quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Ser ou não ser


Dia desses, a excelente blogueira Adelaide Amorim do Umbigo do Sonho me indicou para um post-corrente. Como tento fazer desta desambiciosa página um blog temático, não costumo entrar em post-correntes. Mas resistir a um pedido da Adelaide, quem há de? Além disso, considerei inteligente esta idéia, que mexe com livros, uma antiga e eterna ternura deste vosso modesto escriba.
Diz o seguinte:
1- Pegue um livro
2- Abra na página 161
3- Localize a quinta frase completa nesta página
4- Transcreva a frase para o blog
5- Indique cinco blogueiros para fazerem o post-corrente
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Eu entendi que era para eu citar o livro que estou lendo no momento: “Shakespeare: O mundo é um palco: uma biografia”, de Bill Bryson. E aqui vai a quinta frase completa da página 161:
“Na época de Shakespeare não havia Henrique VI, parte II, mas A primeira parte da contenda entre as duas famosas casas de York e Lancaster, enquanto Henrique VI, parte III era A verdadeira tragédia de Ricardo, duque de York e do bom rei Henrique VI – ‘mais interessante, mais informativo, mais grandiloquente’, nas palavras de Gary Taylor”.
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Este trecho fala de duas das peças históricas de Shakespeare, Henrique VI parte II e parte III, que tratam da vida do último rei da Casa de Lancaster, Casa esta inimiga da de York (ambas são ramos de família real inglesa).
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Pois é. Resolvi aproveitar este post-corrente para falar deste livro interessante que estou lendo atualmente. Eu comecei a lê-lo como um dos preparativos para as aulas que darei num curso profissionalizante para atores. Recentemente, o diretor da Cia. teatral onde atuo conseguiu aprovação para iniciar na Companhia um curso de formação de atores profissionais. E ele me convidou para cuidar da cadeira História do Teatro, acho que porque eu tenho um certo interesse por História e por Teatro (mesmo não sendo nem historiador, nem graduado em Artes Cênicas...).
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Entre os assuntos que pretendo abordar certamente estará o Teatro Elizabetano, em especial o de Shakespeare. Daí, comecei a ler esta biografia do bardo e estou adorando! Especialmente por descobrir muitas coisas interessantíssimas que desconhecia. E eu adoro aprender coisas novas...
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Para começar, vocês sabiam que existem pouquíssimas informações comprovadas sobre o bardo de Stratford-upon-Avon? E que há quem diga que talvez ele nunca tenha existido? Até o famoso retrato (esse aí ao lado) pelo qual todo mundo conhece o dramaturgo ocidental mais importante de todos os tempos não é comprovadamente dele. Sequer se sabe quem o pintou! E mais: talvez tenha sido pintado depois da morte do William.
Há dúvidas até quanto à grafia do seu nome. De próprio punho, o homem só deixou 14 palavras escritas, sendo em seis oportunidades o seu nome, assinado como “Willm Shaksp”, “William Shakespe”, “Wm Shakspe”, William Shakspere”, Willm Shakspere”, “William Shakspeare”. O mais engraçado é que a forma com que o conhecemos hoje (William Shakespeare) nunca foi usada por ele. É mole ou quer mais?
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Da morte do rapaz, em 1616, até os dias de hoje, centenas, quiçá milhares de pesquisadores fuçaram ou fuçam tudo o que possa se referir ao seu tempo, peneirando qualquer informação útil. E não encontraram muita coisa. Quando eu estava pesquisando sobre o Brandão Popularíssimo para o meu livro, levei cinco anos e passei os olhos em milhares de periódicos e dezenas de livros. Graças aos céus achei muita coisa. Pois um bando de gente esteve ou está na cola de Shakespeare e não consegue quase nada. Mas o pouco que levantaram é bastante curioso. Vejam se não é:
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- William Shakespeare casou-se com Anne Hathaway (evidentemente, não a atriz de Diário da Princesa, Diabo veste Prada e Agente 86...) quando tinha 18 anos e ela 26! E mais: ela estava grávida. E mais 2, a Missão: cerca de 40% das mulheres daquela época se casavam de bucho cheio. E a gente achando que a saliência passou a comer solta somente em tempos recentes...

- Das cerca de 3 mil peças encenadas em Londres, entre 1564 –ano de nascimento de WS – e 1642 – quando os teatros da cidade foram fechados – só chegaram aos nossos dias mais ou menos umas 230, incluindo as 38 de Shakespeare.
- Um tarado obsessivo sem mais o que fazer na vida contou e descobriu que toda a obra de Shakespeare tem 138.198 vírgulas, 26.794 dois-pontos, 15.785 pontos de interrogação, 884.647 palavras, sendo que ele se referiu a “amor” 2.259 vezes, a “ódio” em 183 oportunidades, usou 105 vezes a palavra “maldito” e 226 vezes o adjetivo “sangrento”.
- No catálogo da Biblioteca Britânica quando se põe “Shakespeare” aparecem 13.858 citações. No Google, aparecem 66.400.000 resultados da pesquisa (detalhe: se você escreve “Deus” no Google obtém 60.900.000 de citações).
- A época e especificamente o ano em que William nasceu foi pródiga em doenças como tuberculose, sarampo, raquitismo, escorbuto, varíola, disenteria, tifo e vários tipos de febre, sem contar o pior dos males: a peste negra (hoje chamada de peste bubônica), que dizimou a população européia. Só em Stratford, cidade natal de Shakespeare, 200 pessoas morreram disso no ano em que ele nasceu. A mortalidade infantil era pesada: de cada 100 bebês que nasciam 16 espichavam o pernil. No ano em que o bardo veio ao mundo, a proporção de bebês mortos foi de 66 em 100. A questão não era “ser ou não ser” e sim “sobreviver ou não sobreviver”. A expectativa de vida era de 35 anos em alguns distritos londrinos e 25 em outros.

- Ao tempo dele, havia leis rigorosas e ridículas aos olhos modernos. Pagava-se multa por deixar patos soltos nas vias públicas, por pegar pedra no chão da rua (“apropriação indébita de cascalho urbano”) ou por receber hóspedes sem permissão. Tinha a Lei da Touca, que obrigava todo mundo a usar esta peça de vestuário ao invés de chapéu.
- Shakespeare quando chegou a Londres deve ter se admirado da Catedral de São Paulo. Lá dentro, mesmo durante os cultos e pregações do sacerdote, carpinteiros, advogados, camelôs, anunciavam aos berros seus produtos e serviços; crianças brincavam pelos corredores, mendigos arriavam um barro ou tiravam uma água do joelho pelos cantos, pessoas levavam lenha e acendiam fogueiras para se aquecer... Enfim: uma balbúrdia que faria o mercado persa parecer o shopping Daslu!
- Um mistério: as peças de Shakespeare encenadas no seu Globe Theatre tinham enorme presença popular. Algumas sessões aconteciam ao meio dia e sempre com a platéia cheia. Como isso poderia acontecer se o populacho trabalhava no pesado de seis da manhã às seis da noite, às vezes até estendendo o expediente até as 20 horas?

- A rainha Elizabeth I e depois seu sucessor James I costumavam assistir às representações de peças de Shakespeare. Perto do fim da vida, Elizabeth vivia desleixada, com os poucos dentes que lhe sobravam totalmente escurecidos e com o espartilho desabotoado, a ponto de deixar os peitos de fora. Era vista assim no camarote real. Seu sucessor não ficava atrás. Diziam que ele adorava ver as representações teatrais manipulando o próprio pênis por cima da roupa, digamos, fazendo “bilu-bilu” na cobra. Aliás, os hábitos de higiene dos dois e da nobreza em geral eram os piores que se pode imaginar. Chamá-los de “porcos” é ofender a dignidade desses pobres animaizinhos...
- Shakespeare morreu em 1616, mas não se sabe de quê. Em sua tumba, numa igreja de Stratford-upon-Avon, tem uns versinhos bem medíocres despejando uma maldição sobre quem mexer nos seus ossos. Ele teve três filhos: Suzanna (faleceu em 1649), Hamnet (o único filho homem, morreu aos 11 anos, em 1596) e Judith (falecida em 1662).

As moças se casaram, mas só a mais nova teve filhos e uma neta, que morreu sem filhos, encerrando a descendência direta de William Shakespeare.
- A obra do bardo de Stratford só chegou aos nossos dias graças a dois de seus amigos e colegas atores, John Heminges e Henry Condell, que após a sua morte reuniram quase todas as peças dele num volume e o publicaram, em 1623, sob o título: “Comédias, dramas históricos e tragédias de Mr. William Shakespeare”. Se não fossem estes dois heróis, provavelmente toda a produção dele teria desaparecido.
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No livro há outras curiosidades sobre o grande dramaturgo. Suas peças são as mais representadas na história do Teatro universal. Nelas se pode visualizar todas as fraquezas e características humanas. A fala de Hamlet “ser ou não ser, eis a questão” é a frase teatral mais famosa do mundo, superando inclusive outra da mesma peça: “Há algo de podre no Reino da Dinamarca”. Tanto uma quanto outra podem ser largamente utilizadas no Brasil, no que se refere à nossa política. É ou não é?
(Em tempo: o post-corrente pede para eu indicar cinco outros blogueiros para também participarem. Faço as indicações, mas os indicados não tem nenhuma obrigação de dar prosseguimento ao jogo. Só se sentirem vontade, tá? Aí vão: Janaina do Alfarrábio, Dilberto, do Morcegos, Claudinha, do Transmimentos de Pensações, Rose, do Jóias de Família e Itiro do Gaijin. Fiquem à vontade, amigos!)
M.S.
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Recebi o selo “Veja Blog – Seleção dos Melhores Sites/Blogs do Brasil”, por terem selecionado este meu despretensioso blog. Não acho que o Antigas Ternuras seja tudo isso, não, mas fico feliz e orgulhoso por alguém o considerar como tal. Aliás, somos um dos blogs da semana, segundo eles. A Rosária Mendes, blogueira muito simpática, me ofereceu o selo “Olha que blog maneiro” o que muito me honra e a quem agradeço de coração. Ambos já estão na Galeria de Prêmios do Antigas Ternuras.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Johnny Mathis e o Tema de Romeu e Julieta (A Time for Us).

19 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
Parabéns pelos selos (muito merecidos, claro)!

Curiosidades bem legais sobre Shakespeare. Minha caçula está lendo Romeu e Julieta, porque está acompanhando uma série de livros (Crepúsculo e demais) e a autora cita constantemente este livro e o Morro dos Ventos Uivantes, fazendo comparações com a trama.
Bem, sobre a tarefa, prefiro fazê-la aqui:
E minha frase é:
" Eles amavam os germes espirituais, que tinham vindo à Terra em grandes e extraordinários corpos, na beira nordeste dessas florestas".
Livro: "Éfeso (EPHESUS)
- Recebido por Inspiração Especial-
Ordem do Graal na Terra.

Quanto à indicar, já sabe como me sinto à respeito e deixo todos à vontade.
Beijo!

dade amorim disse...

Marco e sua mente investigativa! :)
Aproveitou a corrente pra descobrir coisas sobre o bardo e produziu, como de hábito, um senhor post.
Beijo grande!

Anônimo disse...

Ameiiiiiiiiii esse post do Shakespeare. Vc viu aquele filme Shakespeare apaixonado??? Sabe me dizer se a tal Vyolet existiu na vida dele ou é ficção?
Big Beijos

Moacy Cirne disse...

Rapaz, que postagem interessantíssima... Como você descobriu coisas curiosas. Me amarrei nas infortmações. Além do mais, colocadas da forma a mais fluente possível, Parabéns, e um abraço.

[Manú] disse...

Adorei o post, querido.É tão bom quando nos deparamos com biografias interessantes como essa de Shakespeare, é bom conhecer a vida de pessoas que deixaram marcas na sociedade e em nossa vida.Abraço grande pra vc!

Anônimo disse...

Esta tal duvida sobre a existencia dele,deixou-me pensativo,Marco. Cada uma!!

Abração e parabens pelos selos. Muito merecidos!!

abração!!

Francisco Sobreira disse...

Marco,
Pelo que você diz, fiquei com vontade de ler esse livro. Shakespeare, se existiu, ou não, é, na minha modesta opinião, o maior dos dramaturgos, e Hamlet a melhor peça já escrita. Olhe, obrigado por me recomendar aquele blogue sobre cinema do seu amigo. Fui lá e o achei muito interessante. Um abraço.

Anônimo disse...

E eu que adoro o filme " A Paixão de Shakespeare"... Melhor ficar-me pela ficção! LOOOL
*.*

Anônimo disse...

Marco. Partindo da tal corrente que a Adelaide lhe enviou, você fez uma postagem interessantíssima sobre o bardo genial.
Sempre que venho aqui, sei que vou ter enorme prazer. Você tem o talento de "contar" qualquer coisa que seja sempre com um estilo inconfundível e cheio de humor e graça.
Agradeço-lhe sempre.
E envio meu beijo.
Dora

Zeca disse...

É incrível!
Recebe um desafio, cumpre e ainda por cima faz uma pesquisa completa e nos brinda com tantas informações e curiosidades!
Mas, sendo ou não sendo, acabou sendo o maior autor teatral de todos os tempos.
Gostei muito! Como sempre!

Abração.

Anônimo disse...

Ser ou não ser não é agora a questão, pois bem...a questão é que o meu amigopratodavida é o maior fazedor de tarefas do mundo, yupiiiiiiiiiiiiiii!!
Que aula danada de boa você deu partindo de um meme, rsss, arrasou!
lindo dia querido
beijos

Anônimo disse...

Achei interessantíssima a ideia de sua amiga.
Mesmo sem ter sido convidada vou lá no blog dela ver se arranjo uma beirada nessa brincadeira.
Entrona eu, não?
Me desculpe! É só brincadeira.
Como sempre seu blog está nota 10.
Um abraço
Maith

Cláudia disse...

selinho fica uma graça aqui...merecidíssimo

sabe, vou contar um segredo...adoraria fazer teatro.

um beijo querido.

Dilberto L. Rosa disse...

Shakespeare é e sempre sérá uma incógnita, tal como foiram muitos vultos históricos, como se nunca pudéssemos ter a certeza de que grandes homens realmente existiram... E isso me poderia permitir que haveria muitas "imprecisões históricas" em qualquer texto sobre o bardo, afinal, muitas são as fontes, a História, uma só, e nunca exata como uma boa e gostosa Matemática (tal se deu na "querela" Vasco e Flamengo, não? Rs. Tem fonte para todo gosto...)! Mas, enfim, obrigado pela correção quanto ao dia do padroeiro de sua Cidade Maravilhosa, ajeitei no 'post' seguinte!

Obrigado pela lembrança quanto à corrente, já participei dela nos idos do ano 3 ou 4 dos Morcegos, acho, e dela participarei se encontrar uma referência bacana no livro que leio atualmente!

'Post' 100%, que faz viajar, independente da fonte ou da real "História"! "Ser ou não ser"?! Seu 'post' sempre É! Grande abraço, dileto primo!

Marcos Pontes disse...

Há uma piada que di que Shekespeare era francês e se chamava Jacques Pierre, daí o trocadilho; e John Lenon era paraibano e se chamava João Lemos.
Piadinha à parte, boa escolha do diretor colocá-lo como professorde história do teatro, nesse caso, o diploma seria apenas pro-forma e não significa que seu dententor seria melhor professor.

isabella saes disse...

Sempre aprendendo com vc! Obrigada pela dica do livro! Beijos.

Anônimo disse...

Parabéns pelos selinhos!! Acho que o propósito deste meme é justamente falar de livros. Postar somente a frase fica como que uma coisa perdida. Uma frase perdida dentro de um livro, não é a mesma coisa de uma frase perdida fora do contexto.
Quer dizer então que Shakespeare pode ser uma invenção? Que boa invenção!! Tanta coisa que lemos dele não? Alguém existiu, talvez sem um nome pomposo, mas existiu. Boa semana!! Beijus

Anônimo disse...

Seu blog é uma aula...parabéns. Beijos

Janaina disse...

Vou fazer na próxima postagem!
:)