sábado, março 14, 2009

Bem, amigos...


Não faz muito tempo um bom amigo me telefonou:
- Quero te convidar para a festa de 15 anos da minha filha...
- 15 anos? Tudo bem, eu vou. Mas só posso ficar seis meses.
Não resisti. A bola estava quicando e sabe-se lá quando eu poderia mandar essa velha piada de novo...

Claro que fui. Vi essa jovem crescendo desde quando estava na barriga da mãe. Agora já está uma mocinha... Mas ainda olho para ela e vejo a menininha que chegava nas festas dos filhos de nossos amigos, segurando na mão do pai, carregando um presente com a outra...
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Pois bem. A festa foi ótima. Comes e bebes servidos fartamente. Uma ótima chance de rever meus velhos e queridos amigos. Numa hora lá, o cerimonial chamou todo mundo para o grande salão. Entra a moça. Linda! O cerimonial chama as amigas dela para fazerem uma homenagem. Um bando de mocinhas, que desde antes já gritava enlouquecidamente que nem fãs dos Beatles naqueles tempos (a pergunta que não quer calar: por que mulher grita por qualquer coisa?), vai ao microfone e, como num jogral, leem o poema Amizade, de Fernando Pessoa.
No que elas dizem as primeiras frases:

“Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.”

A minha mente começou a viajar. Eu senti este post surgindo inteirinho, junto com imagens dos vários amigos que fiz ao longo da vida.
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As meninas falando ao microfone: “Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida”. Justo na hora que eu pensava exatamente isso. Quantas amizades que eu julgava serem eternas ficaram para trás por algum motivo qualquer, na imensa maioria porque a vida segue, escrevemos nossas histórias sem saber das tramas que iremos passar, sem sequer saber como estará a página seguinte.
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Alguns amigos permanecem junto a nós. Os anos passam, alguns casam, tem filhos, ficam ricos ou trabalham com dificuldade, mas o sentimento de afinidade, aquele quê desconhecido que não sabemos explicar, mas que age como um traço de união entre pessoas, este permanece. Claro, amigos também brigam feio, alguns viram cafajestes, mas disso ou destes não quero falar. Como diria Alvaro Moreyra, “as amargas, não!”
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Tem certos dias em que nos sentimos como o carvão frio, sem brilho, num canto da lareira. É quando nossos amigos, como brasas vivas, encostam em nós e nos avivam o fogo, fazendo com que passemos também a gerar calor. Amigos nos trazem a alegria de reveillon mesmo não sendo janeiro. O verdadeiro amigo, se acidentalmente nos magoa, diz a palavra certa, a palavra que é quase um beijo. Amigo de verdade é aquele que não se amesquinha de si e se doa perdulariamente para nós.
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As meninas na festa concluíram o poema: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”Seria talvez um exagero do Fernando Pessoa? Alguém perderia o juízo pela falta dos amigos? Metaforicamente, creio que sim. Um conjunto imenso de minhas antigas ternuras, de estimadas lembranças, não aconteceria sem o auxílio luxuoso de meus amigos. Estas minhas recordações, se deletadas de mim, como naquele filme Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, me transformariam numa outra pessoa que não eu.
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Rever velhos amigos numa antiga foto é um exercício de dor e delícia. Na primeira, pela saudade que parece fazer aquele momento tentar desaparecer da lembrança e novamente fazer sua mágica acontecer, sem conseguir. Na delícia, por conta do prazer de ter nosso coração dando um salto até o passado e voltando de lá com a sensação de que ganhou um beijo delicioso e inesperado.
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Mais tarde, a festa acabou, despedi-me de cada amigo, com uma frase do poema ainda ressoando nos meus ouvidos: “Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo...”
M.S.
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Quer pedir desculpas aos amigos por não visitá-los com a frequência que gostaria. Mas ando realmente atolado de afazeres. Nem tenho conseguido postar aqui! Espero que compreendam e não fiquem chateados comigo...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Canção da América”, por Milton Nascimento. Se existe uma música melhor do que essa que fale da importância dos amigos, sinceramente, eu não conheço...

21 comentários:

Anônimo disse...

Bem, amigos...[me lembrou Galvão Bueno, o chato]

Mas é assim mesmo, a vida arruma maneiras de nos afastar dos amigos, construímos barreiras impostas pelo horário escasso, excesso de afazeres, novo trabalho, escola e familia, mas não os esquecemos embora sejamos esquecidos, e se por ventura, um dia nos esbarrarmos temos que ficar com cara de contente diante da cara de "não sei quem é" do outro.

Mas gostoso mesmo é reunir velhos companheiros, rir de bons tempos e prometer que sempre, no mínimo uma vez por mes, vamos nos encontrar...e fazer valer a promessa, rss

Amigopratodavida, jamais nos esqueceremos né?[mesmo que nunca nos vejamos ;)]

beijos de lindos dias

Anônimo disse...

Grande Marco, nem precivas se desculpar pela ausência nos blogs, sei que não se afastaria de seus amigos virtuais sem um bom motivo. Quanto ao post, nos leva a algumas reflexões interessantes. Sou um cara de pouquíssimas mas verdadeiras amizades. E mesmo daqueles amigos que não vejo mais, estou sempre comentando alguma história engraçada com a minha esposa ou outras pessoas. De certa forma, até estes, também estão comigo. Um grande abraço!

Francisco Sobreira disse...

Caro Marco,
O seu texto revela duas coisas, infelizmente, desagráveis: o passar dos anos e a perda (por morte, ou por rompimento da amizade)e o afastamento dos amigos. Quando se chega à minha idade, olha-se pra trás e, para não sofrermos muito, temos que recorrer às lembranças boas das pessoas que, um dia, fizeram parte de nossas vidas. Um abraço e um excelente fim de semana.

Moacy Cirne disse...

Um texto delicado, meu caro. E bem escrito, claro.

Um abraço.

Alice disse...

Você tem um dom maravilhoso de transformar o que seria uma sensação negativa de falta, de saudade, ou de rancor pelos amigos que nos deixaram, em um sentimento amado, positivo, que nos deixa um saborzinho de doce na boca, daquela amizade que veio e se perdeu, por qualquer motivo que seja. E lembrar do que foi faz a gente lembrar do que já não é mais... os amigos não são os mesmos, nós não somos os mesmos... mas que bom que as coisas novas surgem. Um amigo tanto de outrora, quanto de agora, é um bem de valor inestimável. És um amigo!

Grande abraço

J.F. disse...

Marco, lindo texto.
Acabo de chegar em casa vindo de uma festa dessas. Casamento da filha já trintona de um amigo de juventude. Menina que, também, conheço de muitos anos antes de nascer, já que mãe e pai eram de minha "turminha". A mesma "turminha" onde a Nina e eu nos conhecemos e, depois de quase cinco anos de namoro, casamos. Infelizmente, esse amigo e mais quatro amigos e duas amigas dessa "turminha" já viajaram para sempre. Mas, permanecem tão queridos quanto antes. Assim como os poucos remanescentes da "turminha", quase todos presentes ao casamento e que, apesar de ser relativamente raro acontecer, não perdem oportunidade de se encontrar. Mas, a vida é assim mesmo. Velhos amigos permanecem, se vão em definitivo, ou simplesmente desaparecem. Mas, também estamos sempre fazendo novos amigos.
Abração.

Theo G. Alves disse...

eu conheço bem a falta que os amigos fazem e, vez por outra, meto os pés pelas mãos na organização da vida e perco um tanto do contato... coisas que preciso aprender a consertar urgentemente.

um post tocante, marco.

um abraço amigo!

Anônimo disse...

Caríssimo Marco... Quanta ternura para com seus amigos. Sei que o tempo não espera por ninguém e pronto,é fato. Mas podemos resgatar no tempo momentos como esses que vc nos trouxe. Valeu mesmo meu caro!!!

[Manú] disse...

Post gostoso de ler como sempre...As vezes só mesmo através de um amigo que a gente consegue voltar ao passado com riqueza de detalhes...As vezes nossas memórias nos traem e só através de alguém que estava lá com a gente é que se consegue voltar realmente no tempo...Beijo grande!:*

Anônimo disse...

Caro Marco,

através desta postagem e da belíssima música cantada pelo Milton, você fez uma linda homenagem aos amigos, especialmente aos mais antigos, os da infância. Como é bom reencontrar pessoas que já foram muito importantes em algum momento das nossas vidas e, devido aos (des) caminhos dessas próprias vidas acabamos nos distanciando!

Abraço.

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco...
Que lindo post... Eu justamente acabo de vir de uma reunião de amigos. 25 anos depois, não nos encontrávamos todos e foi muito legal, filhos, mortes, conquistas. Tiramos fotos e tudo foi proporcionado pelo orkut. O tempo faz com que nos afastemos, tomemos rumos diversos e até esfria a amizade. mas é só encontrar novamente que parece que não passou... Esta música é uma das minhas preferidas e anda juntinho com "E os meus amigos, dispersos pelo mundo, a gente não se encontra mais pra cantar aquelas canções que disparavam nossos corações..." Coisas do clube da esquina.
Parabéns pelo seu post. Beijo

Anônimo disse...

Muito lindo este post. Até fiquei com uma lágrima no canto do olho. Revejo-me em cada palavra. Os meus amigos são os meus tesouros! Perder um seria ficar mais pobre ainda! E pior que pobreza monetária é a pobreza interior.
Amo-os do fundo do coração, não vejo a minha vida sem eles.
Claro, tive as minhas desilusões, as minhas amarguras. Alguns enganaram-me bem. Mas desses, não reza a minha história!
Fernando Pessoa tinha toda a razão, amores há muitos, amigos verdadeiros poucos, mas valiosos!
*.*

Anônimo disse...

Infelizmente a correria diária nos afasta das pessoas q amamos.
Big Beijos

Lara disse...

Ai que saudade de ler o seu blog! Ando tão ocupada com a casa, com os estudos e tinha deixado essa mania de lado!
Me deu saudade dos amigos que deixem em Brasília.. ai ai :)
beijos

Anônimo disse...

A experiencia já comprovou,pra mim,que a vida é assim mesmo.
Infelizmente amizades de certas épocas,ligadíssimas,parece que têm um ciclo e tudo acaba mudando.

Claro que tem um ou outro,raríssimo,que acaba "viajando" conosco durante toda a existencia. Mas a impressão que tenho,MARCO,é que são cada vez mais raras.

Abração!!

dade amorim disse...

Tudo verdade, os amigos se perdem de vista, Pessoa era um puta poeta e você é um menino de grande coração. Não dá pra ficar zangada com você. Só não esqueça da gente, viiu?
Beijo.

Anônimo disse...

Fica a vontade kbra... Claro que podes copiar a imagem da tabuada. Se preferir te mando por e-mail. Tenho duas imagens dela. Abração.

Cláudia disse...

ah...os amigos

beijo querido.

Anônimo disse...

Marco,nossa,seu post é igual o meu em formas diferentes de ser contados,realmente,estive afastada por motivos que outra hora falo,e como senti falta dos amigos,e de repente vem vc,e me deixa um recadinho,que pra mim nao tem preço,estava precisando saber de alguem que se lembrasse de mim com tanto tempo de ausencia,muito brigaduuuuuuuuuuuuuuuuuu,vc nem imagina as lagrimas de felicidades quando li seu comentario,vc é muito especial,acho q vc captou minha solidão e a falta de alguem pra abraçar e dizer ,estou aqui,meu querido Marco,brigaduuuuuuuuuu por existir,na minha caminhada,nao ta facil,mas tenho que prosseguir,brigaduuuuuuuuu pela força,pelo carinho,bjsssssssss

Julio Cesar Corrêa disse...

Marco, há uma música inglesa - não sei se vc conhece - chamada "The Wedding Bells", que fala justamente dessa, que é um dos maiores desafios da vida: saber que nem tudo é eterno. Incluindo os amigos. Depois de saúde e paz, acho que amigos são o mais importante que temos na vida. Pelo menos, deveria ser. Mais importante até do que o amor.Porque quando o amor termina e não há amizade, só restam mágoas e recentimentos.
Tive grandes amizades em minha vida, que um dia se foram. Ficaram as saudades. Mas temos que nos conformar. Como diz a música, foi a hora de dizer adeus. Fazer o quê?
abração

Lena Gomes disse...

Marco, se vc pede desculpas pela ausência, eu, nem sei mais o q q peço... Mais um lindo post... Comovente. Amizade, realmente, é tudo. Só fiquei com uma dúvida. Parte desse texto q as meninas leram na tal festa, eu conheço como sendo do Vinícius... assim q tiver um tempinho vou fuxicar na net pra ver se descubro a verdade dos fatos, rsrsrs... beijos.