terça-feira, junho 02, 2009

Amigos para sempre


No condomínio em que moro vejo muitas crianças e adolescentes. Eles estão sempre brincando uns com os outros, se visitam, saem juntos, passam boa parte de seus dias uns grudados nos outros.
No trajeto entre onde moro e o lugar em que trabalho, passo por uns quatro colégios. E sempre vejo grupos de escolares andando em pequenos bandos, em plena camaradagem, brincando entre si alegremente.
Fico imaginando por quanto tempo eles serão amigos, se cada um vai se recordar deste tempo de risadas e diversões quando cada um seguir seu caminho...
*
Neste sábado passado, estive com antigos amigos. Estávamos comemorando as bodas de prata de meu amiguirmão Luiz, ledor habitual deste blog. Eis que em determinado momento estávamos juntos eu e três amigos dos tempos de adolescência (no caso do Luiz é de infância, pois estamos juntos desde o terceiro ano primário). Dois deles eu não via há muito, mas muito tempo. Estudamos juntos, os quatro. E vivíamos grudados uns nos outros, nos visitávamos, passávamos um bom tempo uns com os outros. Naquele tempo, a gente jogava botão, futebol, vôlei, baralho, trocava gibis, ouvia música, gravava fita cassete, brincava daquele jogo do “um, dois, três... já! Letra F! Animal com a letra F!”... E também tinha muita encarnação, muita gozação entre nós. Basta dizer que cada um torcia por um time grande do Rio.
*

Claro, nem tudo eram flores. Tinha discussão, briga, às vezes porrada comia, um ficava sem falar com o outro. Mas, curiosamente, o grupo continua saindo junto até que a discussão fosse esquecida e a camaradagem voltava a nos envolver a todos. Isso é normal entre amigos. Já dizia George Eliot: "Talvez as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão, muita disputa e mesmo assim muito afeto."
Hoje percebo o tanto de afeto que existia entre nós...
*
Mas eis que chegou roda-viva e carregou os destinos pra lá... Tomamos rumos diversos, estudos diferentes, carreiras variadas... Eles se casaram, tiveram filhos. Eu, não. Cada história de cada um daria mais volumes que a Enciclopédia Britânica. Com exceção do Luiz, perdi contato com os outros dois e com os outros integrantes daquele alegre bando feliz.
Eis que num sábado desses, nós quatro nos reencontramos depois de tanto tempo. Poderíamos ter nos cumprimentado com uma singelo aperto de mão, um vago “e aí? Tudo bem?”. Mas não. Foram tantos abraços e beijos e tantos risos... De ter que respirar fundo para não chorar e dar vexame.

Aqueles quatro senhores grisalhos, alguns com uma luzidia careca, quase todos com aquele infalível excesso de adiposidades na região da cintura... Um falou que depois de “trabalhar os bíceps”, agora estava “malhando a panceps (de pança, mesmo)”... Pois é. Estamos todos velhos. Uns estão com a lataria mais em estado de seminovo, como o escrevedor destas mal tecladas linhas, outros fazendo a linha fruit de la passion en tiroir (“maracujá de gaveta”, se você não é versado na língua de Victor Hugo e Molière...). Caraco... aqueles quatro não se juntavam fazia tempo! Mas quando há amizade de verdade, nem precisa se ver constantemente. Basta um reencontro, depois de anos de afastamento, e a fraternidade se mostra sólida como diamante.
*
Não demorou muito e estávamos sacaneando uns aos outros, como nos velhos tempos. Dos quatro, dois já são avôs e o terceiro vai sê-lo daqui a quatro meses. Isoladamente, somos senhores respeitáveis. Bastou juntar e a patifaria pega fogo. “Porra, Marco... Você ainda torce para essa merda?” “Merda é o cacête! Dobra a tua língua! Sou tri-campeão! E o teu time só ganhou o que a Ritinha ganhou atrás da horta numa noite de lua cheia...”
*

As histórias, as lembranças de tantos anos vinham à tona feito água de nascente. “Lembra quando a gente saía do colégio na hora do recreio, pra jogar futebol totó, e voltávamos suados, descabelados, sujos de graxa, atrasados para a aula de matemática, com o professor parando a aula no meio para a entrada daquele bando de trogloditas?”
“E aquela vez em que vocês correram atrás de mim, o meu sapato saiu do meu pé, passou por cima de um muro alto e caiu num convento, ao lado de um cachorro brabo? Lembram da cara da freira pegando o sapato pra mim, com vocês se mijando de rir?”
“Quem se recorda dos apelidos da nossa turma na sala de aula? Tinha o Graxa, o Banha, o Tripa, o Português, a Cu (Putz! tadinha... era tão feia que o Português disse que ela parecia um...pois é...), o Medusa, o Siri”...
*
E assim passamos aquela tarde maravilhosa, recordando o tempo das antigas ternuras. Eu, tão feliz por eles estarem orgulhosos de minha carreira de ator e escritor, todos leram o meu livro e me cobriam de elogios que me deixavam até sem graça...
É tão bom ter amigos... Não sei se os meninos do meu condomínio vão continuar amigos por tanto tempo quanto nós. Nem imagino se eles valorizarão a amizade, como nós quatro valorizamos, depois de tantos anos. Para se adquirir uma qualidade, um homem só é bastante. Para se alcançar a amizade, é preciso de dois. No nosso caso, somos quatro.
M.S.

Vejam na foto abaixo os amigos: Wilsinho, Marco, Luiz e Vaílton. Esses moleques já deram um trabalho...

***********************************************
Você gosta de jogos de perguntas e respostas? De Quiz? No outro blog em que escrevo, o Playground dos Dinossauros, eu fiz um Quiz sobre antigos programas de TV (do tempo da TV a lenha...). Se eu fosse você iria lá arriscar uns palpites...
***********************************************
Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Canção da América”, com Milton Nascimento. Não existe melhor verso que defina amizade do que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito...”

17 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Caro Marco,
Faço ideia do que vocês 4 sentiram com esse reencontro. Uma das coisas que mais me deixam emocionado é reencontrar alguém que foi importante num período da minha vida (geralmente, a infância, a adolescência) que não vejo há décadas. Nessa foto você aparenta ser o que está em melhor forma. Será o mais novo dos 4? E o terceiro e o quarto bem que poderiam formar uma réplica de O Gordo e o Magro (risos). Um abraço.

DO disse...

Imagino o que não deve ter passado na cabeça de todos vcs,Marco.Alias,como saudosista dos bons,acho que é das boas coisas que encontramos na vida. Nada como rever os amigos,ainda que o tempo tenha nos afastado.
Deixou-me saudoso aqui.
Abraços!

guiga disse...

Adorei! Adorei! Adorei ler este post! Eu prezo muito a amizade! Os meus amigos contam-se pelos dedos, mas são os meus tesouros! É uma das boas coisas da vida, a amizade. Mas A.M.I.Z.A.D.E.! Podemos não estar sempre juntos fisicamente, mas o amor que sentimos não morre!
Espero tirar assim uma foto, daqui a MUITOS anos. Claro, de preferência, sem barriga e com muito mais cabelo! LOOOOOOL
Beijos *.*

Dilberto L. Rosa disse...

Não vejo com bons olhos as amizades de hoje, meu caro: são grudentas ou espaçosas demais, e, no turbilhão acelerado dos condomínios fechados... Não sei, falta aventura e companheirismo... Mas é sempre bom mesmo celebrar antigas amizades e ternuras, como você mesmo sempre diz! Tenho alguns poucos sobreviventes dessa época bacana... Brindemos! Abração!

Julio Cesar Corrêa disse...

Marcos, só faltou neste belo post, uma foto dos Rolling Stones. Amigos ha mais de 47 anos. Uma vez, numa entrevista, Mick declarou que o segredo da boa convivência entre eles era o fato de não se verem muito. Mas, como vc mesmo disse, nem é preciso. Tá certo, que, no caso deles, há uma questão profissional, mas quantas bandas estão juntas por tanto tempo? Somente as que são baseadas em uma amizade muito forte.
Quanto a essa nova geração, acho difícil que consigam manter laços tão profundos. É uma garotada, que, em muitos casos, se conhecem pela internet. Eles se aproximam um dos outros, geralmente para não ficarem sozinhos, para serem convidados para o time, para terem festas para ir nos fins de semana, para entrar no grupo do trabalho de história, para pertencer a alguma turma. Há sempre um interesse envolvido. Nossa geração era mais desprendida disso.
Uma vez, conversando com a minha afilhada sobre amizade, ela disse que a garotada de hoje vive melhor sem se aprofundar nas relações, pois desse jeito, sofre-se menos decepções e frustações. Logicamente, achei um absurdo. Em tom de brincadeira, chamei-a de covarde. Imagine se vou deixar de me entregar ás relações para não sofrer. Por outro lado, eu, no fundo, eu posso entendê-la. Basta olharmos ao redor dele, o mundo de medos e ameaças que os cerca. Se eu fosse criança hoje, provavelmente teria o mesmo medo. Tivemos mais sorte.
abração

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Música mais adequada acho que não há!
Adorei a forma como abordou estas lembranças. Eu, sempre que posso, reencontro antigos amigos de infância e estes encontros são maravilhosos. Como morei em várias cidades, tenho lembranças aqui e acolá e o orkut nos proporcionou grandes reencontros. Você é o mais conservado dos três, parabéns! Imagino estes pestinhas aprontando, eu mesma aprontei todas as que devia e não devia, pois não brincava com bonecas, preferia amizade dos meninos (hehehe, sou esperta!)
Beijo! Adorei mesmo o post!

MARCOS DHOTTA disse...

Que emocionante deve ter sido esse encontro... Nossa! Eu que estou de fora me emocionei, imagine você que vivenciou o momento desse resgate de tempos idos... Valeu grande Marco. Obrigado pela emoção proporcionada.

Anônimo disse...

Marco,
Nada melhor q rever os amigos e matar as saudades dos velhos tempos.
Big Beijos

Lula disse...

Pô Marcão,
eu te pedi prá usar o Photoshop antes de lançar a foto... mas não era prá alterar tanto. Olha aí no que deu. FIQUEI GORDO!!!! ISTO É UM ABSURDO!!!! SACANAGEM SUA !!!! E quer saber de uma coisa: NÃO SOU MAIS SEU AMIGO !!!
P.S.: O Vailton vai tomar a mesma atitude. Afinal de contas ele nunca foi magro!

Tom disse...

Puxa, Marcos...
Sabe, eu assumo que nunca fui um tipo exatamente popular. Sempre fui tímido e se pouquíssimos amigos.
Mas ano passado, me reuni com uns poucos da antiga turma de escola. E foi maravilhoso. O encontro ainda rendeu outro no fim-de-semana seguinte! E agora, vivemos tentando marcar mais um, mas as agendas... sempre as agendas...
Abração, cara!

Luma Rosa disse...

hahahahaha o Luiz tá tentando esconder a panceps!

Desculpa, Marcos!! Mas tá estampado na cara dele!!

Super legal carregar as amizades. Eu praticamente desfiz de todas, porque mudei muito de cidade e quando voltei a minha cidade natal, ninguém mais estava lá. Sem notícias. Recentemente soube que minha melhor amiga da época morreu com 20 anos de overdose. Foi decepção e tristeza ao mesmo tempo, daí parei de procurar. E talvez por isso, dou tanto valor a quem consegue manter vínculos por tanto tempo. Parabéns, Marcos!! Bom fim de semana! Beijus

Márcia(clarinha) disse...

Maravilhoso reencontro de grandes amigosparasempre...

Tenho amigas do tempo do "admissão" aff! muita gente aqui nem sabe o que é isso, rss, outras trago desde o primeiro ano ginasial feito no Instituto Guanabara [bem perto de você], sim, nos conservamos na alegria, já não somos as mesmas, todas com netos, histórias de vida vivida, como é bom voltarmos às meias três quartos e as sapequices sem conseqüências que valiam ouro, os namoros, as matinês, a cumplicidade...que bom ter amigos e sabê-los ali, perto mesmo que longe.

Amigopratodavida, avisa ao Luiz pra não encolher a barriguinha, tá na cara que está sem ar, kkkk

Adorei essas antigas ternuras, show!
linda semana meu querido
beijos

Anônimo disse...

Oi meu amor,
ficou linda a foto.
beijo
Syl

dade amorim disse...

Caramba, Marco, que delícia esse encontro, né não? Tenho algumas amigas dos tempos de escola, mas só vejo regularmente uma delas, as outras andam pelo mundo e a gente só se encontra mesmo por acaso. Mas sabe, acho que os homens conservam mais vivo esse sentimento mesmo depois de passado muito tempo. É muito bom querer bem assim a alguém(ns). Beijos.

Chellot disse...

Que coisa boa de se ler. Amigos nunca deveriam ficar separados. Muito legal esse reencontro e a foto também está ótima. Gostei também da imagens que você colocou nessa postagem. Você aprontou heim!!

Beijos doces.

Alice disse...

Bom demais saber que aqueles de ontem são os de hoje! E o são em versão turbinada, 4.0!

Grande abraço

Anônimo disse...

Oi! Eu não te conheço, estava procurando um local que venda as antigas camas Dragoflex e cai no seu blog, o que me despertou muita atenção, uma pelas memórias de tempos maravilhoso anos 70/80, outra, pela valorização da amizade. Quem consegue ter amigos por longos anos, quem não os peder de vista, com toda certeza, é alguém que eu costumo chamar de ponte. Está sempre ali para para fazer o link entre o presente e o passado, une a todos, é o responsável pela união de um grupo.
Digo isso pq tb sou assim. Aliás, a procura da Dragoflex é justamente para uma reunião de pessoas queridas que vou fazer na minha chácara. Parafraseando Milton Nascimento, "amigos é coisa para se guardar." E nada melhor que uma casa de campo "onde eu posso guardar meus amigos, livros, discos e nada mais."
Parabéns pelos seus registros.
Marly