sexta-feira, setembro 21, 2007

Dia de corno


Aqui no Rio, esta expressão é usada como sinônimo de “um dia de cão”, um dia muito difícil etc. Pois é. Eu tive um dia de corno, mas não foi nem um pouco ruim. Ao contrário: foi muito divertido.
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A Cia. teatral em que atuo fez num domingo desses uma apresentação no Aterro do Flamengo (vide fotos). Teatro de rua, mesmo, onde apresentamos, em duas sessões, algumas improvisações em cima da peça “George Dandin”, de Molière.
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Na peça, o personagem-título é um homem simples que enriqueceu e não quis se casar com uma mulher de sua condição social. Para ascender na sociedade, tratou de combinar casamento com a filha de uma família de nobres decadentes, em troca do pagamento das dívidas que eles tinham contraído. Um nobre fidalgo que mudou-se para a vizinhança começou a cortejar a esposa de Dandin, Angélica, que por vaidade, aceitava a corte do galã e se encontrava com ele às encondidas. George Dandin descobria sempre as armações da esposa, mas nunca conseguia provar nada perante seus sogros, que a cada tentativa ainda o humilhavam e o obrigavam a pedir desculpas à mulher e ao paquerinha dela.
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O diretor me escolheu para o papel de George Dandin, ou seja, para fazer o tal marido traído. E foi muito divertido atuar em área aberta, diante de passantes, de crianças, de pessoas que estavam por ali, naquela área de lazer. Fizemos até duas apresentações, com muito sucesso.
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Devo ter ido bem no papel, uma vez que os espectadores confundiram o ator com o personagem e só me chamavam de “o corno”.
- Ô corno, parabéns!
- Ô corno, tira uma foto aqui com a gente. Mas não encosta em mim, não, que isso pega!
E para deixar a coisa mais divertida, numas das apresentações apareceu um bebum, um cara que tinha tomado todas e estava a fim de confraternizar com o elenco. Aliás, só com o ator que fazia o papel principal.
- Olha o corno aêêê, gente!
- Fala corno!
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Nessas apresentações ao ar livre sempre aparece um desses exus brabos para fazer graça. E a gente tem que aturar... Como o meu aniversário seria dois dias depois daquela apresentação, os atores da Companhia me fizeram uma festinha ali, mesmo. Teve bolo, refrigerante, parabéns...
E o bêbado voejando em volta:
- É aniversário do corno? Vamos cantar parabéns pro corno!
- Ô corno, me dá um pedaço desse bolo aê...
- Ô corno, me arruma um copo de coca-cola...
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Eu levava tudo na esportiva, é claro. De vez em quando até soltava uma piadinha também. Mas o ponto alto daquela minha “cornitude” foi quando um senhor veio falar comigo:
- Parabéns. Estava muito bom.
Eu agradeci.
- Obrigado. Fico feliz pelo senhor ter gostado do nosso trabalho.
- Mas você sabe a origem dessa expressão, de chamar um marido traído de corno, de chifrudo?
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Putz! O cara me pegou! Eu não sabia e confessei isso pro cara, para ouvir em resposta:
- Mas como é que vocês falam as coisas sem pesquisar, sem saber a origem do que vocês falam?... Vocês tinham que procurar saber a origem dessas expressões!
Pois é. O cara falou uma coisa dessas pra mim! Tive que sorrir amarelo e admitir que não sabia, que, sim, deveria ter pesquisado, parará, pereré...
(Bem feito, Seu Marco! Quem mandou não pesquisar as expressões que fala!)
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E aí o camarada me contou de onde vinha a expressão.
Na antigüidade, houve o tempo de Átila (o rapaz aí da ilustração) e seus hunos, um povo bárbaro que habitou a Europa Central no norte dos Bálcãs (mais ou menos onde hoje está a Bulgária, a Sérvia, por ali), por volta do Século 5 depois de Cristo. Essas tribos bárbaras eram guerreiras ferozes. Não foi à toa que Átila passou à História como “o Flagelo de Deus”. Seus soldados usavam capacetes de ferro, alguns adornados com chifres, parecidos com os utilizados pelos vikings.

Átila tinha um general famoso por sua ferocidade e sua cara de mau. Ele usava um capacete com dois enormes chifres o ladeando. O curioso é que embora o tal general huno fosse brabo feito cão danado, a mulher dele era... digamos... muito generosa com os outros homens. Na verdade, ela dava mais que chuchu na serra! Na ausência de seu marido, era só pegar uma senha, entrar na fila que ela servia o hamburgão para a rapaziada.
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A fama de vadia da mulher correu chão, sem que o marido feroz soubesse, é claro (corno brabo é terrível! A sorte dele era ser “corno-Ferrari”: os casos da mulher eram muito rápidos. Também poderíamos dizer que ele era um “corno-galo”: aquele que tem chifre até nos pés. Na verdade, ele era um “corno-porco”: aquele que só come o resto)
Certa vez, um dos soldados falou pro outro:
- A mulher daquele ali dá pra todo mundo!
O outro quis saber:
- Qual?
- Aquele ali, o mais chifrudo...

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Claro que o tal senhor não me contou a história assim. Eu ouvi e estou agora recontando com minhas palavras, do meu jeito. Se a história é verdade, não sei. Mas é como história de corno... Sempre tem um fundo de verdade...
M.S.

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Agradeço muitíssimo aos amigos pelas mensagens de Feliz Aniversário nos comentários do último post. Alguns perceberam a "cola" que eu dei no perfil ali, no alto do Blog. Obrigado pelo carinho. Vocês sempre serão minhas eternas ternuras.
Para quem quer saber quantos aninhos eu completei, segundo este site, que dá a idade da gente em outros planetas do Sistema Solar, eu sou um jovenzinho em Marte, um idoso em Vênus e uma criança de colo em Saturno. Bem, aqui na Terra, tem época em que me sinto adolescente, em outra, um velho gagá e, na maior parte do tempo, queria que me fizessem bilu-bilu...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Nos bailes da vida”, com o meu, o seu, o nosso Milton Nascimento. Essa música é um hino em homenagem a todos os artistas que, com a roupa encharcada e a alma repleta de chão, vão aonde o povo está...

28 comentários:

Anônimo disse...

A mulher era generosa...rs. Sempre divertidos e interessantes os teus posts, Marco. Ótimo final de semana para você, meu amigo.

Nena disse...

hahaha, não creio que você foi surpreendido assim!

Mas foi divertido!(ao menos para mim)

doro, doro, doro, adoro ler tuas histórias, Ternuróvski!!!

Grande abraço amigo

Claudinha ੴ disse...

Olá Marco! Mas que coisa legal!
Gostaria muito de vê-los em atividade. Parabéns pelo belo trabalho, pela experiência. Tenho alguns dos meus meninos caminhando nesta estrada teatral e têm feito sucesso. E quanto ao significado, sempre temos coisas a aprender...
Beijo e ótimo final de semana!

ninguém disse...

marco, dava um dedo (outra expressão-desafio) pra te ver de george dindin, eu adoro este texto!
e quero te desejar uma bela entrada de primavera neste domingo.
bj

Chellot disse...

Ahahaha! Muito legal o seu texto. Adorei a expressão "corno-Ferrari".
Deve ter sido muito legal a peça. As fotos estão muito boas. Essa do cornudo é nova pra mim também, mas é muito engraçada. O capacete de chifres me é conhecido como um símbolo de força, coragem e virilidade, herança Celta que os bárbaros e vikings usavam.
Você foi de certa forma ensinar algo para o público e acabou aprendendo também. Isso foi um prêmio para todos nós.

Felicidades mil pra você amigo!

Beijos ladrões.

BABI SOLER disse...

O seu trabalho é gratificante e ouvir o que você conta mais ainda.

Anônimo disse...

Deve ter sido bem legal essa peça! Adoro teatro!!!

Mais um post interessante! Não sabia dessa do Átila!!! Hehehehe...

Kisses

Anônimo disse...

Caro Marco,
Deve ter sido uma peça bem divertida. E não tenha dúvida de que a sua atuação foi boa, tanto que o personagem foi confudido com você. Interessante essa expressão ser usada aí no Rio para mencionar um dia ruim pro sujeito. Por fim, embora com grande atraso, meus parabéns por mais uma velinha. Mas será que você já está na idade em que, segundo Bob Hope, o número de velas custa mais do que o bolo (rs)? Um abraço e um excelente fim de semana.

Anônimo disse...

Meu caro Marco,
O que mais me surpreende em seus textos (sei que estou sendo repetitivo)é a ligação entre um fato real, vivido e as origens históricas de uma expressão, p.ex.
É sempre um prazer retornar aqui, meu amigo.
Parabéns.

Anônimo disse...

Olá! Marco, não vim te dar meu beijo de FELIZ ANIVERSÁRIO. Perdão, mas a Vitória se foi e me deixou fora do ar. Está difícil viver sem a presença dela. Ela foi embora sem aviso prévio. Sabe, seu post (Dia de corno) me fez rir muito? É neste momento que vejo a importância de "Antigas Ternuras" nos momentos de alegria&tristeza. Adoro seu jeito de escrever. Você é um baratinho... Agora vou ler o penúltimo post... Beijossssssssssssssss MM

Anônimo disse...

Nossa! Nunca mais olharei um corno com os mesmos olhos..
Um beijo, querido e ótima semana!

Luma Rosa disse...

Ah Garoto!! Eu queria ter visto sua apresentação! Lógico que não pelas chamadas! (rs*)

A Camilla do príncipe Charles, é duquesa da Cornuália. Será que lá eles sabem o significado da palavra corno?

O link não abriu...

Boa semana! Beijus

Anônimo disse...

Nossa Marco que experiencia legal e divertida, gostaria de ter estado lá para ver. Voce e sempre tão criativo quando escreve, fico imaginando que deva ser otimo atuando tambem. Parabens pelo sucessso e por mais um ano conquistado. Desejo que Deus te conceda muitos anos de vida e toda uma eternidade para voce fazer feliz todos ao ser redor.

Um abraço!

Renata Livramento disse...

Oi Marco!

parece mesmo divertido... se já foi ao ler, imagina participar!

Quanto à expressão, prefiro a do " dia de cão" mesmo..rs.r.sr.s.

Bjos e ótima semana!

Lila Rose disse...

Hehe, muito bom, Marco!
Prometo não fazer nenhuma piada de corno, tá? rsrsrs

Você deveria ter dado o endereço do teu blog ao senhor.

Parabéns pelo trabalho. Tá faltando um pouco de cultura ao povo que vive preso às porcarias da televisão.

Bisous!

Anônimo disse...

Parabéns, sei que atrasados, mas mais vale tarde do que nunca!
Adorei ver as fotos do vosso teatro de rua. Admiro a vossa coragem e a vossa dedicação.

E quanto à história do corno, só podia ser uma coisa desse género. Coitado do homem, mal sabe ele que ficou para a história! loool

Beijos*.*

Anônimo disse...

Pois eu gostaria muito de ve-lo em ação,MARCO.
Deve ter sido muito legal a interação.
ABRAÇÃO e um otima semana.

Anônimo disse...

Quer dizer que foi um sucesso a peça? Novidade né não?
Mas não acredito que não soubesse a origem da expressão, você foi bonzinho e agradou ao senhorzinho e ainda ganhou um lugar no céu, amigopratodavida, você é espertinho além de ótimo ator,rss
semana linda
beijos

Saramar disse...

Marco, se você não existisse, teria que ser inventado.
É maravilhoso!
Ler suas histórias na segunda feira é combustível para passar a semana inteira feliz.
Chorei de rir com esse seu jeito de contar ahistória da mulher do Aquiles. Quanta maldade essa história da senha (rsssssssssssss... adorei).

beijos, querido, boa semana para você, tão boa quanto a minha vai ser por sua "culpa".

Anônimo disse...

Marco:
Achava que esta coisa de corno era típica brasileira, não que tinha vindo de fora e que está ligada aos chifres de um huno.
De qualquer forma, boa estória. E parabens pelo sucesso.

benechaves disse...

Oi, Marco: antes de mais nada, um parabéns atrasadíssimo, mas sempre um parabéns! E depois dizer das informações que vc nos passa. Sempre com o humor caracterísico. No 'tô-que-tô' realmente vc tá com 'a corda toda'. Sublime descrição a partir de atos e fatos.
E no 'dia do corno' não fica atrás não. E tb parabéns pela encenação da peça ao ar livre. Vc deve ser um bom ator, corroborando com a sua condição tb de um excelente narrador.
Ruim mesmo ficou para o rei dos Hunos, não?, que iniciou tal fado. Coitado do desinfeliz!

Um abraço...

Obs: a exemplo do Sobreira, tb não citei os cinco indicados. Preferiria citar todos para não 'ferir' nenhum.

Anônimo disse...

Parabéns, Marco! Pelo aniversário, pelo blog e pelo talento. Sabia que Átila (o corno) apesar da cara de mau tinha pouco mais de um metro e meio de altura? Me decepcionei de novo com ele, kkkk. Pensei que fosse um bárbaro sem piedade, e que nada!!! Abraço.

Lara disse...

Foi seu aniversário? Ah! Eu não sabiaaa!! Parabéns querido, tudo de bom, muita paz, saúde e felicidade! Tenho um enoooorme carinho por ti!
Amei o post, como sempre! Deve ser muito divertido esse tipo de espetáculo!
beijos

Anônimo disse...

Chifrudo...
rssrrs
vc sabe que meu noivo conhece um cara que tomou um chifre da mulher, colocou um par deles na bike e saiu pedalando Brasil à fora?
rsrssr

beijão p'resse nosso artista!

Taís

Nena disse...

Meu carinho para você, Marco amigo Ternuróvski...

Anônimo disse...

Oi querido
Em primeiro lugar parabéns pelo aniversário.
em segundo lugar...parabéns pela apresentação...
o artista vai mesmo...onde o povo está...
e quanto ao corno...rs...bom deixa pra lá...
Um enorme beijo no coração

Karina disse...

Pelo visto a interpretação foi boa mesmo. E melhor ainda sua paciência com os expectadores. Agora qdo fala-se em corno sempre lembro do filme Trair e Coçar. "Não adianta ficar nervoso, já é corno mesmo." Nossa, hilário.
Bj

Anônimo disse...

É Marco,

tem que pesquisar as expressões, poxa! (Para poder contar para a gente desse jeito danado de bom! hahahah)

Beijos