
Ultimamente, quando abro os jornais no noticiário político, não sei porquê, mas lembro de uma antiga série de filmes que assistia na TV a lenha de meu tempo de garoto. E no período imediatamente anterior ao do primeiro turno das eleições, eu lia os jornais ouvindo mentalmente um prefixo que dizia assim:
“A Screen Gems apresenta um show de bom humor e gargalhadas com Os Três Patetas! O trio mais biruta da tela nos divertirá hoje com a comédia; “Tem aloprado no dossiê”. Versão brasileira AIC, São Paulo”.
*Vídeo com 3 min e 29 seg
Nesta minha séria série sobre antigas séries de TV, guardo um espaço muito carinhoso para “Os Três Patetas”. Durante um bom tempo de minha infância, eu os assistia na TV Globo, durante o almoço, quando tinha voltado do colégio (lá pelos idos de mil novecentos e não vem ao caso...).
Na verdade, eles sempre estiveram ao alcance dos meus olhos desde então. Soube que de 1958 para cá, nunca deixaram de serem exibidos na televisão americana. São quase 50 anos ininterruptos. Aqui no Brasil, essa longevidade não é tão granítica assim. Mas quem quiser rever “o trio mais biruta da tela”, basta sintonizar no canal a cabo TCM que vai vê-los em algum momento.
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Contar a história dos Três Patetas é extremamente fácil e difícil ao mesmo tempo. Tenho tantas informações sobre eles que fariam este post ficar quilométrico. Vou ter que selecionar.
Embora eles tenham sido sempre “Três”, na verdade, os Patetas foram seis: Moe, Larry (ambos presentes em todas as formações do grupo), Shemp, Curly, Joe e Curly Joe.
Eles começaram a carreira na formação Moe, Larry e Shemp, aliados ao comediante Ted Healy, fazendo números em shows de variedades, até chegarem à Broadway e ao cinema. Eram “Ted Healy and the Rocketeers”, às vezes também se apresentando como “Ted Healy and his Gang”. Fizeram o filme “Soup to Nuts”, onde os três malucos se destacaram com seu humor absolutamente louco. Fizeram também participações em filmes da Metro-Goldwin- Meyer ao longo dos anos 30.

A 20th Century Fox quis contratá-los sem Ted Healy (na foto, com eles), que manobrou nos bastidores para o contrato não sair. Eles deixaram a parceria com i invejoso e seguiram em carreira-solo, se apresentando em boates e casas noturnas, com enorme sucesso. O humor deles era absolutamente inédito na época. Moe, fazia o líder, que era o mais esperto; Larry, o trapalhão um pouco mais sabido do que Shemp, o doidivanas total. Eles usavam muito o humor físico, a partir de pancadaria generalizada entre eles. Como se apresentavam em Teatros e boates, para que a piada funcionasse, Moe tinha que descer o braço com vontade para estalar e fazer barulho. Shemp, o que apanhava mais, sempre se incomodou com isso, além de não saber exatamente se ser artista era o que queria ser na vida. Um dia, pediu para sair, sendo substituído em família (Moe e Shemp eram irmãos) pelo caçula Jerome, que entrou no grupo como Curly. Esta formação foi a melhor e mais famosa do grupo. Com ela, chegaram à Columbia Pictures, onde rodaram um sem-número de “comédias de dois rolos”, episódios de 15 minutos que posteriormente chegaram à televisão, pela divisão televisiva do estúdio, a Screen Gems. Na Columbia, eles conheceram uma máquina de efeitos sonoros, que fazia a trilha de ruídos para a pancadaria deles. Moe já não precisava baixa a porrada com vontade.
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Apresento agora, um rápido resumo biográfico de cada pateta.
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Moe Howard nasceu Moses Harry Horwitz, em 19 de junho de 1897, em New York. Tinha quatro irmãos, mas os dois mais velhos não quiseram nada como mundo das artes. Moe, aos 11 anos, se apaixonou pelo mundo do cinema e do Teatro, decidindo tornar-se ator. Fez algumas pontas em filmes e mudou o sobrenome para Howard por ser mais fácil de ser pronunciado. Em 1912, juntou-se ao amigo Ted Healy para fazerem dupla em show de variedades. Em 1922, seu irmão Shemp juntou-se a eles e posteriormente, Larry também, fazendo parte do número com Ted Healy. Era o mais ajuizado do grupo, tornando-se de fato o líder deles. Casou-se com Helen Schomberger (prima do mágico Houdini), com quem teve os filhos Joan e Paul. Morreu em 4 de maio de 1975, de câncer no pulmão (ele fumava bastante).
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Larry Fine tinha por verdadeiro nome Louis Feinberg, nascido na Philadelphia, em 5 de outubro de 1902, o mais velho de quatro filhos. Desde pequeno era um verdadeiro trapalhão, sempre propenso a se acidentar. Certa vez, derramou ácido no braço e para fortalecer a musculatura do membro ferido começou a tocar violino, o que fazia muito bem. Foi lutador de boxe amador também. Entrou para o show business como violinista e comediante, quando encontrou Ted Healy e Moe que o chamaram para juntar-se a eles em seu número. Casou-se com Mabel Haney, em 1927, que lhe deu os filhos John e Phyllis. Era viciado em jogo. Perdeu fortunas nas corridas de cavalos. Em várias ocasiões, recorria a Moe que o ajudava, pagando suas dívidas da jogatina. Por conta deste seu vício, costumava se atrasar nas filmagens e vária vezes teve que ser procurado nos cassinos e hipódromos para ir aos estúdios filmar. Em 1970, sofreu um derrame que o paralisou de um lado e o fez encerrar a carreira. Em 1974, teve outro, vindo a falecer em 1 de janeiro de 1975.
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Shemp Howard recebeu ao nascer o nome de Samuel Horwitz, em 17 de março de 1895, no Brooklin/NY. Era um ano e meio mais velho que seu irmão Moe. O apelido Shemp era por conta de como sua mãe, que tinha forte sotaque judeu e ao chamá-lo de “Sam” parecia “Shemp”. Era um trapalhão de verdade, tendo se metido em várias encrencas. Foi encanador, entregador de jornais até entrar para o Teatro de variedades e fazer parte do número com Moe e Ted Healy. Entrou e saiu do grupo várias vezes, mas sempre esteve envolvido com Teatro e cinema. Casou-se em 1925, com Gertrude Frank, com quem teve o filho Morton. Voltou a ser um Pateta com a doença de seu irmão Curly. Ao retornar para casa, depois de ter assistido a uma luta de boxe, teve um ataque cardíaco fulminante dentro de um táxi, ao acender um charuto. Isso em 23 de novembro de 1955.
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Curly Howard era o filho caçula da família Horwitz. Seu verdadeiro nome era Jerome Lester Horwitz, tendo nascido em 22 de outubro de 1903, em New York. Entrou para o grupo quando Shemp desistiu de ser um Pateta, no número com Ted Healy. Tinha cabelos fartos e um enorme bigode. Teve que raspar ambos, para compor o personagem Curly do trio, e isso o deprimiu por achar que não mais agradaria às mulheres, o seu grande fraco. Era o verdadeiro gênio do humor no grupo. Vários especialistas estudam seus filmes até hoje. Sua marca registrada, aquele “niak, niak, niak”, seguido dos tapas no próprio rosto e dos passinhos rápidos, aconteceu por ele não se recordar de suas falas e ter que improvisar. Muito humorista dos conhecidos o imitou descaradamente. Casou-se diversas vezes, a primeira com uma mulher que arranjou quando estava bêbado e que ninguém nunca conseguiu descobrir como se chamava. Casamento anulado, uniu-se a Elaine Ackerman, com quem teve a filha Marylin, depois com Marion Buchsbaun, com quem também se divorciou (e lhe levou metade dos bens) e por último com Valerie Newman, com quem teve uma filha, Janie. Era um bom vivant. Comia, bebia e fumava em quantidades industriais. Teve um primeiro derrame em 1946, tendo que se afastar dos Patetas. Depois teve vários outros até falecer em 18 de janeiro de 1952.
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Joe Besser substituiu Shemp quando este faleceu. Era nascido em 12 de agosto de 1907, no Missouri. Era judeu como Moe (e Curly e Shemp) e Larry, o que significa dizer que a maioria das formações dos Patetas era de comediantes de origem judaica. Em 1920, entrou para o entretenimento como assistente de mágico em um circo. Foi casado com Erna Kay. Ao entrar para o grupo, exigiu não apanhar como os demais no que foi atendido, mas tirava muito da graça do trio. Seu personagem era um tanto delicado demais para os Patetas. Acabou saindo para fazer carreira-solo. Foi o dublador do desenho animado da Jeannie, onde fazia o personagem “Babu”. Morreu dormindo em sua casa, em 1 de março de 1988. Tinha escrito o livro “Once a Stooge, Always Stooge”. Só dois amigos foram ao seu enterro.
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Joe deRita, o “Curly Joe”, nasceu Joseph Wardell, na Philadelphia, em 12 de julho de 1909 em uma família de artistas. Foi ator desde muito pequeno, tendo atuado em diversos filmes e feito excursões com Bing Crosby, entretendo soldados durante a guerra. Quando a Columbia encerrou o seu departamento de curtas, Joe não quis sair pelo país se apresentando em Teatros ou onde pudessem. Então Moe e Larry chamaram deRita para substituí-lo. Ele atuou em seis longa-metragens com os Patetas. Era casado com Jean Sullivan. Faleceu em 3 de julho de 1993. Em seu túmulo há a inscrição: “Ele foi o último Pateta”.
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Há muitas curiosidades envolvendo o trio mais biruta do planeta. Acho que a mais interessante aconteceu num intervalo entre as apresentações que eles faziam numa casa de shows. Os três jogavam cartas, quando Shemp começa uma discussão com Larry. Este encerra a briga enfiando dois dedos nos olhos do outro, sob gargalhada dos demais presentes. Logo este recurso se incorporou ao arsenal de loucuras do grupo. Neste mesmo dia, Moe estava passando pelo camarim de um dos atores da trupe quando viu uma torta sobre a mesa. Pegou-a, subiu num ponto alto do camarim e jogou-a na cabeça de Larry. Como os presentes começaram a rir, incluindo o dono da torta, Larry pegou o que sobrou a torta e iniciou uma batalha no camarim, com um jogando bolo na cara um do outro. Nascia ali o gênero comédia-pastelão que foi usado e abusado pelo trio em seus filmes e depois ganhou o mundo.
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A marca “Os Três Patetas” ainda é muito forte no mundo. Teve desenho animado, gibi e o escambau... Quando eu estive em New York, pude ver que as lojas de souvenires têm trocentas imagens e bonecos do trio. Acho que só vi mais imagens de Charlie Chaplin. Nem Elvis ou os Beatles tinham mais produtos com suas imagens do que o trio mais biruta do planeta.
(Veja abaixo o cartaz do último filme dos Patetas e uma das últimas imagens de Larry Fine, antes do derrame)

M.S.
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Na TV Antigas Ternuras, você vê um clip com cenas do trio mais biruta do planeta ao som da música “The Curly Shuffle”. (niak! niak! niak!)