quinta-feira, dezembro 01, 2005

Um filme iluminado


Ultimamente tenho comentado muitos filmes aqui. Nem é o objetivo deste blog. Tem gente muito melhor do que eu para fazer resenhas dos lançamentos cinematográficos. Mas tenho que admitir que alguns dos filmes que vi recentemente despertaram em mim antigas ternuras e aí está a grande inspiração desta página.

Como por exemplo o filme “Uma vida iluminada” (USA, 2003), estréia na direção de Liev Schreiber (veja foto), ator que vimos recentemente em “Sob o domínio do mal”. Ele fez um belo filme com um orçamento baratíssimo – 7 milhões de dólares – o que mais uma vez mostra que para filmar uma boa idéia não é preciso um transatlântico cheio de dinheiro.
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O roteiro é baseado no livro “Everthing is illuminated” (também nome original do filme), escrito por Jonathan Safran Foes, que é o personagem principal da história. Não sei se é baseado em fatos reais. Acho até que seria improvável, por conta da própria implausibilidade daqueles personagens.

Eis o argumento do filme: um rapaz que tem a mania de colecionar qualquer objeto referente à sua família recebe da sua avó uma foto do avô ucraniano com uma mulher na sua terra natal. Disse a vovó que, por causa daquela mulher, ele tinha ido para a América antes da guerra e lá tendo constituído a sua família. Foi o que bastou para aquele rapaz estranho pegar um avião para a Ucrânia atrás daquela mulher misteriosa ou pelo menos de sua história. Lá, ele contrata como guia um jovem ucraniano e seu avô. O primeiro se veste e age como um negro rapper americano; o segundo, se diz cego e por isso tem uma cadela-guia enlouquecida a quem ele deu o nome de “Sammy Davis Jr. Jr.” (o segundo “Júnior” é porque já tinha existido um outro, o cantor). Embora se diga cego, é o avô que dirige o carro, um velhíssimo Trabant, aquele carro alemão-oriental que virou cult. Na viagem rumo ao local da foto, a gente vê um país com as cicatrizes do comunismo e da presença nazista na II Guerra.
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O filme poderia se chamar “Antigas Ternuras”. Eu me identifiquei um pouco com o personagem central: como eu, o cara é vegetariano, gosta de coisas antigas e é muito estranho (no sentido de fora da 'normalidade' que se vê atualmente). Aliás, mais um belo desempenho de Elijah Wood, o hobbit “Frodo Balseiro” da trilogia “O senhor dos anéis”. É curioso ver que até os personagens chegarem ao seu destino, o filme às vezes parece uma comédia rasgada. Depois, assume tons bem mais dramáticos.
Ao meu ver, uma de suas grandes qualidades foi mostrar o choque cultural entre um americano e ucranianos, que até nem tanto tempo assim faziam parte da União Soviética. O simples fato daquele ianque não comer carne, numa terra onde ter comida farta na mesa era uma raridade já mostra um pouco a dificuldade de compreensão entre aquelas pessoas. A cena do grupo no restaurante é hilária.
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Mas o que eu mais gostei no filme foi constatar que alguns objetos são bem mais significativos do que simplesmente aparentam: eles podem ter por trás histórias riquíssimas. Uma frase dita no final acaba sendo uma espécie de resumo do filme e de slogan deste blog: “O passado nos ilumina sempre. De dentro para fora”.
Se eu fosse você iria correndo ver este filme.
M.S.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marco, essa música é prá você: "... hum, mas se um dia eu chegar... muito estranho." Ucraniano rapper e americano vegetariano? Realmente não são coisas deste mundo.

Marco disse...

Pra você ver como são as coisas...