sábado, setembro 18, 2010

Diário de um adolescente


Segunda-feira
Uãããã... acordar cedo. Ir para a escola. Hoje tem aula de História, uêba! Se fosse de Álgebra ou de Trigonometria eu ia mandar minha cachorra no meu lugar.

Alguém um dia precisa me explicar para que existe trigonometria no mundo. Por que eu tenho que saber que seno a x cosseno b=seno b x cosseno a. Duvido que eu precise disso em algum dia da minha vida.
Uãããã... Preciso me levantar. Escovar os dentes.

Voltei da aula. Almoço e chamar os moleques para perderem algumas bolinhas para mim.

Fim da tardinha, é hora de ligar a TV. Huuummm… essa ajudante do Capitão Furacão é da pontinha da orelha…

Vou dormir. Amanhã tem aula de Geometria Descritiva. Mais uma inutilidade para eu esquecer quando for maiorzinho.
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Terça-feira
Diacho… Não compraram a Manteiga Aviação. Vou ter que encarar essa margarina mesmo…

Voltei da escola e minha mãe mandou eu cortar a “gafurina”. Vou ter que fazer as pazes com o barbeiro.

Tomara que tenha algum "peixão" na capa da revista que ele vai me dar para eu ler enquanto ele me faz o “príncipe Danilo”. Tomara que ele passe Petróleo Menelik depois…
Passei a tarde de bobeira. Muito sol. O povo não quer jogar bola. Bando de fresco… um solzinho de nada…
Ei, está passando a Família Addams na TV Globo! Esse seriado é uma brasa...

Vou puxar um ronco. Amanhã tem aula. Português. Ôba! Com a gostosa da professora Marília e sua mini-saia. ÔBA!
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Quarta-feira
Omnmmnnn... nham...nham... Ah, minhas férias, quando chegam, meu Deus?
Minha mãe diz que eu estou com espinhela caída e magro demais. Já até sei qual vai ser o remédio...

Volto do colégio e vejo a molecada jogando bafo-bafo valendo dinheiro de maço de cigarro. Já joguei muito isso.

Agora de tarde, vou na casa do Tutuca para ler gibi até dizer chega. Não vou dispensar nada. Vou torrar a mufa de tanto queimar as vistas no Fantasma, no Zorro, no Batman…

E se aparecer um Zé Carioca eu traço também!
Depois, volto para casa para ver o seriado da noite.

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Quinta-feira
Cadê meu caderno de OSPB?

Quando voltar da aula, vou na casa do Luiz para a gente ouvir umas músicas que ele gravou sem microfone, com aquele fio direto.

Volto de lá a tempo de ver TV com a minha família. Vamos ver Os Monstros. Muito bacana, mora?

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Sexta-feira
Hoje tem aula de Geografia. Só quero ver a gracinha que o professor Abelard vai fazer…
Huuummm… Sinto que minha lombriga de estimação está pedindo doce. Vou catar umas garrafas, vender na vendinha e me empanturrar.

Aliás, sera que minha mãe vai trazer alguma gostosura hoje? Tomara que ela traga um pirulito de chocolate da Kibon…

E vou querer ver a página de quadrinhos dO Globo também, antes de tomar banho.

Depois do Repórter Esso, vou brincar de pique-bandeira na rua.

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Sábado
Ah! Deus seja louvado! É aula hoje, amanhã não tem! É dia de Educação Física. Vai ter handebol.
Enquanto almoço, vejo desenhos. Mas já me preparando para a tarde futebolística que vai ter hoje.

Final da tarde, depois do futebol, ainda tem Thunderbirds. Tremendaço, pra frentex!

Na beira do campo, apareceu aquele vendedor de pirulito. Dá o maior trabalho tirar o papel desse treco, mas quem é que resiste a essa maravilha?

Vamos ver filmes na TV, sem me preocupar em acordar cedo amanhã. Ah… A vida vale a pena!

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Domingo
Já acordo com a bola de futebol na mão. Hoje não quero nem saber! Vai ter time-contra. O campinho vai ferver!

Minha mãe reclama por ter que me chamar dez vezes no campo para eu ir almoçar. Alias, todas as mães reclamam a mesma coisa. Por que sera?

Depois de passer o dia chutando o balão de couro, termino a tarde ouvindo o meu Mengão jogar pelo meu radinho. Depois, é só esperar o programa Flavio Cavalcanti.
Pelo amor de Deus! Acabou o domingo! Amanhã, volto para a mesma rotina: acordar cedo, escola parará, pereré…
E quando eu for trabalhar? Será assim?
M.S.
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Há muitos anos atrás, no tempo em que o Abel pulava o muro do quintal de Caim para roubar goiaba, nasceu este garoto da foto ao lado.

Foi num 18 de setembro, como hoje.
Ele nasceu gordinho e careca. Gordo ele não é mais. Mas a exuberância capilar conquistada parece ceder e querer voltar ao estado de penúria da época do nascimento.
De qualquer forma, hoje é dia de aniversário. Quem quiser, clique na setinha do you tube e cante junto com a criançada.

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Queridos amigos. Estou em gozo de férias. Na próxima semana, vou viajar. Volto em meados de outubro. Prometo visitar todo mundo quando voltar. Até lá! Beijo para quem é de beijo, abraço para quem é de abraço.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Feliz Aniversário”, com o ídolo da minha geração, o palhaço Carequinha. Tá certo ou num tá?

quarta-feira, setembro 08, 2010

Domingo, eu vou ao Maracanã...


Neste domingo passado (5/9), fui ao velho estádio Mario Filho, o popular Maracanã, para ver meu amado Flamengo jogar. Quem me conhece minimamente sabe que o Mengão é para mim a impessoalidade que mais amo. Sempre que posso, quando tem jogo do meu time aqui no Rio, eu vou lá com minha camisa, meu radinho e meu coração na boca.
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(Se eu fosse você, clicava na seta do you tube abaixo para ouvir, enquanto lê, a seleção musical que a minha, a sua, a nossa Rádio Antigas Ternuras – a Rádio que toca no seu coração – escolheu para ilustrar este post)

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O jogo de domingo passado foi contra o Santos. Fui cheio de amor para dar, achando que faturaríamos o Peixe com nosso novo ataque, Diego e Deivid. Deu 0x0. Porém, tão importante quanto ver aquele jogo era ver o Maraca pela última vez antes da grande reforma que ele vai passar para a Copa do Mundo de 2014.
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Eu fui lá ver o jogo e dar uma última olhada no estádio antes do fechamento. Muita gente estava lá com o mesmo pensamento que eu. Logo na rampa de acesso às arquibancadas, vi uma família: pai, mãe, filho mais velho e uma bebezinha que não devia ter nem um ano. Todos vestidos com o Manto Sagrado, que é, como todos sabem, a camisa do Flamengo. Quando estava passando pela tal família, vi o pai segurando as mãozinhas da neném, ajudando-a a dar seus primeiros passos naquele solo sagrado. E a mãe, de câmera de vídeo na mão, registrando aquele momento histórico, com a pequerrucha toda sorridente – claro, estava com a camisa do Mengão – tentando equilibrar o corpinho, aprendendo a andar. Quando ela ficar maiorzinha, vai rever aquelas imagens com muita emoção, estou bem certo.
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Eu me lembrei de minha primeira vez no Maracanã. Era bem novinho, poucos anos mais velho que aquela neném. Estávamos eu, meu pai e minha mãe. Não era jogo do Flamengo, nem do fluminense - time do meu pai , nem do vasco - time da minha mãe. Era um botafogo x santos. De um lado, Garrincha, Didi, Nilton Santos... Do outro, Pelé, Coutinho, Pepe, Gilmar... Naquela época, ninguém queria perder um jogo como aquele, nem precisava torcer por um dos times. Até minha mãe, que nunca gostou de futebol – por isso escolheu o vasco para torcer, se gostasse teria escolhido coisa melhor... – quis assistir.
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Era um jogo noturno. Na roleta, não queriam deixar eu entrar. Meu pai teve que mandar um caô para cima dos caras, dizer que tínhamos vindo do Paraná só para ver aquele jogo, que por favor, pelo amor de Deus etc. etc. O homem da roleta se condoeu e eu fiz minha estreia no então maior estádio do mundo.
Não lembro de quase nada, é claro. Mas ali estava eu. Em um lugar onde voltaria muitas outras vezes.
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A oportunidade seguinte foi quando tinha 14 anos. Fui de geral com meus amigos ver Flamengo x botafogo. Ganhamos de 2x1. Eu saí do Maracanã em estado de graça. Começou ali uma enorme sequência de idas ao Maraca para ver meu amado Mengão, ou mesmo a Seleção Brasileira. Ali, vi a despedida de Garrincha, de Pelé, de Zico, vi meu time ser campeão inúmeras vezes, vi perder partidas inacreditáveis... Já saí do estádio chorando de alegria e de tristeza.
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Ah, sim. Já vi shows fantásticos no Maracanã: Paul McCartney (duas vezes, sem dúvida, o mais emocionante show que eu vi na minha vida), Sting, Frank Sinatra, Police, Rock in Rio II, Madonna, Rolling Stones... Lembro perfeitamente de cada um, com direito a detalhes.
Já houve outras reformas estruturais no Maracanã. A geral, espaço de ingresso barato onde não havia briga, embora as duas torcidas dos times em jogo estivessem ali, misturadas, deixou de existir há alguns anos.

Tinha virado cadeiras azuis. Pois era dali que eu gostava de ver os jogos, ali vi o Flamengo ser hexacampeão brasileiro (foto ao lado e acima).
Pois agora, aquele setor vai deixar de existir. As arquibancadas vão invadir aquele espaço. Virão novos camarotes, uma cobertura para abrigar a todo público presente, reformas no campo, nos vestiários...
Vamos conferir isso em 2012.
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Eu acredito que tudo na vida é energia. Incluindo nossas emoções. E quanto deve haver de minhas energias e de tantos outros ali, naquele gigante de concreto. Dos 60 anos de existência do velho estádio, faço parte de mais da metade de sua história. Talvez seria melhor dizer que de minha história de vida, o Maracanã é parte viva e integrante da maior parte dela.
E que venha a Copa de 2014! (E muitas vitórias do meu amado Mengão!)
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Sou tricampeão”, de Marcos e Paulo Sergio Valle, na voz dos Golden Boys. Esta música me traz recordações de antigas ternuras... Era a música que abria as transmissões esportivas da Rádio Tupi e, nos meus tempos de rapazinho, eu subi a rampa do Maracanã muitas vezes ouvindo esta bela canção no meu radinho...