quarta-feira, setembro 24, 2008

Nossos comerciais, por favor - Parte 1


Meu dileto amigo J.F., com quem tenho tanta afinidade e consideração que o chamo de meu mais novo “amigo de infância”, me sugeriu um post sobre anúncios em bondes. Como pedido de amigo meu vale mais que ouro, aqui vai o seu atendimento. E gostei tanto da idéia que farei posts sobre antigos comerciais divididos em duas partes. Hoje, será o dos bondes e trens. Na próxima semana, será a vez de comerciais de TV, mas aqueles do tempo do seletor de canais, do Bombril grudado na antena e do celofane colorido na tela. Quem é da minha geração sabe do que eu estou falando.
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Bem, amigos do Antigas Ternuras, tenho que confessar que sou do tempo dos bondes. Mas antes que vocês me chamem de velho gagá, que digam que eu escovei a crina do Cavalo de Tróia, e parará, pereré, preciso dizer que eu peguei o finalzinho dos bondes, viu?
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Minha mãe me conta umas histórias minhas daqueles tempos. Diz ela que eu com três, quatro anos gostava de dar o meu show do banco do bonde. Mexia com todo mundo! Chamava de careca, de gordo, se o cavalheiro desse mole com o chapéu eu dava-lhe um piparote só para ver o dito cujo voar e aí ter que parar o bonde pro cara ir pegar o chapéu, minha mãe me dava uma bronca... E quando eu resolvia fazer discurso político? Com quatro, cinco anos, eu subia no banco do bonde e falava para os ilustres passageiros que ia colocar água, luz, telefone na casa de todo mundo. Pode uma coisa dessas? E pelo que disse minha mãe, eu fazia discurso para horário político gratuito nenhum botar defeito. Uma vez, um cara me ouviu discursar e gritou lá de trás: “Fala, deputado baiano!”
Como eu era uma criança inocente, não tive como responder: “Deputado baiano é a p...@#$%&*!!!!!!!!!”
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Já maiorzinho, resolvi encerrar minha carreira política. Já viajava sem encher o saco dos demais passageiros. E lembro que eu gostava de olhar para as propagandas que apareciam no alto da parte interna dos bondes. Eram imagens coloridas, curiosas... Aquilo me distraía e fazia com que o tempo passasse e a viagem fosse até divertida.
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Nos trens também apareciam os mesmos anúncios e estes eu peguei já mais taludo, mesmo quando os bondes acabaram. Os reclames que ilustram este post, em boa parte me foram enviados pelo meu amigo J.F. Outros, eu catei na Internet. Incluindo o anúncio mais famoso de todos os tempos, o do Rhum Creosotado. Os dizeres “Vejam ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado...” são lembrados até hoje, mesmo por quem não é do tempo do Rhum Creosotado! (parêntesis: eu sou! Minha tia me fazia tomar uma boa colherada todos os dias, “para não ficar constipado”, dizia ela...fecha parêntesis).

Noutro dia eu perguntei numa farmácia se ainda existia Rhum Creosotado. O senhor que me atendia sorriu com nostalgia e disse que não. Outros remédios do meu tempo como Biotônico Fontoura e Emulsão Scott estão tão diferentes que nem os reconheci! No Emulsão Scott acabaram com o rótulo em que aparecia o pescador carregando o bacalhau nas costas, onde a gente escrevia um balãozinho nos anúncios dizendo assim: “chato é o bafo no cangote!” Agora tem até óleo de fígado de bacalhau sabor laranja!!!!
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Quando eu morava com meus tios, no bairro da Piedade, volta e meia meu tio Jair me levava para o Centro, viajando no trem da Central. E eu ia olhando para os anúncios, reconhecendo os produtos que minha tia ou minha mãe usavam: cera Parquetina, gordura de côco Dunorte, talco Regina, arroz Brejeiro, sabonete Eucalol, fogãozinho Jacaré, perfume Cashmere Bouquet, Regulador Xavier (que eu nem imaginava para que servia tanto o “número 1”, quanto o “número 2”), ou outros produtos que ainda existem hoje em dia mas com outras embalagens.
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Rever estes anúncios hoje é uma viagem pelos trilhos da lembrança. Só que, como disse Gilberto Gil no “Expresso 2222”:
O trilho é feito um brilho que não tem fim
Oi, que não tem fim
Que não tem fim
Ô, menina, que não tem fim

E eu sigo esses trilhos, revendo nas estações e paradas o menino que se encantava com os reclames, que fazia discursos políticos, que já foi um tipo faceiro “salvo” pelo Rhum Creosotado.
M.S.
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Quero agradecer do fundo do meu coração aos amigos que me deram parabéns pelo aniversário. Os que viram na data escancarada no meu perfil aí ao lado, os que já sabiam, enfim, aos meus amados e queridos amigos que lembraram deste humilde escriba e me mandaram pensamentos felizes, meu muito obrigado. Queria dividir meu bolo com vocês...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve Elis Regina, cantando “Comunicação”.

20 comentários:

Anônimo disse...

Oh... Eu não sabia.. Passou-me ao lado!
Mas, aqui ficam os PARABÉNS atrasados! E, quanto ao bolo, deixa estar, já deve estar passado! looool

Adorei ver as pub, apesar de não conhecer nem uma! lol Mas aqui em Portugal também temos coisas desse género! :)
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Anônimo disse...

Não sou do tempo do bonde, mas sou do tempo em que a gente consumia aos borbotões a famigerada geléia de mocotó Inbasa e a mãe ficava com o copo...
Mas a iguaria das iguarias era o Biotônico Fontoura, que minha mãe misturava com ovo de pata e fazia a gente beber para abrir o apetite. As mães de antigamente eram todas umas loucas, pobres criancinhas...

J.F. disse...

Marco, meu amigo. Sensacional! Que viajem no tempo! É lógico que eu conheço tudo isso, embora fosse criança, naquela época. Mas, relatado por você, ganha um sabor especial.

Gostei muito de ver a foto do "reclame" de Rum Creosotado. Essa eu não conhecia. Lamentavelmente, parece que o que sobrou foram fotos. Aparentemente, não existe nenhum exemplar do cartaz, inclusive entre os coleciondadores, apesar de que a propaganda desse produto tivesse começado a circular ainda nos anos 20. Além disso, esse cartaz fotografado já é de uma versão mais "modernizada", diferente de versões anteriores em que o cartaz era na posição vertical e não levava nenhuma imagem, como cheguei a ver no Rio de Janeiro, ainda criança, ali por 1954/55 (Nem vem! Nem vem! Não fui auxiliar de cozinha da Arca de Noé, não!!!).

Muito bom o seu relato. Fico aguardando ansioso pela Parte 2.

E parabéns pelo aniversário.

Abração

Lulu on the sky disse...

Gostei dessas propagandas no bonde.
Big Beijos

Moacy Cirne disse...

Meu caro (estou no Rio, no momento!), o bonde praticamente não existiu em minha vida. A não ser de forma muito breve (em Natal, em dez.52/fev.53, por exemplo). E já no Rio, com os bondes de Santa Tereza, eventualmente. Portanto, reclames em bondes não constituem o meu departamento. Mas a sua postagem está muito boa. Como sempre. Um abraço

Anônimo disse...

Amigopratodavida, que deliciosas lembranças, viajei nos trilhos, bons tempos de trem e de Piedade também.
Agora óleo de fígado de bacalhau sabor laranja?! Caraca!!
Eu decorava todos os "reclames" e senti falta de um: Dura Lex, Sed Lex, no cabelo só GUMEX, kkkk, meu pai usava gumex.

lindos dias meu querido,
beijos

Anônimo disse...

Impossivel não "viajar" com estas lembranças,MARCO.
Tá,eu confesso: já andei de bonde,muitos anos atras,lá nas praias de Santos.
Saudosos tempos!!

Grande abraço!

dade amorim disse...

Puxa, Marco, fiquei no grupo que te manda pensamentos felizes =o]
Mas agora que anotei o dia, você não escapa de um parabéns, pode deixar.

Tudo de bom pra você e muito sucesso, viu?

Beijo grande.

Tina disse...

Oi Marco!

Nossa, qunto tempo que não via essas propagandas! Boas lembranças.

Obrigada pelo carinho na msg que me deixou. Tenha um ótimo fim de semana.

beijos,

Mimi disse...

Eu não li aí no blog. Foi QQ-Márcia-Clarinha quem me avisou, no dia mesmo. Mas eu só pude te mandar meu carinho dias depois, como vc sabe...

Anúncio de bonde? Remédios que não sei o nome?
aff, bem antiga essa ternura, não?

;-)

Brincadeirinha, Marco!

Muitos beijos em você!

Luma Rosa disse...

Marco, a maioria das coisas que citou, eu nunca ouvi falar e outras ainda vejo propaganda na tv, como o óleo de fígado de bacalhau (eca!). Tenho uma amiga na Alemanha e sempre quando vem ao Brasil, leva um estoque de Biotônico Fontoura para dar à filha. Já ouvi coisas sobre ele, como provocar dependência e até levar ao alcoolismo devido a quantidade de alcool contido na fórmula. Um aperitivo, não é? Lembro que os antigos tomavam uma cachacinha para abrir o apetite e se uma não resolvesse, tomavam duas ou mais para matarem as lombrigas. A minha memória é mais olfativa e lembro, por exemplo do cheiro do "pó de arroz" que a minha ama usava. Bons tempos!! Bom fim de semana! Beijus

Anônimo disse...

Estou aqui com minha velhice toda lembrando coisas que conheci quando já era mãe e vocês ainda eram crianças. É engraçado. com o tempo parece que a diferença de idade não é mais empecilho para uma boa comunicação. Mas, voltando aos anuncios, lembro de todos esses e muitos outros, como aquele, Quem bate? É a tosse! Aqui é o xarope bromil! Cadê ela? sumiu?
Bem no tempo desta eu acho que seus pais ainda estavam planejando a sua vinda a este mundo.
Boa noite!

Sandra Leite disse...

Marco

Esqueci de vir aqui te dar parabéns. Menos 1 ponto pra mim. Mas desejo mesmo que vc deseje o que há de melhor da vida: pessoas, encontros, histórias, músicas, pessoas, arte, saúde e por aí vai...

felicidades

Carpie diem :)

beijos

benechaves disse...

Oi, amigo: bom relembrar tudo isso, não? São produtos que ficaram na nossa mente e que não voltam mais. Não alcancei bondes por aqui e nem sei dizer se tinham tais ou quais anúncios. Mas, as farmácias sempre vendiam esses remédios. Bons instantes para a nossa memória. Parabéns!

Um abraço...

Chellot disse...

Amigo que fiasco o meu. Ando tão afastada desse mundo blogueiro que nem sabia de nada. Espero que aceite meus parabéns atrasadíssimos.
Bem voltando ao tema do post, vc devia dar trabalho aos seus pais né?
Veja só do tempo dos bondes? hehe
Devia ser divertido andar neles. Fico pensando é nos dias frios e chuvosos como hoje, onde se esconder?
Creio que deveria ser difundido informações a população nos trens e metros, não apenas propagandas de celular entre outras.

PS: novo capítulo da Fada e o nobre pirata no caminho dos contos. Faça um tour pelo labirinto. Serei sua guia. Tem até uma indicação merecida.

Beijos de tempestade.

Anônimo disse...

Marco! Eu tenho certeza de que sou mais velha(um pouquinho só...) que você e não me lembro do bonde. Só de "oitiva"(rs). Meus pais falavam nele.
Mas, os remédios aí, eu me lembro do Biotônico Fontoura, que minhas irmãs tomavam, porque eram "enjoadinhas" para comer. Eu escapava, porque era "boa de boca"!
E me lembro de minha mãe escutando novelas pelo rádio. Eu era pequenina, mas "ouço" até hoje a música do comercial de "Colgate" e "Palmolive" que patrocinava a novela...rs
Adorei seu texto!
Fiquei chateadíssima de vc aniversariar e eu não lhe dar aquele abraço!!!!!!!!!!
Boa sorte e feliciadde para você, caríssimo amigo.
Dora

Julio Cesar Corrêa disse...

Fomos privilegiados ao estar nesse mundo e nessa cidade quando os bondes existiram. Sempre que vou a Santa Teresa, procuro ir ou voltar de bondinho. É muito gostoso. Aliás, estou em Lisboa e aqui ainda há bondes - os elétricos, como eles chamam - mas os daqui são diferentes. Mas não deixam de ser uma delícia.Me lembro das histórias do Nelson Rodrigues que rolavam em bondes.
Quanto ao celofone na tv, me lembro de uma tia que anunciou que tinha sua tv agora seria a cores. Como tv a cores ainda era objeto de luxo, a família toda correu para lá. Ainda me lembro de todos, muito putos, diante de uma tela verde, assistindo o último capítulo de Selva de Pedra (aquela em que a Regina Duarte encarnava a Rosana Reis, lembra?)kkkkkk.
abração

Anônimo disse...

Sou nova aqui e adorei seu blog me lembrei de tantas coisas....ternas.

Anônimo disse...

Ôô, Marco!
Como lembro dos bondes! E das propagandas nas suas laterais, no alto! E coo detestava o tal do óleo de fígado de bacalhau! São tantas antigas ternuras, que estou aquí, viajando pelo tempo.

Abração.

maristela faria disse...

Oi, a dois meses estou a frente nos periodos da tarde e finais de semana de um bar chamado ESTAÇÃO NOEL,o endereço que acho chiq é Boulervard 28 de setembro 9 e 9A.

Fiquei pensando que não quero só ficar vendendo comida e bebida, quero fazer mais.

Outro dia estava na porta do Bar no começo da noite, as luzes se acenderam sobre a belissima estátua de Noel que está na praça em frente ao bar. Pensei porque não viajar no tempo e transformar o estação em uma referencia muito maior que a gastronomica.

Quero fazer um programa de rádio, ao vivo direto do sobrado, com histórias, músicas, calouros etc.
achei que seria divertido colher as histórias do Bairro, revitalizar a memoria e deixa-la para a posteridade.

Pois bem fica um convite, para quem queiser participar aceito sugestões.

Abraços

Maristela