sexta-feira, outubro 06, 2006

Que pecado! (7) - Avareza



“... tão logo soube que seu primo tinha morrido por sua causa, ela afastou-se dali. Sem deixar rastros. Tragada pela cidade voraz. Até encontrar aquele mulato sestroso, que a seduziu só com o olhar. Manuel era o seu nome. Dado a prática de umbandas e quimbandas. Dizia-se que era um amante insaciável. Ela teve a chance de confirmar a teoria. Amaram-se por três dias seguidos, sem parar nem para comer. Se saciavam um ao outro. Resolveram viver juntos e foram morar num subúrbio. Ao lado de um jornalista e escritor de folhetins com sua esposa fofoqueira. Esta, admiradora inveterada de Ângela Maria, dividia o seu tempo entre cuidar de suas prendas domésticas, cantando um velho sucesso da cantora, e vigiar a vida dos vizinhos. Incluindo o casal.
Manuel, vulgo “Manelão”, morreu de um fulminante ataque cardíaco na cama. Acreditava-se que tinha sido em pleno ato sexual. Soube-se depois que foi por absoluto estresse causado pela vizinha e por já não contar com a ajuda de seus santos pagãos, que abandonara pela mulher.
Esta, depois da morte do marido, mais uma vez deixa tudo para trás e vai para São Paulo, tentar ganhar a vida como recepcionista num magazine de alto luxo. Retorna ao Rio para visitar a mãe e descobre que seu antigo vizinho, o jornalista e escritor, investigava a sua vida para escrever um de seus folhetins. Ele finalmente a conhece.
A paixão acontece.
FIM”

- Terminou o argumento de seu folhetim, meu anjo?
Lilibeth Monteiro, Lilith, abraçou Duarte por trás, enquanto ele estava diante do monitor do computador.
- Já. Acabo de colocar o ponto final.
- Vai levá-lo pro tal editor? Vai dividir a minha história... a nossa história com todos os seus leitores?
Duarte sorriu. Apenas sorriu.
Aproximou o dedo da tecla “Delete”... Viu o cursor devorar letra por letra de seu texto. A mão passou para o mouse e clicou em um pequeno “X” no canto da tela.
“Deseja salvar as alterações em Lilith?”
Uma pequena seta apontou para o retângulo “Não”.
Clic.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve a “Polonaise N. 6”, por Arthur Moreira Lima.
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Algumas explicações: Eu freqüento o blog da Lili e vejo a sua habilidade em escrever contos curtinhos e sempre fantásticos. Tomado pelo pecado da inveja (que coisa feia...), eu, que vivo escrevendo posts de, no mínimo, duas laudas, resolvi me desafiar a escrever contos de uma lauda no máximo. E mais: teria que ser com um assunto comum, teriam que sobreviver isoladamente, mas fazendo parte de uma grande história. Para complicar, quis escrevê-los em formas diferentes, que se aproximassem do estilo Harold Pinter. Os textos deste autor inglês parecem que foram capturados de uma conversa onde não se sabe o começo nem o final. O leitor que crie o pré e o pós.
Foi um exercício interessante. Eu tinha que sentar no computador e escrever na hora o que me viesse na telha. Sem poder maturar o texto, sem revisá-lo. De prima. Não tinha a menor idéia de como a história que eu iniciei iria terminar. Resolvia na hora em que estivesse escrevendo o pecado do dia.
Bem, é isso.
Obrigado a todos pela paciência de me aturar nesses contos.
M.S.

22 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Marco, meu querido, eu já lhe falei que você é um gênio?
Só você para conseguir um feito destes. Adorei! Sabia que ainda conseguiu me deixar curiosa, querendo saber mais da vida destes dois?
Um beijo grande e um excelente final de semana!

Anônimo disse...

Meu caro, ontem eu estava com uns amigos de Natal. Abimael Silva, do Sebo Vermelho, era um deles. Enquanto isso, o seu blogue continua muito bom. Abração.

Anônimo disse...

Pena que os pecados capitais sejam apenas sete: foi um deleite sem par seguir esses continhos deliciosos que saem de seu mágico teclado. Confesso que tomei um susto no final ao ler meu nome... Mas vamos "empatar" a inveja: você escreve muito, segundo sua própria opinião, mas não enjoa, sabe prender da primeira a última letra! Duvido que alguém consiga deixar a leitura pela metade!
Um beijo grande!

(Já que tem amigas blogueiras por aqui, que tal umas férias entre mar, coqueiros e paparicos?)

Anônimo disse...

Você é tão inteligente... Abateu sobre mim o pecado da inveja... :)
E essa história do conto me é familiar, pelo menos um trecho: meu avô paterno morreu em pleno ato sexual. Com a amante! De infarto fulminante!!
Tenho muitas histórias pra contar também... acho que vou fazer um antigas ternuras II ;)
Beijo, até logo!!!

Ana Carla disse...

Ai, ai... ainda bem que não foi avaro o suficiente pra nos privar dos seus exercícios! Ainda falta escrever sobre muita coisa... Beijos!

Anônimo disse...

Oi meu-querido-ex-vizinho mas agora amigoparasempre!
Sabia que marido viveu boa parte da vida na rua que vc mora? Numa vila de número 38 que ele achava enorme e hoje não passa de um bequinho apertado, viu só? ex vizinho dele também,rsss
Graças aos céus você ter sido acometido dessa inveja sobre a fantástica Lili e ter posto em prática esse lado escritor que não conhecia, parabéns Marco, as duas histórias perfeitas se encaixam.
Haja avareza aff!
Bem...você já me aturou demais vou-me embora,rs
linda noite querido
beijossssssssssss

Jéssica disse...

Esse pra mim é o pior... beijo*.*

Anônimo disse...

Marco, a forma como você estruturou esse conto, com o diálogo completando o texto do personagem foi absolutamente perfeita. Tão boa quanto foi a abordagem singular da avareza, que não caiu no lugar-comum. Olha, parabéns pela série. Muito boa. Abração!

Roby disse...

Markito, confesso que fico numa ansiedade tremenda quando termino de ler seus contos fabulosos..
Pois eles pedem uma continuidade, de tão bons, de tão perfeitos...
A gente fics imaginando as cenas dos próximos capítulos,..rs
*
Adoro leitura,meu pai passou-me a arte de absorver cheiros, emoções,ver cores e até tocar nos personagens através de um bom livro...ah tem coisa melhor?

Obrigada pelo carinho de sempre Markito, um mega final de semana procê!

Anônimo disse...

Tenha certeza que tem sido um enorme prazer,MARCO.
Parabens!
Um otimo final de semana a vc
Abração!!

Anônimo disse...

Escriba bom é assim mesmo: qualquer que seja a técnica ou o método, sempre dá conta do recado surpreende e leva o seu leitor aos "finalmente"! Ótimo, mesmo, amigo Marco.Beijos mil

Fernanda disse...

Ô, louco! Cada texto!!! Pq resolveu escrever textos sobre os 7 pecados capitais?

Kisses

Anônimo disse...

Diretas? Hum, tô mais pra indiretas,rsss
Lindo final de semana querido amigoparasempre!!
beijosss

Evandro C. Guimarães disse...

Rapaz, grandes experimentos literários! Poderíamos combinar um desafio literário um dia desses, você, o Paulo e minha humilde pessoa. Escrevermos contos sobre um mesmo tema e publicar ao mesmo tempo nos três blogs...sei lá. Fica lançada a idéia!

Anônimo disse...

oieeee,meu amor,sei la vc parece que captou sem querer o que aconteceu comigo,eu vi esse teclado a tecla delete e vou te explicar, eu estive desanimada ,e andei deletando meu blog ,e descobri quantos amigos sinceros que tenho e alguns nem sabia que me gostavam recebi emails ,de amigas preocupadas com o sumisso do meu blog,foi quando eu colocava na rede novamente,mas estava passando um pedaço dificil,e deletava novamente,e por fim decidi ,aconteça o que acontecer ,nao vou mais tirar meu blog da rede,é por essa razão que varias vezes vc encontrou endereço inexistente,pq nao existia mesmo,brigaduuuuuuuuuuuuuuu,por estar sempre no meu cantinho ,vc é sempre gentil e muito querido,adorei a historia,como tudo que vc escreve,desejo uma linda noite e um fim de semana feliz,te adoroooo,bjssss

Paulo Assumpção disse...

Grande Marco, agora quem aplaude sou eu! E de pé! Bravo! Bis! O Evandro, em seu comentário, deu uma idéia interessante. Que tal a amadurecermos? Aliás, ainda temos que marcar o nosso encontro blogueiro. Abração!

Anônimo disse...

Aqui fecha "com chave de ouro" os 7 Pecados. Quem acompanhou, sabe o quanto foram bons os episódios, cada um deles com a sua marca pessoal na escrita.
Parabéns, Marco!
Bom domingo.

Anônimo disse...

Interessante é que fui o 17º comentário (tem 7 aí). 7 biblicamente é um número significativo...
Abraços.

Anônimo disse...

Sabe qual é a maior alegria para um escritor? Uma folha de papel em branco.
Nela você pode criar tudo o que sua mente desejar.
Seus contos são profundos e vi muito de ti neles. Sua forma de expressão é cristalina. Difícil não gostar.
A avareza é algo tão comum que nem percebemos seu significado.
Belo final para a viúva. Seria destino?

Beijos prismáticos.

Anônimo disse...

Umm andei perdendo coisas boas por aqui, hein? (boas para quem, perguntas, para igreja é que não são... parece... mas além dos temas serem bons, a tua escrita torna os pecados deliciosos ;))

Só estou pensando... onde está a inveja neste conto?

Beijos

Jéssica disse...

Olá, meu querido, um dia maravilhoso pra você, beijo*.*

Marco disse...

Minha doce Claudinha: Ô, querida, que exagero! Mas fico feliz por ter apreciado a série. Feliz mesmo, viu? A sua opinião é muito importante pra mim.

Caro mestre Moacy: Foi um enorme prazer reencontrá-lo. Abração!

Querida Lili: Puxa! Obrigado. Se uma baita escritora como voc~e aprecia as minhas muitas linhas, isso só me estimula. Realmente eu admiro muito o seu estilo conciso de contar histórias curtas e de enorme profundidade. Quanto a visitar sua terra, estive aí há poucos anos, com minha namorada. Tudo aí é muito lindo!

Querida Karine: Que bom vê-la aqui!
Curtiu meus despretensiosos contos? Puxa, que legal! Sobre alguém morrer na cama com a amante, antigamente no Rio de Janeiro se dizia que era "falecer da macaca" (gíria pra quem empacotava no bem-bom). E você tem, sim, que fazer um Antigas Ternuras II. Eu dou a maior força!

Querida Ana Carla: Que bom que você gostou! De vez em quando, pra desenferrujar o ficcionista que vive em mim, farei meus exercícios por aqui.

Querida Marcíssima: Quer dizer que além de ter sido seu vizinho em priscas eras, de certa forma também sou ex-vizinho de seu marido? Caraco! Que coisa, heim?
Fico encantado por saber que você gostou de meus contos. Foi um bom exercício pra mim. Teve um filme que está passando por aqui, "Xeque-Mate", que fala de uma coisa chamada "Trapaça Kansas City". É quando alguém faz uma coisa levando quem observa a olhar prum lado, enquanto ele faz outra de outro lado. Isso me inspirou também. por isso, nem todos perceberam as conexões entre os contos.

Querida Jéssica: Não entendi se "o pior" que você escreveu foi o conto ou o pecado. Um ótimo dia pra você também, querida.

Grande Marconi: Uau! Um cara que escreve bem pra dedéu como você me elogiar assim, é para eu me sentir feliz até o dia do Juízo Final! Valeu, amigão!

Querida Roby: Que legal saber que você gosta de meus contos! Puxa, é ótimo saber que a gente agrada aos amigos.

Grande DO: O prazer é todo meu por saber ter agradado aos meus queridos amigos.

Obrigado, querida Giulia! Puxa... assim vocês me encabulam...

Querida Fernandinha: Foi um exercício literário. Talvez você não tenha apreciado... Mas eu gostei do resultado final.

Grande Evandro: Gostei da idéia! Vamos amadurecer isso. Daqui a pouco vou escrever pra você e pro Paulo combinando sobre isso. Valeu!

Linda menina Samara: mas deletar o seu blog por que? Você escreve coisas tão bonitas... Ainda bem que reconsiderou. Continue!

Meu caro personal teacher de template Paulo: Vamos tocar a idéia do conto, sim. E do encontro dos blogueiros também.

Ô grande Rubo, fico feliz por ter gostado. Obrigado pela força!

Querida Bruxinha: É ótimo saber que você apreciou meus contos. Sim, pro escritor o papel em branco a tela do monitor vazia é um convite ao preenchimento.

Querida Maga: Que bom que você apareceu. Huum... Neste não tem inveja. Só avareza. A inveja está no primeiro conto da série.

Valeu, moçada! Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim!