
Não sei vocês, mas se tem um assunto que me interessa é viagem no tempo. Aliás, isso não é nenhuma novidade para quem costuma me dar o prazer de ler estas mal tecladas linhas. O saudosismo latente me denuncia a vontade constante de “viajar” a tempos idos.
Normalmente, vejo todos os filmes sobre o assunto, leio os livros, ouço os discos... Antigamente eu sempre perguntava aos meus amigos: “Se existisse viagem no tempo, para que época e local vocês gostariam de ir primeiro?” Coisa curiosa. Nenhuma resposta coincidia com a do outro ou com a minha. Embora houvesse trocentos lugares e épocas que eu adoraria conhecer, tem uma que suplanta a todas. E é a que eu respondia quando me devolviam a pergunta sobre que época e local eu gostaria de visitar:
O tempo de Cristo, em seus últimos dias.
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Não que eu seja particularmente religioso. Embora uma viagem àquela época faria muito bem à minha crença, especialmente por eu poder tirar a limpo aspectos dos Evangelhos que definitivamente não batem entre si. Para um estudioso de História, é um período fascinante. Sem contar que estar diante do mestre Jesus, cara a cara com ele, seria literalmente a glória.

Mas mesmo se possível fosse, tecnicamente seria uma coisa meio complicada. Eu não falo, nem entendo hebraico antigo e sei que não encontraria a moleza de “Tony” e “Doug”, personagens da série “Túnel do Tempo” (que eu adorava...), que onde caíam, sempre encontravam gente falando inglês. Fosse na Mongólia de Ghengis Khan, fosse na Jericó de Josué.
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O assunto realmente me desperta todo interesse. Já li muito a respeito. Albert Einstein tirou todas as minhas esperanças quando afirmou que cientificamente é impossível voltar ao passado, mas que era possível viajar ao futuro. Deixa eu tentar explicar a vocês, do jeito que eu entendi.
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Einstein disse que o espaço-tempo é uma espécie de tecido curvo. Em intervalos irregulares existem buracos neste “tecido”. O tempo e a noção de espaço percorrem este “tecido” na forma como a gente conhece e vive. Mas se houvesse uma espaçonave que atingisse a velocidade da luz e se fosse conhecido exatamente onde se encontrariam os tais “buracos” no fluxo espaço-tempo seria possível, digamos, cortar caminho (veja a ilustração à esquerda).

Ou seja, uma nave, na velocidade da luz, sairia da Terra, penetraria nestas falhas e levaria menos tempo para percorrer um determinado caminho. Seria como se nós, na Terra, levássemos, digamos, uns 20 anos para percorrer um trecho no Cosmo, mas os tripulantes desta espaçonave levariam talvez um mês. Daí, quando retornassem à Terra, após “cortar caminho-tempo” pelos buracos, teria passado 20 anos para a gente e muitíssimo menos para eles. Seria como se eles tivessem “viajado” para o futuro.
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Claro que ainda não existe uma nave que viaje na velocidade da luz (300 mil km por segundo), mas Einstein disse que era possível, não que fosse fácil.
Com base neste raciocínio, eu desenvolvi uma outra forma de se “viajar ao futuro”, mas com efeitos colaterais que o jeito do Einstein não apresenta. Seguinte:
Imaginem uma pessoa entrando em coma (por indução ou por acidente) por 20 anos. E que depois desse período, ela acordasse “no futuro”. Não deixaria de ser uma “viagem” nos princípios einstenianos, pois, no momento 1 alguém estaria com a consciência em uma época e no momento 2 a sua consciência estaria em outro tempo do porvir.
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O principal efeito colateral diferente da outra viagem seria o fato do “viajante” envelhecer durante o período. No exemplo de Einstein os tripulantes da nave não sofreriam a ação do tempo em seus corpos.
Mas tanto na viagem pelo método de Einstein quanto na minha existe um principal problema a ser sanado: o choque cultural, o impacto dos acontecimentos do período. Imaginem alguém “sair do ar” de 2006 e acordar em 2026? O tanto de coisas que aconteceria durante este período seria perturbador para o “viajante no tempo”.

Para facilitar a compreensão de vocês sobre o que eu estou falando, criei a seguinte situação: um homem entrou em coma em 1986 e acordou agora em 2006, ao lado da esposa e de seu médico.
- Uhnn...Onde estou?
- Waldemar! Você acordou? Olha só, Dr. Duarte! O Waldemar acordou! Ô, meu querido! Você esteve em coma por 20 anos!
- 20 anos? Então já estamos no Século 21?
- Desde 2001, meu bem. Aliás, um ano bem complicado...
- Tivemos a nossa odisséia no espaço? O Brasil já foi ao Cosmos?
- Já, já...E o assunto já encheu o saco. Ninguém agüenta mais o astronauta de Bauru.
- O que? O Brasil mandou um astronauta de Bauru pro espaço? Uau! Deve ter custado muitos milhões de cruzados para...
- Reais.
- Hein?
- Reais. A nossa moeda é o Real. Não é mais Cruzado. Aliás, deixou de ser Cruzado, deixou de ser Cruzado Novo, deixou de ser Cruzeiro... e sei lá mais o quê. A moeda mudou tanto que nem lembro mais quais foram.
- O que você está me dizendo, Dirce... Quando eu apaguei o presidente era o bigodudo, o que fez o Plano Cruzado. Quem mudou pra Real?
- O topetudo. O Itamar Franco.
- Heim? O Itamar foi presidente depois do Zé Sarney?
- Não. Depois do Sarney veio o Fernando Collor...
- Collor? Ué! Não era aquele governador que caçava corrupto em Alagoas?
- Era. Virou presidente e foi impichado.
- Por que?
- Porque era corrupto.
- O que você está me dizendo, Dirce... Mas essa festa vai acabar quando o socialismo sair da União Soviética e chegar ao poder no resto do mundo. Aí essa...
- Waldemar, a União Soviética acabou. Não existe mais desde 1990. A Rússia, a China, a Cortina de Ferro, tudo virou capitalista, adorando a economia de mercado!
- Mas...mas...O que você está me dizendo, Dirce... E depois do Itamar? Quem foi presidente?
- Fernando Henrique Cardoso.
- Aquele sociólogo metido a besta? Meu Deus... Só rico vira presidente nesse país! Ah, mas um dia o PT vai chegar ao poder. Quando um trabalhador chegar na presidência esse país vai ter jeito, vai acabar a roubalheira...
- Er...Waldemar...
- ...Não, Dirce, eu tenho esperança que um dia um companheiro chegue à presidência e aí os corruptos vão ver só...
- Waldemar...
- ...É isso aí, Dirce! Só o PT no poder para acabar com a bandalheira!...
- Doutor Duarte! Vamos fazer o seguinte? Bota ele em coma novamente!
M.S.

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Na Rádio Antigas Ternuras, você está ouvindo “Time”, com Pink Floyd...Tic...Tac...Tic...Tac...