quinta-feira, outubro 11, 2007

Noite de Terror


CABLAM!
O estrondo do trovão fez o menino acordar subitamente. O vento e a chuva uivavam lá fora, acompanhando os rilhares daquela noite de tempestade. Foi quando ele avistou um vulto encasacado, de pé, junto a parede do quarto. Um calafrio percorreu a espinha do garoto, que contemplava, horrorizado, aquela figura sombria ali próximo à porta.
*
Mas, quem era aquele homem? Como conseguira entrar na casa? Será que alguém tinha deixado a porta dos fundos sem trinco? Já acontecera uma vez e a mãe do menino dera uma bronca, com voz furiosa, feito os trovões que ribombavam naquela noite. Então foi isso. Alguém tinha deixado de passar a chave na porta dos fundos e um estranho penetrara na casa. Com que intenções?
*

Naquele momento, ele pensava nos irmãos menores que dormiam seu sono inocente, sem sequer desconfiar do perigo que se instalara naquele cômodo. E a mãe, dormindo a sono solto no outro quarto? O que aconteceria com ela se aquele vulto abrisse o seu saco de maldades? Claro, ele só podia estar ali para fazer o mal. Quem entra na casa dos outros, em plena madrugada, em meio a uma tempestade, se não um bandido?
*
É curioso como o medo entra no corpo da gente, feito uma febre que paralisa músculos, entorpece as juntas e faz porejar de suor toda a superfície da pele. O que fazer diante daquela situação? Talvez gritar, com toda a força dos pulmões? Pedindo ajuda a vizinhos, fazendo um escarcéu, acordando todo o quarteirão para virem em seu socorro? Mas, e se aquele vulto estivesse armado? Se colocasse toda a sua família em perigo? Não, melhor não assustá-lo. O menino pensava em todas as possibilidades que a sua mente febril podia considerar naquele momento.
*

Resolveu que não faria nenhum movimento brusco. Se fosse um ladrão, que roubasse o que quisesse, mas deixasse ele e sua família sãos e salvos. Isso! Ele não mexeria um músculo, paralisaria até as batidas do seu coração, que naquele momento mais parecia um gongo, igual àqueles que apareciam no cinema, iniciando os filmes. Quieto... Nem sequer olhar para aquele ser maligno... Será que ele ainda estava lá?
*

Estava! O garoto percebera aquela sombra amaldiçoada de casaco escuro ali, no seu quarto. Meu Deus! Por que ele não vai logo embora!
Isso! Pediria a Deus com todas as suas forças. Começou a rezar baixinho, as palavras brotavam em sua mente e ele as murmurava contrito, sem emitir um som sequer. Nunca fizera uma oração com tanta fé, com tanto ardor no coração. “Oh, Jesus, tu que deixastes passar as criancinhas, e as abrigastes em teu braço amigo e protetor, proteja a mim e aos meus irmãos, toque o coração endurecido deste homem malvado e o afaste daqui!”
*

O menino se manteve assim, em atitude de oração por um longo tempo. Lá fora, a chuva passara de todo. Sobrara uns restos de trovão ao longe. O dia amanhecia preguiçosamente, como se uma cortina de chumbo se abrisse bem devagar, deixando passar um sol ainda muito tímido. Silêncio. Ele não ousava abrir os olhos, nem para se certificar da presença ou ausência do homem encasacado. Preferiu manter-se em ligação direta com o Alto, rogando as graças e misericórdias divinas.
*

O suor corria em bagas grossas pelo seu rosto. Sua respiração era um filete de ar que mais lhe oprimia o peito que lhe oxigenava o sangue. Por entre as pálpebras semicerradas, percebera que o quarto se iluminava mais e mais pelos primeiros raios da manhã. Por quanto tempo durava aquela sua agonia? Lá na sala, como se lhe ouvisse o pensamento, o relógio carrilhão martelou vigorosamente...Tin-téim-téim-tin...téim-téim-tin-tin...
*

O menino vira que o quarto estava razoavelmente iluminado. Agora, se ele olhasse para o tal sujeito até conseguiria ver-lhe os olhos. Certamente seriam olhos de fogo a vigiar-lhe o menor movimento. Talvez só esperando um gesto em falso para lhe cravar um punhal ou um machado nas costas. Ele pensava em todas estas possibilidades. Mas, talvez pela carga de adrenalina a inundar-lhe as veias naquele momento, um clarão de coragem crescia em seu corpo magro. Resolveu que encararia o seu algoz. Não mais temeria. Estava pronto para enfrentar o seu destino. Virou-se com vagar, mas decididamente na direção daquela criatura sombria. Mãos crispadas, o menino estava pronto para tudo. Foi quando divisou frontalmente quem lhe aterrorizara por toda aquela madrugada.
*
E ali estava o vulto ameaçador. O menino olhou longamente para o seu próprio casaco, pendurado na enceradeira junto a parede. Ele levantou da cama, retirou o casaco que envolvia o corpo daquele aparelho e o guardou no armário. Voltou a se deitar. Um coro de pardais avisava que um novo dia estava começando.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve a Quinta Sinfonia de Beethoven... BWA-HA-HA-HA-HA-HA....
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Queridos amigos: Estou saindo de merecidas férias. Ficarei fora durante alguns dias, descansando e aproveitando momentos de lazer. Vou, mas volto. Eu sempre volto... Até daqui a pouco.
Em tempo: A partir deste sábado, tem texto meu no blog Playground dos Dinossauros. Quem quiser ver e ouvir jingles do passado dê uma passadinha por lá. Será um prazer tê-los a bordo.
Tchau!

37 comentários:

Anônimo disse...

Querido, aproveite bastante as férias merecidas, descanse, canse, tudo de novo.. rs

Você descreveu perfeitamente várias noites minhas nas quais eu não tinha coragem nem de abrir o olho prá ver quem estava em pé ao meu lado, mas que tinha alguém.. ahhhh tinha rsrs

Beijos

Claudinha ੴ disse...

Ótimo Marco!
A enceradeira causou sustos em muita gente. No meu caso, era um abajour moldável, que era vestido pelo meu irmão e eu sempre caía na dele.Só que não rezava tão bonito quanto você. Feliz dia das crianças, boas férias,aproveite bastante!

Anônimo disse...

Como sempre vc é brilhante,MARCO.
Transportei-me à minha infância,qdo,muitas vezes,passei por situações como esta.
Ainda hoje fico arrepiado ao lembrar-me o quão assustado eu ficava.
Ah,a imaginação!!

Abração e curta muito as merecidas férias!!

Anônimo disse...

Já imagina que fosse esse o fim! hehehe
Perspicaz! :P

Aproveita bem essas férias, renova as energias, para vires cheio de garra com mais histórias espectaculares!
Sim, porque este teu blog é um verdadeiro vício para mim! loool

Beijos *.*

Chellot disse...

Amigo curta ao máximo essas férias.
Indiquei seu blog ao BBB - Best Blogs Brazil. Querendo saber mais sobre o assunto clique no BBB no canto superior esquerdo do meu labirinto.

Beijos rabiscados.

Anônimo disse...

Buenas Marco!

Os meus medos de infância me acompanham até hoje!
Infelizmente os "homens do mal" ainda podem invadir a casa da gente e por isso devemos manter portas e grades fechadas...
Infelizmente ainda podemos passar fome... morrer de sede... e chorar por aqueles que amamos.
Mas, com a graça de Deus, já não dou a todos estes fantasmas uma dimensão maior do que aquelas que eles realmente tem.
Sinal de que cresci...
ou não :o)

Abraços e bom final de semana!

De

J.F. disse...

Marco,
É por este e outros que seu blog está na minha relação dos links amigos. Parabéns! Muito bem lembrado (e relatado!), já que é uma situação pela qual todos, mais ou menos, passamos um dia. Obrigado por sua visita, lá no meu canto. Boas férias.

Anônimo disse...

Por isso tinha meus irmãos compartilhando o mesmo quarto quando criança...
Boas férias!!!

benechaves disse...

Oi, Marco: outro bom texto, desta vez sobre o terror e suas consequências. E quem não tinha medo de tais assombros quando criança!? Todos nós quando éramos crianças vivemos um caso ou outro de medo. E muitos ainda têm medo quando adultos.
Espero que vc tenha um bom descanso nas merecidas férias e volte retemperado para readmirarmos - na continuidade - os seus textos. Boa sorte!

Um abraço...

Luma Rosa disse...

Marco, o medo consegue nos paralisar! Justo senti algo igual! Boas férias! Estarei esperando! Beijus

Chellot disse...

É de arrepiar os cabelos da nuca. Ainda bem que foi ilusão. Só que as vezes criamos ilusões em nossa mente que nos causa tanto pavor que não conseguimos viver direito.
Quanto a indicação que fiz ao Antigas Ternuras é só clicar no BBB no canto superior esquerdo de meu labirinto e indicar os blogs brasileiros de sua preferência e enviar, se quiser é claro, pois não é obrigatório.

Beijos ainda rabiscados.

dade amorim disse...

Marco, me fez lembrar do casaco de pele de minha tia jogado sobre a poltrona do quarto. No escuro, era um enorme cão peludo, dava pra adivinhar até o focinho e as orelhas em pé, e eu não dormi a noite toda, suando e morta de medo :) Te mando um email sobre os livros, tá?
Beijo e ótimo domingo.

Giu disse...

Fantásticos todos: o conto, as imagens, a música...adorei! Vejo que continua sendo o meu escriba favorito!
Amigo Marco, boas férias e até breve!
Beijos, saudosíssimos, da Giulia.

Renata Livramento disse...

hahahaha q susto,hahahah, adorei a história!
querido ótimas férias pra vc, só não me mate de inveja..rs.

bjos!

Anônimo disse...

E o medo tem esse poder de nos fazer estátuas, aff! nem fala, já senti tanto isso, essa sensação terrível de querer gritar e não sair nem um suspiro...
Amigopratodavida, belos dias.
beijos

Anônimo disse...

Menino! E eu que já estava fechando um olho pra nem ver o final! rsrsrs Muito bom! Você soube mesmo manter o suspense...

Um beijão e ótimas férias! Relaxe, viu?

Saramar disse...

Menino, que texto!
Fiquei tão ansiosa quanto o pobre menino.
O medo realmente cria e amplia todos os monstros.
Espero que se divirta muito e aproveite para descansar.

beijos

Luma Rosa disse...

:-)))))))))

Anônimo disse...

Caro Marco,
Um conto/crônica diferente dos que tenho visto por aqui. E bem realizado, mostrando que o seu talento não é apenas para o humor. Tenha umas belas férias e fico ao aguardo de seu retorno. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Marco:
Engraçado, nunca tive medo de trovão, mesmo quando pequeno. Fiquei muitas vezes sozinho em casa, com chuva, mas via o barulho do trovão como algo normal.h

Anônimo disse...

Quem nunca passou por uma situação como esta que atire a primeira pedra! A tua descrição foi perfeita!

Beijos e boas férias... ah, e cuidado coma os casacos... rs

Anônimo disse...

Marco querido,

Eu simplesmente adorei esse conto porque em momento algum eu esperava esse desfecho...e acredite, me vi em cada cena aqui descrita.
parabéns,
Beijos

Anônimo disse...

Oi Marco!

Adorei seu conto de terror. E quem é que já não teve uma noite dessas, rsrs...
Dia desses meu filho acordou gritando a noite, assustado com coração acelerado. Tinha certeza que tinha visto uma vaca em cima da porta! Era a sombra de um bichinho de pelucia que estava em cima do guarda-roupas que se projetara na porta devido a luz do poste que fica do outro lado da rua. Dificil foi faze-lo enterder que era só isso.

Adorei a historia!

Beijos!

Anônimo disse...

Boas férias!!!

Muitos beijos e saudades, Ternurinha!!!

Anônimo disse...

Brilhante!
Um texto que revela seu talento no manejo das palavras e emoções.
Boas férias, meu caro.

Tina disse...

Oi Marco!

Trovões sempre são amedrontantes...

Aproveite bastante, não demore muito, tá?

beijos e até a volta!

Lena Gomes disse...

Saudações tricolores! Passei pra deixar um Oi, um abraço, um beijo, e aproveito pra desejar boas férias. Em breve volto para lê-lo, como vc merece: com calma e carinho. Beijos doces!

Lila Rose disse...

Marco, voltei à minha infância! Quem nunca ficou apavorado no meio da noite, imaginando alguém estranho dentro de casa??

Muito bom!

E o fundo musical: DIVINO!

Bisous!

Anônimo disse...

ahahahah, já passei por situação semelhante...rs. Comigo eram os barulhos de alguém abrindo a porta da sala. Que medo, camarada! Depois descobri que era na casa do vizinho poprque a chave enroscara na fechadura da porta da casa dele e passou a noite tentando abrir a porta...rs.
Boas férias, meu amigo!

Anônimo disse...

Só passando pra abrir as janelas,rss
beijos

Janaina disse...

Ai! Amei este texto.
Você descreveu superbem como o medo nos afeta, Marco.
Aproveite mmmuito bem suas férias. Beijão.

Anônimo disse...

Marco querido,

Há quanto tempo...acredito que deve estar mto ocupado porque não apareceu mais...passei pra te deixar meu beijo
Até

dade amorim disse...

Marco, espero que teus livros estejam chegando aí. Descobri que você é quase meu vizinho :o)
E boas férias!
Beijo.

Luma Rosa disse...

Markito, meu lindo! Sua casa está toda empoeirada e as flores murchas. Estou regando o seu jardim e abrindo um pouco as janelas, ok? Beijus

Karina disse...

Fazia um tempinho q não passava por aqui, nesse momento espero q esteja aproveitando cada minutinho das férias. :o)
Esse texto lembrou-se de muitas noites da infância, como eu sonhava com lobos, bruxas e ladrões pela casa! A sombra das árvores que o vento agitava lá fora me pregava boas peças. Hj ainda tenho um certo pavor do escuro, como se seres estranhos fossem me agarrar a qq momento, mas tento superar.
Bjks

Anônimo disse...

Tudo bem por aí amigopratodavida?
Dá sinal nem que seja de fumaça, né? ;)
beijos

L disse...

Hi. As much as i appreciate visibility to my artwork, it's common courtesy to 1) ask for a permission first, 2) give due acknowledgment (that means mentioning whose work you're using), and 3) not hotlinking directly to my website. Please can you fix this as soon as possible. Thanks,

~Laura