terça-feira, abril 17, 2007

Um caguëte de outro mundo


Alguém aí já foi cagüetado por um espírito? Eu já. E, olha, deu uma merda federal!
Querem saber como foi? Então deixem eu fazer o que mais faço aqui neste blog: apertar a tecla REWIND e voltar a fita no tempo, até meus 12, 13 anos, quando estava no segundo ano ginasial.
*
Um dia, cheguei na sala de aula, sentei no meu lugar e estava aguardando a aula começar. Nisso... ploct!... Um pedaço de giz bateu bem na minha cabeça. Levanto os olhos e vejo o Luiz Carlos “Neguinho” (naquela época não havia politicamente correto, chamávamos nossos colegas com excesso de melanina na pele de “neguinho” e ninguém se sentia ofendido). Ele estava rindo feito um pterodátilo.
- Ah, féla da p...

Ato contínuo, peguei o mesmo pedaço de giz e mandei nos cornos dele. Foi a senha para iniciar uma troca de tiros de giz entre nós. Corri para o final da fila de carteiras, ele se entrincheirou no início da fila e voou toco de giz para tudo que é lado. Parecíamos dois pistoleiros de filme de bangue-bangue, trocando tiros de giz.
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No que eu estou abaixado, olho no canto da sala uma lata de lixo e dentro, uma pêra semi-comida, semi-apodrecida... Uma idéia me passou pela cabeça. Lembro que fiquei avaliando se devia ou não pô-la em prática.
Sabem quando aparece nos desenhos animados um diabinho e um anjinho e ficam falando um de cada lado do ouvido? Pois é. O Marco Anjinho falava assim: “não faça isso. Pode te trazer problemas.”

O Marco Capetinha sussurrava: “que mané problema! Manda essa pêra nos cornos desse cara para ele aprender a não te provocar!”
Gente, eu tentei resistir, mas o argumento do diabinho era mais forte!
Peguei a pêra meio podre no fundo da lata de lixo, esperei o Neguinho levantar e arremessei com toda a força na direção dele.
Ele se abaixou.
Exatamente na hora em que a Neusa, a menina mais sebosa, mais antipática da sala ia passando.
*
A pêra explodiu na cara dela. Na mesma hora, a pentelha girou nos calcanhares, saindo da sala. Eu sabia exatamente o que ela iria fazer.
Voltei pro meu lugar, sentei e aguardei a punição. Não demorou três minutos, apareceu o coordenador, prof. José Carlos, na porta da sala:
- Marco, arrume o seu material e venha para a coordenação.
E lá fui eu, com passos pesados, com a sensação de que estava condenado à câmara de gás, à forca, à cadeira elétrica e à cruz. Tudo ao mesmo tempo.
*
Chegando lá, ouvi uma bronca daquela de fazer derreter o granito do piso. Ele pegou a minha ficha. Acontece que eu não tinha uma ficha. Tinha um prontuário! Já tinha feito tanta merda naquele ano, que na última me alertaram: na próxima, expulsão. E a próxima tinha acontecido. Eu acabava de dar motivos para isso.
*
Nisso, chega à coordenação mais um aluno da minha sala, o meu amigo Roberto GBO (de Grande Bobo e Otário, olha só com quem eu andava!). Ele também tinha aprontado alguma e fora mandado para a punição do coordenador.
A situação dele não era tão grave como a minha. Mas a punição também seria da pesada. Como eu era considerado um bom aluno, embora fosse um capeta, resolveram me dar uma última chance. Mas... Sempre existe um “mas” nessas situações. Mas eu teria que trazer a minha mãe no colégio. Só entraria com ela.
*

Aí é que morava o perigo. Minha mãe era muito rígida. Se soubesse o que eu tinha feito iria me dar uma coça de fio de ferro (sim, moçada, houve época em que o fio do ferro elétrico era solto! Toda criança deveria fazer uma prece silenciosa em memória do santo homem que inventou o fio de ferro preso ao aparelho!). Não, minha mãe tinha que ficar fora dessa!
A punição do Roberto GBO foi a mesma: teria que trazer a responsável por ele, no caso, a avó que o criara. E parece que ela era mais braba que siri amarrado. Que nem minha mãe.
*
Saímos para a rua e ficamos zanzando até o meio-dia, fim das aulas. No dia seguinte, entramos na sala quietinhos, nos sentamos no final das carteiras sem dar um pio, na esperança de que esquecessem da gente.
Não esqueceram.
- Marco e Roberto. Cadê os responsáveis por vocês?
- Ah... Sabe o que é, professor... Minha mãe trabalha. Não pode vir.
- Então vocês ficam suspensos até as mães de vocês terem tempo para vir aqui conversar conosco.
*

Raios. Raios duplos. Raios triplos.
Saímos os dois de sala. Eu ainda dei uma olhada na direção daquela desgraçada da Neusa. Ela, com a cara de vômito engarrafado habitual, nem te ligo...
Na rua, eu e Roberto GBO decidíamos o que fazer. Olha só a sugestão do mequetrefe:
- Vamos andar de trem?
- Pô, Roberto, eu não tenho um tostão.
- Ah, a gente pula o muro da linha do trem, vai andando até a estação de Vigário Geral. De lá, nós entramos no trem sem pagar. (veja na foto a estação e o trem de madeira puxado por locomotiva que a gente pegava)
E este débil-mental aqui topou.
*
Fomos andando pelos trilhos, passamos pela ponte sobre o Rio Meriti (putz! Que mêda! Um passo em falso ali e ficaríamos gravemente mortos pro resto da vida!), pegamos o trem. Aí, o GBO, deu mais uma idéia de jerico:
- Vamos saltar em Ramos e ir pra praia?
- Pô, cara. Estamos com uniforme do colégio!
- E daí? Ninguém vai saber!
Mais uma vez eu topei. E fomos para a praia de Ramos, antes do Piscinão. Aquilo era um cocozal da pior qualidade.

Chegamos lá, o Roberto quis nadar. Eu não topei. Ele foi.
Depois dele se refestelar nas águas, resolvemos voltar pra casa. No dia seguinte tentaríamos entrar no colégio novamente, na esperança do coordenador nos esquecer.
*
Não esqueceu, aquele filho de uma que ronca e fuça...
M.S.
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Esse post ficou muito grande, tive que dividi-lo. Publico aqui a primeira parte e no domingo eu posto a parte final. Aguardem. Vou, enfim, revelar como um espírito me delatou.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Eu sou terrível”, com Roberto Carlos.

27 comentários:

Unknown disse...

Olá Marco! E eu achando que eu é que aprontava... Você era um capeta! Coitada da sua mãe e da sua amada, elas devem sofrer com suas artes até hoje! Quem será o delator? Um espírito de porco? Meu BB acaba de ir dormir mais cedo de medo do meu Szafir, pois uma das vizinhas, Sra Kravitz, veio reclamar dizendo que o Abner dela viu meu anjo de candura pondo fogo no matinho aqui perto. Gostei demais da frase: "ficaríamos gravemente mortos pro resto da vida", hahaha,ótimo! Um beijo! Aguardo a continuação.

Saramar disse...

Ah! e eu mal aguentando chegar ao final para saber os resultado de tudo!
Você, hein??? COm esse ar de santinho... hummm
Mais uma deliciosa história de uma infância que deve ter sido pródiga em felicidades e.... diabruras.

beijos
P.S. Não ouse demorar com o restante da história (risos).
P.S.1 Obrigada por seus exageros.

Anônimo disse...

Agora vou esperar impacientemente a última parte da história. E o pior, é que só poderei ler na 2f. Ao fim-de-semana não há net para ninguém! loool

Adoro as tuas histórias!
*.*

Anônimo disse...

Quer dizer que o grande MARCO era um capetinha,heheheh
Mas pelo menos era bom aluno,né?
Acho que nunca fiz,em minha vida,coisas deste tipo.
Não bastase a enorme timidez,eu era um grande de um chatinho,heheheh
Ah,se o tempo voltasse...
Adorei,MARCO

Abração!

Luma Rosa disse...

Marco, eu era tão comportada! O inverso da minha irmã que só levava problemas pra casa. Acho que quis poupar a minha mãe. Eu tinha um colega de sala, assim como você, endiabrado, que não saia da minha cola. Ele me colocava em situações complicadas. Bons tempos, muitas lembranças, mas sem a capacidade que você tem de contar. Tô curiosa! Beijus

Vendetta disse...

de vez em nunca eu consigo aparecer por aqui...

beijinho, Ternurinha

(vou esperar a continuação...)

Renata Livramento disse...

ahhhhhhhhhhhhhh, eu super curiosa pra saber o final e vc só vai postar no domingo?!! crueldade!!!rs..rs..
bjo

Anônimo disse...

kkkkkk, quem não fez isso ou coisa parecida, um dia? De santinho não temos nada. Muito legal teu blog e teus escritos. Estou a fazer amigos por isso vim cá.Todos meus os amigos sabem, ausentei-me por um tempo considerável da net, mas voltei, Senti tanta saudade, tanta, que resolvi voltar e voltei . Aos pouco, é bem verdade, mas voltei, rsrs.

Se desejares, visita-me porque eu voltei e permito-me ler os teus comentários.
http://www.anne_voce,blogger.com.br

Bjus

Anne

Chellot disse...

Terrível é pouco para defini-lo. Mas pensa pelo lado positivo, você viveu sua infância ao máximo. Eu tive minhas traquinagens, mas perto das suas fui um anjinho. Aguardo a continuação. Confesso que só não gargalhei, pois estava em local de trabalho.

Beijos de luz.

Anônimo disse...

As tuas histórias são muito boas! Mesmo que não tivesse fim, sabe quando já aconteceu tanta coisa na história que nem precisava de mais (mas é lóoooogico que estou sériamente atacada por uma crise aguda de curiosidade hehehehehe).

Trecho em que chorei de rir: "putz! Que mêda! Um passo em falso ali e ficaríamos gravemente mortos pro resto da vida!" hahahahaha

beijos

Anônimo disse...

Meu caro Marco,
segundo ano ginasial! Que saudade, não tanto da palavra ginasial, mas do que ela representava quando esse país ainda era uma nação.
Agora, aqui pra nós, o Roberto de otário e bobo não tinha nada. Ou, então, que vivam os otários!
Texto gostoso, pra variar.
Aguardo a continuação no domingo.
Forte abraço.

Anônimo disse...

não achei a menor graça.....
.................
................
.............

em vc não ter postado o resto da história!

aguardo, então.

te beijo

Taís

Moura ao Luar disse...

Oh seus danadinhos, isso é que era hehe

Y. Y. disse...

queridooooooooo!! vc sabe contar uma história como ninguém... ainda preciso aprender isso de vc!! beijossssssssss!!

Vera F. disse...

Marco, perto de vc fui uma santa! Minha mãe nunca precisou ir ao colégio nem por comportamento nem por nota.
Andar de trem, andei muito na minha infância e adolescência, meu pai trabalhava na Rede ferroviária Federal. Boas lembranças...

Bjos.

Anônimo disse...

Pô Marco,

Que sacanagem...eu aqui toda toda, prestando atenção pra saber o final de história e tu diz que vai ter ainda segunda parte??? Logo comigo que sou uma curiosa de carteirinha...rs
Tudo bem, eu espero.
Beijos procê!

Anônimo disse...

Confesso que eu era uma capetinha também, viu? rsrsrs Ô tempo bom! Menino, eu nem me lembrava mais do fio do ferro hahaha! Um beijo!

Luma Rosa disse...

Bom fim de semana! Beijus

Saramar disse...

Querido amigo, se puder, passe no Janelas. Falei sobre você hoje.

beijos e bom final de semana.

Anônimo disse...

Marco queridoamigopratodavida,
caraca!!! tu não veio ao mundo a passeio não heim? aprontou esse moleque,rsss
Dei risada mas confesso que fiquei com peninha, aff!
Quero saber quem foi o fantasma delator e que final teve esse episódio, rsss
lindo findi querido
beijossssssssss

Anônimo disse...

O texto ficou ótimo, cara. E, no final, ficou um gostinho de seriado antigo: continua na próxima semana, ou seja, continua na próxima postagem. Maravilha! Um abraço.

Anônimo disse...

naNossa! Você era bem peralta! No meu tempo, a gente arremessava bolas de papel, pra nao machucar ninguém. Era divertido também.
Abraços.

Julio Cesar Corrêa disse...

Marco, também passei a minha infância no subúrbio, no Lins, e também fui um capeta na escola. Esse seu texto me trouxe um gostinho da infância.
gd ab e ot findi

Anônimo disse...

Antigas ternuras, bem escolhido este título para o que se propõe. Acho que é exatamente este o teu maior encanto: o de saber usar as palavras.
Continuo admirando este recordar, são imagens, que delas, jamais deves te afastar. Devemos ter um pacto com nossa história., não é mesmo? Voltarei, fica certo. Um beijo e obrigada pela partilha. Um bom domingo.

Lila Rose disse...

Marquito, tu era levadinho!!!! Tô rindo aqui e imaginando o final dessa história...precido registrar: adorei as fotos! Bisous!

benechaves disse...

Sempre a gente apronta algo quando pequeno, não? Eu tb já fiz das minhas. E naquele tempo parecia ser mais delicioso fazer alguma traquinice, hein? O lado proibitivo levava-nos a querer enfrentar situações adversas. Espero a continuação desta sua aventura...

Um abraço...

Anônimo disse...

Chorei de tanto rir! Me lembra as histórias de José Lins do Rêgo.Muito bom, visitarei sempre.
Abraço, Lena.