domingo, janeiro 15, 2006

JK: Será que a minissérie vai contar isso? (1)


Kubitschek construiu Brasília, certo. Mas a idéia de levar a capital do Brasil para lá não foi dele. Desde o tempo dos inconfidentes já existia a idéia de mudança da capital do país para o interior central. Idéia esta apropriada pelos Andradas, especialmente por José Bonifácio. Em 1822, um deputado, regressando de Lisboa, publicou um projeto de constituição para o Brasil, encabeçando o artigo primeiro com o seguinte dispositivo:
“No centro do Império do Brasil, entre as nascentes dos rios confluentes do Paraguai e Amazonas, fundar-se-á a capital deste reino com a denominação Brasília ou outra qualquer”.
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Já no início da República se voltou a se falar no assunto. Tanto que ele fez parte da primeira constituição republicana, de 1891:
“Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada, para nela se estabelecer a futura Capital Federal.
Parágrafo Único: Efetuada a mudança da capital, o atual Distrito Federal passará a constituir um estado”.
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Em 1919, tramitava pelo Congresso um projeto de lei determinando a mudança da capital brasileira para o Planalto Central. Dizia o tal decreto, que foi posteriormente aprovado:
“O Congresso Nacional decreta:
Art. 1o – Dentro do prazo de dois meses a contar da promulgação da presente lei, o presidente da República mandará abrir concorrência, sem ônus para a União, para a construção da nova Capital Federal, conforme determina o Art. 3o da Constituição da República”.
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Este projeto voltaria ao texto constitucional de 1946 e se concretizaria, como se sabe, durante o governo Kubitschek.
E só se realizou porque um rapaz goiano chamado “Seu Toniquinho” (ele ainda está vivo), fez uma pergunta ao candidato JK durante um comício em Jataí, no estado de Goiás:
“Se for eleito o senhor pretende cumprir a constituição?”
“Mas, claro”, respondeu Juscelino.
“Então o senhor vai construir a nova capital do Brasil no Planalto Central, conforme está escrito lá?”
Kubitschek desconhecia esta determinação constitucional. Estava lá, mas ninguém levava a sério. Imagina se alguém iria tirar a capital do Brasil da Cidade Maravilhosa para levá-la para onde “o Judas coçou o calo” (ele perdeu as botas bem antes de onde está Brasília atualmente...)
JK se comprometeu com “Seu Toniquinho” e o resto já é História...
M.S.

17 comentários:

Anônimo disse...

Grande Marco:

Introduzimo-nos aqui já com a quase certeza de descobrir certas faces obscuras. (Vide a origem de termos populares e outros que-tais já postadas.)

Essa de "Seu Zezinho" foi fenomenal. Estava eu tão desinstruído quanto o JK...

Os cariocas ficaram sentidos com a transferência da capital do país àquele cerrado rarefeito da safadeza,valhacouto de rapinas.

Talvez tenha sido melhor mesmo à belíssima cidade universal do Redentor: e o Rio ficou mais explêndido ainda com ausência de tantos lêmures de gravata.

(Carlos Drummond,1960:

"Rio antigo,Rio eterno,
Rio-oceano,Rio amigo:
O Governo vai-se? Vá-se!
Tu ficarás,e eu contigo.")

Abraços.

Anônimo disse...

Meu nobreza:

Acaso Você não tivesse um estilo pessoal e intransferível eu seria teu assíduo?

Temas e modo de escrever anti-monotonia,vivaz,acessível sem ser frugal,é o que nos aprisiona na teia de tua ternura feiticeira.

Deixo uma tosca imagem geométrica para ti: és uma linha reta entre as curvas diluídas do tempo!

Muito obrigado pelo teu comentário da "bexiga-lixa" (pernambuquês para "excelente" - risos)lá no Mural.

Anônimo disse...

Errata: no meu primeiro comentário,leia-se esplêndida ao invés de "explêndida".

Com outro lapso desse,me deitaria a perder...

Perdão.

Anônimo disse...

Peraí Paulinho, Grande Patriota!!! Cuidado com os elogios! Temos rapinas demais, destaco o carcará: anda sumido, mas se procurar com calma e tiver um pouquinho de sorte, ainda encontra-se alguns exemplares. Das rapinas engravatadas restam 35. Três de alta plumagem, sendo um especialíssimo: de origem pernambucana, nosso melhor representante. Oito pertencem à classe dos 'picaretas', insignificantes no cenário nacional, nada de destaque. Vinte e dois são completamente desprezíveis: paroquiais, pequenos, eogístas. Não precisamos deles, absolutamente parasitas. Sobre Brasília: isso aí Marco, pesquisou direitinho, entretanto, cabe uma ressalva. Caso esteja errado, peço desculpas antecipadas: será que esse comício não foi em Jataí, interior de Goiás?

Anônimo disse...

Ops, vinte e dois não, são VINTE E QUATRO. Tão desprezíveis que erro na contagem.

Anônimo disse...

A construção de Brasília é a grande epopéia brasileira. Um épico dos cerrados: um misto de sonho, loucura e irresponsabilidade fiscal.

Infelizmente o sonho ficou pelo caminho: muito do que se queria negar, o velho Brasil, foi acentuado.

Marco disse...

Paulinho grande Patriota: Eu creio que o Rio perdeu muito deixabdo de ser a Capital Federal. Quanto ao Planalto Central ser valhacouto de rapinas, olha, eu ando tão desiludido da raça humana que acredito que o valhacouto esteja em muitos outros lugares...
Ronie: Rapaz, olha, você me deixou em dúvida. Não tenho dcerteza se o tal comício foi em minas ou em Jataí. Vou ver e depois te digo. Mas o resto é isso mesmo.
Todos estes dados das constituições e da origem da idéia da transferência da capital para o planalto e até o nome Brasília achei por acaso, quando fazia pesquisa para a minha dissertação de mestrado. Acabei botando essa história no próprio texto da dissertação.

Anônimo disse...

Ai Ai

Deve existir tantas e tantas "camuflagens", que acredito que 85,32 % da realidade ainda ficará.
Mas ainda assim. Vamos a JK...
rs
um beijo no coração

Anônimo disse...

Grande Marco:

Existem muitos refúgios de criaturas chãs,sim. Talvez em cada esquina. Porém,como diria Ibrahim Sued: olho vivo e pé no jato.

Abraço.

Ronie:

Severino Cavalcanti é pernambucano por acidente: aquilo é um miasma pervagante (finado,no entanto esquecido de ser enterrado em cova rasa,sem cruz nem aqui-jaz)uma monstruosidade que faz corar a mais vulgívaga das meretrizes. Figura "dickensiana",mas muito insalubre,tadinho.

Ao lembrar de Pernambuco,remore: Gilberto Freyre,Manuel Bandeira,Joaquim Cardozo,Capiba,Chacrinha,Nelson Rodrigues,João Cabral de Mello Neto,Vicente do Rego Monteiro,Cícero Dias,Francisco Brennand,Abelardo da Hora,Ascenso Ferreira,Carlos Penna Filho,Austregésilo de Athayde,Ladjane Bandeira,Ademilde Fonseca... (A lista é imensa.)

Abraço.

Anônimo disse...

O pernanbucano que cito é Cristovam Buarque: o melhor político brasiliense, dos poucos que ainda merecem atenção, principalmente por ter algo a dizer!

Marco disse...

Paulinho grande Patriota:"Pervagante?","Vulgívaga?" Pára a novela! Segundo o Aurélio: pervagante: aquele que anda, que vaga a esmo ou sem destino. Vulgívaga: meretriz.
Ah, bom. É o que dá termos amigos de vastíssimo vocabulário. Valeu, parceiro, como incentivo a consultar o "nosso pai", como diz uma colega minha.
Uma pequena retificação: Ademilde Fonseca é natural do Rio Grande do Norte. A História brasileira está coalhada de pernambucanos notáveis. Pulhas, os há em qualquer canto.
Caro amigo Ronie: você estava certo. O comício foi em Jataí. Já corrigi. Obrigado. Ando cometendo muitos enganos. Senilidade? Preguiça de apurar melhor as minhas matérias? Ambas as coisas?

Marco disse...

Claudinha: Acho que uma porcentagem maior do que isso está e ficará oculta de nós. E se começarem a abrir armários ocultos, o que vai sair de "esqueleto" não está no gibi. Um beijo, querida.

Anônimo disse...

Querido Marco,

Assisti a primeira semana da minisserie. Muito boa. Mas, criada baseada em fatos reais (nao necessariamente fatos exatamente ocorridos). Como sempre, a Santa Rede Globo escolhendo o que o povo deva ou nao saber.
Um grande abraço. Fica com Deus

Anônimo disse...

Ai, seu Toninho, porque não perguntou se ele ia acabar com os corruptos? Ia ser muito mais útil...beijos de mim

Marco disse...

Carlinha: A gente tem que levar em conta que é uma obra dramatúrgica e não um documentário. Particularmente eu gosto desta mistura de fatos reais com ficcionais. Acho até uma alternativa ao fato de que todas as estórias já foram contadas.
Madama Linda: Bem...Combate à corrupção não era exatamente o forte do nosso querido JK, não é?
Considerem-se beijadas!

Paulo Assumpção disse...

Marco, de fato, ao contrário do que muita gente pensa, o projeto para a construção de uma nova capital para o Brasil não foi invenção do JK. A própria Belo Horizonte foi projetada com este intuito. Só que a idéia não vingou. Não sei se o estalo para JK transformar a construção de Brasília em carro-chefe do seu governo surgiu mesmo com o episódio relatado. Nos meus tempos de aluno do Salesiano, ouvi professor dizendo que JK teria como inspiração uma "profecia" de D. Bosco. O criador dos Salesianos disse, no século XIX, que no coração da América do Sul surgiria uma cidade que voaria. Brasília ainda não decolou, mas tem a forma de um avião! Além disso, as coordenadas que deu para a tal cidade conferem exatamente com a localização de nossa atual Capital Federal. Não é à toa que a Catedral de Brasília é dedicada a D. Bosco. Excelente pesquisa a sua!

Marco disse...

Meu caro personal teacher: a idéia da construção de Brasília surgiu como contei. Ontem, domingo, o Estadão fez uma matéria de página inteira com o "Seu Toniquinho JK", que hoje ainda está vivo e forte com seus 81 anos. Guardei o jornal para te mostrar. De qualquer forma, o próprio JK conta esta história no seu livro "Como construí Brasília". Quanto à profecia de São João Bosco, ela é verdadeira. Tanto que a catedral de Brasília é dedicada a ele, como você bem lembrou. Mas a inspiração da Nova Cap veio mesmo do Toniquinho. JK tinha selecionado suas 30 metas de governo. Depois de Jataí, viraram 31, sendo Brasília a síntese de todas elas.