sexta-feira, setembro 05, 2008

Ouviram do Ipiranga


Vem aí o 7 de setembro. É a data de nascimento do Brasil, como povo independente. Taí um belo motivo para mais uma seção “A História tem cada história...”: o dia em que o sol da liberdade brilhou no céu da pátria, como diz o nosso hino. Aliás, vocês já perceberam que o parnasiano Osório Duque Estrada escreveu uma letra com boa parte das frases com sujeito escondido (não oculto)?
Lembro das aulas de português na escola: “qual o sujeito da primeira frase do Hino Brasileiro?” “As margens plácidas, professora!”
Tem muita gente que não sabe disso. Na verdade, a frase inicial do nosso hino deveria ser lida assim:
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”.
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Mas vamos ao famoso dia 7 de setembro de 1822, dia considerado pela maioria como o de nossa independência. Tem gente que diz que nossa libertação foi conquistada no grito, sem derramamento de sangue. Nada mais falso. Rolou sangue, sim. E muito! Não digo naquele famoso dia, em São Paulo. Mas nos dias em que se seguiram, quando Portugal não quis reconhecer a emancipação da colônia e engrossou lá nos lados da Bahia.
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A guerra lá foi feia. Teve mortes, saques, estupros (inclusive em freiras nos conventos!), até que o general Madeira entregasse a rapadura, a cocada e o vatapá, no dia 2 de julho de 1823 (para muitos, a verdadeira data de nossa independência).
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No que diz respeito à nossa libertação gritada por D. Pedro I, às margens do riacho Ipiranga, podemos dizer que ali nasceu um país. E, para variar, teve merda no meio (não fosse o Brasil esse Brasil que a gente conhece...). Merda, mesmo. Literalmente falando. E metaforicamente falando também.
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Na manhã daquele dia, D. Pedro, príncipe regente do Brasil, estava passeando por Santos. Ele já tinha conhecido D. Domitila do Canto e Melo, futura Marquesa de Santos, desde o dia 29 de agosto. Quando os dois se viram, aconteceu uma espécie de tempestade eletro-química na cabeça deles. O que se acostumou chamar de “amor à primeira vista”. Acontece que a moça era casada com Felício Pinto Coelho de Mendonça, que era mais brabo que siri amarado em penca. Vivia enchendo a lata da Domitila de bolacha. (E ela se interessa logo por quem, por Pedro de Alcântara, que enchia a Leopoldina de porrada...). E acontece que o Pedrão também era casado, embora estivesse defecando e caminhando para isso.
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Pois é. Naquele dia 7 de setembro, D. Pedro tinha se avistado com Domitila e tiveram uma discussão. Sabe-se lá por quê. Acho que ela deve ter negado alguma coisa para ele. O Regente ficou que nem o cachorro do Mickey: Pluto da vida. E aí, ele estava andando pelas ruas de Santos, quando avistou uma bela negra, toda rebolosa. Na hora, uma certa parte do corpo do Pedro, que fica entre a virilha esquerda e a direita, começou a dar sinal de vida. Ele caiu matando para cima da escrava, que não o reconheceu. O príncipe regente do Brasil andava pelas ruas sem séquitos, sem comitivas, flanava feito um mortal comum. E a negra nem imaginava que aquele sujeito abusado fosse o manda-chuva do pedaço. Ele passou a mão na negra e ela fritou a cara dele. E correu para casa.
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D. Pedro, que já estava puuuuuuraqui, por conta do fora que levou da Domitila, seguiu a escrava e viu onde ela entrou. Bateu na porta e chamou o dono da casa. O regente se identificou e disse que queria comprar a escrava que o tinha esbofeteado. O dono disse que não venderia. Naquela época era possível dizer não na cara do principal mandante...
D. Pedro ficou mais puuuuur conta da vida com essa desfeita.
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Mandou reunir a comitiva e disse que retornaria para São Paulo naquela manhã mesmo. Acontece que na noite anterior, tinham oferecido para o regente um baita jantar cheio de petiscos e guloseimas. Como Santos é cidade litorânea, talvez tivessem lhe oferecido ostras e outros frutos do mar que não estavam lá frescos. Resultado, na subida da serra, o Pedrão descobriu que estava com uma diarréia legal, da melhor qualidade. De vez em quando tinha que parar para aliviar as tripas, se é que vocês me entendem...
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Quando deu umas 16h30min, ele teve mais uma cólica e mandou parar tudo. Procurou uma moitinha na beira de um riacho e desceu o barro. O Ipiranga ouvia o “brado retumbante”, mas não era de um “povo heróico”...
Nisso, chegam mensageiros com cartas da D. Leopoldina e de José Bonifácio. O seu camareiro Chalaça levou as cartas enquanto ele estava fertilizando o solo paulista. E o que dizia a missiva? Bonifácio e Leo avisavam que as cortes portuguesas queriam tirar-lhe os poderes no Brasil, que ele não mandaria nada e ainda por cima o chamavam de “rapazinho”... Iiiih. Fedeu!
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O homem interrompeu aquele momento solitário. Sem nem se limpar, levantou as calças e vociferou com a força de um Vesúvio, expelindo lava! Aquilo já era demais. A mulher por quem ele tinha se apaixonado tinha discutido com ele. A negra com quem ele queria botar a tora para serrar tinha dito não e ainda lhe dado uma bifa. O dono da negra se recusou a vendê-la. O jantar do dia anterior o estava fazendo se esvair em bosta. O calor estava de queimar os miolos. E ainda vinha uma notícia como aquela? Ah, ele se estourou de vez! Pegou a espada, tirou os laços representativos de Portugal do chapéu, mandou que todo mundo fizesse o mesmo, subiu no cavalo e... bem, o resto vocês já sabem.
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Ali, naquele momento, com o rabo sujo de cocô, D. Pedro criava um país às margens do Ipiranga. Já podeis da pátria, filhos, ver contente a mãe gentil! Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil!
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Talvez por termos nascido num momento assim, tão fecal, criou-se a tradição de nossos governantes fazerem merda, uma atrás da outra. E não adianta reclamar!
Consta que depois de ter proclamado a independência, D. Pedro ficou meio arrependido. Tanto que passou a dar muitos privilégios aos patrícios portugueses no comércio. Sem contar que topou assumir a enorme dívida externa que Portugal tinha com a Inglaterra para que o antigo país-matriz aceitasse reconhecer a nossa independência. Uma bobagem, porque eles já tinham perdido tudo mesmo, depois da guerra na Bahia. Se Pedro I não quisesse assumir a dívida, Portugal não faria nada e nós não teríamos começado a nossa existência já devendo a Deus e ao mundo.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Fafá de Belém cantando o Hino Nacional Brasileiro, de Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada.

22 comentários:

Dilberto L. Rosa disse...

Primeirão! Rapaz, dei boas risadas por aqui, que texto espirituoso sobre nossa História! Memso com boa parte das histórias aqui reunidas já serem conhecidas do grande público, especialmente depois da popularização de "Quintos dos INfernos" na Globo, estê seu texto é mesmo um achado!

Meu velho, na merda ou não, finquemos os pés nesta eleição e esperemos... Bom feriado e ótimos ventos para a vendagem de seu livro (que ainda não comprei... E que também ainda não ganhei, ré, ré!)! Abração!

Giu disse...

Meu escriba predileto! Adorei o texto... quisera eu, nos idos tempos escolares, ter um professor supimpa como vc; certamente teria aprendido muuuuuito mais a respeito de nossa e de outras histórias.
Feliz final de semana procê.
Beijos da Giulia

Lulu on the sky disse...

Nada como um pouco de história não é verdade. De todos os hinos nacionais cantados, o mais emocionante é o da Fafá de Belém.
Big Beijos

Mimi disse...

hahaha, depois de tanta #$%¨&, dívidas!
Eita, Brasil!
Mas por Minha Pátria querida, não temo a morte e não fujo da luta.
Amo meu país, mesmo com suas sujas histórias.

beijos e mais beijos e saudades de você, Marco amigo meu.

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco!
A história é escrita como convém, não é mesmo? Não há muito o que comemorar mesmo, mas é o nosso país... E por falar em Hino, descobri outro dia que foi um antepassado meu (Joaquim José Mendanha) que compôs o Hino do Rio Grande do Sul. Detalhe: ele era espanhol e morava em Minas, foi pra guerra com a banda e lá ficou a exaltar a terra que mal conhecia.
Esta gravação do HN pela Fafá é muito linda.
Beijo!

Anônimo disse...

Marco, você é impagável.
Bom domingo, amigo.

valter ferraz disse...

Marco,
história é história. Existem muitas versões. Mas o resultado é esse aí mesmo que se vê. Só podia dar merda mesmo.
Bom, se nós não fizermos a nossa independência, o 7 de setembro é apenas uma história mal contada.
Um abraço forte

Anônimo disse...

A-do-ro seus escritos esclarecedores e hilários, uau! Se tivesse sido meu professor, garanto que podia até não aprender tanto, mas sairia muito mais feliz da sala de aula, rsss
Amigopratodavida, ainda agora falávamos sobre esse dia tão marcante para nós, esperávamos a parada, vibrávamos com o material bélico e os belos rapazes enfileirados, tínhamos patriotismo, acreditávamos no país.
Hoje? Bem…hoje tudo não passa de chanchada.

lindo dia meu querido,
beijos

Anônimo disse...

Putz... ótimo... rssss

Anônimo disse...

Certamento não foi assim tão engraçado, mas que o Brasil começou na m... não há dúvida. O quadro heróico que pintam do Ipiranga é pura fantasia. E você coloca as coisas no lugar.

Anônimo disse...

Adorei,grande MARCO.Não sabia de tantos detalhes assim daquele momento historico,hehehe.
quer dizer que,literalmente,nossa independencia nasceu sobre muita merda....

Abração!!

Anônimo disse...

Pelo menos se manteve a coerência histórica: o país começou e acabou em merda. E num belo acordo de comadres, em que o Estado entra com a bunda e os particulares com o resto.

Moacy Cirne disse...

Acredito, meu caro, que o "7 de setembro" foi construído historicamente. Nos meses seguintes ao tal dia, nenhum historiador da época, ao que sei, chega sequer a mencioná-lo. O episódio da Bahia parece-me mais importante, em termos políticos. E, como sempre, o seu texto é muito bom. E hilário. Abraços.

Lila Rose disse...

Ahahaha! Você é o melhor contador de histórias que eu conheço, querido!!!

O texto ficou ótimo!

Bisous.

dade amorim disse...

:))))
Se até hoje os brasileiros têm essa necessidade incrível de enfeitar a história e contar fatos distorcidos, sabemos a quem saímos, né? E de tanto inventar o passado, nossos políticos aprenderam a inventar também um futuro que nunca vão cumprir.
Beijo, Marco.
PS: Da próxima vez chamo os amigos do Rio, juro.

JM disse...

E essa parte da história, referente à dívida externa com a Inglaterra, é uma das coisas que me deixam mais puto, quando estudo história. Já tínhamos desde o início vocação para palhaços...

Tina disse...

Oi Marco!

Disse tudo! Eu garanto que nunca ouvi essa versão na vida acadêmica (oficial). Sério mesmo.

beijos querido, parabéns pelo post.

Anônimo disse...

oie Marco nossa q saudades daqui ,precisei estar ausente mas ja to de volta e vim te ver,como sempre rindo do modo que vc escreve e essa de D Pedro,nao sabia nada disso,riss,fala sério vc é inédito ,te adoro,parabens por tudo vc merece ,deixo um carinho e uma linda semana iluminada,bjss

Luma Rosa disse...

Marco, conhecia essa história detrás da moita, mas e o resto, esse lance da escrava, aconteceu mesmo? (rs*) Penso na frase "independencia ou morte" - quem em sã consciencia escolheria a morte? Chego a duvidar se ele disse mesmo. Beijus

Francisco Sobreira disse...

Caro Marco,
Já no meu tempo de adolescente, eu sabia da origem da "independência" do nosso país. Só que não conhecia os detalhes que você nos revela com o humor irreverente de sempre. Um abraço.

Anônimo disse...

Uau, Marco, uma iluminação sobre a verdade dos fatos! Adorei saber como afinal de contas essa merda começou na merda e parece perdurar assim seculum seculorum, principalmente quando estamos prestes a largar nosso votinho lá na urna...
agora também comecei meu "querido diário" bloguístico. Tô chamando você pra ler, caso tenha tempo e paciência.
http://joiasdafamilia.blogspot.com/
Euzinha, que sou muita da metida,
Abraço!
Rose

Anônimo disse...

Marco, já ouvi uma outra versão mais simples. D. Pedro teria sido ameaçado de morte caso não proclamasse a independência do Brasil, donde a famosa exlamação dele: Independência ou Morte!
Como disseram a História é escrita conforme se deseja. É claro que apenas 30 por cento delas são verdadeiras, principalmente dos tempos mais remotos. Conheço um livro que fala das verdades e mentiras da História Mundial. Muito curioso.
Um abraço. Bom domingo.