quarta-feira, agosto 23, 2006

O que eu tenho a dizer sobre a violência


Fui convidado para participar do post coletivo sobre o tema violência. Embora seja um assunto totalmente diverso dos objetivos deste modesto blog, mas atendendo à gentil solicitação da Luma, do Zeca e do DO, vou dar a minha pequena participação.
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Chegamos a um nível insuportável de violência cotidiana. Estamos no limite de ter medo de sair da casa e se o fazemos, passa pela nossa cabeça que tudo é possível de nos acontecer. Eu, que nos tempos das minhas antigas ternuras, ia para a casa do meu amiguirmão Luiz de bicicleta, saía de lá por volta da meia noite, carregando meu gravador e um punhado de fitas. Assoviando. E minha mãe nem ficava preocupada.
Hoje, tal coisa seria impensável. Nenhuma mãe, em nenhum lugar do território nacional, deixa de se preocupar com o filho adolescente fora de casa depois das oito.
Quando tinha reunião no clube de várzea em que eu jogava futebol, passava perto de uma boca de fumo. E se a gente se aproximasse muito, os próprios traficantes e maconheiros do pedaço nos tocavam de lá, dizendo: “Sai daqui! Isso não é lugar pra criança!” Hoje, o tráfico é basicamente composto por crianças. Que estão sempre a recrutar outros meninos, outros falcões.
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Eu gosto de lembrar de minha infância e adolescência. Quem me lê há algum tempo já percebeu que eu tenho muitas histórias felizes para contar. As crianças e adolescentes de hoje, que histórias terão para narrar daqui a 20, 30 anos? Quais serão suas antigas ternuras?
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Infelizmente, a violência não está somente na bala perdida, na arma do assaltante, na ameaça à nossa integridade física. Estamos tão cercados pela violência que nem nos apercebemos de suas múltiplas formas. Na impaciência do motorista em esperar o idoso embarcar no ônibus; na falta de tolerância com as pessoas; no lixo que se joga pela janela do carro, ou mesmo que o pedestre joga na rua; no completo desrespeito pelos outros da parte de quem atende e fala ao celular no cinema e no Teatro, da mesma forma os que conversam em voz alta durante o filme ou a peça; são muitas as violências cotidianas.
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O que fazer para reverter este estado de violência? É preciso uma ação de Estado? É necessária uma ação da sociedade?
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Modestamente, acho que, sim, é caso de ação política governamental, e sim, é urgente uma ação social de cidadania. É muito fácil culpar o governo, enquanto se inunda a cidade de lixo; é mais confortável detonar os políticos corruptos e depois descaradamente furar uma fila grande, ao encontrar um amigo.
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Mas não eximo os políticos de culpa. Nem quem os elege. Os erros e desvios são bem mais profundos do que supõe nossa vã filosofia.
Neste momento, as televisões estão divulgando a propaganda eleitoral gratuita. Vemos gente que roubou, se locupletou, corrompeu, se deixou corromper, tocou o maior festival de “farinha pouca, meu pirão primeiro”, de “salve-se quem puder”, de “quero levar vantagem em tudo”... com a maior cara de pau, daquela de necessitar de óleo de peroba como cosmético ou loção pós-barba. A história política recente nos dá, cada vez mais motivos para abominar a pérfida natureza humana. Nos tempos do FHC, vimos todas aquelas falcatruas, toda corrupção para se conseguir maioria no Congresso e aprovar leis como a da reeleição. Valeu tudo. Era briga de foice no escuro. O Serjão comandava a rede de caminhões de lixo político, comprando votos no varejo, e consciências no atacado.
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Aí chegou o tempo da “esperança”. Tempo em que tolamente acreditamos que podia existir uma outra forma de se governar, com clareza, com transparência, com honestidade. E aí assistimos ao mesmo desfile de lixo político que víamos antes, só que com pior competência para esconder, para escamotear. (E aí nem sei se foi bom para que pudéssemos conhecer a lama que corria solta e que nem sabíamos...)
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Ligo a TV e vejo alguns rostos que deveriam estar somente no noticiário policial. E eles prometem bondades, e eles mentem, e eles enganam, e eles, ou boa parte deles, conseguirão se reeleger.
Quando os vejo desfiando na telinha o seu rosário de promessas, só me ocorre uma expressão.
Se você quer saber que expressão é essa, clique abaixo. Mas, MUITO IMPORTANTE: Por favor, NÃO clique se você está no ambiente de trabalho; NÃO clique se tiver crianças por perto, NÃO clique se você não gosta de ouvir palavras mais fortes.
Mas se a sua indignação não tiver limites, clique aqui e cante comigo no próximo Horário Eleitoral Gratuito.
M.S.

19 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Não à violência desmedida e insanidade habitual que perdura neste nosso cotidiano de incertezas do mundo que corre em plena tristeza e desordem

ponto.

Claudinha ੴ disse...

Caro Marco,
assino em baixo, aplaudo de pé. Mesmo o assunto não tendo muito em comum com as antigas ternuras, você conseguiu nos fazer voltar a um tempo que, infelizmente, só serve de lembrança. Mas não poderia servir de modelo? Antes podíamos sentar nas portas de casa e conversar à noite. Ontem enquanto fazia minha caminhada diária, passamos pela casa de um ex aluno recém casado. Estavam todos lá fora com a polícia, foram assaltados durante o dia. Fica ao lado de minha casa, numa cidadezinha do interior...
Vivemos a era do medo, do terror.
Beijos de muita paz e muito sossego, que Deus nos proteja a todos!

Anônimo disse...

Mesmo que o assunto não tenha a ver com o blog, você nos deixa nostálgicos! Um beijo!

Anônimo disse...

amore. cantei muito a música. vc tá certissimo. eu n tenho palavras. sinto é muita dor. constante, a vida inteira. eu n sei mais o q dizer, falar, pensar.

Fugu disse...

Meu amigo querido. Estamos retroagindo no tempo, voltando a ser bichos. Bichos assustados, bichos agressivos, bichos enjaulados. Foi o medo que fez, em priscas eras, o homem aprender a se defender, a construir abrigos, a criar regras e normas. Milhões de anos mais tarde, ainda sonhamos com um mundo seguro. Talvez ele não exista. Infelizmente, estaremos todos devolvidos a nossa natureza de lobos. beijos pessimistas.

Anônimo disse...

Marco querido,
você foi certeiro no ponto crucial da violência.
Perfeito texto clamando urgência de atos que acabem com tanta dor e tanto medo.
Tenha uma noite de paz meu querido e um dia feliz
beijossssssssss

Anônimo disse...

Marco querido,
você foi certeiro no ponto crucial da violência.
Perfeito texto clamando urgência de atos que acabem com tanta dor e tanto medo.
Tenha uma noite de paz meu querido e um dia feliz
beijossssssssss

Anônimo disse...

Parabens a vc,MARCO. Foi no ponto.
Pode parecer óbvio,pode parecer facil...,mas a verdade é que ninguem se mexe. Muito menos o tal ESTADO de quem se espera o minimo...
Tristes tempos estes...
Abração!

Anônimo disse...

É Marcão... cada vez que sou citado não posso deixar de me expressar, (ou seria me "espremer"?) entre tantos comentários inteligentes! Saudades e boas lembranças são o que nos restam daqueles tempos de moleques-adolescentes. Faço minhas as palavras da Claudinha: "...Vivemos a era do medo, do terror.". Evidentemente não podemos e não devemos nos render, mas que a briga tá desleal, aah, isso tá!! Mesmo assim, ponha sua coragem em teste e venha visitar-nos este fds. Estaremos comemorando no sábado o niver da Marne que foi dia 21. Traga sua marmita, valeu? Abraço terno ao sempre eterno amiguirmão.

Anônimo disse...

Marco,

você foi direto ao ponto, sem fugir do estilo leve e descontraído do "Antigas Ternuras". Também tenho antigas lembranças de quando podia andar sòzinho pelas ruas, tarde da noite, sem causar preocupações em meus pais. Será impossível resgatar essa época? Hmmmmm... seinão! Acho que o melhor mesmo é cantar a musiquinha... mas nem por isso deixar de soltar nossos gritos de indignação.

Abração.

Anônimo disse...

Ola passando pra conhecer seu blog e podendo apreciar estes poemas tão lindos .Parabens de mto bom gosto. Convido a fazer a inscrição pra destaque no luaempoemas vou adorar ver vc por la..
Agora violência .. estamos voltando ao periodo Feudal, nos trancamos em castelos, condominios de muros altos enqto os bandidos estão por ai, concorda?
Bjs e um ótimo final de semana.

Anônimo disse...

Querido amigo, fiquei sem nada para comentar: você disse tudo com muita razão e propriedade. O tema não é dos meus prediletos, mas convivemos com ele no dia a dia e urge encontrar uma solução, para que os nossos filhos e netos possam viver num mundo melhor. Beijos.

Ana Carla disse...

A maior violência é que praticamos contra nós mesmos, contra nosso meio ambiente, contra nossos amigos... Nessas horas acho que falta a prática religiosa, meu AMigo!! Beijão!!

Lara disse...

É Marco, concordo com tudo o que foi dito. Agora é ver se conseguimos colocar em prática o que já cansou de ser ventilado por muitos.
beijos

Anônimo disse...

oieee meu querido amigo ,vc é magnifico para expor tudo o que está engasgado na nossa garganta,vc falou tudo nos minimos detalhes.te admiro cada dia mais,realmente o que nossos adolecentes irão contar daqui a 20 e 30 anos,da uma tristeza muito grande ver um país como o nosso completamente destruido sem moral ,sem educação e sem condiçoes de saúde e tantas coisas que a gente se perde de tanto que falta a todos ,mas vamos esquecer a tristeza ,que ja me deu vontade de chorar,outro dia na minha cidade mataram uma moça de 17 anos em magia negra isso está passando no jornal nacional ,é uma vergonha e outras coisas mais sem falar nos presos que saem no dia das maes e dos pais para roubar,matar e tudo mais e inocentes morrendo pelas ruas ,afff,deixa nem da pra falar acho que ja falei demais,meu querido ,parabens pela escrita ,deixo meu carinho e uma sexta feira cheinha de amor,paz eluz em sua vida,bjs

Roby disse...

Marco querido amigo..
Muito bem lembrado ao falar que a violência não está somente nas balas perdidas, e sim no lixo jogado pela janela do carro, o celular que toca no teatro ou sala da biblioteca..até mesmo num consultório...
Na impaciência no trânsito..etc..
Ah tenha dó né?!!
O mundo está neurótico...credo!

Excelente teu texto Markito..

Aquele super abraço..
e obrigada pelas boas vindas querido.
Tem mais fotos no Vale!

Anônimo disse...

É… Eu, que passei boa parte da infância no interior, tenho muitas lembranças de uma época em que se podia andar sossegado pela rua, deixar o portão aberto para que os amigos entrassem a qualquer momento, dormir na varanda em noites mais quentes… E não tem outro jeito de consertar, a não ser cada um fazer o que estiver ao seu alcance para tornar a vida de todos mais suportável. Mas ninguém quer abrir mão de seus pequenos confortos e o mundo que se dane, porque a coisa não é ruim só aqui, mesmo que saber disso não deixe a situação menos entristecedora.

Marco disse...

Grande Cristiano: É isso aí. Vamos negar todas as formas de violência. Façamos a nossa parte.

Minha doce Claudinha: Eu também gostaria que voltasse esse tempo em que via as pessoas conversando despreocupadamente na porta de casa, com as crianças brincando livres na rua, de ser possível ver namorados dando um amasso nas praças e jardins...
Você me conta que a violência quer era típica de cidade grande está chegando às cidades menores e isso me preocupa muito! Pensava eu em me mudar prum cantinho sossegado quando ficasse velho. Pelo visto, isso não vai existir nesse país.
Que coisa triste. Digo amém às suas preces. Que Deus tenha pena de nós...

Querida Lili: Pois é... Saudades do Brasil sem essa violência...

QueriDira: Estamos todos assim...Somos reféns, estamos acuados... Que coisa, não é?

Querida Fugu: Você está certa. Leio nos livros de História que na Idade Média, as pessoas estavam à mercê de salteadores. Só que naquela época não existia Estado, as pessoas não tinham direitos claramente estabelecidos. Hoje, boa parte de nosso suor é para pagar impostos e o que recebemos em troca?

Marcíssima querida: Obrigado por suas palavras. Que um dia possamos banir o medo e a violência que convivem conosco.

Grande DO: Pelo visto, não vamos conseguir muita coisa se esperarmos pelas ações de Estado. O que é errado. Pagamos impostos para ele nos proteger. Mas sempre reforço a necessidade da gente também fazer a nossa parte.

Ô Luiz, meu irmão: E como não relembrar aqueles tempos em que éramos felizes e nem nos apercebíamos? Lembra como Dona Aída, sua mãe, ficava preocupada quando eu saía da sua casa tarde? E eu dizia pra ela: Não se preocupe, D. Aída. Não tem perigo nenhum!” E não tinha mesmo. Se ela estivesse entre nós e viesse me previnir sobre andar pelas ruas tarde da noite, eu daria toda razão a ela. Quando eu vou na sua casa hoje, e saio de lá tarde, com meu carro, vou intranqüilo pelo caminho.
Sobre o aniversário da Marne e a comemoração, depois te ligo. Estou envolvido com ensaios, ando todo enrolado. A gente se fala. Grande abraço de amiguirmão procê também.

Grande Zeca: Eu queria mesmo resgatar aquela época de antes! Mas se você que mora em uma cidade de porte bem menor que o Rio acha difícil, imagina eu que vivo na selva, cercado por tiranossauros e velociraptors...
E ainda temos que aturar aqueles filhos de uma que ronca e fuça dizer que com eles no poder a vida vai melhorar... Só cantando a musiquinha mesmo...

Querida Nancy: Sim, retornamos à barbárie. Temos que nos cercar de grades, nos aprisionar enquanto os malfeitores andam soltos. Que vida, heim?...

Querida Giulia: Também não gosto de falar dessas coisas. Prefiro abordar temas mais amenos. Mas como falar de antigas ternuras em meio a modernas torturas? Tenho pena e preocupação com as gerações futuras...

Querida Ana Carla: Estamos imersos em violência e ela ultrapassou o campo meramente policial. Ficamos endurecidos, queremos sobreviver a qualquer custo, e aí muita gente sai passando por cima de regras mínimas de cidadania. O que torna tudo bem pior. A religião como fator de contenção social já não está mais funcionando. Até os traficantes se comprimentam usando a frase: “Fé em Deus!” Não sei qual é o deus deles, mas certamente não é o mesmo que eu conheço!

Querida Eduardinha: Se fizermos a nossa parte como cidadãos, já será uma grande ajuda, não acha?

Linda Samara: Fico imensamente agradecido pelo seu carinho. Você, que é de uma geração posterior à minha, vive tempos que eu sequer sonhei viver quando tinha a sua idade. E as gerações posteriores vão pegar um país pior ainda do que este em que vivemos. Oxalá as coisas se revertam. Embora eu não acredite muito nisso.

Cara Claire: Não tenho visto propagandas eleitorais, mesmo as mais críticas. A realidade não me anima muito a acreditar no que dizem.

Ah, querida Roby... Pelos relatos de minha irmã, nem vocês aí na Suiça estão livres da praga da violencia, não é? Mas acredite que aí está muitíssimo melhor que aqui. A neurose aqui é palpável, dá pra se pegar com a mão! Depois vou lá ver suas fotos de viagem.

Grande Makoto: Pois acredite que eu vivi tudo isso que você viveu no interior, em plena cidade grande! Você está certíssimo quando fala do egoísmo das pessoas que convivem a nossa volta. Virou terra de ninguém, mesmo. São tantas as pequenas violências cotidianas que acabam por aumentar as grandes violências cotidianas.

Valeu, moçada! Que dias melhores nos venham! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!

Luma Rosa disse...

A violência está em todo canto. O Governo tem sua parcela de culpa quando não dá oportunidades para um pai de família arrumar um emprego e consequentemente a criança, se depender desse pai, não terá uma formação correta.
A família é a base de tudo e ela está se desfacelando.
Não sei que futuro terá nossas crianças!! Beijus