quinta-feira, agosto 14, 2008

Machado na cabeça!


Conforme escrevi no post anterior, no próximo dia 23, um sábado, eu estarei lançando meu livro em São Paulo, aproveitando o convite que recebi da Secretaria Municipal de Cultura de Mauá. Na oportunidade, também fui convidado a fazer uma palestra sobre Machado de Assis, como parte das homenagens que serão feitas a ele por ocasião do centenário de sua morte.
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Li comentários aqui e recebi e-Mails de amigos afirmando ser Mauá muito distante da capital paulistana. Sei que o trânsito engarrafado de São Paulo faz as noções de tempo e espaço enlouquecerem qualquer Einstein e sua Teoria da Relatividade. Já levei uma hora para andar uma distância de dois quilômetros em linha reta na Marginal Pinheiros. Se a noite de autógrafos fosse num dia de semana, eu não recomendaria a ninguém sequer pensar em aparecer. Mas num sábado e no fim da tarde, o negócio é diferente. Não acho que Mauá se localize assim tão longe. Mauá fica no ABC paulista, o que significa dizer região metropolitana de São Paulo. De carro, do centro da cidade até Santo André, no ABC, num sábado sem trânsito, leva-se 30 minutos (eu posso garantir), tanto pela Anchieta quanto pela Avenida do Estado. E de Santo André até Mauá, gasta-se uns 15 minutos, 20 no máximo (pegou a Avenida Firestone, é só seguir reto).
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De qualquer forma, eu vou entender perfeitamente os que não puderem ir, por qualquer motivo. Para os quiserem arriscar e me dar este imenso prazer, o endereço do lançamento (e da palestra) é: Teatro Municipal de Mauá – Rua Gabriel Marques, Centro – Mauá.No sábado, 23, com a palestra sobre Machado começando às 18h, seguida da noite de autógrafos a partir das 19h.
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Ainda estou preparando a palestra que farei, embora já a tenha esquematizado. Terá uma breve exposição de uma linha do tempo com fatos marcantes da vida do Machadinho (era assim que os amigos o chamavam). Depois, escolherei trechos das obras dele que falam sobre locais do Rio de Janeiro (bairros, ruas, morros etc.) e farei uma abordagem histórica. Tudo isso MUITO ilustrado. Já estou selecionando as fotos que exibirei.
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Querem saber que histórias eu contarei sobre o velho Bruxo do Cosme Velho? Tudo bem. Vou passar um trailer.
Não sei se vocês sabem, mas Machado de Assis era epilético, canhoto e gago. Tem um “causo” interessante, envolvendo o grande escritor que eu conto no meu livro “Popularíssimo – O ator Brandão e seu tempo”. Fala de como ele gostava de se relacionar com gente de Teatro. Eis o trechinho:

“Muitos artistas e autores teatrais estavam no círculo de suas amizades. Ele não só escrevia peças como também freqüentava bastidores. Tem uma história curiosa que atesta não só a sua circunspecção como revela um aspecto muito pouco conhecido. Certa vez, ele estava nos bastidores, cumprimentando atores de uma montagem, quando uma atriz lhe dirigiu a palavra:
- Senhor Machado, eu tenho notado que o senhor é um pouquinho gago...
Machado ficou vermelho de raiva. Ele não apreciava certas intimidades e principalmente detestava lhe apontarem defeitos. Encolerizado, respondeu:
- E e-e-eu te-te-tenho notado tam-tam-também que a se-se-senhora é po-po-pouco séria!”

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Machado casou-se quando tinha já seus 30 anos. Casou tarde. Provavelmente quis aproveitar a vida antes de colocar a aliança no dedo. Ou estava escolhendo com muito critério a rainha do seu coração.

Certa vez, ele foi visitar um poeta português, recém-emigrado para o Brasil junto com a família. Era o notável Faustino Xavier de Novais, que no fim de sua vida estava com o “mal dos nervos” (leia-se: “maluco de pedra”). Na casa dos Novais, Machado conheceu a irmã de Faustino, uma senhorita portuguesa de nome Carolina, jovenzinha na flor de seus...34 anos! Fulminado pela paixão, Machado aproveitou um rápido momento em que ficou a sós com a moça e caiu matando. Correu até ela, sentou-se ao seu lado, pegou-lhe na mãozinha e mandou na lata: “Quer se casar comigo?”. A senhorita Carolina (na foto ao lado) respondeu sem hesitar: “Sim!” (claro, para quem estava conformada por ficar encalhadaça, conquistar um partidão como aquele, era sopa no mel! Era a chance dela tirar o pé da lama...).
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Mas o bom Machado não teve moleza. Miguel, um dos irmãos da dama, não via com bons olhos aquele rapaz “de cor” entrando para a família de legítimos brancos europeus. Para ele, ser mulato ou um negrão zulu desembarcado d’África era a mesma coisa e não era exatamente o cunhado que ele desejava para a irmã. Mas o preconceituoso rapaz deve ter sido convencido a não ser tão implicante, visto que Machado de Assis já era um intelectual conhecido e respeitado e, além disso, estava topando tirar a moça do Caritó (um dia desses explico a origem desta expressão) e sem pedir dote.
Casaram-se. E foram muito felizes, por quase 35 anos. Até que a mais “Indesejável das Visitas” aparecesse no chalé da Rua Cosme Velho, número 18, e levasse a dona do coração “do maior escritor afro-descendente de todos os tempos” (quem disse isso foi o notável crítico Harold Bloom).
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Antes de se casar com Dona Carolina, Machado devia gostar de dar suas machadadas por aí. No meu livro, eu conto a história de uma das maiores cortesãs que a cidade Maravilhosa já viu: a bela francesa Catherine Aimée, estrela do cabaré Alcazar Lírico. Metade do Rio de Janeiro passou pela cama da moça, que vendia caro seus favores. Para arrancar-lhe um beijinho, só ofertando-lhe um anel de rubi, por exemplo. Para outras partes do corpo, o preço era muuuuito maior. Pois não é que Machado conheceu a moça? Não sei se a conheceu “biblicamente” falando. Mas olha só o elogio que ele escreveu sobre ela: “tem a boca amorosamente fresca, que parece ter sido formada por duas canções de Ovídio”. Ah, moleeeeque!
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Além de fatos sobre a vida de Machado (incluindo essa parte, huum, digamos “Revista Caras” da vida dele...), falarei sobre sua obra, com destaque para “Dom Casmurro”. Obviamente, abordarei o grande mistério da literatura brasileira: “Capitu traiu Bentinho? Ou foi apenas coincidência o filho dos dois se parecer com o amigo Escobar?”. Estou pensando em fazer uma espécie de “Programa do Ratinho” sobre isso na palestra... O que vocês acham?
M.S.
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Caros amigos leitores; A partir deste sábado estará no Playground dos Dinossauros, o outro blog onde também escrevo uma vez por mês, um post meu sobre aquele famoso jogo (um, dois três...já! A... B...C...D...E!) em que a gente preenche num papel nomes de países, animais, marcas de cigarro, de automóveis, jogadores de futebol etc. Quem lembra? Em alguns lugares chamam de “adedanha”. Para os quiserem recordar, é só clicar no link.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve o grande Waldir Azevedo tocando “Chorinho Antigo”. Essa é pra você, Machadinho!

23 comentários:

Anônimo disse...

Vc tem razão,MARCO: aos sabados o transito não fica tão pesado. Farei o impossivel pra te prestigiar e,finalmente,adquirir o livro. O grande senão é a mudança de meu irmão para o interior. Espero que não cisme que tenha que levar meus pais pra la...
Grande abraço!!

Cris disse...

Oi Marco! É isso mesmo, vc foi preciso na sua explicação sobre as distâncias de Mauá (e o tempo que se perde em SP). Nasci em Sto André e ainda tenho família lá... Passava por Mauá quando ia ao sítio da família em Ribeirão Pires. Tudo rapidinho durante os finais de semana (ainda mais pela Av. do Estado)! Vc falou em coincidência lá eu acabo falando em coincidência aqui...(rs) Poxa, pena mesmo que não estaremos em SP nesse final de semana, mas não faltará oportunidade para irmos prestigiar vc em uma outra noite de autógrafos! Sucesso ;)
Ainda falando em coincidência, semana passada, descobri que no Rio "adedanha" é o nome da brincadeira que em SP chamamos de "Stop". É assim, quem acaba primeiro a lista de palavras (CEP, frutas, nomes, carro, etc), grita STOP e todos param. Olha, o que esse jogo já me salvou no carro (mesmo sem papel e caneta) durante viagens daquela famosa frase: tamos chegando? Falta muito? Affff...rs. Melhor brincadeira para se fazer dentro do carro em viagens longas :p
Realmente, Campos de Jordão & Paella foi uma ótima pedida para aquele final de semana :p Não deixem de ir, o tempo lá ainda está ótimo para uma boa noite fria regada a vinho e bom papo!
Beijos e ótimo final de semana ;)

Lila Rose disse...

Faz um vídeo para a gente ver depois, queridão!!!!

Bisous e sucesso no lançamento do seu livro e na palestra.

Anônimo disse...

Taí, Marco, DNA em "Dom Casmurro", já! Só assim saberemos a resposta para o mistério. Boa sorte na palestra. Infelizmente, não poderei estar presente. Abração.

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Nossa, Machado e suas machadadas... estas curiosidades poderiam passar despercebidas. Ainda bem que tem gente perspicaz como você para divulgá-las. Aqui na estância esta nossa brincadeira de adedanha se chama agora stop. Eu até utilizo em sala de aula, quando sobra tempo antes do sinal, mas com itens da matéria que leciono, assim brincamos e não perdemos o foco.
Vejo que sua palestra vai ser bem legal. Se gravar, mostre para a gente. Desejo muito sucesso para você, na palestra e no lançamento do livro.
Um beijo.

benechaves disse...

Marco: sucesso no lançamento de seu livro e tb boa sorte na palestra sobre o grande Machado de Assis.
Sobre a postagem anterior, uma bela homenagem àquele que nos deu vida. Tb já perdi o meu Painhô, mas ficou-me seus ensinamentos de valores inestimáveis para uma existência melhor.

Um abraço...

Anônimo disse...

Marco,

enorme sucesso no lançamento do seu livro e na palestra sobre o "bom partido" d'antanho, que ganhou o coração da "jovenzinha" Carolina.
Pena que não tenha vindo à FLIP que, neste ano, homenageou justamente o criador do triângulo amoroso: Bentinho, Capitú, Escobar. E acho que tá mais que na hora de alguém dar uma de Ratinho nessa história e descobrir logo um dos maiores mistérios da literatura brasileira.

Enorme abraço e sucesso!

Janaina disse...

Ah nãooooo!! Vem fazer uma palestra mais perto daqui!!! Eu moro em Goiânia, você sabe... e se fosse até em Brasília eu iria lhe conhecer.
Amo o Bruxo do Cosme Velho. Tinha todas as obras, mas perderam-se. Agora estou tentando refazê-la, mas com tantos lançamentos em homenagem a ele está me saindo um pouco caro... Hohohohoh.

Márcia disse...

E a palestra vai ser um SUCESSO!! Todos vão pedir BIS!!
Machado por Marco, dupla dinâmica MM.

Adedanha, brinquei, meus filhos brincaram e meus netos brincam...delícia.

Amigopratodavida, sorte nas palestras e parabéns por tudo.

lindos dias
beijos

dade amorim disse...

Marco, de acordo com tudo que você disse/escreveu e contente com a palinha sobre a palestra da Bienal.

Agora, programa do Ratinho, é grave. Não cometa essa imprudência, por favor =o-

Beijo e sucesso!

isabella saes disse...

Querido, sucesso no lançamento em Sampa!!! Grande bejo e parabéns, Bella.

Anônimo disse...

Tomara que tenha sido um sucesso.Com certeza foi, por sua capacidade inquestionável.

Lulu on the sky disse...

Marco,
Passei para avisar que estou de volta.
Big Beijos

Anônimo disse...

Pela pequena amostra, a palestra vai ser um sucesso!
Se fosse em algum lugar maisperto daqui, como Denver (só quatro horas de carro) eu iria com certeza.
Sucesso, amigão!

Anônimo disse...

Admiro-te pela cultura que tens!
Adoro ler-te! Fico perdida entre os teus escritos,com um sorriso de admiração!
Espectacular!

*.*

p.s.- e espero pela explicação da expressão "tirar a moça do Caritó". lol

Anônimo disse...

Adoro ler seus post! Bjs

Julio Cesar Corrêa disse...

Não sei como ainda não fizeram um filme sobre a vida do Bruxo. Ou será que já fizeram e eu é que estou por fora? De qualquer forma, se fizeram, não deve ter tido repercursão, pois eu teria sido o primeiro da fila para assisti-lo.
O post está d+ e a trilha sonora está supimpa, como se diria na época do Machadão.
Sucesso pra ti
abração

Anônimo disse...

É isso aí, meu amigo. Muito sucesso para você, este o meu sincero desejo. Fiquei fascinado só por este aperitivo, porém, não leva a mal, mas dependo de transporte público e, para mim, a distância seria mesmo grande sem falar no tempo do percurso entre Barueri e Mauá. Fica pra próxima.

Forte Abraço,

Mário.

Tina disse...

Oi Marco!

Com certeza, sucesso garantido. EU não poderei ir, uma pena. Vou para o Rio na 6 feira, compromisso de família.

Boa sorte e depois conte-nos como foi, combinado?

beijo grande,

Mimi disse...

Oi Ternurinha!

Acho que Marcela foi inspirada na moça do meu-beijo-é-uma-jóia!

Ah, meu caro Marco, que prazer imenso me causa ler o blog teu, com um assunto que amo de paixão que é Machado de Assis.

Não vou perder por nada essa sua palestra, pode ter certeza. Quer saber? Um primo meu mora a quadras do teatro, como sei chegar nele, saberei chegar até vc.
Guarda o meu livro, vou resgatá-lo de tuas mãos que escrevem delícias de se degustar assim.

E tens razão. Mauá não é tão longe, é bem perto para os que te querem ver e abraçar.

Te espero mui ansiosa.

beijos e mais beijos e carinhos da amiga-leitora-fã-admiradoradepalavras.

Hélio Sales Jr. disse...

Machado é uma fonte inesgotável de fatos pitorescos e análises controversas... apesar de não te conhecer, a palestra parece interessantíssima e me fez ter vontade de estar lá, de verdade... quanto ao lançamento do livro, muita sorte, agora e sempre!

Saramar disse...

Meu querido, certamente o lançamento foi um sucesso.
Estou muito triste por não ter sabido antes deste novo livro. Mas, em compensação, estou muito feliz por você, pelo seu talento e a beleza das suas "antigas ternuras".

beijos

Anônimo disse...

Puxa, eu adoraria estar lá, tanto para ve-lo quanto para ouvir sobre o Machado de Assis e suas obras.
bjs