segunda-feira, julho 31, 2006
Inverno
Olho pela minha varanda e vejo um dia típico de inverno. Faz frio, chove, o Rio de Janeiro está cinza e, curiosamente, sem barulhos matinais. Nesta manhã de silêncios, preparo o meu desjejum, que como silenciosamente.
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É costume dizer que um dia como hoje é triste. Vincula-se inverno à tristeza, à velhice, à melancolia. Neste sentido então, o inverno está fora de mim. Meus dias, minhas sensações têm estado bem mais para primavera e verão do que para essa tonalidade de chumbo, acompanhando um frio úmido de enregelar os ossos.
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No sábado passado, meu amigo e mestre Sergio Britto me convidou para assistir à peça que ele está fazendo no Centro Cultural Banco do Brasil. E a peça chama-se “Outono, Inverno”, fala de relações familiares frias, em uma Suécia de relações gélidas. No final do espetáculo, vou aos camarins para parabenizar o meu amigo que tinha dado mais um habitual show. Encontro-o tão envelhecido, sob o peso de seus 83 anos. Trabalhamos juntos por alguns anos e sempre me espantava com sua vitalidade. Desta vez, eu vi o título da peça em suas feições.
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Saio na rua, nessa segunda-feira, caminhando para mais um dia de trabalho. Cruzo com pessoas de cenho franzido, trazendo no rosto o cinza do dia. Resolvo que vou andar de cabeça erguida e com um sorriso nos lábios para alegrar e incentivar as gentes ao meu redor. Não deu certo. Caminho pelas ruas, no meio dos transeuntes, como se fosse invisível. Ninguém costuma reparar em mim, nem há na verdade o que reparar. Tenho cara, corpo e jeito muito comuns.
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Reflito sobre a atual estação. Os livros de Geografia nos ensinam que o inverno é decorrência do afastamento e posicionamento do planeta em relação ao sol. Filosoficamente, o inverno não teria nada de triste. A semente na terra aguarda o momento de germinar; as folhas secas que caem, indicam que virá uma renovação nas árvores; um bom número de espécies de animais se recolhe, hibernando, reagrupando forças, em momento de introspecção. Logo, inverno é tempo de recolhimento, de espera, de prévia sobre mudanças em curso.
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E neste sentido, percebo que o inverno não está só fora de mim. Também meu interior inverna.
M.S.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve “Gymnopedie”, de Erik Satie.
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16 comentários:
Invernamos meu querido, o cinza do dia nos contagia, a falta de luz nos entorpece e os pássaros se recolhem não deixando que o lindo som matinal de um dia de verão se faça.
Que possamos passar pelo inverno sem secar o coração e que venha primavera nos encher de flores e amores.
Lindo dia[mesmo chumbo]meu querido,
beijosssssssssssssss
*vamos lá pô!:)
Oi Marco!
Estou comovida. Sou quase sempre eu a celebrar as estações, sou eu a viver cada uma em sua plenitude, em relação com a Deusa e vejo isto aqui também...Uma maneira muito Wicca de comparar as sensações... Vejo que vê com olhos de enxergar e sente a vida com os sentidos da alma. É por isto que eu gosto muito de vir aqui e ler suas letras. Sempre saio com um sorriso, com a alma limpa, sempre levo algo de bom para mim.
Beijos e fique com Deus. Boa semana!
Lá no meu divã é quase sempre Outono... Vez em quando faz um sol... vez em quando tem chuva...E sempre que por lá você aparece, é um sopro quente de carinho que sinto... sinta esse mesmo carinho agora, viu?
Beijos quentinhos, sabor chocolate...
Sou como a Claudinha: curto todas as estações e suas peculiaridades. O humor, o nosso humor, depende não da estação em si, mas das coisas que acontecem na vida e da mandeira como a vemos. E como disse alguém que não me lembro: não leve a vida muito a sério porque jamais sairá vivo dela! Então, vamos curti-la com seus invernos e verões!
O inverno é realmente contagiante. Acho que principalmente para os cariocas não tem como não sentir uma certa tristeza com o inverno, uma nostalgia, uma saudade de alguém que não se sabe ao certo quem seja.
Mas como você disse pode-se encarar tudo isso como um tempo de renovação. Espero que isso se dê comigo!
beijos!
Marco dos céus! Satie com chuva é covardia ... rsrsrs Esses dias grisalhos sempre me deixam um pouco melancólica também. Preciso pensar em sopas cremosas, chocolates e aconchego para sobreviver a eles. Em tempo, aprendi a botar filmes no blog. Quando tiver um tempinho, vá assistir ao show do Piazzolla no Fruit. Não é o Outono Portenho, mas mostra bem como podem ser quentes os dias frios ... rsrsrs Beijo você!
Diga-se de passagem , um dia lento e apesar disso , tipicamente paulista. Chuva , frio , garoa e vento.
Abração!
PS:Caraca , o sérgio britto?!
é..
como dizia e diz meu bom médico...
cláudia:
crescer dói.
seja inverno ou em qualquer estação...
um beijo
Não gosto do frio, seja por fora ou por dentro de mim. Mas resista, amigo! Mais uns dias (poucos dias) e a primavera irá chamá-lo!!
Marco!
É... você colocou brilhantemente o que é um dia de inverno! Ainda bem que seu coração não se deixa enregelar e você traz um toque de recolhimento preparativo para a renovação da primavera. A esperança aquece.
E já que esteve em minhas janelas, acrescentei um esclarecimento a respeito da frase que fala sobre crianças de Israel desenhando em mísseis que talvez sejam recebidos por crianças do Líbano. Acredito que ajude a esclarecer minha posição nesta guerra horrível que nos deixa a todos atônitos e impotentes.
Abração.
Reflexo da estação,MARCO??
Pode ser que sim,pode ser que não.Mas fiquei me perguntando sobre os europeus que têm realmente um INVERNO. E com ele uma vida muito introspectiva...
Abração!
OLA mARCO QUE CARINHO SUAS PALAVRAS FICO MESMO MTO FELIZ EM SABER SUA OPINIÃO, MAS PODE TER CERTEZA QUE VC ARRAZOU NO DENTRO DE MIM INVERNA. ADOREI SEU TEXTO.
Um grande abraço.
Boa noite
Marco, estou lendo esse post hoje, 1º de agosto e aqui em BH é um dia ensolarado. Ontem estava assim como vc descreveu. E só não me senti asssim como vc descreveu pq aprendi a conviver com essa estação da qual não gosto(aliás, acho que ninguém gosta). Nada melhor como um dia quente, ensolarado, para nos fazer mais felizes. Só estou esperando o calorzão pra voar pra PoA. Lá estarei do jeito que gosto. Naquele calorzão, de férias, livre... Nem quero pensar nisso agora.
Mas voltando ao inverno, prometo passá-lo no Nordeste ano que vem. Lá não tem isso mesmo... rs
Abraços.
É, meu car Marco... Apesar de ser verão em São Luís, a melancolia também deixa meu cenho franzido, especialmente depois das grandes ausências na família... E a melancolia ainda é amior, já que os Morcegos já começam seu processo de debandada... Até!
Fico muito contente por vocês terem gostado deste texto. Ele expressa muito de meu interior. Vamos aos comentários:
Marcíssima, querida: Amém para suas belas palavras. Espero que o seu dia, a sua semana, a sua vida tenha as cores da primavera. Sempre.
(* como lhe expliquei, não posso, querida, tenho compromisso a que não posso faltar.)
Minha doce Claudinha: Tenho a mesma opinião e atitude que você. Respeito, cumpro as estações, as fases da lua, como integrante de um todo. Nós, seres humanos, somos parte deste todo. Lembro das palavras do chefe Seattle, um índio norte-americano, que disse certa vez: “O que nós sabemos é que a Terra não pertence ao Homem. O Homem pertence à Terra. Todas as coisas estão conectadas, como o sangue que une uma família. O Homem não teceu a teia da vida, ele é apenas parte dela. O que quer que ele faça a esta teia estará fazendo a si mesmo”.
Minha maior satisfação é saber que você sorri e leva algo de bom para si quando lê minhas linhas.
Querida Vendetta: Precisamos de todas as estações. Fisiologicamente ou metaforicamente. Fico feliz em saber que meu carinho e atenção dispensado a amigos como você é sempre benvindo.
Querida Lili: Ôpa, então somos três a curtirem as estações. Concordo inteiramente com você. Também costumo dizer a mesma coisa, nesse estilo “carpe diem” de se viver.
Eduardinha querida: O inverno é uma estação própria para reflexões. E precisamos sempre ter um tempo para refletir, escutar cabelo crescer, avaliar nossa vida... Crescemos como seres humanos assim. E é claro que a renovação acontecerá contigo também. É inexorável, acontece com todos.
Querida Fugu F: Ah...Gostas do Satie... Eu sou fascinado por “Gymnopedie”, acho uma música que a gente deve ouvir abraçadinho.
O inverno não me deixa melancólico. Ele me deixa mais reflexivo. E aqui pra nós, sopas e cremes são ótimos em qualquer estação! Eu tomo a minha sopa TODAS as noites. Pode estar fazendo 40 graus na sombra que eu não dispenso!
Já fui ver o filminho do Piazzolla. Ele está tocando a minha favorita entre as dele. Parabéns pela escolha!
Grande Bruno: Estes dias têm suas vantagens. São ótimos para ler, ver TV debaixo das cobertas... Aliás, costumo dizer que dias assim são ótimos para fazer duas coisas. E todas duas tem cama no meio!
(O Sergio foi (e será) meu querido professor e diretor. Aprendi muito com ele)
Claudia querida: Eu diria que viver tem suas dores e delícias. Seja que estação for. Você concorda?
Cara Claire: O sergio me disse que continua a fazer o programa, que é excelente, sem dúvida. Ele tem muito bom gosto. Que bom saber que você também gosta do inverno. Eu gosto! As pessoas querem que a vida seja um eterno verão. Mas talvez tão bom quanto os dias quentes e alegres é esperar por sua chegada. Se fosse sempre a mesmice de sol e céu azul, as pessoas acabariam não dando o devido valor.
Querida Ana Carla: Ei! Eu não sinto frio dentro de mim! Pelo contrário, ando numa fase de bastante alegria. Eu gosto do inverno, de poder botar minhas idéias em ordem. Quando a primavera chegar, ela me terão pronto para novas transformações.
Grande Zeca: Meu coração passou nas Casas Pernambucanas e não deixa o frio entrar. Você está certíssimo. A esperança nos aquece e nos prepara para transformações.
Já estou indo para o seu blog ver o que escreveu. Aprecio textos inteligentes como o seu.
Grande DO: Sim, DO. Reflexo de uma estação própria para reflexão.
Compartilho sobre sua teoria a respeito da introspeção dos europeus. Só que eles ainda tem para contribuir o fator cultural.
Nancy querida: Eu me encho de contentamento por saber que meu texto agradou a uma poetisa sensível como você. Puxa, obrigado por suas palavras!
Grande Rubo: Respeito a sua opinião. Acredite: há quem goste do inverno. Só damos valor a dias quentes e ensolarados por alguns deles não o são. O inverno é necessário, precisamos aprender a cumprir nossos ciclos. Precisamos nos integrar à natureza e ela precisa das transformações trazidas pelo inverno.
Mas lhe desejo férias maravilhosas. Carregue suas baterias no solzão de Porto Alegre, cidade de que gosto muito, onde viveu Mario Quintana, (100 anos de nascimento!) e Érico Veríssimo.
Grande primo Dilberto: Lamento pelas razões de seu estado melancólico. Ei! Debandada dos Morcegos? Desculpe, mas eu estarei sempre aqui e pra sempre serei um Morcegão, discípulo de Batman.
Valeu, moçada! Aproveitemos o inverno para reflexões e transformações. Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim.
Querido Marco! Que lindo texto esse, tão poético... adorei! O inverno é um "mal" necessário: é tempo de repouso da terra, de reflexões, de voltar ao interior - é uma preparação para a explosão da primavera! Beijos
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