terça-feira, agosto 28, 2007

Pausa para o cafezinho


A sala onde eu trabalho fica perto da copa. Logo pela manhã, o corredor fica tomado pelo cheiro de café fresco, que sai do coador de pano em busca de todas as narinas que puder encontrar pela frente. E nesse caminho, encontra as minhas cavidades nasais...
Podem falar: tem coisa mais gostosa que cheiro de café fresquinho, passado logo pela manhã?
O mais curioso nisso tudo é que eu quase nunca tomo café. O meu desjejum matinal é feito com sucos e chás, nunca com café. Não me agrada o gosto. Só o cheiro. Vai entender uma coisa dessas...
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Eventualmente, se vou na casa de alguém e me trazem uma xícara, não cometo a indelicadeza de recusar. Mas não o tomo com prazer. A não ser na roça, quando passam o café em coador de pano e adoçam com rapadura. Aí eu beberico uma “xicrinha” com muito gosto. Também toparia tomar uma xícara, num daqueles Cafés de Paris, olhando a Torre Eiffel e ouvindo Edith Piaf...
De qualquer forma, o cheiro de café passado de fresco me traz à lembrança coisas que li sobre a história do café. Se vocês não se incomodam, peguem uma xícara, tomem assento e vamos embarcar em mais uma viagem da séria série: “A História tem cada história...”
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A planta bonita, que dá flores e frutos vistosos, tem o nome oficial de coffea arabica, e foi dado pelo sueco Carl Linné (tem livros que aportuguesam o nome dele para ‘Carlos Lineu’). A primeira parte do nome da planta vem de uma região da Abissínia (norte da atual Etiópia, na África), de nome Kaffa, onde este vegetal surgiu em tempos imemoriais. Curiosamente, os habitantes do lugar não acharam a menor graça naquele arbusto de frutos vermelhos. Mas comerciantes árabes que ali estiveram, levaram mudas e os frutos para a península arábica e lá o consumo se disseminou. O que explica a segunda parte do nome oficial do cafeeiro. Conta-se que até Maomé era chegado num cafezinho...
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Há uma lenda sobre um pastor chamado Kaldi. Ele observou que as cabras que pastoreava ficavam assanhadinhas (no bom sentido...) sempre que comiam as folhas e os frutos do cafeeiro. Tomado pela curiosidade, ele próprio experimentou as frutinhas vermelhas e se sentiu mais vivaz e disposto. Na região tinha um monge que, ao saber da descoberta de Kaldi, mandou pegar algumas frutinhas e fez com elas uma beberragem que passou a usar para resistir ao sono, nas orações noturnas.
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Lenda ou não, o certo é que o hábito de tomar a infusão se espalhou mais que pereba em menino. No Século 16 a beberragem era o grande sucesso em boa parte do Oriente, com as frutinhas tendo sido torradas na Pérsia, estabelecendo o hábito de vez. No Século 17, ingleses e holandeses viram no produto uma boa oportunidade de grandes lucros. E tinha que ser eles mesmos, povos não católicos, logo, não regidos pelo Vaticano que proibira aquela bebida de islâmicos. Entretanto, quando o papa Clemente VIII provou uma xicrinha gostou tanto que liberou geral.
No começo do Século 18, a Cia. das Índias Ocidentais, empresa de Holanda, levou mudas do café para o Suriname (Guiana Holandesa). Mas não foi lá que o produto deu lucro aos flamencos. Nas possessões do Pacífico, especialmente em Java, o café pegou que foi uma coisa! E dali se espalhou pela região.
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café 10
E no Brasil? Como começou esta história?
Começou via França, que introduziu o café na Martinica e dali para suas outras colônias. Incluindo a Guiana Francesa...
Até o princípio do Século 18, não havia nenhuma muda de café no Brasil. Os países produtores – França e Holanda – faziam o maior jogo duro com mudas e sementes. Era terminantemente proibido contrabandear café, visto ser uma grande fonte de divisas e eles não queriam perder o monopólio do comércio.
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Em 1727, o governador do Maranhão, João da Maia da Gama, incumbiu o sargento-mór Francisco de Melo Palheta (o rapaz aí do lado) de ir até Caiena para duas coisas: resolver questões de fronteira e conseguir sementes de cafeeiro, contrabandeando-as para o Brasil. Chegando lá, Chico Palheta se fez amigo de Madame d’Orvilliers, esposa do governador da Guiana Francesa. O sargento era um sedutor incorrigível. Um dia foi visitá-la, ela lhe serviu uma xícara de café, ele molhou o biscoito, pronto!, Madame gamou. O cara devia ser muito bom de cama, pois a mulher do governador, tomada de paixão pela palheta do Chico, deu-lhe sementes de café, depois dele ter provado o capuccino dela. Como se vê, tem sacanagem no meio de tudo o que envolve o Brasil. Essa, pelo menos, foi no bom sentido. No sentido de fora para dentro...
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O café foi plantado no Pará e depois no Nordeste, onde o solo não era exatamente propício. Mas quando foi cultivado no Sudeste, especialmente no interior do Estado do Rio, de São Paulo e sul de Minas, ah, o bicho se entendeu com aquele chão e virou o maior produto brasileiro de exportação até hoje.
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Palheta e d’Orvilliers viraram marcas de café. A partir de agora, quando você tomar uma xícara de café, não deixe de pensar que este seu prazer começou na saliência dos dois. E se o cafezinho estiver mesmo muito bom, faça como Madame d’Orvilliers e diga bem alto:
“Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!...Ahhhhhhhhhh.... Huuuuummm...Que coisa boa!!!!!!!”
Santa palheta do Palheta...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Edith Piaf, cantando “Sous le ciel de Paris”. U-lá-lá!

36 comentários:

Anônimo disse...

Amo café com rapadura.... amo Eith Piaf... ai, vc juntou tudo que eu gosto hoje.. só faltou o pão di queijo.. rsrs

Beijokas Marco

Renata Livramento disse...

Realmente o cheiro de café passado na hora é uma delícia, e eu tb prefiro o cheiro ao gosto..rs..Mas aqui no Brasil tomar um cafezinho é um ritual, e do ritual eu gosto! Mas concordo com a Erika, faltou o pão de queijo..rs.rs.r.s.rs...

bjos

Anônimo disse...

Fiquei quatro anos sem tomar essa preciosidade, o cheirinho me levava aos céus, mas o medo de sentir vontade de fumar me fazia recuar, mês passado bebi uma caneca [sim, eu bebo café em caneca, nada de xícara, nem as margens do Sena, viu amigopratodavida?]
Agora sei que o vício do cigarro não me pega mais mas o cafezinho, hummmm, esse veio pra ficar.
Lembra do Palheta na Saens Peña? Coisa boa né?
arada obrigatória pro café e pra taça de sorvete Copacabana,antigas ternuras.
carinho procê
beijos

Anônimo disse...

Olá! bom dia. Te achei no site da Samara Angel. Gostei daqui. Vou ficar um tempo lendo você. Este cafezinho, hummmmmmmmm. Boa Quarta-feira. Beijo

Anônimo disse...

Caro Marco,
Ainda no meu tempo de estudante, eu aprendi que a origem do nome café provinha do fato de as respectivas sementes terem sido encontradas na cidade de Kaffa. Que nem você, também não sou chegado a café, apesar de ser fumante (moderado). Normalmente, só tomo um pouquinho de manhazinha, para depois acender um cigarro. E apesar também de a família Sobreira ser chegada a um café que não te conto. Mas concordo que o cheiro do café, logo que feito, é bem atraente para as narinas. Um abraço e um grande dia pra você, que, espero, culmine com mais uuma vitória do Fla. P.S. - Sobre as músicas, você não acharia necessário informar também os nomes do compositor e do letrista?

Anônimo disse...

Rssss,adorei o "ter provado o capuccino dela",hehehe
Realmente é muito gostoso o cheiro do café logo cedinho. E mesmo durante o dia.
Sempre tomei-o com leite,pela manhã,mas,ultimamente,não tem me feito muito bem e resolvi substitui-lo por chá. O estomago tem agradecido,hehehe

Abração,MARCO!!

Lara disse...

Nossa como eu AMO o cheirinho do café! Mas diferentemente de vc também amo um cafézinho, de preferência um carioca, não o expresso (acho que fica amargo demais!).
Hoje vocês podem fazer o favor de empatar com o Botafogo? Obrigada sim! hahaha
beijos

Anônimo disse...

Nunca provei café com rapadura! Ai, morro de vontade de ir a uma fazenda, ver tudo de perto, conhecer esse Brasil lindo! Mas, até agora só deu para ir até Porto Seguro, que adorei de coração. Porém, quero mais!!!

E, adoro um bom café depois do almoço! Delícia!

Beijos! *.*

Moacy Cirne disse...

O cheiro do café, quando bom, também me parece melhor do que o seu sabor. Também não tenho café em casa; apenas chá. E quando o tomo, na casa dos amigos, em geral bebo-o sem qualquer tipo de açúcar. Mas gosto deum capuccino na medida certa. De resto, o seu texto vale mais do que qualquer café... Abraços.

Anônimo disse...

Hummmm...
Cheirinho de café... é muito bom, mas uma "xicrinha" de café é melhor ainda...
Parabéns pelo post...
Abraço da Déia

Karina disse...

Esse cheiro é mesmo uma delícia. Desperta doces lembranças da caneca quentinha na beira do fogão de lenha e do coador de pano da casa da vó.
Gostei muito do seu blog, cheguei aqui pelo "Oncotô?"
Bj!

Claudinha ੴ disse...

Oi Marco!
Adorei o post! Eu fui conhecer um pé de café aos 18 anos, aqui no sul de Minas. Nunca comprei café, sempre peguei da fazenda, torradinho. Meus filhos cresceram brincando com os grãos de café que secavam nos terreiros, o mais velho se dizia o Rei do café... Legal saber a origem, eu sabia do pastor e suas cabras, mas não sabia das entrelinhas de palhetas e capuccinos...
* Eu adoro café, novo, gelado (muiiiito gelado), com sorvete e chantilly então... Meu preferido é o café Vienense que tomo sempre que vou a um shopping.
Beijo!

Anônimo disse...

oieeeee meu querido Marco,nossa nunca soube de onde veio o café que linda historia pra quem gosta de café,hummmmmm,to tomando aqui uma bela xícara que deliciaaaaaa,eu adorooooooooooo café de manhã então ,esse cheirinho que vem pelo ar é a coisa mais deliciosa que existe,nao me conformo alguem me falar que nao gosta de café ,riss,sério pq posso ficar sem comida ,mas sem cafézinho nuncaaaaa,meu bem adorei saber de onde começou o no sso cafezinho vc é um livro de informaçoes que amo muito,brigaduuuuuuuuuuuuu pelo carinho de seu comentario ,mas infelizmente estava fore do aro codigo fonte ,se nao for pedir demais gostaria que deixasse novamente registrado sua presença na minha salinha linda,e vc viu que musica linda eu ameiiii,brigaduuuuuuuuu,te adoro,bjssssss

o link está aqui amore mio

http://halmaguerreira.50webs.com/samara.htm

Lila Rose disse...

Marco, adorei saber mais sobre esta saborosa bebida. Eu que sou uma viciada no produto desconhecia suas origens.

Preferes o cheiro ao sabor??? Eu devo tomar pelo menos umas 7 xícaras grandes por dia...rsrsss

Nada que um bom clareamento dental não resolva.

Bisous!

Anônimo disse...

Nossa, que história legal! Mais uma vez, o Marco nos envolve com um pouco mais de cultura!

Não gosto de café puro. Gosto de café com leite ou um bom cappuccino (porque quebram aquele gostinho amargo do café puro). Mas sou mais um Toddy com leite... hehehe...

Kisses

PS: que bom que o Harry não morre!!

Anônimo disse...

uma beijoca pra vc. com cheiro de café

Anônimo disse...

Oi Marco!

Eu tambem gosto so do cheiro do café. Tomei muito quando era criança mas me fazia muito mal, hoje não tomo mais.Um tempo eu vendia perfumes e carregava na bolsa grãos de café torrados para cheirar entre um perfume e outro. Ate hoje adoro aquele cheirinho. E do café passadinho na hora tambem!
Interessante as histórias.

Um abraço

Chellot disse...

Desde pequena que adoro café. Criada dentro de um bar onde o café não podia faltar fui me viciando até meu estômago chiar. Fiquei cinco anos só me satisfazendo com o cheiro, sem poder dar uma bicadinha sequer. Hoje tomo dois copinhos por dia e estou feliz. O que mais amo no café é o pó. A fruta não é lá tão boa, mas dá pro gasto. Meu tio tem uma pequena plantação em Minas e lá o café é realmente maravilhoso.

Beijos de rosas.

Anônimo disse...

olha eu, sua amiga secreta que escreve seu nome errado, de volta! kkkkkkkkk.. Tudo bom, MarcO? rs..
Menino, pense que eu não sinto o cheiro, mas toda vez q sentir o gosto do cefé 9tomo litros diariamente..rs), vou lembrar-me do Chiquinho..rs olha eu amiga do defunto..rs.
Beijo, MarcOOO..rs

BABI SOLER disse...

Incrivel a coincidência desse seu post porque hoje passei o dia inteiro tomando café e, na realidade, não gosto muito.
Precisava adiantar as coisas aqui no trabalho e dá-lhe café,rs.

Tina disse...

Oi Marco!

Uma delícia esse seu post, com café naturalmente. Você tem razão: o cheiro é infinitamente melhor que o produto em si. rs Adorei a aula.

beijos querido,

Jéssica disse...

Tenho pelo menos 2 vícios, um deles é o danado do café. Não sou do interior mas já tive oportunidde de tomar café em coador de pano e realmente é delicioso. Hj, é a tal da cafeteira, ou seja, café meia-boca...rs... Ah, mas quebra o galho...rs...

Adorei a música. Beijo*.*

Luma Rosa disse...

Marco, tenho café correndo nas veias!! Cresci vendo o pessoal trabalhando nos terreiros revirando os grãos de lá prá cá! Ah do grão antes de secar, pode fazer chá, mas não é bom, não para o meu gosto. Tomo café forte e sem açucar. No verão tomavámos gelado sem coar, apenas assentando o pó no fundo do bule.
A história do café Palheta, não sei da veracidade. Há um certo folclore.
Estava com saudades miguxo!! Feliz dia do blogueiro!! Beijus

Anônimo disse...

Marco, como sempre uma formidável descrição histórica. Agora, o café que você gosta eu nunca tomei não...rs...com rapadura....hehehe. E fala sério? Tem coisa mais perfumada que café recém passado? Li até que é considerado um dos aromas mais preferidos. Bom fim de semana.

Saramar disse...

Marco, em Paris, com Edith?
Assim não vale, porque cairia bem até absinto (risos).

Eu adorooooooo café, de todo jeito, desde que seja forte.
Nunca vi nada combinar tão bem o aroma e o sabor. E agora, com essa saliência que você contou, ficou ainda mais saboroso, tanto quanto histórias de Marco.

beijos

Anônimo disse...

Marco, , indiquei o seu blog no Blog Day 2007!!! Ehhhhhhhh!!! hehehehe...

Kisses

Moura ao Luar disse...

Eu adoro beber um bom café, mas as vezes apanha-se com cada coisa

Lulu on the sky disse...

Adoro cheiro de café é quase humanamente impossivel não querer tomar café.


Vim conhecer seu blog por intermedio da minha amiga Fernanda Ruiz q indicou hj no Blog Day!
Feliz dia do blogueiro.
Big Beijos

benechaves disse...

Oi, amigo: excelentes, como sempre, os seus dois textos. O anterior, o das 'coxas', tá genial. Acho que o Marta Suplicy deve entender muito sobre o que foi feito nas coxas ou não. Afinal, relaxar e gozar é com ela mesma. Seria somente nas 'coxas'?(rs). Enfim, acho que essa turma dos '40 ladrões' deve ter sido feita, literalmente, nas coxas.
Sobre o café, não sabia de sua origem. E que danadinho esse Chico, hein? Tomar café e ainda comer a dona não é coisa pra qualquer um. (rs)
Feliz regresso!

Um abração...

Anônimo disse...

Mais uma preciosidade, meu caro Marco. A riqueza de informações aliada ao texto enxuto e -sua marca registrada, o bom humor.
Forte abraço.

Anônimo disse...

Que loucura! O "wbuxlcrn" (as tais letras anti-spam) acabou saindo em lugar de meu nome.
Desculpe!

Anônimo disse...

Oi,MARCO,tudo bem?

Passando pra agradecer e avisar que vc é o PAPIRO AMIGO de hj poe la.

Abração e um otimo fds a vc.

Dilberto L. Rosa disse...

Rá, rá, rá! Quer dizer que o café e a sacanagem brasileira começaram por aqui? pelo Maranhão?! Eu bem que desconfiava! Salve, Primo: só uma zanga: voltas e não dás o ar da graça nos teus co-irmãos em antigas ternuras, os Morcegos?! 'Tás devendo!!! Quanto ao café, excelente viagem e acertas mesmo quando fala do café com rapadura do interior: é mesmo ótimo! Forte abraço, Marcão!

Anônimo disse...

Uau! Adoro café! Quanto mais forte, mais preto e mais quente, melhor! E quanta história é capaz de produzir um café, não?

Desapareci esses dias porque dei uma pausa para um cafezinho e outras delícias! Voltei revigorada, mas muito preguiçosa.

Um beijo e ótima semana.

SACANITAS disse...

eu adoro cafe! mas evito pq mancha os dentes... :)

beijooo

Karina disse...

Hum, saudade de uma caneca de café aos pés do fogão de lenha nas manhãs frias da terrinha.
Bj!