o que parece ser! Tem algo obtuso por trás de tudo e a gente nunca sabe o que é verdade e o que não é. Vejam os jornais. Vejam as propagandas. Olhem só para os anúncios. Alguém aí já recebeu uma pizza igual a da foto na loja? Um sanduíche igual ao do letreiro da lanchonete?

Pois é. E agora deram para mentir com o corpo! Você olha a bunda da mulher e pode ser falsa. Olha pro peitão e pode ser enchimento de espuma. Aquele cara que mostra um baita volume sob a calça pode estar usando uma cueca com recheio falso, só para a mulherada achar que ele é bem dotado (vejam a foto)! Até a cueca, meu Deus!!!

Estas são apenas reflexões livres, pensamentos soltos de quem estava até bem pouco tempo estirado no sofá, escutando cabelo crescer, e pensando em que historinha do boitatá eu teria que contar para não ir no ensaio de sábado. Tsc, tsc, tsc... Melhor não inventar mentira nenhuma. Dá um trabalho miserento sustentar mentira!
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De qualquer forma, acabo de me lembrar de uma figuraça de minha infância: Carlim Berreba. Uma vez, ele irrompeu uma roda de bate-papo, com olhos elétricos, cuspindo perdigotos, dizendo furibundo:
- As três maiores mentiras da humanidade são: “O trabalho enobrece o homem”; “dinheiro não traz felicidade” e “vou botar só a cabecinha!”.
O Berreba tinha cada uma...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Maria Bethânia cantando, do grande Tito Madi, “Cansei de ilusões”. Bela música, heim?