terça-feira, maio 30, 2006
Dando corda...
Vou contar-lhes a origem de mais duas expressões que a gente costuma ouvir e não sabe de onde vêm. A primeira é:
Ficar à toa
No Portugal dos tempos coloniais e, consequentemente no Brasil, existia um tipo de corda com que um barco rebocava outro. Esta corda tinha o nome de toa. Aliás, ainda hoje, nas bandas do Rio São Francisco, ainda chamam esse tipo de corda assim.
O barco puxado pela toa fica sem leme, sem rumo, seguindo o caminho traçado pelo que o reboca. Daí que um barco à toa fica ao sabor das águas, sendo facilmente conduzido por quem o puxa.
Numa sociedade machista como a da época, foi fácil dar a denominação de mulher à toa àquelas que ficam zanzando pela rua, esperando serem levadas por homens para onde eles queiram. Há também um documento de 1619, onde um certo Jorge Ferreira de Vasconcelos escreveu que levava sua dama à toa.
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A outra expressão vem do Novo Testamento e foi dita por Jesus:
“É mais fácil um camelo passar por um buraco da agulha que um rico entrar no reino dos Céus”.
Esse versículo sempre me intrigou pelo seu puro non-sense. É esquisito imaginar o mestre Jesus dizendo uma frase dessa, sem pé nem cabeça, falando de um bicho passando por um buraco de uma agulha. A frase está mais para Groucho Marx do que para o nosso Messias.
Daí que eu resolvi pesquisar a respeito.
Na verdade, trata-se de um erro de tradução, um dos vários que devem existir na Bíblia.
No original em hebraico, o mestre Jesus se referiu a kamel, que era uma corda muito grossa com que os pescadores amarravam seus barcos nos atracadouros. Aí faz todo sentido, não é? “É mais fácil uma corda grossa passar por um buraco de agulha que um rico entrar no reino dos Céus”.
Pois é.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Velas Içadas”, de Ivan Lins.
domingo, maio 28, 2006
Rumual Ékissa!
A taça do mundo é nossa!
Com os brasileiros
Não há quem possa
Êêta esquadrão de ouro!
É bom no samba!
É bom no couro!
Boa tarde, amigos do esporte! O tapete esmeraldino está pronto para a peleja. O tempo está excelente para a prática do valoroso esporte bretão! Entram em campo os artistas do espetáculo! Brasil! Brasil! Brasil! São 180 milhões em ação! Haja coração!
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Estamos em tempo de “Rumo ao Hexa!”. Ou “Rumual Ékissa!”, como escreveu um brasileiro anônimo, num dos muros dessa pátria de chuteiras em que nos transformamos de quatro em quatro anos. Acompanhando o clima de “Pra frente, Brasil!”, a Família Morcegos, do qual mui honradamente faço parte, convidou seus membros a escreverem sobre a Copa.
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Bem, amigos do Antigas Ternuras. Eu estou indo para a minha 12a. Copa. Sou um veterano, pois. Em doze, acompanhei ardorosamente o Brasil ganhar quatro. O que me dá status de pé-quente. Como vi o Flamengo - a impessoalidade que mais amo na vida - ser Campeão do Mundo, em 1981, sou um legítimo PENTA. E ai daquele que me desmintir!
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De todas as Copas que acompanhei, considero a de 1970 a minha favorita. Que coisa maravilhosa era ver aquela Seleção jogar! Meninos, eu vi! E na voz marcante de Geraldo José de Almeida, o maior locutor televisivo de todos os tempos! (Galvão Bueno? Puá! Argh! Eu tiro o som da TV e ligo o Rádio). Foi ele quem apelidou o Jairzinho de “Furacão”. Para vocês terem uma idéia de como era a sua narração, vou reproduzir aqui como ele descreveu o último gol da Copa:
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“...Bola com o gauchão Everaldo...Entrega para Clodoaldo...Passa por um...Passa por outro...Pelo terceiro...Linda, linda, linda a jogada do garoto da Vila Belmiro!...Entrega para Tostão...O mineirinho de ouro toca para Pelé...Ajeita para Carlos Alberto...Olha lá! Olha lá! Olha lá!...No placar! Brasil! Brasil! Brasil!...Quatro! Itália, um! O Brasil é tricampeão do mundo, minha gente!”
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Nossa, dá uma saudade... Fim do jogo, fui para a rua, comemorar com meus amigos. Do portão, vejo o Leleco passar correndo com uma bandeira brasileira, se perdendo na poeira da rua. Que festa!
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Depois dessa Copa, nada foi mais a mesma coisa. Claro, eu torço, vou pra casa de amigos, fazemos a maior zona...Mas para mim, não é a mesma sensação de 1970. Nem quando o Brasil ganhou, em 1994 (a Copa mais medíocre de todos os tempos! Só podia terminar com um pênalti batido pra fora!) e em 2002.
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Nesse ano, ainda não bati o martelo sobre onde assistirei aos jogos. Tenho algumas opções, vou ver. Mas o certo é que estarei junto, na corrente pra frente! Embora ache vibrante e tudo o mais, em Copa do Mundo falta um componente importantíssimo para quem acompanha futebol: não temos em quem encarnar. A alegria do futebol é sacanear os perdedores. Mas, em Copa, quem podemos escolher para arrancar a pele? Nos campeonatos daqui, tenho sempre a oportunidade de encarnar nos botafoguenses, tricolores e especialmente na corja bacalhosa sebenta dos vascaínos. É...Eu sei que na Copa temos a rivalidade com os argentinos. Como se sabe, a Argentina é o vasco do mundo. E, se os bacalhosos estão abaixo do Flamengo na cadeia alimentar, da mesma forma os cretinos do Plata foram feitos por Deus para serem triturados pelo achincalhe de nós, os brasileiros. Mas onde a gente acha um argentino quando a gente precisa?
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Dentro de pouco tempo, o Brasil vai parar diante dos aparelhos de televisão. É uma coisa impressionante! Em pleno dia de semana, a gente não vê viva alma aqui no Rio. Lembro que em 1994, eu estava na casa de amigos, vendo o jogo do Brasil, quando minha mãe me telefonou. Meu irmão estava passando mal. Peguei o carro e zarpei para a casa dela. Cheguei em poucos minutos. Claro! Não tinha nada nem ninguém nas ruas!
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Dia 13 de junho começa a Copa para nós. Será dia de Santo Antônio. Tomara que o Brasil se case com a vitória. Copa do Mundo sempre será uma de minhas antigas ternuras. Em algum lugar do planeta Brasil, eu estarei de camisa azulzinha, cantando a música que abria as transmissões da Rádio Tupi, na minha época de garoto:
"Eu hoje igual a todo brasileiro
Vou passar o dia inteiro
Entre faixas e bandeiras coloridas
Parece até que eu estava em campo
Levando a taça aos quatro cantos
Naquele grito de erguer a taça ao mundo!
Eu sou campeão do mundo!"
Crííííííííí!!!!! (que quer dizer, “vamulá Brasil!” em morceguês)
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Aquarela do Brasil”, do grande brasileiro e rubro-negro Ary Barroso, cantada por Gal Costa.
sexta-feira, maio 26, 2006
Caô
No dicionário carioquês, “caô” significa “conversa mole”, “papo furado”, “conversa fiada”... E “mandar um caô” é o mesmo que tentar se safar de alguma situação da maneira mais cínica possível ou se dar bem em algum lance. Para quem quer exemplo de caozeiros em ação, basta assistir à entrevistas de algum deputado, senador, governador, presidente... Nem todo caô é “do mal”. Às vezes, é até divertido. E eu prefiro falar de exemplos mais prosaicos e deliciosos, onde o mais puro “caô” foi proferido.
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No antigo lugar onde me criei tinha uma família de alagoanos e alguns jogavam bola com a gente. Anselmo e Geraldino eram bem mais velhos que a nossa moçada. Um sobrinho deles, o Tininho (de Faustino), era da minha idade. Pois lá das Alagoas veio mais um irmão, o Augusto, um negro bem apessoado, que causou furor nas mulheres casadas do lugar. Aliás, ele parecia dar preferência às donas de casa, não se importando nem um pouco em ser o “Ricardão” da nossa rua.
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Ele se engraçou pela irmã do Jurandyr e do “Play” (era apelido, porque ele gostava de usar cabelo de playboizinho...). Não lembro do nome dela, mas me recordo que era uma mulataça vistosa, de curvas, peitos e bundas que atraíam olhares cobiçosos que , canalhamente, se dirigiam para a sua derrière quando ela passava perto do campinho. A moça era casada com um cara legal, bom pai, bom trabalhador. E o Augusto se importava lá com isso?
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O cara acordava cedo e ficava à espreita. Ele esperava o marido da mulher sair para o trabalho. Olhava a mulata levá-lo ao portão, entregar-lhe o “rádio de pilha” (como chamávamos a marmita de cada dia...), dar-lhe um beijo e acenar quando ele pegava o ônibus. A mulher entrava, Augusto pulava o muro e os dois faziam a festa.
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Um dia, o Play, que morava ao lado (onde fazíamos os nossos bailinhos), entrou na casa da irmã, sem avisar. Pegou o Augusto, pelado, sentado na cama da moça. O Play tomou um susto. Augusto, impassível, não se abalou. Começou a se abanar e mandou o maior caô que conseguiu imaginar:
- Puxa...Está um calor, né?
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Um outro exemplo de caô, vem, quem diria, de meu velho pai. Depois de aposentado, gostava de ficar lendo o jornal, sentado em sua cadeira de balanço.
Minha mãe ficava entretida com as atribuições de dona de casa, andando de um lado para o outro, concentrada em suas ocupações. Às vezes, meu pai ficava carente de alguma atenção de sua mulherzinha. Acompanhava ela com os olhos, em seus quefazeres, e subitamente botava a mão no peito e começava a gemer:
- Ai...ai...ai...
Minha mãe parava o que estava fazendo e vinha acudi-lo:
- O que foi, Ferreira? Está se sentindo mal? É o coração?
Bastava ela se aproximar que ele, feito sucuri matreira, dava-lhe o bote, abraçando-a, pondo-a no colo e dando-lhe uma sova de beijos.
Minha mãe se afastava dele, sorrindo:
- Você é louco...
E o Seu Ferreira rebatia, no maior caô de velho assanhado:
- Sim, louco de amor que me aperta e me abrasa o peito!...
Nessas horas, meu pai era o maior caozeiro. Dizem que o filho dele seguiu-lhe os passos. Mas, inocentemente, qual um anjo de igreja barroca, pergunto:
- Quem? Eu?
M.S
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Negue”, com Maria Bethania. (A letra dessa música é o próprio caô em ação...)
quarta-feira, maio 24, 2006
Meu Brasil brasileiro
Está em cartaz um filme que transborda brasilidade. Das películas brasileiras que eu vi nesse ano é, disparado, a melhor. Fala de um Brasil brasileiro, que muita gente esqueceu ou tem vergonha de lembrar. Chama-se “Tapete Vermelho” (Brasil/México/Portugal, 2005, dir. Luiz Alberto M. Pereira), com Matheus Nachtergaele e Gorete Milagres no elenco.
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Sempre digo que cinema é uma das minhas mais antigas e queridas ternuras. De vez em quando, gosto de fazer resenhas de filmes que tenham alguma ligação com o mote deste blog. Neste ano, a safra de bons filmes está magrinha, magrinha... Conto em uma mão os filmes que assisti e que me empolgaram. E “Tapete Vermelho” foi um deles.
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A história fala de um capiau (Quinzinho, bela composição de Nachtergaele), no melhor estilo “Jeca Tatu”, que nos tempos atuais sonha em assistir aos filmes do Mazzaropi. Tinha feito promessa ao filho de que o levaria para assistir a um deles, como o seu pai o tinha levado quando ele fez dez anos. Ele mora em um matão, daqueles como o do Sítio do Pica Pau Amarelo. Sua mulher (Zulmira, show de bola de Gorete Milagres, sem precisar recorrer ao bordão “Ah, coitado!...”), é uma benzedeira (já escrevi sobre isso, uma hora dessas volto a falar no assunto) pé no chão, que não vê serventia nesse sonho desesperado do marido em largar suas coisas para ir pra cidade atrás de cinema. Mas eles e o filho saem em peregrinação pelas cidades, primeiro atrás de um cinema e quando acham uma cidade com um que ainda não tenha sido transformado em igreja evangélica, eles não conseguem achar filmes do Mazzaropi em cartaz. Nessa jornada, eles encontram situações fantásticas como cobras enfeitiçadas, anjos e até um representante do diabo. Eles se envolvem também com o MST, o que é a parte menos interessante do filme.
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Uma das coisas que mais gostei em “Tapete Vermelho” foi ver encenadas histórias que ouvi quando criança. Uma delas, a da cobra que vinha roubar o leite de um bebê, é uma história que minha avó contava para minha mãe, ela contou para mim e na semana que vem prometo contá-la para vocês. A simpatia para tocar violão também conheço de meus tempos de menino: para virar um virtuose da viola, basta pegar o filhote de uma cobra coral, passá-las entre os dedos, soltá-la no mato e pronto! O cara passa a tocar violão melhor que Baden Powell, Toquinho e Andrés Segovia juntos!
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Tem uma cena no filme que eu acho extremamente simbólica. Num sítio onde a família chega para pedir pousada, na noite, os locais estão dançando a catira, uma dança do tempo dos escravos em que se usam os pés e as mãos para marcar o compasso da música – coisa mui linda! – mas o menino Neco, prefere ficar dentro da casa vendo desenho animado na televisão. Ali, o moleque estava perdendo a virgindade. A partir dali já não seria o mesmo. É curioso como abrimos mão de uma cultura muitíssimo mais rica em prol de uma bem mais pobre, mas com mais dinheiro. Fomos induzidos a achar que tudo em português é feio, pobre e sem charme. E que em inglês as coisas ficam glamurosas, chiques e melhores. Até palavras em inglês que são particularmente feias, como “impregnant” (“grávida”) são preferidas ao similar nacional. Tem uma loja de artigos para gestantes, na Barra, que tem esse nome horroroso.
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Por isso, assistir a filmes como “Tapete Vermelho” dão uma sensação de brasilidade que a gente só costuma ter em época de Copa do Mundo. Pois futebol é algo em que reconhecidamente somos os melhores. Mas houve época em que mesmo nesse esporte tínhamos complexo de “vira-latas”, como bem definiu Nelson Rodrigues. Já no que diz respeito a nossa cultura, não perdemos a nossa vira-latice. Abanamos o rabinho para bobagens como “Missão Impossível III” e vamos lá, despejar toneladas de dinheiro nas bilheterias, deixando de ver, ao lado, filmes com a nossa cara, com o nosso jeito, com o jeitinho do Brasil.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Romaria” (que está na trilha sonora do filme), com Almir Sater. Ê trem bão, sô!
segunda-feira, maio 22, 2006
Antes de morrer
A americana Patricia Schultz lançou o livro “1000 lugares para conhecer antes de morrer”, que se transformou rapidamente em best seller. O livro acaba de ser lançado no Brasil e apresenta os recantos que, segundo a autora, todo mundo deveria conhecer antes de cantar pra subir.
Nessa matéria do Portal Terra, ela indica dez daqueles mil que ela acha que a gente não pode deixar de ir de jeito nenhum. Cinco dos mais luxuosos, e cinco dos mais inusitados. Vou confessar que nenhum deles estariam entre os meus dez.
Viajar sempre foi uma de minhas antigas ternuras, por isso e pelo lançamento do livro, pergunto aos meus milhares de leitores:
Quais os três lugares que você tem de conhecer antes de passar para o andar de cima?
E aí moçada? Vamos brincar de revelar os desejos de viagem? Começo citando os meus e dizendo sucintamente o porquê.
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Atenas/Grécia – Não é segredo para ninguém que eu sou apaixonado por História. Para mim, estar um dia pisando aquele bendito chão onde nasceu a civilização ocidental é mais que desejo e eu me recuso a esticar as canelas antes de conhecer Atenas. Mesmo que eu tenha ouvido de amigos que aquilo lá é uma zona, o serviço é péssimo, a poluição dói nos olhos, as ruínas gregas estão em ruínas mesmo, olha, mesmo assim. E quando eu falo conhecer Atenas, obviamente estou incluindo um giro pelas ilhas gregas e uma geral pelas cidades do litoral turco, logo ali em frente, que faziam parte da Hélade antiga.
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Cairo/Egito – As razões são as mesmas. O historiador diletante que vive dentro de mim adoraria estar cara a cara com os monumentos que fizeram Napoleão dizer aos seus soldados que “40 séculos os contemplavam”. Já pensou passear pelo Nilo? Conhecer o Vale do Reis? Eu me recuso a usar paletó de madeira antes de conhecer as delícias históricas do Egito.
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Londres/Inglaterra – Também é por conta de minha paixão pela História. Por muito tempo, a Inglaterra foi o centro do mundo e isso fez com que a cultura do planeta fosse transportada para lá. Para mim, que sou rato de museu, passar um dia, uma semana zanzando pelo British Museum eqüivale a soltar uma criança na Disneylândia. Ah, sim. Eu iria querer conhecer Abbey Road, tirar foto atravessando a rua em frente aos estúdios onde os Beatles gravaram seus discos, e iria, é óbvio, querer pegar um trem para Liverpool e fazer o meu “caminho de Santiago” na cidade dos quatro cabeludos que mudaram o mundo com sua música. Já me vejo andando por lá cantando “Come Together…Right now…Over me…” Ah, que eu não bato a caçoleta antes de ir lá! (Se bem que só andaria pelo metrô de Londres vestindo uma camiseta com os dizeres: "Don't shoot me! I'm brazilian!")
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É isso, meus caros. Dos muitos lugares do nosso planeta, se tivesse que destacar só três para ir antes de comer capim pela raiz seriam estes. Quando for conhecê-los, criarei mais outros três. Afinal de contas, como dizia o nosso bom Louis Armstrong, “what a wonderful world...oh yeaaaaaaah!...”
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está se deliciando com o velho “Satchmo” e sua “What a Wonderful World”.
sábado, maio 20, 2006
Anotações esparsas de um aprendiz de poeta
Tudo bem, vocês sabem que eu sou um saudosista incorrigível e que gosto de lembrar dos meus “bons tempos”. Mas tenho de reconhecer que existem certos aspectos da modernidade que são melhores do que antigamente.
Eu moro perto de onde trabalho. Dá para ir andando até lá, por isso, deixo o carro no meu prédio, almoço em casa, essas comodidades. No trajeto para o meu trabalho, passo por quatro colégios, todos repletos de adolescentes, que se espalham pelas ruas, calçadas, como se fossem um bando de pardais arrulhentos, transpirando energia e alegria como também já o fiz.
É comum vê-los em casais, se atracando nas paredes do colégio, quase um entrando por dentro do outro, dando beijos da gente ver a língua inchando a bochecha. E aí me dá uma inveja dessa gente que vai em frente sem nem ter com quem contar...
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No tempo em que eu tinha a idade deles, não era assim, não. Pior pra mim. Ah, quem me dera poder pegar uma daquelas meninas da minha época, dar-lhe um malho caprichado, daqueles de lustrar o muro do colégio! Ah, meu Deus!
Naquela época, as chances disso acontecer eram as mesmas do saci pererê cruzar as pernas e a galinha obturar os dentes. Isso devido a várias razões. Cito três:
1- As moças não topavam. Naquele tempo a mulherada fazia um tremendo jogo duro para namorar e mais ainda para aceitar um arrocho com dia claro.
2- Era proibido pelo colégio. Se os coordenadores pegassem a gente dando um beijo no rosto de uma menina, dava suspensão, bronca, faziam um baita escândalo, com berros e olhares injetados de raiva.
3- Eu era tímido que dava nojo. Mesmo que eu resolvesse enfrentar as dificuldades 1 e 2, me faltaria a necessária coragem para chegar na moça, passar-lhe aquela baba de quiabo para conquistá-la e aí, partir para o arrocho.
*
Não que eu não caísse de amores por algumas daquelas maravilhosas beldades com quem convivi no colégio. Já contei aqui algumas histórias de minhas paixões. Todas mal sucedidas. A mim, tímido praticante e juramentado, só restava amá-las a distância, sonhando com uma aproximação. E toca a escrever poesias! Meus amores platônicos eram cantados em versos e sonetos por aquele adolescente sem jeito, mas com muito amor pra dar.
*
Noutro dia, estava arrumando umas velharias quando achei um antigo caderno onde registrava as minhas mágoas de amor. Caramba! Que viagem no tempo! Nem me lembrava mais daqueles poemas adolescentes que escrevi, molhando a pena nas lágrimas da alma. Eis um deles:
*
Me deixa ser o teu louco
só para uivar o teu nome pra Lua.
Me deixa ser o teu demônio de guarda
e te tentar com o mais doce dos pecados.
Me deixa ser teu anjo
e te proteger da escuridão que é a falta de mim.
Me deixa ser qualquer coisa,
me deixa só ser,
ao menos...
o teu poeta.
*
Ah, vai...É bonitinho, né não? Sei que não é como os belos poemas da Claudia, do Oxigênio, mas não deixa de ter o seu valor.
Tem outra, olha só:
*
Música ao longe
E eu a olhar as mãos
Tenho-as nuas
E escalavrar palavras
Feito escultor
Poeta artesão-mór
Que corta, entalha, lavra e dá polimento
A palavras e sentimentos.
E por falar em sentimento
Onde porei o meu
Que é caixinha de música
De delicado mecanismo?
Uma vez aberta
Toca a valsa certa, uma balada triste, música do céu.
E por falar em céu
Estou no céu
A construir castelos, todos muito belos
Esperando você chegar
(a nuvem das oito, quando há de passar?)
Fico a gastar o tempo e os olhos
E por falar em olhos
Você já reparou, pois não,
Que quando me ponho a te olhar
Meus olhos viram mãos
E fica a te acarinhar...
E por falar em carinho
Eu me pergunto, enfim,
O que será que ela pensa?
O que vai ser de mim?
*
O jovem poeta que eu era, hoje nem se lembra direito para quem dedicou essas palavras. Na verdade, eu escrevi muitíssimos mais poemas do que os que achei no caderno. É que às vezes eu conseguia dizer para minhas musas que eu gostava delas. Normalmente, ouvia como resposta:
“Ah, Marco, eu também gosto de você, mas como amigo”.
Ouvir isso era ter a sensação de ter sido atropelado por um caminhão Scania.
Eu não desistia fácil. Se já tinha chegado até a me declarar, então eu insistia. Escrevia poemas como uma fonte jorrante e entregava para as minhas amadas. Normalmente não dava em nada. Fico imaginando essas moças, hoje nem tão moças, mostrando para filhos e maridos os poemas que escrevi, dizendo:
“Tá vendo? Eu já despertei paixões, tá pensando o quê?”
*
Encontrar este caderno e reler estes poemas juvenis com estas minhas retinas cansadas me fez pensar bastante naquela minha teoria do “E Se?...”, de que já comentei aqui. Todas estas minhas paixões foram possibilidades, tantos outros caminhos que minha vida poderia ter tomado. No entanto, tenho vivido do jeito que vivi. Os árabes diriam “maktub” – “estava escrito”. Não sei se assim o é. De qualquer forma, gosto do jeito que as coisas ficaram e me sinto muito feliz pela vida que Deus tem me dado.O que não me impede de ter saudade, de lamentar não ter sido mais arrojado com as moças na minha juventude. E assim fico no silêncio solitário, admirando os quadros na parede da memória. E entre as páginas amarelecidas deste livro chamado saudade, vejo uma flor ressecada, de onde saem pequenas sementes. Proferindo a palavra mágica elas germinam e florescem em um farto buquê, para encantar os olhos daquele moleque tímido que fui.
M.S.
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Sistema de Radiodifusão do blog Antigas Ternuras! Rapaz que escreve por aqui dedica esta música às amigas Marcia e Claudinha como prova de carinho e amizade. Pra vocês, “She Made Me Cry”, com o conjunto Pholhas.
quinta-feira, maio 18, 2006
Meu Clube de Esquina
Nas noites do meu tempo de moleque, a gente não costumava ficar em casa só vendo televisão. Se não estivesse passando nada que prestasse, íamos para a rua brincar de pique-bandeira, de garrafão, de carniça. As meninas brincavam de roda, de passar anel, de queimada... Os adultos botavam cadeira na calçada e ficavam conversando e vendo a gente brincar. As mulheres fofoqueiras e suas línguas de chicote aproveitavam e falavam mal da vida de todo mundo da rua. Era impressionante como tinham assunto para comentar sobre os outros e nada sobre o próprio rabo.
*
Eu e meus amigos costumávamos ficar numa esquina, encostados no muro da casa do Domingos, falando sobre futebol, filmes ou sobre as moças. De vez em quando fazíamos “psiu” para uma ou outra que passasse por ali. Gastávamos o tempo olhando os vagalumes tremeluzirem no campinho de futebol. Numa noite, a moçada estava ali jogando conversa fora quando faltou a energia. Não se enxergava nada naquela noite sem lua. Mesmo assim, ninguém arredou pé. Se já não se tinha o que fazer em casa com luz acesa imagina sem força elétrica. A conversa prosseguiu no mesmo tom, na mesma falta de assunto.
*
Mas é impressionante como quem não tem o que fazer arruma idéias de jerico. Numa hora lá o Messias virou para o Leleco e perguntou: “Duvida eu tirar a roupa e correr pelado no escuro daqui até a outra esquina?” O outro respondeu de prima: “Duvido!” Messias veio então com a proposta: “Se tu for comigo eu vou! Vamos?” Leleco topou e perguntou se os demais acompanhariam. Ninguém quis. Nessas horas, o meu sensor IVDM* estava sempre ativado. (* Isso Vai Dar Merda)
*
Ato contínuo, Messias e Leleco tiram a bermuda, a cueca e a camisa. Ninguém via nada naquele breu. Alguém gritou “já!” e eles foram, trotando, rindo pra cara um do outro. Estavam naquele passo de gazela desfilante, passando diante da vila onde tinha a maior concentração de fofoqueiras por metro quadrado, todas sentadinhas, estalando o chicote das línguas. Por lá passavam os dois pelados...quando voltou a luz.
*
Primeiro foi o susto dos dois. Depois, das fofoqueiras, sentadas nas cadeiras na calçada. Umas riram, outras gritaram, outras chamaram pelos maridos. A partir daquele instante, Leleco e Messias dispararam na direção do fim da rua. Pena ninguém ter cronômetro, mas a impressão geral é que os dois bateram o recorde mundial dos 100 metros rasos.
*
Durante uns quinze dias, nenhum dos dois botou a cara na rua. Nestas duas semanas, o chicote das faladeiras cantou mais que o do Zorro. E nós, encostados no muro da casa do Domingos, tínhamos assunto para comentar enquanto os vagalumes pisca-piscavam no vazio aromático do perfume das damas da noite...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Clube da Esquina n. 2”, com Lô Borges.
terça-feira, maio 16, 2006
Acontecências
Um original de Marco Santos
Personagens: Doutor
Mulher
Homem
DOUTOR – A senhora se sente, por favor. Nome?
MULHER – Maria.
DOUTOR – De quê?
MULHER – Couto
DOUTOR – Idade?
MULHER – 32.
DOUTOR – Filhos?
MULHER – Não, senhor. Ele dizia “filho pra quê? Para a terra comer?”
DOUTOR – A senhora conte a sua história, faz favor.
MULHER - Tem coisas que acontecem na nossa vida que a gente não sabe se é Deus ou o diabo que atenta. Não que eu não gostasse dele. No início gostava, mas gostava mais. Depois desgostei. Foi aos poucos. Não sei dizer se foi depois de cada surra que ele me dava, algumas com mão fechada. Ou se foi pelo cheiro de perfume barato que ele trazia toda noite junto com a mancha de batom na cueca que ele nunca quis explicar. Eu dizia: “Olha, põe tento nessa tua vida...” E ele ria, debochado, me mostrando o dentinho de ouro no canto do riso. Aí foi me dando uma raiva, mas uma raiva...(PAUSA)
Botei as crianças pra dormir mais cedo e fiz. O que tinha de fazer. E pronto.
DOUTOR – A senhora botou água fervendo no ouvido dele enquanto ele dormia.
MULHER – E usei um funil para não esperdiçar.
DOUTOR – A senhora pode ir. Ô Melo! Acompanha a senhora! O próximo!
HOMEM – Sou eu.
DOUTOR – Nome?
HOMEM – Severino de Jesus.
DOUTOR – Idade?
HOMEM – 42 anos.
DOUTOR – Casado?
HOMEM – Ajuntado com uma criatura.
DOUTOR – O senhor conte a sua história...
HOMEM - Ninguém tem que se rir da minha condição por que a minha história é séria. Sou tão filho de Deus como é qualquer filho da ...
DOUTOR – Senhor Severino! Olha o palavreado!
HOMEM – O senhor adesculpe...Sou tão filho de Deus como é qualquer desgracido que come três, quatro vezes por dia e olha por riba da gente como se o sangue dele não fosse vermelho como o meu. Sempre fui arreliado com essas injustiças. O senhor pode nem saber mas eu digo: Quando a barriga ronca, a cabeça se estremece, os pensamentos ficam zunindo, a gente não tem tenência. Tem gente que mata, que faz maldade por um punhado de feijão, um naco de carne. Mas eu, não. Nunca matei ninguém. Quem mata é Deus. Eu só faço o furo.
DOUTOR – Sim, mas...o furo que o senhor fez no homem o transformou em um cadáver.
HOMEM – Se morreu é porque Deus levou.
DOUTOR – Muito bem, senhor Severino...O senhor acompanhe o rapaz. Ô Melo! Pode levar o Seu Severino. Hoje vai ser um daqueles dias...
M.S.
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Outra radionovela que escrevi há priscas eras. Na verdade, fiz adaptações para Rádio a partir de duas cenas de uma peça que escrevi ao tempo em que fazia escola de Teatro, onde as encenei numa das aulas.
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Na Rádio Antigas Ternuras você ouve Luiz Gonzaga, o grande Lua, com “Seu Delegado”.
domingo, maio 14, 2006
Flor Mamãe
Andei por todos os jardins,
Procurando uma flor pra te ofertar,
Em lugar algum eu encontrei,
A flor perfeita pra te dar,
Ninguém sabia onde estava,
Esta flor, mimosa perfeição,
Ela se chama flor mamãe,
E só nasce no jardim do coração.
Enfeita nosso sonho,
Perfuma nossa ilusão,
Flor divina eu suponho,
Faz milagres em oração,
Neste dia de carinho,
Quero senti-la no peito,
Inebriando minha alma,
Flor mamãe
Amor perfeito.
Por volta desses dias de maio, quando eu era moleque, essa música tocava à exaustão nas rádios, nas lojas de discos. Era uma gravação de um menino-cantor. Eu só consegui lembrar da letra e da melodia, não me recordo do nome do menino que a gravou. Minha memória não anda lá essas coisas...
*
Hoje é Dia da Mães. Tudo bem, dia das mães é todo dia, mas não vamos contradizer tradições. Não hoje. Não aqui.
Posso dizer sem susto que minha mãe é a minha mais antiga ternura. Eu não estaria aqui se não fosse por ela. Não me refiro ao fato dela me ter dado à luz. Isso também, é claro. Mas a responsabilidade por eu ser o que sou, como sou, ah, minha mãe tem e leva todos os créditos.
*
Perdi meu pai muito cedo. Quando eu tinha sete anos, meu pai resolveu morrer um pouquinho e acompanhar a criação dos filhos lá de cima. Ele virou encantado e minha mãe teve que “jogar nas onze”. Bater o córner e correr para fazer o gol de cabeça, sem desguarnecer a defesa. Quando dava para jogar bonito, ela era uma Pelé, craque em firulas. Mas quando o bicho pegava, não hesitava em entrar com tudo, parando a jogada que poderia colocar o seu time, quer dizer, a sua prole, em perigo. E não poupava broncas no time quando era preciso.
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Em minha vida, mamãe teve gestos de amor para comigo que só quem é mãe de verdade consegue entender. Lá em casa, sempre fomos “de classe média”. Não tínhamos luxos, mas nunca, graças a Deus, passamos nenhuma necessidade, de nenhum tipo. E olha que quando o meu pai morreu, o salário de funcionária pública dela teve que dar conta sozinho do que era pago com os rendimentos dos dois. Foi um período duro. Mais para ela que para os filhos. Continuamos bem vestidos, bem calçados, eu, no melhor colégio da cidade onde morava. Ela tinha, às vezes, que fazer meia sola nos seus sapatos e levar marmita para o trabalho.
*
A gente na época não compreendia que o dinheiro estava curto. Pedíamos presentes no Natal, nos aniversários e sempre ganhávamos. Fora outros mimos diários, a custa de sacrifícios da parte dela. Uma vez, eu pedi dinheiro para comprar um gibi do Thor. Lembro que ela me olhou longamente, abriu a bolsa e me deu a grana. Fiquei muuuuito feliz! Tempos depois, soube que aquele dinheirinho que ela me deu era parte do que tinha juntado para comprar um sapato novo. Com o dinheiro desinteirado, resolveu fazer mais uma meia sola no velho.
*
Tenho no livro da minha vida, inúmeros relatos como esse. E o orgulho que ela tinha (tem) com as minhas vitórias na vida? Na fila de entrada das peças nos Teatros onde atuo ela é capaz de fazer longos discursos para o público sobre o filho dela “que é um grande ator!”. E ainda acha o cúmulo quando perguntam: “Mas quem é esse Marco Santos, afinal?”
Coisas de mãe. Só quem é e quem tem sabe do que estou falando.
No dia da minha formatura, eu, de orador da minha turma, olhava para ela e a via chorando na platéia...
Pois é. Depois da cerimônia, ela me abraçou longamente, murmurando ao meu ouvido: “meu doutorzinho...meu doutorzinho...”
*
Na família dela, eu sou o que foi mais longe nos estudos. Tenho uma prima que se formou em Literatura. Mas parou por aí. E o fato de, em toda a família, eu ser o “mais estudado”, como ela diz, é motivo de orgulho sempre renovado.
*
Na verdade, eu é que tenho de me orgulhar da mãe que tenho. No “E Se...” que sempre comento aqui, posso garantir que haveria outras possibilidades para a minha existência se ela não resolvesse enfrentar a sua viuvez com três filhos debaixo de suas asas. Nem quero pensar nestas outras possibilidades. A mim, basta saber que elas existiram.
*
Por isto, escrevi este texto homenageando a minha mãe. E com ele louvo todas as mães, com especial carinho às que vem aqui regularmente me ler, como a Claudinha, a Claudia, a Marcia, a Dira... E aos demais que têm a bênção de poder homenagear suas mãezinhas também. Não quis escrever um texto com firulas e bordados poéticos que bem sei fazer, quando quero. Preferi o meu testemunho de filho agradecido como contribuição para a reflexão de todos os filhos, mesmo os que não têm a mãe neste nosso plano terreno. Nossa mãe é nossa mais antiga e querida ternura. Deus nos abençoe a todos.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Somewhere in Time”, da trilha do filme “Em Algum Lugar do Passado”, tema deste meu blog, tema da minha vida. E das músicas favoritas de minha mãe.
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Em tempo: o nobre Luiz Henrique, do excelente blog Under2Pressure, pediu para eu escrever sobre uma de minhas cineafetividades. Fiz o texto “Eu me recordo...”, sobre um dos melhores filmes de todos os tempos, “Amarcord”, de Federico Fellini. Foi minha mãe quem me recomendou que visse este filme. Convido a todos os amigos do Antigas Ternuras para lerem o meu texto. Basta clicar aqui.
quinta-feira, maio 11, 2006
É o amor!
A festinha na casa do Jurandyr estava animada. Na madrugada, vitrola rolando um soul, tocando Al Green sem parar... Os casais dançando coladinhos sob a luz negra que transformava todos os pardos em gatos. Subitamente, um grito:
- Aaaaaiiii!!! Assim, não! Isso não!
A Maria estava dançando com o Alcir quando começou a gritar. Ato contínuo, largou-o no meio do salão. O cara veio cabisbaixo para o lado em que eu e outros amigos estávamos. Na festa, aquele climão. Todos queriam saber o que tinha acontecido.
Alcir pegou um copo com cuba libre e ali, de perto, nós percebemos a razão do escândalo. O cara parecia que estava com uma garrafa de coca-cola no bolso. O vergalhão chegava a latejar, ameaçando furar a calça de tanta excitação.
*
Nossa primeira atitude foi debochar do Alcir, mas intimamente estávamos solidários com ele. Aquilo podia acontecer com qualquer um. As meninas olhavam para ele com cara de reprovação. O pobre indivíduo parecia trazer na testa a palavra “tarado” em neon. Na verdade, aquela era uma situação-pesadelo que todos nós, rapazes com os hormônios em ebulição, temíamos com todas as forças. Quando a gente tirava uma moça para dançar coladinho, tinha toda preocupação do mundo em conter os arroubos do “Sr. Pinto”. Especialmente se ela fosse: 1) desconhecida na área; 2) boazuda. É, meus caros leitores...
Nos bailes atuais se dança desse jeito da foto ao lado.
Mas naquele tempo, a gente dançava fazendo exercício de Yôga para não despertar a serpente. Porque, se ela acordasse, a moça certamente largaria o cara no meio da pista de dança, deixando-o com o drops na mão, quer dizer, nas calças.
*
Mas, como disse, isso acontecia naquele tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. Hoje em dia, tem cantor que vai no Domingão do Faustão com uma “45 engatilhada” na calça. Não acredita? Olha a foto abaixo, do Zezé di Camargo...
Se quiser ver o filminho, é só clicar
Não sei o que deve ter rolado no camarim ou nas coxias antes de o cara entrar para cantar, mas esse filho de Francisco apareceu diante de todo o Brasil, via Embratel, com a barraca armada, para assombro da tradicional família brasileira que assiste, refestelada no sofá, ao inocente programa dominical.
Ô, lôco, meu...
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Let’s stay together”, na voz melodiosa de Al Green.
terça-feira, maio 09, 2006
Para o seu governo, saiba que...
Como vocês já perceberam, eu sou fascinado por descobrir a origem de expressões populares. Volta e meia divulgo aqui algumas que garimpo em minhas pesquisas e leituras. Hoje, vou tratar de duas que, embora tenham sido cunhadas há séculos, guardam uma enorme contemporaneidade.
A primeira é:
O pior cego é o que não quer ver
*
Costuma-se usar esta expressão quando tratamos de uma pessoa que não quer ver o que está à sua frente, à sua volta, Recusa-se a ver o que todos estão carecas de enxergar.
Tudo começou quando, na Universidade de Nîmes, na França, no ano de 1647, um professor-doutor de lá fez o primeiro transplante de córnea exatamente em um camponês chamado Angel. A operação foi coberta de pleno êxito, deixando a Universidade, o doutor e a própria coletividade extremamente satisfeitos. Só uma pessoa detestou. O próprio Angel.
Ele, que nada via antes, tão logo passou a enxergar se horrorizou com o mundo a sua volta. A realidade o enchera de pavor. Segundo ele, o mundo que imaginara em sua escuridão de cego era muito melhor.
Daí que ele pediu e depois exigiu que o cirurgião lhe arrancasse os olhos. Logicamente, o médico se recusou e o caso foi para os tribunais, chegando até a Corte de Paris e de lá ao Vaticano. Por incrível que possa parecer, Angel venceu a causa em última instância e ganhou o direito de não mais enxergar. Por conta disso, ele entrou para a História como o “pior cego”, exatamente aquele que não quis enxergar.
Existe uma variação da explicação deste ditado que passa por um certo presidente de um país do Atlântico Sul, que também se recusa a ver o que está na cara dele. Mas essa versão não merece ser levada em conta. Parece que a queixa do camponês Angel é mais genuína que a do trabalhador presidente.
*
A outra expressão que gostaria de explicar é:
Casa da Mãe Joana
*
Diz-se que um lugar é uma Casa da Mãe Joana quando não há ordem, imperando a bagunça, onde todo mundo fala e faz o que quer, sem prestar satisfação a ninguém.
Sua origem vem do Reino de Nápoles, no Século 14, quando a rainha (e condessa de Provence) Joana (1326-1382) assinou um decreto real liberando os bordéis na cidade de Avignon, na França, onde estava refugiada. E mais: determinou que em cada um deles houvesse uma porta por onde todos pudessem entrar e sair ao bel prazer de cada um.
A partir daí, os inferninhos avinhonenses começaram a ser chamados de “casas de Mãe Joana”.
E como lá dentro ninguém era de ninguém, imperava o “fudevu de caçarolê”, a expressão chegou a outros países sendo definida como lugar onde ninguém se entende, não há ordem ou organização, com todos querendo apenas se dar bem.
A outra conhecida expressão “cu da Mãe Joana”, segundo Câmara Cascudo, tem a mesma origem, visto que nos bordéis de Avignon esta parte da anatomia das moças padecia da mesma desordem e do mesmo vai e vem da porta do estabelecimento.
Entretanto, há quem diga que o Parlamento de um certo país localizado majoritariamente abaixo do Equador foi o grande inspirador da expressão. Tal fato não procede. Mesmo porque boa parte dos ocupantes de tal Casa não possui genitoras conhecidas. Se eles não têm Joana, muito menos teriam “Mãe”.
Quanto a outra expressão similar, sim, pode haver alguma semelhança.
M.S.
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EXTRA! EXTRA! Vocês estão lembrados do meu post sobre lugares com nomes exóticos? (O que? Não leu? Então clique aqui). Pois é. O Estadão deu esta notícia: Terremoto de 4,5 graus assusta Boquete, no Panamá
Consta que terremoto em Boquete é muito comum. Principalmente no final, a pessoa se treme todinha.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Bezerra da Silva com “O Vírus da Corrupção”. Se segura, malandragem!
A primeira é:
O pior cego é o que não quer ver
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Costuma-se usar esta expressão quando tratamos de uma pessoa que não quer ver o que está à sua frente, à sua volta, Recusa-se a ver o que todos estão carecas de enxergar.
Tudo começou quando, na Universidade de Nîmes, na França, no ano de 1647, um professor-doutor de lá fez o primeiro transplante de córnea exatamente em um camponês chamado Angel. A operação foi coberta de pleno êxito, deixando a Universidade, o doutor e a própria coletividade extremamente satisfeitos. Só uma pessoa detestou. O próprio Angel.
Ele, que nada via antes, tão logo passou a enxergar se horrorizou com o mundo a sua volta. A realidade o enchera de pavor. Segundo ele, o mundo que imaginara em sua escuridão de cego era muito melhor.
Daí que ele pediu e depois exigiu que o cirurgião lhe arrancasse os olhos. Logicamente, o médico se recusou e o caso foi para os tribunais, chegando até a Corte de Paris e de lá ao Vaticano. Por incrível que possa parecer, Angel venceu a causa em última instância e ganhou o direito de não mais enxergar. Por conta disso, ele entrou para a História como o “pior cego”, exatamente aquele que não quis enxergar.
Existe uma variação da explicação deste ditado que passa por um certo presidente de um país do Atlântico Sul, que também se recusa a ver o que está na cara dele. Mas essa versão não merece ser levada em conta. Parece que a queixa do camponês Angel é mais genuína que a do trabalhador presidente.
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A outra expressão que gostaria de explicar é:
Casa da Mãe Joana
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Diz-se que um lugar é uma Casa da Mãe Joana quando não há ordem, imperando a bagunça, onde todo mundo fala e faz o que quer, sem prestar satisfação a ninguém.
Sua origem vem do Reino de Nápoles, no Século 14, quando a rainha (e condessa de Provence) Joana (1326-1382) assinou um decreto real liberando os bordéis na cidade de Avignon, na França, onde estava refugiada. E mais: determinou que em cada um deles houvesse uma porta por onde todos pudessem entrar e sair ao bel prazer de cada um.
A partir daí, os inferninhos avinhonenses começaram a ser chamados de “casas de Mãe Joana”.
E como lá dentro ninguém era de ninguém, imperava o “fudevu de caçarolê”, a expressão chegou a outros países sendo definida como lugar onde ninguém se entende, não há ordem ou organização, com todos querendo apenas se dar bem.
A outra conhecida expressão “cu da Mãe Joana”, segundo Câmara Cascudo, tem a mesma origem, visto que nos bordéis de Avignon esta parte da anatomia das moças padecia da mesma desordem e do mesmo vai e vem da porta do estabelecimento.
Entretanto, há quem diga que o Parlamento de um certo país localizado majoritariamente abaixo do Equador foi o grande inspirador da expressão. Tal fato não procede. Mesmo porque boa parte dos ocupantes de tal Casa não possui genitoras conhecidas. Se eles não têm Joana, muito menos teriam “Mãe”.
Quanto a outra expressão similar, sim, pode haver alguma semelhança.
M.S.
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EXTRA! EXTRA! Vocês estão lembrados do meu post sobre lugares com nomes exóticos? (O que? Não leu? Então clique aqui). Pois é. O Estadão deu esta notícia: Terremoto de 4,5 graus assusta Boquete, no Panamá
Consta que terremoto em Boquete é muito comum. Principalmente no final, a pessoa se treme todinha.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Bezerra da Silva com “O Vírus da Corrupção”. Se segura, malandragem!
sábado, maio 06, 2006
Viagem no Tempo
Não sei vocês, mas se tem um assunto que me interessa é viagem no tempo. Aliás, isso não é nenhuma novidade para quem costuma me dar o prazer de ler estas mal tecladas linhas. O saudosismo latente me denuncia a vontade constante de “viajar” a tempos idos.
Normalmente, vejo todos os filmes sobre o assunto, leio os livros, ouço os discos... Antigamente eu sempre perguntava aos meus amigos: “Se existisse viagem no tempo, para que época e local vocês gostariam de ir primeiro?” Coisa curiosa. Nenhuma resposta coincidia com a do outro ou com a minha. Embora houvesse trocentos lugares e épocas que eu adoraria conhecer, tem uma que suplanta a todas. E é a que eu respondia quando me devolviam a pergunta sobre que época e local eu gostaria de visitar:
O tempo de Cristo, em seus últimos dias.
*
Não que eu seja particularmente religioso. Embora uma viagem àquela época faria muito bem à minha crença, especialmente por eu poder tirar a limpo aspectos dos Evangelhos que definitivamente não batem entre si. Para um estudioso de História, é um período fascinante. Sem contar que estar diante do mestre Jesus, cara a cara com ele, seria literalmente a glória.
Mas mesmo se possível fosse, tecnicamente seria uma coisa meio complicada. Eu não falo, nem entendo hebraico antigo e sei que não encontraria a moleza de “Tony” e “Doug”, personagens da série “Túnel do Tempo” (que eu adorava...), que onde caíam, sempre encontravam gente falando inglês. Fosse na Mongólia de Ghengis Khan, fosse na Jericó de Josué.
*
O assunto realmente me desperta todo interesse. Já li muito a respeito. Albert Einstein tirou todas as minhas esperanças quando afirmou que cientificamente é impossível voltar ao passado, mas que era possível viajar ao futuro. Deixa eu tentar explicar a vocês, do jeito que eu entendi.
*
Einstein disse que o espaço-tempo é uma espécie de tecido curvo. Em intervalos irregulares existem buracos neste “tecido”. O tempo e a noção de espaço percorrem este “tecido” na forma como a gente conhece e vive. Mas se houvesse uma espaçonave que atingisse a velocidade da luz e se fosse conhecido exatamente onde se encontrariam os tais “buracos” no fluxo espaço-tempo seria possível, digamos, cortar caminho (veja a ilustração à esquerda).
Ou seja, uma nave, na velocidade da luz, sairia da Terra, penetraria nestas falhas e levaria menos tempo para percorrer um determinado caminho. Seria como se nós, na Terra, levássemos, digamos, uns 20 anos para percorrer um trecho no Cosmo, mas os tripulantes desta espaçonave levariam talvez um mês. Daí, quando retornassem à Terra, após “cortar caminho-tempo” pelos buracos, teria passado 20 anos para a gente e muitíssimo menos para eles. Seria como se eles tivessem “viajado” para o futuro.
*
Claro que ainda não existe uma nave que viaje na velocidade da luz (300 mil km por segundo), mas Einstein disse que era possível, não que fosse fácil.
Com base neste raciocínio, eu desenvolvi uma outra forma de se “viajar ao futuro”, mas com efeitos colaterais que o jeito do Einstein não apresenta. Seguinte:
Imaginem uma pessoa entrando em coma (por indução ou por acidente) por 20 anos. E que depois desse período, ela acordasse “no futuro”. Não deixaria de ser uma “viagem” nos princípios einstenianos, pois, no momento 1 alguém estaria com a consciência em uma época e no momento 2 a sua consciência estaria em outro tempo do porvir.
*
O principal efeito colateral diferente da outra viagem seria o fato do “viajante” envelhecer durante o período. No exemplo de Einstein os tripulantes da nave não sofreriam a ação do tempo em seus corpos.
Mas tanto na viagem pelo método de Einstein quanto na minha existe um principal problema a ser sanado: o choque cultural, o impacto dos acontecimentos do período. Imaginem alguém “sair do ar” de 2006 e acordar em 2026? O tanto de coisas que aconteceria durante este período seria perturbador para o “viajante no tempo”.
Para facilitar a compreensão de vocês sobre o que eu estou falando, criei a seguinte situação: um homem entrou em coma em 1986 e acordou agora em 2006, ao lado da esposa e de seu médico.
- Uhnn...Onde estou?
- Waldemar! Você acordou? Olha só, Dr. Duarte! O Waldemar acordou! Ô, meu querido! Você esteve em coma por 20 anos!
- 20 anos? Então já estamos no Século 21?
- Desde 2001, meu bem. Aliás, um ano bem complicado...
- Tivemos a nossa odisséia no espaço? O Brasil já foi ao Cosmos?
- Já, já...E o assunto já encheu o saco. Ninguém agüenta mais o astronauta de Bauru.
- O que? O Brasil mandou um astronauta de Bauru pro espaço? Uau! Deve ter custado muitos milhões de cruzados para...
- Reais.
- Hein?
- Reais. A nossa moeda é o Real. Não é mais Cruzado. Aliás, deixou de ser Cruzado, deixou de ser Cruzado Novo, deixou de ser Cruzeiro... e sei lá mais o quê. A moeda mudou tanto que nem lembro mais quais foram.
- O que você está me dizendo, Dirce... Quando eu apaguei o presidente era o bigodudo, o que fez o Plano Cruzado. Quem mudou pra Real?
- O topetudo. O Itamar Franco.
- Heim? O Itamar foi presidente depois do Zé Sarney?
- Não. Depois do Sarney veio o Fernando Collor...
- Collor? Ué! Não era aquele governador que caçava corrupto em Alagoas?
- Era. Virou presidente e foi impichado.
- Por que?
- Porque era corrupto.
- O que você está me dizendo, Dirce... Mas essa festa vai acabar quando o socialismo sair da União Soviética e chegar ao poder no resto do mundo. Aí essa...
- Waldemar, a União Soviética acabou. Não existe mais desde 1990. A Rússia, a China, a Cortina de Ferro, tudo virou capitalista, adorando a economia de mercado!
- Mas...mas...O que você está me dizendo, Dirce... E depois do Itamar? Quem foi presidente?
- Fernando Henrique Cardoso.
- Aquele sociólogo metido a besta? Meu Deus... Só rico vira presidente nesse país! Ah, mas um dia o PT vai chegar ao poder. Quando um trabalhador chegar na presidência esse país vai ter jeito, vai acabar a roubalheira...
- Er...Waldemar...
- ...Não, Dirce, eu tenho esperança que um dia um companheiro chegue à presidência e aí os corruptos vão ver só...
- Waldemar...
- ...É isso aí, Dirce! Só o PT no poder para acabar com a bandalheira!...
- Doutor Duarte! Vamos fazer o seguinte? Bota ele em coma novamente!
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Time”, com Pink Floyd...Tic...Tac...Tic...Tac...
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