segunda-feira, agosto 14, 2006

64?


Exatamente neste ano corrente, Paul McCartney completou 64 anos (em 18 de junho). Tinha muita gente esperando ele chegar nessa idade para ver se estariam confirmadas as previsões feitas na sua canção “When I’m Sixty-Four”, gravada no antológico “Sargeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles.
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Eu gosto muito dessa música e ela me chamou a atenção já na primeira vez que ouvi o famoso álbum. Uma banda de rock gravando um fox-trote? Coisas dos Fab Four...
Até hoje, quando ouço aquela famosa introdução com um clarinete, não resisto e sorrio. Pois é. Paul chegou aos 64, mas desmentiu um pouco a música, que diz no início: “When I get older, losing my hair...Many years from now...” A gente olha o velho Macca e não o acha tão velho, muito menos o vemos perdendo cabelo. Eu estou muito mais losing my hair que ele...

Disse Paul que quando compôs a música, pensava no pai. A idéia de fazer 64 anos ao tempo do Sgt. Pepper para ele era algo tão distante como imaginar, naquela época, que um dia nos comunicaríamos com as pessoas usando caixinhas pouco maiores que isqueiros.
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Lembro que na época em que ouvi a música e fui traduzindo-a com meu inglês macarrônico, pensei como seria quando eu tivesse chegado a este número mágico. E ainda hoje, quando continuo bem distante dos 64, continuo imaginando como será.
No meu arquivo de antigas e inesquecíveis ternuras, guardo duas situações que pensei vivenciá-las quando estivesse perto dessa idade. Ou mesmo antes. Ou ainda depois.
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Eu era rapazinho e jogava futebol num clube de várzea. Todo domingo tinha jogo. Nas noites de quarta-feira, fazíamos reunião na sede para sabermos quem seria o adversário de domingo e traçar as táticas para a peleja. No fim da reunião, eu gostava de ficar batendo papo com meus amigos ali pelas imediações. Bem perto, tinha um colégio. Eu e os rapazes aproveitávamos para jogar uns picilones para as mocinhas que saíam no fim das aulas. O Seu Francisco nos fazia companhia. Sempre com a sua velha bicicleta de guerra, permanecia junto com a gente, participando das conversas. Se alguém perguntasse o que ele estava fazendo ali a resposta invariavelmente era: “Estou esperando a minha gatinha”.
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A "gatinha" do Seu Francisco era a sua esposa, de um casamento de trocentos anos, que fazia a alfabetização do Mobral naquela escola. Ambos deviam estar na casa dos 64 anos, conforme a canção do Paul. Ele a levava de bicicleta todos os dias e ficava esperando ela terminar os estudos, aprendendo unir letras na leitura e a domar a mão na tarefa de escrever. Quando a esposa saía da escola, eles se davam aquele beijinho tradicional de namorados, ela assentava no quadro da bicicleta, ali entre o selim e o guidom, e lá iam felizes para casa.
Eu, garoto ainda, olhava aquela cena e intimamente me prometia ter aquele mesmo carinho com quem estivesse comigo na idade que os dois tinham.
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Uma outra situação que guardo em minha cristaleira de antigas emoções, diz respeito a uma passagem que li em “Solo de Clarineta”, autobiografia de Érico Veríssimo. Lá, ele conta que possuía o hábito de ficar ouvindo música, ao cair da tarde, sentado no sofá da sala, de mãos dadas com sua esposa Mafalda.
Lembro que quando li aquilo era jovenzinho, mas essa parte nunca esqueci. Fiquei imaginando a cena. Os dois (também por ali, na casa dos 64...), em silêncio cúmplice de quem se ama e se comunica por pensamento, ali no sofá, ouvindo melodias de mãozinhas entrelaçadas. Era também uma cena que eu prometi que repetiria na devida época.
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Esperar por quem a gente ama; dividir com ela momentos de carinho e prazer. Não é preciso termos 64 anos para isso. Na verdade, eu tenho certeza que Seu Francisco sempre teve aquele carinho com a esposa. Assim como o Érico e D. Mafalda construíram uma relação de afeto ao longo da vida a dois, que tornava muito normais gestos de ternura como aquele.
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Releio o que escrevi e vejo no céu a lua piscar um olho cúmplice para mim. Apenas sorrio. Digo intimamente que não esperarei pelos 64 para fazer cumprir as minhas promessas...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “When I’m Sixty-Four”...

18 comentários:

Lena Gomes disse...

Como é bom chegar aqui e ler algo assim: leve, sublime, pra cima...
Adorei!
Aproveito pra te desejar uma ótima semana!
Saudações tricolores!
Beijos.

Y. Y. disse...

vc é maravilhooooooooosoooo!! meu... AMO essa musica, AMO o erico e AMEI teu texto! lindo d+!!

Janaina disse...

Will you still need me, will you still feed me, when I´m sixty four?
Eu aaamo essa música. E o Paul não tem ninguém pra fazer isso por ele nos 64, né?

Luma Rosa disse...

Dê uma chance ao Macca!! Afinal, mudamos de idéias todos os dias! Boa semana! Beijus

Lara disse...

Que lindo Marco. Eu ainda estou muuuito longe dos 64, mas espero que ao chegar lá esteja ao lado de alguém com quem já tenha compartilhado uma boa parte da vida e que continue havendo muito amor e carinho.

beijos

Anônimo disse...

Acho incrível o Paul ja ter 64 anos e manetr-se tão jovem...
Abração e otima semana!!

Anônimo disse...

Meu querido Marco,
não devemos esperar por data nenhuma, hoje é o dia para entrelaçar mãos e doar beijos em quem amamos.
Sabe meu anjo? Estou triste pois acabei de receber um telefonema de uma das minhas amigas,àquelas que já mencionei os encontros, àquelas de anos de amizade...pois é, a caçula do grupo nos deixou, subiu aos céus vitima de uma doença agressiva que num piscar de olhos acabou com sua alegria e estávamos esperando essa semana para mais um dia de risadas e não teremos.Não devemos esperar meu anjo, temos que viver o agora...
Desculpa o desabafo..
beijosssssssssssss

Vendetta disse...

homens que cumprem promessas são mais raros que dodôs nos dias de hoje....
parabéns por ser assim!

um beijão, querido!

Anônimo disse...

Olá, vim agradecer os parabéns deixando no blog da Lili!
Beijos

Claudinha ੴ disse...

Oi Marco!
Realmente não devemos deixar nada para depois. Eu aprendi isto na marra! O momento é agora, então que seja vivido agora. Demonstrações de carinho, cumplicidades, namoro, não tem idade nem hora para existir... Ah, eu me lembro do que Aquiles falou à sua amada no filme Tróia: "Os deuses nos invejam, porque somos mortais. Este momento só acontecerá agora. Nunca mais estaremos aqui do mesmo jeito..." (Algo parecido com isto)
Parabéns por ter sido um jovenzinho com visão para estes sentimentos nobres e os guardou para sua fase adulta.
Beijão!

Saramar disse...

Marco, mágico, doce e maravilhoso Marco!

Quando venho aqui visitá-lo é assim: ou fico sem palavras, ou fico emocionada demais.
Creio que irei consultar meu cardiologista para ver o que ele diz sobre o efeito de suas palavras em meu coração.

É tão lindo tudo, tudo! Essas histórias, esses amores tão absolutamente lindos, essas mãos dadas e beijos me parecem uma tela onde o amor imenso e belo se desenha da forma mais perfeita.
E você é o mágico pintor.
Obrigada.

Beijos

Anônimo disse...

Aos 64 já se vive "antigas ternuras" e para que sejam antigas e ternas é preciso cultivá-las desde a semente. Um beijão procê, Marco. Seus textos são sempre lindos e comoventes.

Anônimo disse...

Cara , vou te falar uma coisa:eu amo Beatles , mas tem umas canções do Paul que eu acho tão paia , que nem consigo gostar... tipo essa , "When I'm Sixty Four". Mesmo assim , valeu o post , principalmente pelo exemplo do Seu Francisco!

Abração!

Ana Carla disse...

Lindo e emocionante, bello! Não espere amanhã, que dirá os 64! (Ainda se fosse 69, rsrs...) A gente nunca sabe qté onde vai, meu amigo. Basta estar vivo para morrermos. Temos que fazer agora. Já. Um beijo!!

Anônimo disse...

Gostei muito, muito, muito, do texto Marco!!!! Alias, ele tem tudo a ver com nome do blog, não? Antigas ternuras...

As histórias foram muito bem escolhidas e suas considerações em cima delas foram perfeitas...

Lembrou-me de uma música, e peço permissão para coloca-la aqui:

Nenhum De Nós - Amanhã Ou Depois

Deixamos pra depois uma conversa amiga
que fosse para o bem, que fosse uma saída
Deixamos pra depois a troca de carinho
Deixamos que a rotina fosse nosso caminho
Deixamos pra depois a busca de abrigo
Deixamos de nos ver fazendo algum sentido

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
for nunca mais...nunca mais

Deixamos de sentir o que a gente sentia
que trazia cor ao nosso dia a dia
Deixamos de dizer o que a gente dizia
Deixamos de levar em conta a alegria
Deixamos escapar por entre nossos dedos
A chance de manter unidas as nossas vidas

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
for nunca mais...nunca mais

Beijos pra ti

Anônimo disse...

oieeeeeeee meu querido e sempre gentil cavalheiro,vim agradecer pelas rosas brancas,nao sei como sabes que adoro rosas brancas ,acho as vezes que me conheces ,pelo menos minha alma é transparente pra ti,sabes adoro sua visita e seu carinho ,deixo o mais delicioso perfume em minhas palavras e com certeza estaremos sempre juntos eternamente,brigaduuuuuu,bjsssss

Anônimo disse...

Delícia de texto, querido amigo! Meus sixty-five ainda estão longe, ou talvez perto... sei lá... depois dos 50 o tempo ganha uma dimensão diferente, pois passa-se a aproveitar todos as horas e minutos como se não houvessem os próximos. Que seus desejos e promessas possam ser cumpridos e lhe tragam paz e felicidade! Beijos saudosos

Marco disse...

Doce Helena: Que bom que você gostou!... Mas, se gostou, por que a tristeza do "saudações tricolores"? Este blog ostenta com orgulho o pavilhão rubro-negro. É bicolor. Mas um beijo assim mesmo!

Valeu, parceirinha Yumi!

Querida Janaína: Pois é. No ano em que o Paul faz os 64, se envolve no maior barraco com a ex-posa... Pelo menos, ele deve ter os netos "Vera, Chuck and Dave" para consolá-lo...

Querida Luma: Dar uma chance ao Macca? Bem, não entendi mas, sim, todas as chances ao cara!

Querida Eduardinha: Se Deus quiser, você vai chegar aos 64 com tudo isso. E mais ainda, porque Deus vai querer.

Grande DO: Pois é, rapaz...O cara está com a lataria seminova!

Ô, Marcíssima...Fico triste por sua amiga... Há pouco tempo eu perdi um amigo e sei o que é esta tristeza. Mas Deus sabe o que faz e ela estará em bom lugar junto a Ele, tenho certeza.

Querida Vendeta: Bem...Eu faço a minha parte, né? Talvez eu seja um pouco dodô...

Veleu, Sheila!

Com certeza, cara Claire... Para chegar aos 64 naquele clima dos casais da história, há que se construir antes os alicerces!

Minha doce Claudinha: Certamente, o tempo de se fazer, de se construir é agora, é já. Tempo perdido é só isso mesmo> tempo que se perdeu. Temos que aproveitar as oportunidades de construir sólidas relações.
Este velho romântico de hoje é conseqüência do jovem romântico que fui.

Puxa, Saramar!... Você me deixou encabulado... E o final de seu comentário é mais um texto típico "made in Saramar". Vale por um post inteiro!

Obrigadíssimo, querida Lili! É sempre um prazer repartir minhas antigas ternuras com os amigos que me visitam...

Pois é, grande Mutante... Questão de preferência pessoal...Eu adoro a música, para mim, uma das favoritas do Sgt. Pepper... Mas se valeu pelo post, então tá legal!

Certíssimo, querida Ana Carla! Temos de por em prática nossos sentimentos hoje, para colhermos as flores e frutos no futuro.

Maravilha, Maga! Obrigadaço pelo seu comentário! A música que você sugeriu tem realmente tudo a ver. E suas palavras têm a sapiência das magas.

Linda Samara: Eu é que agradeço pelo seu constante carinho. Já te disse que se eu tivesse uma filha, gostaria que fosse como você, meiga e sensível.

Querida Giulia: Quer dizer que depois dos 50 a gente já fica em clima de "When I'm Sixty-Four"? Caramba! Ré! Ré! Ré!...Ainda bem que eu só tenho 25...

Valeu, moçada! Abraços e carinhos e beijinhos e ternuras sem ter fim!