
Pois é.
O Gabeira não ganhou e o Rio de Janeiro perdeu. Por míseros 50 mil votos.
Venceu um candidato que usou de antigas, velhíssimas e sórdidas práticas políticas, a saber: inundar a cidade de papéis, cartazes; fazer alianças até com Belzebu objetivando ganhar de qualquer jeito, custe o que custar; mentir descaradamente; ser cínico e difamar os adversários o quanto puder; fazer um bom caixa (2?); prometer o Céu e a Terra, entre outros absurdos. Evidentemente, este tipo de postura não engana quem é minimamente politizado e informado. Exatamente por conta disso, o prefeito eleito perdeu na Zona Sul e no Centro, empatou na Norte e literalmente ganhou a eleição na Zona Oeste, área mais populosa, desfavorecida economicamente e desinformada.
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A lista de promessas que o indivíduo fez só não é maior do que a relação de coisas que ele não fará. Por ser aliado do governador, do presidente da República e do citado Belzebu, acha que pode tudo. Ele verá na carne que não é assim que a banda toca. E nós, população do Rio, ficaremos ao Deus dará.
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Taí uma excelente oportunidade de reativarmos a seção “A origem de expressões de uso corrente”. Hoje esclareceremos de onde veio o
Ao Deus dará.
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Sua significação costuma ser alguém ou alguma coisa em estado de penúria, abandonado, entregue à própria sorte, largado ao acaso, desamparado, sem rumo. A gênese da expressão começa no Gênesis. No capítulo 41, versículos 15 e 16, diz lá: “Este disse-lhe: “Tive um sonho que ninguém pode interpretar. Mas ouvi dizer de ti, que basta contar-te um sonho para que tu o expliques.- Não sou eu, respondeu José, mas é Deus quem dará ao Faraó uma explicação favorável”.
Ainda na Bíblia, na primeira carta de João, cap. 5, vers. 16-17, tem lá: “Se alguém souber que seu irmão comete um pecado que não o conduza à morte, reze e Deus lhe dará a vida; isto para aqueles que não pecam para a morte”.
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Bem, aí já se tem de onde a expressão veio, mas o que lhe motivou o sentido mais tradicional foi o pão-durismo de alguns portugueses, isso em tempos anteriores ao Século 17. Quando esses sovinas saíam de uma igreja e encontravam algum pedinte de mão estendida esperando o ajutório, suplicando: “Uma esmola pelo amor de Deus!”, diziam: “Deus dará!” e raspavam-se dali para não ter que abrir a mão de vaca. Por conta disso, passou-se a se dizer que quem andava pedindo esmola estava “ao Deus dará”.
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Obviamente, esta desculpa de quem apaga luz com cascudo só para não abrir a mão veio para o Brasil. Muita gente a utilizava quando ouvia o “esmolinha pelo amor de Deus”. No Século 17, o comerciante pernambucano do Recife, chamado Manuel Álvares, adorava repetir a tal desculpa. De vez em quando, ele ajudava os soldados da Fazenda Real com alguns mantimentos. Isso quando ele estava de boa maré. Quando incorporava o Tio Patinhas, recebia os soldados e demais pedintes com o famoso “Deus dará!”. Falava tanto isso, que ganhou a expressão como apelido.
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E você pensa que ele se importou com a alcunha que lhe pespegaram? Rá! Que nada! Gostou tanto que adotou a expressão como sobrenome e se transformou no Manuel Álvares Deus Dará. E mais: passou o epíteto ao filho, chamado Simão Álvares Deus Dará, que foi provedor-mor da Fazenda do Brasil”. Ainda hoje há, no Recife e em Pernambuco, a família Deusdará (acredite se quiser...).
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Pois é. A população do Rio perde uma eleição como essa, com todas as falcatruas havidas e não punidas, e o que podemos fazer? Reclamar ao bispo? Ele vai falar: “Deus dará!” E a antiga Cidade Maravilhosa passará quatro anos ao Deus dará, comandada por gente cínica, que não vale o que o gato enterra. O prefeito eleito jogou pesado. Aliou-se a 13 partidos com o objetivo de vencer o Gabeira a qualquer custo. Mas essa vitória vai ter custo, ô se não vai... O PT do Rio gastou mais dinheiro ajudando o prefeito eleito no segundo turno (pagando a impressão de milhares de folhetos apócrifos contra o Gabeira, por exemplo...) do que com o próprio candidato no primeiro. Não me admira. Embora tenha quem se salve, o PT do Rio está repleto de gente da pior espécie, mafiosos, gente ligada às milícias... Meu Deus! Pior que ele, só o partido Democratas, o DEMO. Esse tem nas suas fileiras vereador que está preso em presídio de segurança máxima, pode isso? Na verdade, olha, salvam-se alguns políticos, sejam de que partido for. O resto...
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Manipularam a mente dos pobres de cabeça e de dinheiro até dizer chega. Li no jornal que um eleitor não votaria no Gabeira por que ele iria plantar maconha nas praias do Rio. Quem soprou uma babaquice dessa no ouvido dele? Minha mãe ouviu de uma professora (????) que ela não votaria no Gabeira por que ele iria tirar o emprego das professoras e explicadoras. É mole uma coisa dessas?
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Caetano Veloso cantando, de Chico Buarque, “Partido Alto”. “...Diz que Deus dará... Não vou duvidar ó nêga!”