sexta-feira, julho 28, 2006
Encontros
Marília abre os olhos e vê onde está. Naquele promontório de onde se avista um mar sereno, perolado por gotas de um luar manso, ela percebeu que não estava só. Ao seu lado, Dirceu a olhava sorrindo e ela sentiu que aqueles olhos lhe acariciavam os cabelos, a face...como mãos e beijos e toques de um ser amado.
- Vejo que despertaste. Deixa agora o mundo mais feliz com o som de tua voz.
- Dirceu?
- Oh, graças, Marília bela! Graças à minha estrela!...Teu primeiro som foi o nome de teu gentil pastor. E me junto à felicidade do mundo por te ouvir falar.
- Por acaso é este o Paraíso dos que amam? Fechei meus olhos em terra para abri-los na celeste morada?
- Ah! Não, não fez o Céu, gentil pastora, para glória de Amor igual tesouro. Neste momento, importa que te vim ver e que te fazes mostrar a mim. Como tem que ser, como há de sempre ser.
- Fala, fala mais que o teu canto me traz a felicidade que almejo. Há tanto te procuro! Em que desvãos tu te escondestes de mim, amado Dirceu? Minha casa está vazia sem ti...
- Mas eu, amada Marília, sou pastor de tua aldeia. E haverei de manter sua casa do que preciso cheia.
- Minha casa carece de ti. Eu te preciso e não te tenho.
- Mas me tens! Olha em volta, vê a terra aromal... Pois estou no perfume das plantas, no orvalho que umedece de lágrimas o chão... Olha no céu e lá estou na estrela que reflete em teus olhos, na luz morna da lua...
- Quero ter-te em meus braços! Não na meiga poesia, na dimensão paralela em que pairam os poetas! Quero abraçar-te forte, ficar junto...Tu me fazes melhorar e é melhor quando dividimos as coisas, as forças se multiplicam...
- Pois haveremos de estar juntos pelas campinas...
- E te poderei cobrir com meus melhores beijos? E tu estarás ao alcance de meu toque que te anseia?
- Sim, sempre... E estarás sustentada no meu braço e em teus braços descansarei a quente sesta, dormindo um leve sono em teu regaço...
- E te farei repousar com minha voz...e te cantarei para que durma bem, me queira bem, meu amor...
*
Uma aragem leve se transforma em neblina e faz com que os amantes não mais se avistem.
*
O rapaz fecha o livro, com um sorriso, se perguntando mentalmente:
“Será que os personagens conseguem sonhar?”
E recoloca o livro na estante.
M.S.
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Tomaz Antonio Gonzaga, autor de “Marília de Dirceu” (as frases de meu texto em itálico são originalmente deste livro), morava em Vila Rica quando conheceu Maria Joaquina Dorothéa de Seixas Brandão. Apaixonaram-se. Ele a pediu em casamento, apesar da oposição da família da moça, que desaprovava a união com um homem 23 anos mais velho. Estavam noivos, prontos para se casar quando Joaquim Silvério dos Reis denunciou Gonzaga como “o primeiro cabeça da conjuração”. Tomaz Gonzaga foi condenado ao degredo, em Moçambique, e nunca mais viu sua amada Maria Joaquina, a quem chamava de “Marília” em sua mais conhecida obra.
Em terras d’África, ele viveu o resto de seus dias, suspirando por sua amada. Mesmo assim, casou-se com Juliana de Souza Mascarenhas, moça simples moçambicana, que tinha se desvelado em cuidados a ele dispensados quando o poeta caiu gravemente enfermo. Conta-se que foi um casamento por agradecimento e que ele nunca esqueceria “Marília”. Morreu no degredo, em 1810, com 66 anos.
Já a bela Maria Joaquina, nunca quis se casar com homem nenhum, passando toda a vida recordando seu amado, vivendo reclusa em seu casarão na atual Ouro Preto. Faleceu em 1853, aos 85 anos. Quem sabe quando e em que dimensão eles tenham se reencontrado...
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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo Ivete Sangalo e “A Lua que eu te dei”.
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23 comentários:
Eu conheci Tomaz Antonio Gonzaga através de um outro livro que eu lia quando tinha cerca de 14 anos. Corri para ler Marília de Dirceu e me imaginava em Vila Rica, apaixonada, com um Dirceu. Será que cada Marília tem o seu?
(suspiro... suspiro... suspiro...)
ai, ai...
Beijo!
Marquito, lindo trecho... Hj estou empolgada, irei ao teatro municipal assistir uma ópera! e eu sei que vou chorar, eu sei, rs... adoro.
saudades e tudo de bom.
deletei o blog. muita coisa pra fazer pra cuidar mas sempre estarei por aqui a te visitar. ampliando: deletei minhas páginas internéticas.
e eu faço a mesma pergunta em voz alta, daqui: será que ele, o rapaz, consegue sonhar? e os personagens, espero, irão se reencontrar quando a neblina baixar. somos sempre mais românticos que recioanais, nao é? olha o que escrevo! rs.
beijos!
Mais sorte tiveram Fermina Daza e Florentino Ariza que depois de "cinqüenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites" ficaram juntos. Ainda citando o velho Gabi: "é a vida, mais que a morte, a que não tem limites". Um beijão! Adorei este post.
Olá Marco... Estou comovida por ler esta história, que tanto ouvi, ser contada de maneira tão bela. Eu cresci brincando entre a primeira e a segunda ponte (citadas no livro)de Marília. A casa da ponte seca (a primeira) é de meu tio-avô Anselmo. A segunda ponte fica ao lado da Casa dos Contos (onde Vinícius compôs muita coisa boa em 1964). Mas a casa de Marília fica logo no final da descida do morro, na terceira ponte. Ainda hoje é um local belíssimo e que me traz arrepios quando ali passo. Ela ficou a ver navios sim... Mas eles devem ter se reencontrado, pois suas almas estavam muito ligadas... Parabéns pelo post, eu gostei muito! Beijo!
Nossa que lindo.. é tão bom estar apaixonado né?
beijos
Volto pra ler, passando pra deixar carinho e saber se tá tudo bem..vc sumiu :(
beijossssssssssss
Acho que nunca foi editado em Portugal. Vou tentar saber.
Beijinhos lusitanos
É melhor deixar o futebol pra lá, não é mesmo? Já recebi umas trocentas mensagens no celular e no orkut, sem contar os telefonemas, me sacaneando, então, acho que está tudo certo!
Quanto ao RCD e as demais pessoas a que me refiro no blog, elas nem sabem da existência dele! :)
beijos
Muito bonito,MARCO.
Mas se os personagens sonham eu não sei... Mas que fazem sonhar...ah,como fazem.
Abração e otimo final de semana a vc!
Bonito texto, amigo Marco! Creio que almas gêmeas sempre se encontram, se não na realidade, em sonhos certamente e também em outras dimensões, outros mundos, outras vidas... ah! o amor!!! eterno sentimento... Ótimo final de semana procê, querido amigo. Beijussss
Ah, Marco!
Esse texto está belíssimo; pura poesia! Deixa o coração acelerado, os sentimentos efervescentes, a razão atrapalhada.
Havia lido Marília de Dirceu há muitos e muitos anos e agora fiquei com vontade de reler.
Eu acredito que os personagens sonham, sim. Já que lhes damos vida quando os lemos (ou quando o autor os cria), creio que adquirem o poder de fazer tudo o que nós mesmos podemos fazer.
Já o reencontro... trata-se de um direito adquirido. Um amor tão belo e tão profundo só pode ser eterno, dando-lhes o direito do reencontro. Quando? Como? Onde? Não sei, pois aquí se iniciaria outra história...
Abraços.
Suspiros ... suspiros ... mais suspiros ... Vou procurar uma bela receita com suspiros para botar no Fruit de la passion em homenagem a todos os apaixonados que ... suspiram - e escrevem textos tão belos. Beijo você!
Vi que o romantismo e o lirismo prevaleceram neste post. Posso apenas admirar a beleza das imagens sugeridas no texto!
PS: Como não poderia deixar de ser, vou comentar, mesmo com atraso, o post do Mengão campeão!!!
Também comentei o post do super. Mesmo atrasado, não poderia perder essa!
Puras sentimentalidades que embalam a vida e a alma.
bom domingo!
Ai,ai, saindo daqui com o coração aos pulos de tanto amor e emoção desse texto.
Que coisamaislindadomundo!!
Viu meu querido? arranquei o outro sistema ele já não aparecia pra mim, sniffffff,perdi muitos comentários então?
Agora tô feliz, te olho toda hora por lá,rssss
Linda semana
beijossssssssssss
Grande Marco, seu texto está sublime! Seria uma conclusão perfeita para o amor de Tomaz/Dirceu e Marília. Por falar nisso, passei pela casa dela quando estive em Ouro Preto. Cidade maravilhosa é aquela... Um abraço!
Ó eu aqui traveiz!! Vim agradecer pela indicação do blog da Claudinha, realmente me identifiquei... Só uma ressalva, depois que li seu comentario no blog dela: eu não sou baiana lalalalalala!! Sou goiana-mineira... e moro há 5 meses na Bahia... dauqi apouco acrescento o baiana ao goiana-mineira também!!
Obrigada, viu?
Beijo, se cuida!!
Marco querido, eu já li Marília de Dirceu, e reli trechos milhões (exagero) de vezes. Mas... seu relato sobre Tomaz Antonio Gonzaga me fez chorar. Um beijo estalado procê!!
E naquele tempo ainda se morria de amores. Boas lembranças. Ótima referência! Não sabia ser romântico?? (rs*) Boa semana! Beijus
Suspiros poéticos e saudades...
de você, Marco Amigo!
Meu Ternurinha... você me surpreende a cada dia, a cada texto, a cada comentário.
Beijo Enorme de grande!
Querida Janaína: Eu li o “Marília de Dirceu” quando era novinho, e estava estudando metrificação na aula de português. Fiquei fascinado. O cara era bom. Mais tarde, já interessado em História, estudei a Conjuração Mineira e, em especial, a vida de Gonzaga. Se cada um ou uma tem o seu ou sua eu não sei. Só sei que eu tenho a minha Marília...
Querida Karine: Quero crer que seus muitos ais e seus suspiros sejam por algum Dirceu, não é? E eu sabia que você e a Claudinha iam se dar bem. Fico feliz por fazer as borboletas se encontrarem. Depois você me explica esse negócio de “goiana-mineira”, tá?
Querida Jade: Deletou o blog? Que pena... Você é uma moça tão talentosa... Imagino que tenha gostado da ópera. A primeira que vi, ao vivo e a cores, também me emocionou muito.
Se o rapaz sonha? Esse rapaz aqui sonha e muito! E os personagens sempre haverão de se encontrar em algum recanto que só eles conhecem.
Querida Lili: A literatura e a vida real estão cheios de histórias de amor, histórias de encontros e reencontros. Ora somos personagens ativos, ora passivos. Mas esse casal do livro “O amor em tempos de cólera”, do Gabo, foi muito bem lembrado.
Minha doce Claudinha: Que bom que você gostou. Já imaginava que você tinha convivido com a história destes dois na Ouro Preto de sua infância. E que luxo ter brincado e passado a adolescência no lugar onde Maria Joaquina e Tomaz se apaixonaram! Talvez por conta disso você tenha assimilado o talento e a sensibilidade do grande poeta e a capacidade de amar da musa dele. E você tem razão: almas que estão ligadas acabam se reencontrando.
Querida Eduardinha: A história desses dois é muito linda, realmente. Se é bom estar apaixonado? Claro que é. Se todas as pessoas estivessem apaixonadas, de cara, não haveria guerras no mundo e teríamos mais justiça social também, pois quem ama só quer saber de coisas boas. Quer dizer que os seus amigos não sabem que são personagens do seu blog? Xiii...
Marcíssima querida: Mas o seu coração já vive repleto de amor, né não? Me faz ficar mais alegre ainda saber que você gostou do meu texto. E é claro que estou e sempre estarei admirando os seus belíssimos escritos.
Querida Anagarrett: Você pode conseguir todo o texto de “Marília de Dirceu” pela internet. Pois a obra é de domínio público. Obrigado por vir me visitar. Já retribuí e gostei muito do que vi.
Ah, Claire... Você me fez lembrar de mais um casal que poderei usar em textos futuros. Este meu texto já é o segundo que faço, utilizando personagens da literatura universal. Acho que essa minha idéia dá samba, quer dizer, dá Teatro. Ando pensando umas coisas...
Mas esses exemplos que você deu são esclarecedores sobre como grandes amores podem acontecer entre pessoas que não se uniram. Embora os apaixonados não tenham podido viver suas paixões, a literatura agradece por isso. Mas é triste ver pessoas que se amam não poderem estar juntas.
Grande DO: Pois é...Eu imagino que eles sonham. E fazem sonhar também. E para eles, somos um sonho ou eles é que são partes de nossos sonhos?
Querida Giulia: Obrigado, amiguinha! Almas gêmeas, corações afins, sempre acabam se encontrando. Seja em sonhos, seja na vida real, seja nos dois, seja ainda em dimensões paralelas.
Grande Zeca! Mas que comentário bonito este! Fico envaidecido pelos elogios e os retribuo. Eu o incentivo a reler o “Marília de Dirceu”. É belíssimo!
Também acho que os personagens sonham e vivem e amam. E acho também que a espiritualidade acaba ajudando os que se amam se encontrarem. A gente não sabe como, onde, quando, em que condições. Mas eles se acham...ah, se acham, sim...
Querida Fugu F: Huummm...Você me deu vontade de comer suspiros! E muito obrigado pelas suas gentis palavras.
Grande Evandro: Nunca é demasiado falar de amor. Quanto ao nosso amado mengão, tenho por ele um grande amor também. E posso garantir que tanto Marília quanto Dirceu seriam rubro-negros se vivessem hoje em dia.
Grande Cristiano: E essas sentimentalidades são tão boa, não é?
Grande Paulo: Obrigado por suas gentilezas...eu também, sempre que vou a Ouro Preto, cidade que amo muito, passo pela casa de Tomaz e de Maria Joaquina. E pela Fonte Marília de Dirceu também. Não há como não nos inspirarmos com o amor dos dois.
Querida Ana Carlinha: O livro é belíssimo, emociona a gente tanto quanto a história destes dois apaixonados. Que ótimo você ter gostado.
Luminha, querida: Ainda se arde em amores até hoje e ainda por muito tempo. Se sou romântico? Sou, sim. De dar nojo!
Querida e suspirante Vendetta: É muito saber que você gosta de me ler (como eu gosto de te ler...). Obrigado por suas palavras e por sua amizade.
Valeu, moçada! De vez em quando, voltarei com textos que acontecem em uma biblioteca (a minha), com personagens da literatura universal. Com certeza, essa idéia vai frutificar em alguma outra coisa. Abraços e beijinhos e carinhos e ternuras sem ter fim.
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