terça-feira, setembro 06, 2005

A Solução Final


Para os políticos, pobre é um negócio que incomoda. Eles só ficam pedindo coisas, só falam em desgraça, são feios e poluem o visual de quem está acostumado a ver coisas bonitas. Os políticos devem dar graças a Deus por só ter que se envolver com esta gente de quatro em quatro anos. No fundo, eles pensam como aquele personagem do Chico Anysio que dizia: “pobre tem é que morrer!”
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A gente tem visto as imagens da desgraceira toda causada pelo furacão Katrina, no sul dos Estados Unidos. E vemos a forma com que o governo federal norte-americano está tratando do assunto. Quando o desastre aconteceu, o George W. Bush estava de férias (acho tão engraçado um presidente tirar férias...), pescando em seu rancho texano. Fico imaginando que tão logo passou o furacão houve o seguinte diálogo entre o presidente Bush e um assessor:
ASSESSOR (se aproximando do Bush, na beira do lago onde ele está pescando) – Er...Sr. presidente...
BUSH (impaciente) – What a fucking hell...Que que é, heim?
ASS – Desculpe, senhor presidente, mas temos um probleminha...
BUSH – Oh shit...O que foi desta vez? Se for aquela maluca que está acampada aí na porta do rancho para falar comigo sobre a merda do filho dela que morreu no Iraque, esqueça! Eu não vou falar com ela!
ASS – Não, senhor presidente, é um pouquinho mais grave. O furacão Katrina arrasou com o Mississipi, o Alabama e a Louisiana. Falam em milhares de mortos, milhões de desabrigados.
BUSH – Ah isso... Algum contribuinte importante nosso morreu?
ASS – Não senhor. Basicamente, só negros pobres e miseráveis.
BUSH – Sei...Tá, tá, tá, depois eu vejo isso!
E só muito mais tarde e muito a contragosto ele foi se inteirar da situação.
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Provavelmente morreram mais pessoas em decorrência deste furacão do que no 11 de setembro de 2001 (Tem gente falando em mais de 10 mil mortes causadas direta ou indiretamente pelo Katrina). Mas é evidente que a ação do governo está sendo bem diferente. Em New York, morreram ricos e pobres, certamente com mais baixas entre os ricos. O inimigo era humano, atacou sem aviso, sem dar chance dos poderosos se protegerem. Além disso, daria uma bela chance de acionar a indústria bélica, grande contribuinte de Bush. Em New Orleans e outras cidades, o inimigo foi um acidente natural. Houve tempo para quem tinha carro, dinheiro e lugar para ficar poder sair com antecedência. Praticamente só ficou quem não tinha para onde ir.
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As imagens e notícias que chegam de lá são terríveis. Não bastasse a força dos ventos, a ação das águas que inundaram tudo, ainda teve (ou tem) outros problemas. A região é cercada de pântanos, cheios de cobras e crocodilos. Com a cheia, eles invadiram a cidade. Pessoas que estavam andando pela rua, com água pela cintura, ou que estavam boiando em algum pedaço de madeira foram atacadas por jacarezões enormes. Gente que estava em casa, tentando salvar seus pertences se deparavam com cobras que vinham pela porta da frente. Mas o pior inimigo não foram estes animais. Foi o próprio homem. Em meio àquele Inferno de Dante, saqueadores, estupradores, invadiam os domicílios e faziam estrago maior que qualquer crocodilo. E quando alguém corria para pedir ajuda era confundido com um saqueador pelo Exército e polícia sendo imediatamente abatido a tiros. Parecia cena de “A volta dos mortos-vivos”. Só que sem zumbis. Estão achando corpos de gente morta de tudo o que á jeito: crianças degoladas, velhos mortos a pauladas...
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O furacão deu o mote para uma nova “Solução Final”, sem câmaras de gás, sem fornos. Estão matando negros pobres de fome, de sede, por falta de atendimento, isolados em um cenário desolador. E quem ainda não morreu pelo cataclisma, talvez não escape do surto de pestes que vão assolar aquelas cidades. Cadáveres estão apodrecendo sob as águas em casas e ruas, ratos vão espalhar leptospirose para tudo o que é lado, os diques de contenção continuam rompidos. O custo para reconstruir as cidades afetadas vai igualar ao que foi gasto na guerra contra o Iraque. Só que uma guerra envolve muitos interesses econômicos altamente lucrativos. Reconstruir as casas de pretos pobres não rende tanto dinheiro assim...
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A novela “América” trata de pessoas do Brasil e do México que tentam o “sonho norte-americano”. Acham que lá vão viver melhor que em seus lugares de origem. Olha, depois de ver como o governo ianque trata seus próprios cidadãos, acho que quem está querendo “fazer a América” deveria pensar duas vezes.
M.S.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lembrei da musica dos Titãs:

"A morte não causa mais espanto
O Sol não causa mais espanto
A morte não causa mais espanto
O Sol não causa mais espanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Cores, raças, castas, crenças..."

Marco disse...

É, Leônio...Vivemos tempos difíceis. A natureza humana é algo de muito complicado.

Anônimo disse...

A casa tá caindo no Modos, dê uma passada por lá.

Anônimo disse...

É um acontecimento bastante triste..