quarta-feira, dezembro 17, 2008

Boas Festas


Vem chegando o Natal. E se aproxima também o Chanuka (lê-se: “Ranucá”) judaico. As duas festas são comemoradas mais ou menos na mesma época, trocam-se presentes em ambas, mas uma nada tem a ver com a outra. Decidi escrever algumas coisinhas sobre a origem destas duas boas festas. Começarei pelo Chanuka.
Os que visitam regularmente este blog sabem que estou atuando no espetáculo “Anne Frank – O Musical”, que conta a famosa história que tem encantado milhões de pessoas pelo mundo desde 1947.

Pois é. Por estar bastante envolvido com essa produção, quem me conhece sabe que adoro pesquisar, estudar, investigar assuntos que me parecem ser interessantes. Especialmente se forem ligados à História. Tem uma cena na peça em que fala da festa das luzes, o Chanuka. Fui estudar o assunto.
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Tudo começou por volta do ano de 160 a.C, quando os selêucidas ocupavam a terra de Israel. Os selêucidas eram um povo euro-asiático, dominado por Alexandre, o Grande, em sua expansão para o Oriente, constituindo parte do extenso império macedônio. Com a morte de Alexandre, que não deixou filhos (o que consta é que o rapaz era um bravo soldado, mas gostava mesmo era de colocar um barbado na sua cama; ou seja, aquele pitbull era Lassie, aquela Coca-Cola era Fanta...), seus generais macedônios retalharam e dividiram entre si o vasto império alexandrino.

Coube ao general Selêuco aquela região do Oriente Médio que hoje é calma, serena e tranqüila (Síria, Israel, Líbano, Palestina, Jordânia...). Seus descendentes se sucederam no governo da região, instituindo uma monarquia ligada culturalmente à Grécia clássica. Pois é. Naquela região, todo mundo cultuava os deuses gregos. Menos os judeus. Um certo dia, no Século II a.C, o então rei Antíoco IV (esse aí de cima) se empombou e resolveu que todo mundo teria a mesma religião e hábitos culturais. Invadiu o templo de Jerusalém, colocou uma estátua de Zeus lá e obrigou os judeus a prestarem culto a ela. Obviamente, os judeus se negaram. E muitos foram perseguidos e mortos por conta disso. Até que se rebelaram, e, comandados por Macabeus, venceram os selêucidas, retomando terras e o templo.
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Seria preciso, pois, purificar o templo que havia sido conspurcado. E purificação se faz com fogo. Seria necessário acender o candeeiro sagrado, para com a chama de sua luz, purificar o templo. Acontece que o candeeiro só podia ser aceso com um óleo especial, que levava oito dias para ser elaborado e purificado. Quando os judeus foram verificar no templo, só tinha um tiquinho de nada deste óleo. Seria preciso fazer mais, o que tinha disponível não daria nem para um dia. O rabino ordenou que o candeeiro fosse aceso assim mesmo, até o óleo acabar. Enquanto isso, eles produziriam mais.
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Foi quando um milagre aconteceu. Aquele pouquinho de óleo manteve o candeeiro aceso por oito dias, até que mais do combustível especial estivesse produzido. Para relembrar este milagre, instituíram a festa de Chanuka, a festa das luzes. Durante oito dias, assim que aparecesse a primeira estrela no céu, uma das oito velas da chanukia (aquele candelabro de nove velas, que é um dos símbolos de Israel) seria acesa, progressivamente, até que todas estivessem acesas. A vela do meio é utilizada para acender as outras, sempre da direita para a esquerda. O candelabro (hanukiá) deve ser colocado numa parte visível da casa. Durante a cerimônia, se entoam cânticos e pedidos de bênçãos. Trocam-se presentes no último dia de Chanuká. Há quem dê dinheiro para as crianças.
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Bem, nós, cristãos, temos o Natal. Que é uma espécie de celebração pelo aniversário de Jesus. E aí começam as questões complicadas. Jesus nunca pediu que celebrassem o seu nascimento. Ele pediu para ser lembrado, não uma vez por ano, alimentando o comércio local, mas todas as vezes que comermos pão e bebermos vinho cerimonialmente. Mas vamos pular esta parte.
Resta saber a resposta para a pergunta que não quer calar: quando nasceu Jesus?
Certamente não foi no dia 25 de dezembro, nem foi no ano 1 da era Cristã. Mas então, pelas barbas do profeta, quando foi que o Salvador nasceu?
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Consultemos a Bíblia (mesmo porque, infelizmente não temos nenhum cartório para verificar a certidão de nascimento...). No Evangelho de Lucas, diz que: “Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão, e se chamava Isabel (Lucas Cap.1, vers. 5). Mais adiante, o evangelista revela que Isabel, mulher de Zacarias, concebeu João Batista. Lá no versículo 26, deste mesmo capítulo, diz que um anjo apareceu para Maria, falando que a prima dela, Isabel, já estava no sexto mês de gravidez, e que ela, Maria, a partir daquele momento estaria também ligeiramente grávida. O que significa dizer que se nem João Batista nem Jesus foram prematuros, a diferença de nascimento entre eles é de seis meses, mais ou menos. Ora, se João foi concebido "no turno de Abias" (que corresponde a mais ou menos os meses de junho/julho de nosso calendário gregoriano) e Jesus seis meses depois, significa que o nosso Cristo foi concebido entre dezembro/janeiro (talvez até em plena comemoração Chanuka, olhem só). Com isso, João Batista nasceu em março/abril e o nosso Messias em setembro/outubro. Quem sabe Cristo era do signo de Virgem, que nem eu! ( o que seria curioso, visto que a mitologia católica atribui eterna virgindade à Maria, sua mãe).
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Mas, e o ano? Não foi no ano 1 (lembrem-se: não existe Ano Zero)?
Não, com certeza, não foi. Voltemos lá, naquele versículo de Lucas, o que diz que estavam "nos dias de Herodes". Esse Herodes aí é o chamado "Herodes, o grande", aquele que mandou matar as criancinhas, e que comprovadamente morreu no ano de 4 a.C. O que se estima é que Cristo nasceu no ano 6 antes de Cristo (olha que loucura!). Mas quem é o responsável por essa lambança? Foi um monge trapalhão Dionysyus Exiguus, do Século VI da Era Cristã, que errou os cálculos e instituiu o calendário começando o ano um seis anos depois (para corroborar isso, astrônomos usando computador, chegaram a conclusão que um cometa com características da estrela de Belém, cruzou os céus da Judéia no ano 6 a.C.). Agora não dá mais para consertar.
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Aliás, foi esse frade lambão que instituiu o 25 de dezembro como data de nascimento de Cristo. Por que ele fez isso? Porque a Igreja Católica já começava a predominar no mundo e queria dar um chega-pra lá nas seitas pagãs que ainda proliferavam naquela época. Nas comemorações pagãs romanas, o 25 de dezembro era o tempo da festa Saturnal, e rolavam altas orgias, com direito a bebidas, mulher pelada, anões besuntados com geléia de framboesa, sexo livre e coisarada. Fazia um sucesso! Pois é. Daí, provavelmente escolheram esta data para acabar com a alegria dos safadinhos e dar um senso religioso àquela sacanagem toda.
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Quando o primeiro Natal foi comemorado? Já li em fontes sérias que foi por volta do ano 440, ou com quase certeza em meados do Século V. O que não explica o fato dos Flintstones, uma família da Idade da Pedra, comemorarem o Natal, se Jesus não era nascido naquele tempo.
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Bem, amigos do Antigas Ternuras. Está aí a origem de duas boas festas que fazem o maior sucesso neste mês de dezembro. Faltou eu falar que provavelmente Jesus não nasceu em Belém, não foi numa caverna ou num estábulo, os três Reis Magos não eram nem três, nem reis, nem magos, que Cristo tinha irmãos e... bem, este post já está bastante polêmico. Vamos fechar a conta só com o que apresentei aqui, que já está muito bom...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Secret Garden tocando “Ilumination”.

17 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Marco,
Você sempre, com a sua vocação para pesquisador, nos dando ensinamentos valiosos. E que se tornam agradáveis de ler por causa do humor presente nos textos. Um abraço.

Anônimo disse...

Parabens,MARCO.

Como sempre,irreparável nas pesquisas e nas descrições das histórias sempre muito explicativas e interessantes.

Abraço grande!!

Lulu on the sky disse...

Feliz Natal Marco. Como sempre dando uma aula a cada post.
Big Beijos

Claudinha ੴ disse...

Marco, adorei! Eu já li um pouco sobre as festas pagãs e estas farras e também sobre esta origem das datas, da família de cristo e as interpretações errôneas da língua nas traduções(aprendi com minha mãe,estudiosa como você.Os dois teriam papo pra mais de ano e seriam certamente considerados hereges,rsrs). Porém a sua explicação me enriqueceu muito. Eu desejo que o aniversariante esteja com você e sua família em todos os dias e que os presentes venham dele e sejam os mais caros. Caros como saúde, paz, harmonia, bençãos.
Feliz Natal! Beijos.

* Secret Garden, tudibom!

Moacy Cirne disse...

Decerto, Cristo não nasceu no Natal, cujos festejos eram pagãos. Aliás, o cristianismo em si não foi criado por Cristo, assim como o Deus bíblico não passa de uma invenção humana. A sua pesquisa, como sempre, é muito boa. Um abraço.

ninguém disse...

Marco. Independente de datas ou alterações feitas pela Santa Madre, acho o ritual maravilhoso. Isso que ando jururu demais para curtir a data Natal. No entanto, me julgo privilegiada porque tenho ainda pais junto de mim e meus filhos a cada Natal aqui estão. Azar meu, se não curto direito. Queria que as luzes do chanuká permanecessem na alma da gente. Enfim. Vamos a mais um aniversário deste grande cara, nascido não se sabe quando, onde, nem mesmo como, mas que bom que ele veio e mobilizou tanta gente a repassar suas histórias.
abração
parabéns pela nova peça

Anônimo disse...

Pois, eu já tinha lido algumas dessas coisas. MAS, tens de prometer uma coisa: contar o resto!!!! lol
Bom fim-de-semana!
Beijocas *.*

Julio Cesar Corrêa disse...

Ótimo post. E muito oportuno também. Há muito romantismo envolvendo o nascimento de Jesus.Para mim, por razões pessoais, o Natal é um dia normal. Apenas me policio para não fazer nada que eu ache errado. Aliás, eu deveria fazer isso todos os dias, mas...sou humano.Parabéns!
abração

Anônimo disse...

oie meu querido Marco, nossa assino em baixo de tudo q vc escreveu,pq ja ouvi falar sobre tudo isso,dos 3 reis magos nao sabia será q nao tinha mesmo,nosssa é muito confuso,mas mudando de assunto,tive q mudar o endereço do meu blog,pq a globo me roubou o blog,pq eu sou usuaria gratuita da globo desde quando nao precisava assinar,fazem 8 anos,e sem aviso previo me tiraram do ar, mas tudo bem to de volta e espero sua visita,ganhei um blog lindo de uma amiga nossa 'a mal q vem pra bem ne,riss,te adoro, nao esqueça de mudar meu link,bjss

http://paginasviradas.zip.net/

Zeca disse...

Marco, caro amigo!

Como sempre, arrasando nos textos e nas pesquisas. Parbéns! Ambos falamos sobre o Natal e suas origens - e não nos contradissemos, visto que estamos sob diferentes abordagens. Essa confusão de datas eu já conhecia e é explicável até pelo fato de que a própria bíblia foi escrita por muita gente, gealmente muito depois dos acontecimentos. As histórias eram transmitidas oralmente, gerando conusões e alterações mesmo. Também é sabido que alguns textos acabaram sendo alterados por interesses que não vem ao caso comentar agora. Mas o importante mesmo é que Cristo, o gerador de toda essa confusão maravilhosa, esteja sempre conosco e sejamos permanentemente iluminados pelas luzes do hanukiá. Que nossos caminhos sejam mais leves e menos difíceis. E que sua peça fique em cartaz tempo suficiente para que eu possa ir vê-la para conferir e testemunhar todo o sucesso que lhe desejo.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Marco,vou transcrever aqui o que acabo de comentar no meu próprio blog, só pra vc ficar sabendo, ok?
"Vixi, gente!
Acabei por magoar meu fiel amigo Marco, que sempre me dá a maior força.
Marco, "ninguém" é só um modo auto-piedoso de falar...
É ca-la-ro que sei que vc me lê e me brinda com seus comentários alto-astral, meu chapinha.
Tô perdoada?
Lembre-se, Natal, época de perdão... he he he!
Valeu, galerinha, adorei o que vcs escreveram!
Bjão, Rose, a autora desse humilde bloguizinho. Nóis não tem contador, mas nóis é limpinho...
"

Marcos Pontes disse...

Salve, Marcão. Ando mei ausente, por isso não sabia de sua atuação no "Anne Frank". Que seja mais um sucesso.
Quanto ao post, mais uma aula. Já te disse e repito, você é um ótimo historiados.

Anônimo disse...

Como prof. de história tenho q dizer q adorei, só a musica q é meio triste para uma data tão bonita! De uma passadinha lá no meu blog, pessoas inteligentes como vc são sempre bem vindas, não esqueça de comentar, (por favor), os textos são legais, se gostar ... Me linka! Bjos Giovana Capixaba.

Anônimo disse...

oi meu querido Marco to orgulhosa de vc viu acabei de ver seus videos e sua vóiz ,hummm linda e vc nem se fala é charme puro,adorei parabens desejo tudo de bom que neste ano novo tudo se realize na sua vida, um feliz natal cheinho de amor,paz alegrias e muito amor,quero te oferecer o selo de reinauguraçao do meu novo blog ,o cartão de natal meu award e o premio diamanate do paginas viradas pelo conteúdo ,pelo carinho do seu blog,e nao tire esses premios q ja te ofereci ,pq vou coloca-los no novo blog,só mude o endereço por favore ,riss,que trabalhao ne eu dou,mas a vida é assim ,cada dia uma surpresa,bjs grande abraço te adoro, sou sua fã numero 1

bjs

Cláudia disse...

Oi querido

Em primeiro lugar queria tanto assistir sua peça. Mas quem sabe vcs. não veem a S.P, e eu irei.
E quanto ao post.
Bom...
Deixemos realmente de lado a polêmica né? Aproveitemos essa fase Natal para rever nossos conceitos de amor, paz ...e fraternidade.
Quanto a festa judaica, não posso deixar de comentar...tenho lido alguns livros a respeito de alguns rituais judaicos e confesso quie tenho gostado bastante.
Um beijo enorme querido
e no coração.

Anônimo disse...

Marco, contar essa história toda para as crianças, leva tempo. Melhor contar a do papai noel que chega dia 25 e tá bom!! Vale mesmo é a comemoração, a lembrança e a manutenção do espírito santo em nossos corações. Ademais, está escrito nas escrituras, que o tempo é algo que não existe para o nosso pai celeste!! Feliz natal!! Feliz Chanuká!! Boas festas!! Beijus

Anônimo disse...

QUE CADA HOMEM DESCUBRA NO SEU SEMELHANTE UM COMPANHEIRO.
EM CADA COMPANHEIRO UM AMIGO.
EM CADA AMIGO UM IRMÃO.

FELIZ NATAL !!!

Abração,MARCO!!