terça-feira, junho 28, 2005

Batman - o começo

Quem me conhece mais amiúde sabe que sou um admirador do Batman. Desde 1997, quando comprei o meu primeiro computador, meu login de e-Mail é “batmarco” (já foi “batMengo” também, mas o outro prevaleceu), todos meus carros foram apelidados de “batmóvel”, inclusive o batPálio atual, que é preto ainda por cima... Enfim, aprecio o Morcegão, desde meus tempos de pirralho, quando devorava os gibis do herói criado por Bob Kane.
Na TV, assistia avidamente ao famoso seriado de TV com o Adam “Barriga” West (era comédia, é claro, mas com muitas inovações em termos de linguagem) e vi as reprises do seriado dos anos 40 (aliás, tenho todos os capítulos em VHS).
Quando Tim Burton fez os dois primeiros filmes da grife, nos anos 80, eu detestei. Muita pretensão e pouco conteúdo de Batman. Sem contar que botar o “beetlejuice” Michael Keaton fazendo o Cruzado Embuçado é um absurdo. Vieram os dois filmes seguintes, sob a (ir)responsabilidade do Joel Schumacher. E eu saí do cinema trincando os dentes de raiva, com um archote na mão, querendo a cabeça do Joel fincada em uma estaca! (Alô, moçada! É só uma metáfora, viu!). George Clooney com aquele risinho no canto da boca, fazendo o Batman? E aqueles uniformes com mamilos???? Blasfêmia das blasfêmias!
Na verdade, nunca consegui gostar de nenhum filme de super-herói. Sei que alguns foram “mais ou menos”, como os dois “X-Men” e o “Elektra”, mas foram mais para menos que para mais. Não gostei dos dois “Homem-Aranha” (o segundo é particularmente ruim), lamentei muito pelo “Hulk” e principalmente pelo “Demolidor” (meu segundo herói favorito. Coincidentemente, resgatado do limbo dos quadrinhos pelo mesmo autor: Frank Miller, o cara!).
Bem, todo este baita “nariz de cera” é para falar que assisti ao “Batman Begins”. Fui ver sem muita expectativa, de pé atrás, por conta das decepções anteriores.
O que tenho a dizer? O filme é bom. É muito bom, é excelente!!! Disparado, o melhor filme sobre herói dos quadrinhos feito até hoje. Só não dou nota DEZ por conta de umas derrapadas: a primeira, no nome que escolheram para passar o filme no Brasil. Quem não fala inglês, vai chamar o filme de “Batman Bejins”. Custava chamar de “Batman, o começo”? Ou “Batman Ano 1”, de onde ele claramente se inspira?
A outra derrapada, é pela cena de beijo “the end” que colocaram quase no final do filme. Desnecessário... Entendo que precisavam botar alguma água com açúcar para o público feminino não reclamar. Mas não era preciso. O filme se sustenta, sem beijinho de “Bruce, eu te amo”!
No mais, o filme é maravilhoso! Eu o assisti no Unibanco Arteplex, sala com sistema THX, para ter mais sensação. Deixei passar as primeiras duas semanas para assisti-lo sem adolescente conversando e sem gente chata atendendo a celular perto de mim. Queria vê-lo com toda a concentração possível. Não deu. Tinha uns pentelhos (gente adulta!) com a merda do celular ligado, acendendo luzinha e me desviando a atenção. Que vontade de soltar o Espantalho nelas!
Mas, vamos ao filme.
A história, como disse, foi obviamente inspirada no gibi “Batman, ano 1”, de Frank Miller, quando ele tentou organizar a zorra que fizeram com os quadrinhos do Morcego. Ele já tinha escrito antes a sua obra-prima, “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, na minha opinião a terceira melhor HQ de todos os tempos (sei que é discutível, mas é a minha opinião. Em outro texto aqui no blog eu explico melhor isso e digo quais são as outras duas melhores). Pois é. Estranhamente, não foi dado o crédito como argumentista original para o mestre Frank. Vá lá saber porquê.
Além do “Ano 1”, tem uns toques do “Cavaleiro das Trevas”, também. Quem conhece a obra reconhece facilmente.
A Gotham do filme tem um visual misto de “Metrópolis”, do Fritz Lang, com “Blade Runner”, do Ridley Scott (até a chuvinha no lado miserável da cidade...). O visual sombrio serve de pano de fundo para uma cidade onde os políticos são corruptos, os policiais, vendidos e incompetentes em sua maioria, os capitalistas são gananciosos e está infestada de traficantes de drogas. Como diria mestre Ancelmo Góes, deve ser horrível viver num lugar assim...
O ator que faz o Batman/Bruce, Christian Bale, está muito bem. Ele já tinha me surpreendido em “Psicopata Americano” e mais ainda em “O Operário”, quando ele emagreceu sei lá quantos quilos. Dava pra ver as costelinhas, a saboneteira. O bicho secou. Logo depois ele foi chamado para fazer o Morcego e aí teve de engordar e fazer musculação. O pâncreas dele deve ter ido para o beleléu, mas, tudo pela arte. Ele convence como Bruce e mais ainda como Batman. A alternativa de falar com voz rouca e ameaçadora está adequada e extremamente convincente.
Os demais atores estão muito bem. Morgan Freeman dá o seu show habitual; Rutger Hauer, sólido; Michael Caine me incomodou um pouco no início mas depois mandou bem; Liam Neeson faz uma composição bem interessante do R’as al Ghul, o que não é novidade, pois é ótimo ator, Gary Oldman faz um Gordon bem parecido com o do gibi “Ano 1”, a mocinha (Katie Holmes) que faz a promotora, está adequada: nem muito sem sal, nem bonita demais para roubar a cena. Chamo a atenção para o ator Cillian (pronuncia-se “Kilian”) Murphy, que fez o Dr. Crane/Espantalho. Antes de começar o filme, passou o trailer de um filme chamado “Red Eye” (do Wes Craven!! Valendo o trocadilho, ‘olho nele’ ainda neste ano!) e o cara estava nele (e bem). Ao que parece, é a aposta dos grandes estúdios como ator revelação.
Vale a pena ver a construção da bat-caverna e das bat-bugigangas. Pelo menos eu sempre tive curiosidade quanto a isso.
Meus aplausos calorosos para o diretor Christopher Bale (seria parente do Christian?)! Tiro o meu capuz orelhudo para você! Bob Kane está sorrindo no céu dos autores, te abençoando!
Uma das coisas que mais gostei no filme foi constatar algo que nunca me tinha apercebido. Batman tem um aspecto arquetípico que, além de explicar claramente a razão dele colocar o capuz e sair distribuindo porrada na malandragem, demonstra como ele influenciou outros heróis. Sua relação com os pais, tragicamente interrompida, serve de mote para transformá-lo em herói sombrio. E isto é interessante, pois, como disse, foi repetido em outros heróis criados posteriormente. Quem conhece, sabe que “Demolidor”, “Homem-Aranha”, “Justiceiro”, “Magneto”, “Elektra” entre outros, perderam pais ou entes familiares em condições trágicas, o que os levou a tornarem-se justiceiros vingadores. Meu saudoso professor de Mitologia Grega, Junito Brandão, me respondeu certa vez a uma pergunta dizendo: “Marco, em se tratando de heróis, os arquétipos são iguais em qualquer lugar do mundo”. Como se vê, ele estava certo.
Alguém poderia dizer que o “Super-Homem” também se enquadra neste caso, uma vez que ele perdeu os pais e foi criado anteriomente ao Batman (SH é de 1937, o Morcego é de 1939). Só que o modelo não cabe: o Super perdeu os pais em Kripton e ganhou outros na Terra, que não morreram em condições trágicas. Até onde eu sei, o Batman foi o primeiro criado no citado arquétipo.
O filme tem bons diálogos, com a dose certa de filosofia, psicologia e humor (isso, humor! A do “você não viu o memorando?” é simplesmente dez!). Poderia ter um pouco menos de explosões, sinal de mais uma concessão ao público habitual de filmes de ação. Entretanto, não chega a comprometer. Só são desnecessárias as destruições do templo de R’as al Ghul e da Mansão Wayne.
Aliás, uma das coisas que mais me irrita nos filmes de ação, e nos de super-herói em particular, é fazerem o vilão explodir em milhões de pedacinhos no final. Seria bem mais interessante que o vilão escapasse, ou até que sofresse um acidente em que ficasse em dúvida se ele escapou ou não. Pois este “Batman, o começo” é assim! Um vilão, o “Espantalho”, escapou, e o outro, R’as al Ghul, sofreu um acidente e não ficou claro se ele morreu ou não. Beleza! Bonequinho aplaudindo de pé!
M.S.

3 comentários:

Anônimo disse...

Santo bolinho de bacalhau, Batman! Temos uma visita internacional de Portugal no blog! Seja benvindo, André. A casa é vossa!

Anônimo disse...

Pois é, meu "amigo de infância", finalmente acertaram com um filme do Batman. Pena que você não tenha curtido outras adaptações de heróis do gibi. "Demolidor" e "Elektra" não foram mesmo memoráveis. Mas considero os filmes do Homem-Aranha (sobretudo o 2) e o "Hulk" muito bons. E, na minha opinião, mesmo "Begins" (ou "Bejins", hehe, ou "O Começo") sendo ótimo, O filme de super-heróis ainda é "Superman", de Richard Donner.

Anônimo disse...

Dear,
Estou lendo o post com cerca de um ano de atraso, mas não é por isso que deixaria de elogiar seu estilo e agradecer pelas dicas, pelas imagens, pelas lembranças, agradecer pelo sorriso que coloca no meu rosto. Que seu dia seja bom!!