
Não sei vocês, mas eu sempre gostei de uma boa prosa, daquele papo descontraído entre amigos, onde a gente relata histórias mirabolantes, descreve com minúcias fatos hilariantes, conta vantagens descaradamente para tentar impressionar os outros.
Isso costuma ocorrer com freqüência quando uma roda de homens se faz em torno de uma mesa num boteco. Eu não sei se o mesmo ocorre em um círculo só de mulheres. Para mim, por exemplo, continua insondável o mistério das idas coletivas delas ao banheiro feminino. Sabe-se lá o que conversam naquele recinto! Ou talvez nem conversem tanto, mas prefiram ir juntas para evitar que uma fale mal da outra, ou para impedir que uma avance no homem da ausente. Vai saber...
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Mas quando um grupo de homens está junto, e os trabalhos e conversas são abertos com uma cervejinha gelada, pode apostar que teremos um festival de risos e gargalhadas.
Uma vez encontrei um amigo meu, começando a contar um de seus “causos”. Como eu conhecia a “peça”, pressenti que dali vinha coisa...
- Ô, grande Marco! Tá sumido! Senta aí, ouve só essa...
Esse meu amigo – vamos chamá-lo de “Carlos” – é um manancial de histórias daquelas da gente ficar com dor na coluna de tanto rir. O curioso é que ele não sabe contar piadas. As histórias que ele narra aconteceram com ele ou com a família dele e são engraçadíssimas. Ouvi-las é certeza de mandíbulas doendo de tanto gargalhar. Eu tinha sabido que ele esteve fora por uns quatro meses, em viagem a serviço pela empresa em que trabalhamos. Mas, deixa o Carlos contar...
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- O meu chefe me mandou para Palmas, no Tocantins, para coordenar um trabalho lá. Disse que eu ficaria pelo menos uns três meses. Minha mulher detestou a idéia. Reclamou pra dedéu. Mas eu a convenci dizendo que com as diárias que eu ia economizar poderíamos trocar de carro. Ela já estava cansada de ficar na estrada, com as meninas, por conta de enguiços do “Trovão Azul”.“Trovão Azul” era como ele chamava o carro deles. Era um Chevette 81 que roncava feito um enceradeira, sacolejava feito uma batedeira de bolos, esquentava mais que um fogão quatro bocas. Quer dizer, aquilo era um eletrodoméstico, nunca um meio de transporte!
Prosseguindo:
- Fomos pra Palmas eu e o “Peixoto” (melhor não dar o nome real de ninguém envolvido nessa história...). Chegando lá, fomos prum hotel baratinho, mas limpo. Em pouco tempo eu já estava nos braços da putalhada.

E eu acredito! Poucos caras que eu conheço tem tanta vocação para “cair nos braços da putalhada” do que o Carlos. Ele não rejeita ninguém! Com ele, se o coração está batendo, se for mulher, se fizer sombra no chão e der pra ele, não tem jeito! Ele cai dentro!
Mas, fala Carlos:
- Uma noite eu estava numa boate, eu e o Peixoto, aí fizemos amizade com a filha de um figurão de lá, que estava acompanhada por um grupo grande. Juntamos as mesas e ficamos lá de papo. A mulher me olhava de um jeito que eu senti que iria me dar bem. Começamos a tomar uns uísques. Eles estavam me chamando de “Branco”. Numa hora lá, a Maísa (nome fictício, é claro...), botou a mão na minha perna. Pensei: “essa morre hoje”... E era um tal de Branco pra cá, Branco pra lá...
O apelido de “Branco” tinha as suas razões. Carlos tem mais ou menos um metro e 85 de altura, é louro, de olhos verdes. Lá em Tocantins, uma figura quase nórdica como essa devia se destacar. Daí, virou “Branco”. O apelido pegou e até os companheiros de trabalho o chamavam assim.
Prossiga, Carlos:
- Uma hora lá, a Maísa, cheia de birita nas idéias, chegou no meu ouvido e disse: “Quero dar pra você, Branco. E vai ser hoje!” Topei na mesma hora, claro. Pensei em levá-la lá pro quarto do hotel.
Chamei o Peixoto e falei: “Aí, eu vou comer essa mulher lá no nosso quarto. Posso contar com a sua colaboração?” O Peixoto disse: “Tudo bem, mas eu quero ver!” “Que isso? Vai querer entrar no quarto? Ela não vai topar...” “Não, eu fico escondido lá na varanda. Você deixa a janela aberta, puxa a cortina que eu fico só espiando por uma fresta. Ah, deixa, vai!...” “Tá legal. Mas, ó, não vai me empatar a transa, heim?” “Não, fica tranqüilo. Só quero dar uma olhadinha”.
E assim foi. Levei a Maísa pro quarto, o Peixoto ficou lá na varandinha, só de butuca, só olhando.
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Enquanto a Maísa tirava a roupa, Carlos foi até o banheiro do quarto e voltou de lá com uma latinha de Pomada Minâncora (nem me perguntem o que ele pretendia fazer com ela!...). Começaram os embates amorosos. Peixoto só de olho. Foi quando Maísa começou a apresentar o seu repertório de gritos:
- Ai, Branco, vai, Branco! Ai meu Deus! Huuuummm, vem, Branco! AHHHHHHH, BRANCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!
A mulher gritava, bufava, resfolegava, gemia, gania, rangia, rugia, vociferava tudo ao mesmo tempo e EM ALTOS BRADOS! Ela berrava mais que porco na faca, fazendo um escândalo que excitava mais ainda o nosso herói.

Aliás, numa hora lá, ele levantou a cabeça e viu, por trás da janela, Peixoto pulando e agitando os braços. Aí pensou: “Ele está gostando. Vou caprichar mais ainda na performance.”

Dali pra frente o que se viu é absolutamente inenarrável neste blog de família. Era lept! lept! lept! E vap! vap! vap! E tome-lhe! tome-lhe! tome-lhe! Com a mulher se esganiçando cada vez mais e cada vez mais alto:
- AI, ME MATA, BRANCO! VAI, BRANCO! ME CHAMA DE VAGABUNDA, BRANCO! AIIIIIIIIIIIII, BRANCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
(Fora o que ele contou que ela gritou, mas que eu não reproduzo aqui de jeito nenhum!...)
Do lado de fora, na varanda, Peixoto pulava alucinado e, para o Carlos, era sinal de que estava aprovando a sua, digamos, exibição.
Na verdade, as razões da agitação do Peixoto eram bem outras.

Naquele hotel também estava hospedada uma delegação de evangélicos da Assembléia de Deus que ia participar de um Congresso na cidade. Quando os crentes ouviram aquela gritaria, começaram a sair dos quartos aos brados de “É o apocalipse! Isso aqui é o reino de Satanás! Salve-nos, Senhor Jesus!”
Eles se reuniram em frente ao estabelecimento em total desespero achando que tinham se hospedado no hotel dos infernos, em meio a luxúria e a perversão.
Quando os ardorosos amantes encerraram aquela verdadeira batalha de sexo, saliência e libidinagens, Maísa foi até o banheiro para tomar um banho. Nisso, Carlos chegou até a janela para perguntar se o Peixoto tinha gostado do espetáculo.
- Se eu gostei? Vem só dar uma olhada lá pra baixo...

Carlos foi e viu um bando de crentes, alguns rezando ajoelhados, outros falando em línguas e outros puxando o coro de “Glória, Glória, Aleluuuuuuuuia!”
Os evangélicos procuraram a direção do hotel para protestar e tentar parar com aquela pouca-vergonha, mas como achar o gerente às duas horas da manhã?
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No dia seguinte, Carlos entrou no refeitório do hotel para tomar café da manhã com a cara mais limpa. Mas já tinham identificado de qual quarto saiu aquele escândalo todo. No que ele botou os pés no refeitório, recebeu a maior vaia dos crentes da Assembléia. Sem contar os chamamentos de “tarado”, “safado”, “sem-vergonha” e “belzebu-capeta” que ele teve que ouvir.
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A direção do hotel, gentilmente convidou os dois, o saliente e o
voyeur a se retirarem do hotel. E eles tiveram que procurar outro lugar para encostar seus panos de bunda.
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Enquanto ele narrava essas histórias pra todos nós que estávamos na mesa, de ouvidos ávidos, sem nem piscar, mais e mais pessoas foram atraídas para o grupo pelas nossas risadas, quase tão histéricas que os gritos da Maísa.
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Se aquilo foi verdade? Parece que sim. Procurei o Peixoto e ele me confirmou tudinho e disse que nunca passou tanta vergonha como naquela noite.
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Bem, meninas, vocês agora têm uma mostra do que rola nas mesas de bar em grupos só de homens. Aos meninos, recomendo que não façam essas estripulias do Carlos sem acompanhamento profissional. Afinal de contas, o Ministério da Saúde adverte: “Fazer saliência com mulher histérica é prejudicial a qualquer reputação”.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Je t’aime moi non plus”, com Serge Gainsbourg e Jane Birkin.
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Queridos amigos: o Antigas Ternuras ficou fora do ar neste fim de semana por alguma razão que desconheço. Provavelmente esta anta que vos escreve fez alguma lambança. Quando republiquei o blog, ele voltou a aparecer. Peço desculpas pelos entreveros.
E continuamos no rumo do visitante número 20.000! (Quem será?...)