segunda-feira, setembro 28, 2009

Ripa na Chulipa, Lúcifer!


Hoje, 28 de setembro, há exatos cem anos atrás, nascia, em New Heaven, Connecticut/USA, Alfred Gerald Caplin, que se tornou conhecido como Al Capp. Bem sei que a maioria dos meus 17 leitores estará se perguntando: “E nós com isso?”. Pois é. Para mim, é uma data importante. Al Capp foi o criador da história em quadrinhos “Ferdinando”, também conhecida como “A Família Buscapé”. E sabem por que é importante para mim? Eu comecei a aprender a ler nas tirinhas do Ferdinando no jornal O Globo. E depois, prossegui nos gibis dele, publicados pela Rio Gráfica (hoje, Editora Globo).
*

Era a historieta favorita de meu pai. Lembro que ele chegava do trabalho já com o jornal debaixo do braço (na época, o Globo era vespertino, saía pouco antes das 18h). Ele tomava banho, jantava, botava o pijama e ia pra cama ler pacientemente o seu jornal, de cabo a rabo. Minha mãe ficava ao lado dele e adivinhem que se metia entre eles e ficava buzinando a paciência dos dois, perguntando tudo?
*

Naquele tempo, a penúltima página do segundo caderno dO Globo era toda dedicada a tirinhas de quadrinhos: Fantasma, Tarzan, Nick Holmes, Mandrake, Pafúncio, Reizinho, Brucutu, Flash Gordon, Príncipe Valente...e Ferdinando! Meu velho dava boas risadas com a aventuras do pessoal de Brejo Seco, o vilarejo onde o moço vivia com sua mãe, Chulipa Buscapé, e seu pai, Lúcifer Buscapé, e mais muitos outros personagens maravilhosos, como a boazuda Dulçurosa Suíno, que vivia abraçada com um porco e cheia de moscas voando por cima, a Violeta, sempre perseguindo Ferdinando para casar, até que um dia conseguiu pegá-lo na corrida anual do Dia de Maria Cebola, o índio Gambá Solitário, Joe Cabeleira e vai por aí a fora.
*

Como meu pai gostava, eu perguntava para ele do que ele estava rindo. E ele, com paciência de um relojoeiro chinês aposentado, me lia os balões e me dizia cada palavra escrita. Eu acabei decorando algumas palavras e sabendo todas as letras. Não demorou muito e eu já estava juntando uma letrinha na outra, perguntando o que não entendia.
Portanto, para mim, os quadrinhos do Ferdinando são ternuras para lá de antigas e muito queridas. Não posso deixar de homenagear quem me ajudou a despertar para a leitura.
*

Al Capp era de família bem pobre, filho de imigrantes da Lituânia. E para piorar ainda mais a situação, quando o moleque tinha nove anos foi atropelado por um bonde e perdeu uma perna. Aquilo seria definitivamente marcante em sua vida.
Quando ele contava com 19 anos, descobriu a tira de quadrinhos Mutt e Jeff, de Bud Fischer. No que ele soube que o desenhista ganhava três mil dólares por semana com aquilo, resolveu tentar seguir seus passos e sair da merda em que ele e a família estavam atolados até o pescoço. Criou uma historieta, chamada “Coronel Gilfeather”, e a enviou para a agência Associated Press. Ele se deu bem, arranjou um emprego ganhando seus trocadinhos, mas ele queria bem mais.
*

Seis meses depois, resolveu se mudar para New York e tentar a sorte. Por azar, ou melhor, por sorte, foi atropelado de novo. Não perdeu nenhum pedaço do corpo, e seu atropelador era ninguém menos do que Ham Fischer, criador dos quadrinhos Joe Sopapo. Fischer saiu do carro para ajudar Capp a catar seus papéis espalhados pelo chão e quando viu que eram desenhos acabou contratando-o como assistente. Ele ficou algum tempo com Fischer, mas ele queria bem mais do que ser um mero auxiliar. Criou uma historieta chamada “Li’l Abner”, onde um rapagão caipira vivia aventuras no interiorzão americano. Mandou os quadrinhos para o King Features Syndicate, que gostou, mas pediu que ele transferisse o personagem da roça para a cidade grande, com o que Capp não concordou. Ele tentou outro sindicato, até conseguir, em 1934 (há exatos 75 anos atrás), um contrato com a United Features. E estourou tanto nos EUA, como no mundo afora.
*

Capp gostava de dar nomes absurdos para os seus personagens, a começar pelo próprio protagonista (“Li’l Abner” em inglês é “Pequeno Abner”, como chamavam o Ferdinando, um cara daquele tamanho, vejam só...). Era difícil até de traduzir. Tiveram que recriar em português toda a nomenclatura dos caipiras de Brejo Seco (Dogpatch, no original). Eu até creio que os tradutores fizeram um ótimo trabalho. Vejam só: Mammy Pansy Yokum virou “Chulipa Buscapé”; Lucifer “Pappy” Yokum era o “Lúcifer Buscapé”, Daisy Mae, virou “Violeta”, Moonbeam Mcswlne passou a ser a tal “Dulçurosa Suíno”, Lonesome Polecat e Hairless Joe, eram “Gambá Solitário e Joe Cabeleira”.
*
Ferdinando herdou a sua força descomunal de sua mãe, Chulipa, e a ingenuidade de seu pai, Lúcifer, que era um moleirão covarde, de vez em quando tomando uns catiripapos da esposa. Aliás, só devia ter “ripa na Chulipa” quando o velho Buscapé passava o rodo na velha. Já até imagino ela gritando naquela hora do “vamuvê”: “Vem, Lúcifer! Mete fumo que o cachimbo está aceso!”.
*

O grande barato nas histórias da Família Buscapé era a crítica que o Capp fazia do modo norte-americano de vida, da sanha destruidora do sistema capitalista, que devorava os excluídos, e até debochava com muito talento do macarthismo, a doutrina de caça às bruxas que perseguiu tanta gente sob a acusação de práticas comunistas. Brejo Seco era uma representação da América e eu diria até de vários lugares do planeta. O leitor ria daquelas aventuras sem talvez perceber que estava rindo de si mesmo.
Por sua capacidade de fazer rir criticamente, Capp recebeu elogios de ninguém menos que John Steibeck, autor de “A leste do Éden”. Steinbeck inclusive recomendou Capp para o Prêmio Nobel de 1953. Disse ele: “Para mim, só Cervantes e Rabelais souberam criticar tão causticamente e essa crítica ser aceita e divertir a tantos. Ele é o melhor escritor do mundo”.
Li’l Abner já foi desenho animado, filme com Buster Keaton (1940) e com Peter Palmer e Julie Newmar (a estonteante Mulher-Gato do seriado Batman) em início de carreira (1959). Foi musical na Broadway mais de uma vez e eu confesso que adoraria participar atuando em uma montagem brasileira da Família Buscapé.
*

Muita gente diz que a invenção mais genial de Al Capp foram os Shmoos. Eram criaturinhas divertidas que se transformavam em qualquer alimento que a pessoa desejasse. Bastava olhar para eles com fome que eles alegremente viravam frango assado ou pernil. Davam ovos, leite e manteiga de graça.

Os shmoos se reproduziam facilmente e seriam capazes de acabar com a fome no mundo. Todavia, nas historietas, os capitalistas identificaram nos bichinhos os grandes inimigos do sistema e acabaram convencendo Ferdinando e os habitantes de Brejo Seco que eles deveriam morrer para que todo mundo voltasse a ser explorado como sempre aconteceu.
Essas historietas em pleno macarthismo fizeram muita gente ficar de olho atravessado para Al Capp.
*
Ah... Saudades de ver meu pai lendo e gargalhando com as aventuras de Ferdinando... Por isso, aqui vai o meu muito obrigado a Al Capp. Ele morreu em 1979 (há exatos 30 anos), doente, entrevado em cadeira de rodas. Desde 1977 já não mais desenhava seus incríveis personagens que levaram um certo menino a começar a se interessar por leitura, e que posteriormente não parou mais, lendo tudo o que lhe cai nas mãos.
Deus te abençoe, Al Capp. Se ninguém lembrou de seu centenário de nascimento, este eterno menino não te esquece nunca.
M.S.

***********************************************
Na TV Antigas Ternuras, você vê um engraçadíssimo desenho animado de Ferdinando intitulado “Dia de Maria Cebola” (Sadie Hawkins Day). Neste dia, criado por Ezekiah Hawkins, pai do “dragão” Sadie Hawkins, para desencalhar a filha tribufu, havia uma corrida em que os solteirões seriam perseguidos pelas encalhadas de Brejo Seco. Se uma das “beldades” conseguisse agarrar um solteiro, ele teria que se casar com ela. Era a grande chance de Violeta (Daisy Mae) pegar Ferdinando (Li’l Abner) de jeito. O animador deste desenho foi Dave Fleischer, o mesmo de Popeye. Isso pode ser percebido nas características de Chulipa...
(Se o filme der uma travada, mexam no botãozinho para adiantar e depois retroceder a imagem)

segunda-feira, setembro 21, 2009

Opções


Eu costumo dizer que fazemos escolhas desde a hora em que acordamos. Sempre temos diante de nós algumas opções para escolher uma. E isso faz com que nossa vida seja de um jeito e não de outro. Eu inclusive tenho uma história na cabeça (nos meus arquivos mentais intitulados “um dia isso pode virar peça, filme, post ou conversa fiada de botequim) onde uma pessoa encontra outra na rua, conversam, esta dá um cartão com telefone e ela depois pensa se deve ligar ou não. Nessa minha história, a peça, filme, post ou papo fiado mostraria os rumos que a tal pessoa tomaria ligando ou não.
Pois é. Viver é fazer escolhas e conviver com elas.
*
Num domingo desses, li na Revista do Globo a coluna da sempre boa Martha Medeiros onde tinha um texto chamado “A melhor coisa que não me aconteceu”. No artigo, a Martha fala de uma frase que o ator Clive Owen disse quando não foi escolhido para ser o novo James Bond. E começa refletir sobre a melhor coisa que não aconteceu a ela.
Disse a colunista que foi uma viagem à Disneylândia que não rolou e, em troca, aconteceu uma outra à Bahia, que foi tudo de bom.
*

Lendo o texto dela, fiquei pensando em qual grande coisa que não me aconteceu, mas que em troca fez rolar uma outra melhor ainda. Nossa... Foram tantas as opções que se apresentaram a mim e eu tive que escolher... E cada uma faria minha vida mudar completamente.
Bem, tem uma que, acredito, foi bastante determinante para tudo o que viria em seguida. Quando eu era mocinho, fiz concurso para o Banco do Brasil umas três vezes e não passei em nenhuma. Naquela época, quem passasse em concurso do BB tinha um excelente emprego para toda a vida. E eu fiquei arrasado, me sentindo uma besta quadrada, com QI de ameba mongolóide, por não ter passado. Depois, pintou um concurso para o Instituto de Resseguros, local em que eu tinha trabalhado dos meus 15 aos 17 anos e adorava. Também não passei e quase cortei os pulsos com barbeador elétrico cego de tanta tristeza. Cheguei a ficar de cama, com depressão. Definitivamente, eu era uma anta com cérebro do tamanho de um amendoim. Descascado.
*

Enquanto eu já me conformava em ganhar a vida como servente de pedreiro, ou gari, ou vendendo o meu corpinho sensual para velhas senhoras solitárias, apareceu um concurso para trabalho temporário num órgão do governo. Sem nenhuma expectativa, fiz as provas e tirei em oitavo lugar. Finalmente, os meus dois únicos neurônios, “Tom” e “Jerry”, resolveram fazer as pazes e trabalhar direito. Consegui o emprego que de temporário virou permanente e é lá que me encontro há trocentos anos.
*

Nesta repartição fui convidado, certa vez, para entrar para um grupo de teatro amador. Posteriormente, virei ator profissional, autor teatral, pesquisador premiado para espetáculos teatrais, professor de História do Teatro. Eu não consigo me entender hoje sem o Teatro na minha vida.
Lá, também trabalhei como instrutor de treinamento, jornalista e pesquisador na área de História, minha função atual, que me enche de orgulho e prazer.
Tenho absoluta certeza de que se tivesse passado no Banco do Brasil ou no Resseguros nada disso teria me acontecido. Eu nem imagino o que estaria fazendo hoje, mas o Destino fez uma ótima opção para mim.
Você já pensou nas outras opções que a vida te ofereceu e você não seguiu, o que alterou diametralmente seu modo de viver?
M.S.
***********************************************

Quero agradecer do fundo do coração aos que lembraram de meu aniversário no dia 18 de setembro, e deixaram mensagens aqui pela data. Vocês sabem como emocionar este velho blogueiro sentimental...


***********************************************
No outro blog onde periodicamente escrevo, o Playground dos Dinossauros, tem um post meu em que falo da minha antiga coleção de plásticos. Aquilo que hoje leva o nome de adesivo, mas que antes fazia propaganda de coisas como Flit, Brylcreem e Zé Colmeia. Quem quiser me dar a honra...
***********************************************
Para ilustrar este post, falando das opções que a vida nos reserva e aproveitamos ou não, a TV Antigas Ternuras mostra este filminho chamado “Foto de casamento”.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Quando não existia Melhoral


O gentil leitor destas mal tecladas linhas deve lembrar dos remedinhos de antigamente, não é? Eu já falei aqui, em post anterior, que minha mãe e minha tia me davam Melhoral Infantil, Rhum Creosotado, Biotônico Fontoura, Emulsão Scott, Calcigenol, Sal de Frutas Eno, Xarope Melagrião, além de um sem-número de chás e outras mezinhas, incluindo a eventual rezadeira de espinhela caída.
*
Para os mais novinhos, talvez eu esteja falando em grego arcaico. Boa parte destes remédios caiu no esquecimento ou foi substituída por outros produtos mais modernos para atenuar nossos males e carências. Pois é, rapaziada. Como diria o notável Jotaefegê: “Meninos, eu vi”. E vivi neste tempo em que vaca subia em coqueiro de tamancos. Como vocês sabem, sou da época em que “mostrar a perereca” era apenas apontar para o pequeno batráquio.
*
Mas, é claro, existiu um tempo antes de eu nascer. E naquela época, os remédios eram bem diferentes dos que eu tomei. Por exemplo: quando as crianças do final do Século 19, início do 20 ficavam constipadas, tossindo à noite, as zelosas mães davam este remedinho.

Pois é, meus caros. A Bayer fabricava este xaropinho a base de heroína para a petizada de então. E as crianças ficavam tranquiiiilas, dormiam como anjinhos depois de uma boa colherada deste santo remédio. Algumas sonhavam com elefantes cor de rosa, mas a fabricante do elixir garantia que isso não fazia mal algum. Como se sabe, “se é Bayer, é bom”.
*
As crianças norte-americanas também tinham seu atenuante para tosse, asma (na época se escrevia “asthma”), gripe e pneumonia. Era este aqui:

Fabricado pelo laboratório Martin H. Smith Company, de New York, esse aí levava vantagem sobre o concorrente alemão: tinha glicose para adocicar um pouco o amargor da heroína. Como se sabe, criança não gosta de remédio amargo. Mas esse, elas a-do-ra-vam!
*
Mas às vezes, a asma (ou asthma...) atacava à noite, e a criança nem conseguia respirar direito, ficava arfando, parecendo uma bomba de encher pneu de bicicleta, com os pulmõezinhos fazendo “fuimmm... fuimmm...”. E o que as desesperadas mães faziam no século retrasado? A mesma coisa que as mães do século 21 fazem: botam os pirralhos para fazerem inalação. Só o remédio de hoje era bem diferente do daquela época:

Bastava aquecer a água numa panela, jogar uma colher de sopa desta maravilha a base de ópio, botar o catarrento para inalar o vapor e pronto! O anjinho voltava a dormir na paz de Deus.
*
Quem tem ou teve filho na fase bebê, sabe que é comum eles acordarem no meio da noite, com cólica, ou mesmo com insônia. E tocam a chorar, impedindo os pais de dormirem. Pois é. Naquela época isso também acontecia. Ah... Mas as mães contavam com um poderoso aliado que aquietava os nenéns, fazendo-os parecer querubins no bercinho.

Esse elixir maravilhoso continha 46% de relaxante álcool e uma boa porção de ópio. A Stickey & Poor, laboratório fabricante do paregórico, garantia que bastava três gotinhas na agüinha dada a bebês de até cinco dias de nascido que acabava o chororô. Para nenéns com duas semanas, o indicado era 8 gotas. Se já tivesse maiorzinho, com mais de cinco anos, a posologia era 25 gotas. Mas e os pais? Nada? Imagina! Eles também eram filhos de Deus! Para adultos, o recomendado era uma colher de sopa bem cheia. E bons (e alegres) sonhos para todos.
*
Todo mundo sabe que volta e meia criança tem dor de dentes, não é mesmo? Adulto também. No meu tempo, havia três santos remédios: “1 instante” e “1 minuto” e a fabulosa “cera do Dr. Lustosa”, feita em São João Del Rei até nos dias de hoje. Mas e naqueles tempos distantes? Como faziam para abrandar as dor dos pequerruchos? Assim, ó:

Estas miraculosas pastilhas (drops) de cocaína eram a salvação dos que gemiam de dor de dentes nos idos de 1885 em diante. E o laboratório Lloyd Manufacturing Co. assegurava que os drops melhoravam o humor de quem os chupassem. Os usuários ficavam relaxados e sorridentes, com cara de quem viu passarinho verde dançando hula-hula. Nada de choro de criança!
*
E por falar em drops de cocaína, esses aqui eram benfazejos para aliviar irritação da garganta do pessoal do Século 19.

Especialmente do gogó de atores, cantores, oradores. Todo mundo usava. Que pastilha Valda, que nada!
Até imagino os vendedores ambulantes entrando nos trens e bondes anunciando: “olha o drops de cocaína! É o passatempo da sua viagem! Alivia a tosse e refresca a sua garganta! E deixa um suave frescor na sua boca!”
*
Tem época que criança não quer comer, não é verdade? Na minha época, me davam Biotônico Fontoura ou Rarical. No tempo de meus bisavós, nos USA, davam uma dose deste vinho de cocaína.

Dizia a bula que bastava um cálice antes da refeições que as crianças recobravam o apetite. Papavam tudinho! E tinham a maior disposição para correr, brincar, se agitando sem parar com os dentinhos trincados. Uma maravilha!
*
E por falar em vinho à base de coca, tinha um que combatia a gripe e era especialmente recomendado pelo papa Leão XIII. O Sumo Pontífice não ficava sem a sua dose diária, estava sempre com uma garrafinha desta miraculosa bebida. Dizia até que quando tomava uma talagada, via Jesus andando de velocípede a sua volta soprando catavento. O papa deu uma medalha para o fabricante, o signore Angelo Mariani. Vejam no rótulo a cara feliz do Leão XIII e seu sorrido de Mona Lisa depois de uma dose. Sem dar uma pro santo!

*
Estão vendo, caros leitores? A ciência médica do Século 19 tinha os seus segredinhos para aliviar o sofrimento do povo da época. Quando eu estava pesquisando para o meu livro “Popularíssimo – o ator Brandão e seu tempo” vi nos jornais antigos que era comum as pessoas elegantes carregarem uma “bocetinha de cocaína”, como diziam naqueles tempos, para de vez em quando darem uma cafungada, como alguns faziam com rapé. Nas festas, então, era comum servirem o pozinho branco para favorecer o divertimento e proporcionar alegria aos comensais. Como se sabe, hoje em dia não se faz mais isso...
*
Já que estamos falando de assuntos ligados a saúde, gostaria de mostrar este vídeo feito numa igreja evangélica, onde um pastor faz recomendações de higiene aos presentes. É muito interessante ouvir o que o pastor diz. Imagino que ele não seja da Igreja Universal, porque senão ele estaria cobrando pelos conselhos aos crentes.

M.S.
***********************************************
O livro “Humor Vermelho” - onde tenho um modesto texto - foi lançado na Bienal do Livro, aqui no Rio de Janeiro, com a presença de alguns dos autores. Foi um sucesso! Um monte de gente apareceu por lá, comprando o livro e buscando nossos autógrafos. Vejam uma foto do estande da nossa editora, com os autores à frente.

***********************************************
Na TV Antigas Ternuras, você vê os sábios conselhos do pastor Jajá.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Alegria, alegria!


Na semana passada, tive dois excelentes motivos para estar mais feliz que pinto no lixo. Primeiro, teve a noite de autógrafos da coletânea de humor que participei com um modesto texto postado aqui no seu, no meu, no nosso Antigas Ternuras, o velho guarda-louças de boas lembranças. Entrei nesta a convite da minha mui querida amiga Isabella Saes (do Mente Inquieta), por sinal, madrinha deste meu blog.
Pois é. Saiu o livro “Humor Vermelho”, com textos muito bem humorados de 22 autores, entre eles o amigo que vos tecla.
*

A noite de autógrafos foi na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. Cheguei lá e nem acreditei quando vi aquela multidão de gente ávida, sequiosa por um exemplar e pelo autógrafo dos autores. Cheguei ainda meio atordoado com aquele mundaréu de gente e a Isabella já mandou eu me aboletar a mesa e começar a autografar os livros. Fiquei sentado ao lado do Antonio Tabet, o dono do hilariante blog Kibe Loco, que todo mundo certamente conhece. E o Tabet é um cara sensacional! Com cinco minutos de papo já éramos amigos de infância. E vocês já imaginaram: Kibe Loco e Antigas Ternuras, lado a lado, não poderia sair nada que prestasse. A gente ria até de fratura exposta.
Para completar a minha felicidade, esteve lá o meu amigo Júlio César Corrêa, do excelente blog Bala Perdida, que inclusive tirou algumas fotos para mim.
*

Lá pelas 23 horas, a livraria fechou e nós, autores, pudemos nos confraternizar um pouco. Fiquei sabendo que o título do meu texto, "Escutando cabelo crescer", estava fazendo um baita sucesso, muita gente dizendo que iria passar a usar a expressão quando quisesse dizer que ficou de papo pro ar. Fiquei feliz por isso.
Disse a Isabella que naquela noite foram vendidos 355 exemplares do nosso Humor Vermelho. Caraco! Que o Paulo Coelho e a J. K. Rowlings se cuidem! Já me vejo experimentando o fardão da Academia Brasileira de Letras...
*

Saíram algumas notas nos jornais sobre o evento e reproduzo duas delas, onde, acidentalmente apareço nas fotos. Mas não dei uma de “papagaio de pirata”, não. Sei lá, acho que foi sorte.
Agora teremos mais duas noites de autógrafos: uma na Bienal do livro (Estande Usina de Letras, Pavilhão Laranja A17), aqui no Rio, no dia 13 (próximo domingo), às 17h; outra em São Paulo, na Livraria da Cultura da Av. Paulista, no dia 7 de outubro, às 19h. Vou ficar transbordante de felicidades se puder encontrar meus amigos nestes eventos.
Quem quiser adquirir o livro, basta pedi-lo numa boa livraria (pode ser num site de uma das poderosas), que, imagino, vai encontrar.

*
O outro motivo de alegria para mim foi a minha posse na diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de Vassouras, cidade do Vale do Paraíba do Sul a 111 km do Rio de Janeiro. No ano passado eu fui convidado para fazer uma palestra neste instituto (sobre as companhias itinerantes de teatro no Vale do Paraíba do Sul, no Século 19) e ao final, me fizeram o gentil convite para entrar para o corpo de sócios. E agora, na eleição da nova diretoria, fui indicado para um dos cargos, o que muito me orgulha.
Abaixo, vocês podem ver o prédio em que está sediado o IHG Vassouras e a nova diretoria empossada.


Caramba... Eu, um reles jornalista e ator, em meio a historiadores e professores do mais alto gabarito...
É por isso, caros amigos, que eu ando muito feliz, rindo até para assombração do outro mundo.
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Zé da Velha e Regional tocando a deliciosa “Ainda me recordo”. Para se ouvir em êxtase, não é?

quarta-feira, setembro 02, 2009

Escolhas


Certa vez, um professor de Filosofia propôs uma pergunta aos alunos: se soubessem que teriam apenas 24 horas de vida, o que fariam?
Um aluno disse que entraria numa igreja e ficaria rezando até o momento fatídico; outro, disse que cairia dentro da mulherada, passando o rodo geral. Uma colega ao lado deste, sorriu e balançou afirmativamente a cabeça, concordando, também virando uma croupier em potencial para recolher as fichas da boa vida na gandaia. Um outro afirmou que venderia todos os bens e daria tudo pros pobres; uma aluna revelou que procuraria fazer as pazes com o pai, com quem estava brigada.
*

E assim, vários alunos deram a sua resposta. Até que um deles perguntou ao professor: “O que você faria, mestre?” Ele calmamente respondeu que tocaria a vida dele da mesma forma que tinha vivido até então. Ele se dizia em paz com Deus, com a família, era casado e amava a mulher e queria estar ao lado dela e dos filhos na hora derradeira. Tinha, até aquele momento, uma boa vida, combatera o bom combate e justificara a sua existência.
*
Lembrei desta história lendo o noticiário sobre a morte de Ted Kennedy. Há algum tempo ele sabia que o tumor em seu cérebro o tornava um doente terminal e que a qualquer momento deixaria o mundo dos vivos. Dizia a matéria que nos seus últimos dias, ele se deliciava com taças de sorvete com biscoito e gostava de assistir ao sol se pondo, sentado, ao lado da mulher, numa cadeira do tipo espreguiçadeira, na varanda de sua casa. Nunca se revoltara com a doença, ao contrário: se dizia feliz e completo. Que tivera uma boa vida, que agradecia aos céus por ter podido fazer tudo o que fez em sua carreira de parlamentar, por ter sido o único dos irmãos homens a saber quando a morte chegaria e não ser surpreendido por ela.
*

Tanto estas revelações sobre Ted Kennedy, quanto a história do professor me fizeram pensar a respeito. E, coincidentemente (ou não), há poucos dias minha mãe estava conversando comigo e se disse triste, porque sabia que estava velha e, consequentemente próxima de morrer. Ela começou a chorar, dizendo que tinha medo de morrer, que se entristecia com cada pôr-de-sol, pois significava mais um dia passado, mais um dia em direção da hora final, que deixaria os filhos e netos, o que seria de nós? Preocupações de mãe. Tentei acalmá-la, disse que todos nós caminhamos para esta hora, mas se olharmos para o caminho trilhado e vermos o que deixamos e o que aprendemos, teremos sempre a sensação de dever cumprido e ela tem razões de sobra para poder dizer como São Paulo escreveu numa epístola: “combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.
*
Mesmo para quem sabe que a morte é apenas uma mudança de estágio, que temos uma alma imortal, ainda assim não é fácil conviver com a partida definitiva de alguém que amamos ou mesmo a nossa passagem. Daí, procuramos nos confortar uns aos outros, com o que melhor pudermos dizer e fazer. Recentemente, uma amiga me disse que tinha perdido uma pessoa querida e que se sentia triste. Recomendei-lhe uma prece espírita muito bonita e a oração amenizou um pouco a sua angústia. Ontem mesmo, recebi um comentário feito por alguém que, nem imagino como, chegou até um antigo post meu, aquele em que eu falava da mensagem na letra da música “I can see clearly now”, se dizendo confortada pelas palavras que leu naquele momento de angústia em que estava passando.
*

Claro, palavras não vão retirar por completo a dor de uma perda. Não vão convencer a minha mãezinha de que ela deve deixar de se preocupar conosco. Mas aí eu lembro da escolha que o Ted Kennedy fez. Entre sorver uma taça de fel, de dor e angústia, ele preferiu uma de sorvete com biscoito. A procurar ver a vida com tonalidades cinzentas, ele optou por mirar o sol se pondo, numa aquarela multicolorida.
*

Eu acredito que viver é mais que se trancar numa igreja para somente rezar, ou partir em busca de prazeres fáceis, ou ainda acumular e/ou dispor de bens materiais. Cada uma dessas coisas, em seu devido momento, é bom, é prazeroso de se fazer. Mas efetivamente, temos outras possibilidades.
*
Escrevo este post olhando pela janela a noite estrelada. Cada pontinho de luz que vejo é um astro que nasceu, viveu e certamente vai desaparecer. Mesmo sem ter a consciência disso, cada estrela já desaparecida produziu calor benfazejo, iluminou a escuridão, inspirou poetas e cantores, cumpriu sua missão.
M.S.
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Pavane for a dead princess”, de Ravel.