quarta-feira, abril 12, 2006

V de Veemente


Em agosto do ano passado eu tinha postado o texto que está abaixo, na expectativa do filme "V de Vingança". Era para ele ter estreado em novembro de 2005, mas com os atentados terroristas no metrô de Londres, a produção resolveu adiar para não ter problemas.
Enfim, o filme estreou e chegou ao Brasil. Não imagino que tenha feito sucesso estrondoso. Independente disso, é um filme admirável. Com uma bela reflexão por trás: o terrorismo pode ser justificado? E como contra-golpe a um terrorismo de Estado? Somos responsáveis pelos governos que elegemos para nos representar?
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Em 2 de agosto de 2005, às 18h 22min.

1. Alô, alô moçada gibizeira! Alvíssaras! Descobri o site do filme "V de Vingança"("V for Vendetta"), baseado na célebre e maravilhosa graphic novel de Alan Moore (esse é o cara!) e David Lloyd. Segundo a página, o filme estréia em novembro deste ano, com produção de Joel Silver, direção de James McTeigue, roteiro dos irmãos Wachowski (os mesmo de "Matrix") e, no elenco, Natalie Portman (a princesa e senadora Amidala da recente trilogia Star Wars), como "Evey", e Hugo Weaver (o Agente Smith, vilão da trilogia Matrix), como "V".
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2. Para quem não leu o gibi, deixa eu dar uma resumida na história, a partir da minha memória, uma vez que li a graphic há muito tempo, e ela não está aqui comigo – tenho dois exemplares, mas ambos estão no meu antigo apartamento, que virou depósito da minha biblioteca.

Em um futuro não muito distante, um regime totalitário assume o poder na Inglaterra, mantendo o povo debaixo de um terror fascista. É quando surge um vigilante mascarado e anarquista ("V") que utiliza práticas terroristas para subverter aquela ordem ditatorial. Ele salva uma jovem da polícia ("Evey"), escondendo-a em sua base de operações. A partir dali, ele trava com ela uma relação estranha, ora como protetor, ora como doutrinador, enquanto leva os agentes do sistema à loucura.
O visual é um certo futurismo retrô que eu acho muito interessante. Aliás, sempre que eu vejo um Citroën C3 preto lembro da revista. O tom filosófico dos diálogos pode desagradar a alguns, mas eu acho bem instigante. Aliás, esse tipo de diálogo é uma das especialidades do mestre Alan Moore.
Para quem quiser dar uma olhada no trailer e ver as informações do site, entre em http://vforvendetta.warnerbros.com
O slogan do filme é uma porrada: "O povo não deveria ter medo dos seus governantes. Os governos deveriam ter medo do seu povo". Será que valeria para um certo país do Atlântico Sul?
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3. Os que ficarem curiosos em conhecer a graphic novel, é só visitar alguma gibiteria ou mesmo algumas livrarias especializadas. Estive neste final de semana no Unibanco Arteplex e lá tem. Vamos aguardar novembro ansiosamente. O filme promete. Pelo menos a história é cinco estrelas.
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Depois de X-Men, Batman Begins e Sin City, parece que Hollywood finalmente aprendeu a filmar história em quadrinhos (eu não gosto de nenhum dos outros filmes feitos sobre heróis de gibi). O roteiro deste segue mais ou menos fielmente a história. O personagem "V" (Hugo Weaver) fica mascarado o tempo todo, o que me surpreende muito favoravelmente. Em cinema é preciso do olho do ator e personagens mascarados costumam dar problema quanto a isso. Aí os diretores e roteiristas costumam fazê-los tirar a máscara nas cenas de tensão. O que, na maior parte das vezes, destroça com o conceito do personagem (vide Homem-Aranha 2, por exemplo). Weaver compôs um "V" um tanto bonachão, diferente do original do gibi que é mais amargo.
Os irmãos Wachowski desenvolveram o filme na mesma atmosfera noir do gibi (estranhei quando li uma entrevista do Alan Moore, dizendo ter detestado o roteiro). É maravilhoso ver o protagonista ouvir veementemente músicas como "Cry me a river", "Garota de Ipanema" e "Corcovado (Wave)" numa velha vitrola Wurlitzer, aquelas de botequim que a gente botava ficha e escolhia a canção apertando um botão.
E a gente ouve uma voz rouca feminina (seria Julie London?) cantando:
"Now you say you're lonely
You cried the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you"…

Quer melhor do que isso?
M.S.

11 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Olá amigo Fantástico, eu confesso! Fiquei com medo do filme... Será uma infantilidade o medo de máscaras e de terrorismo? Estes quadrinhos não vi, e imagino serem ótimos, pela sua memória. Eu tenho pavor de terrorismo, até em um filme... Agora se falar de Star Wars, aí é minha praia total! princesa, rainha Amidala, Dath Vader (eu mantenho uma profunda e tétrica paixão por ele, uai, mas ele não usa máscara?) Rsrs. Beijões!

Anônimo disse...

Mano Marco:

Você sempre antenado no avant-prémiere... A prova sedimentou-se nesta recolocação "postal".

Excelente texto o teu em que a complementação de tua informativa gibizante (vixe!) iluminou-me,já que sou meio às tortas no assunto.

A idéia da máscara ao ator principal (por David Lloyde,inspirada em Guy Fawkes,terrorista inglês [Séc. XVII] que tentou explodir a Casa do Parlamento) foi excepcional.

A propósito de o personagem manter-se integralmente com a reprodução estilizada na face,achei mais procedente,posto que quem for do ramo legitima a angústia/tensão tão-somente no gestual - vide o "Monólogo das mãos"; elas falam muito! (Assisti à reprise desta demonstração com a fenomenal Bibi Ferreira,no Jô Soares) -,que poderia até ser apresentado num fundo escuro em que apenas "spot light" iluminasse os segmentos terminais dos membros superiores - e a sensibilidade da platéia que retivesse toda a beleza dramática inumerável.

Gostei imenso quando frisaste: "O slogan do filme é uma porrada: 'O povo não deveria ter medo dos seus governantes. Os governos deveriam ter medo do seu povo'. Será que valeria para um certo país do Atlântico Sul?"

Valeria,meu grande! Mas estamos todos de cabeças decepadas.

No Brasil,o Governo não leva as luvas,leva logo os dedos. É fraticídio,homicídio ou morticínio o que os poderosos praticam com os vulneráveis brasileiros? Ninguém é culpado,entretanto,lá pelas bandas do Planalto Central (onde todos cantam a torto e a direito "Un ballo in maschera,de Verdi). Os mordomos dos filmes policiais,sim.

O poviléu vai continuar dançando,como um Fred Astaire desengonçado,o grande musical tupiniquim. Até a morte!...

Muito "v" de valioso teu "flash back" sobre "V de Vingança"...

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PS: quer dizer que possuis um apê apenas para teus livros? Isso sim é que é ter um grande bem ao bem maior que se possa existir!

Abração semanasantal!

Y. Y. disse...

Sim, sim, era a Julie London \o/
um bjooo

Marco disse...

Doce Claire: John Hurt dá o show habitual de interpretação. É curiosa a sua observação: ele fez dois personagens diametralmente opostos em uma mesma temática em dois filmes diferentes. Tanto o filme "V" quanto a graphic novel dão muuuito o que pensar. Beijo!

Fantástica Claudinha: O filme não dá medo em si. A situação que ele apresenta, sim. Ele trata de terrorismo de Estado e em contra-terrorismo de Estado. Imagine um governo que, em nome da Segurança Nacional, resolva proibir o trabalho da Imprensa, desrespeitar os direitos mais simples das pessoas, prender gente sem nenhum motivo apenas por parecerem "suspeitas", perseguir imigrantes, ser contra o islamismo sob qualquer forma...Como você pode ver, isso é pura ficção, não é? Deus nos livre de viver em uma época assim!
Você gosta do Darth Vader, é? Ré! Ré! Ré!...É, ele usa máscara. Bem, eu não tenho nada contra máscaras. Até sou um fã incondicional do Batman... Beijo procê.

Mano Paulinho: Rapaz, eu já estava de olho, esperando esse filme não é de hoje. O gibi eu li em 1982, acho, e adorei! Na época, a história servia como indireta para o governo Tatcher, que começava a tomar certas liberdades com relação a constituição. Hoje, muito do que é falado no gibi (e no filme) efetivamente acontece em diversos países do mundo. Você tem razão: se houvesse cultura e conhecimento no Brasil a frase "os governantes é que deveriam ter medo do povo" cairia como uma luva. mas você viu o discurso do João Paulo Cunha, do PT, antes de ser absolvido no processo de cassação? Ele só faltou dizer que confia na desmemória do povo para que toda essa lama seja esquecida. E eu só quero ver quantos destes porcos serão reeleitos, voltando à pocilga em que vivem. Recomendo a leitura do gibi e de que você assista ao filme, que, para mim, é um dos melhores do ano. Um abração!

Querida Yumi: É a Julie London mesmo? Pois é. Eu tenho a gravação dela cantando o "Cry me a river" mas não estava certo de ser a mesma do filme. Ouço direto!
Beijo grande!

Anônimo disse...

Você falou no Segredo da Brokback Montaim e eu fui lá ver... agora, fico ansiosa pra ver esse "V". Tava achando que era algum filme de terror... vou ver sim. meu beijo.

Anônimo disse...

conserta aí: brockback moutaim

Anônimo disse...

Tô com vontade de ver o filme , mas meus amigos são uns bundões e o filme é 16 anos então só com mamãe... :p

Um abraço!

Theo G. Alves disse...

taí mais um pra minha lista de tantos q quero ver...

grande abraço!!

Marco disse...

Dirinha querida: O "V de Vingança" é dezmil vezes melhor do que o Segredo de BrokeAss. Não tem nem comparação. Não é de terror. Embora a gente se aterrorize com a possibilidade de viver sob um governo como aquele. Nos USA, falta pouco para aquilo. Um beijão!

Grande Bruno: Ainda hoje existe esse negócio de barrar em cinema por conta de idade? Putz! Na minha época era um inferno... Mas tenho certeza de que voc~e vai conseguir alguém para ir contigo. O filme merece. Abração!

Grande Théo: Pode ir com as minhas bênçãos e recomendações. Um abraço forte.

Lena Gomes disse...

Olá, Doce Marco! Antes de mais nada, uma doce Páscoa pra vc, ok? Estou sumida, sem tempo, tentando aparecer. Mas tem muita coisa atrasada pra eu ler... aos poucos eu chego lá. Realmente, o "slogan" do filme, não se aplica a esse certo país q vc mencionou... Eu acho q o nosso povo tem q ousar um pouco mais... arriscar um pouco mais... quem sabe a Heloísa Helena?
Bem, espero q isso não seja um delírio da minha cabeça... hehehe... tudo de bom pra vc. Vou tentar aparecer mais, até domingo, ok?
Ah, estou bem melhor de saúde, graças a Deus!!!

Marco disse...

Olá, doce Helena! Quem bom tê-la por aqui! E melhor ainda por sabê-la bem de saúde.
Sobre o tal país do Atlântico Sul, é verdade, falta ao seu povo um certo sentimento de dignidade que o francês, por exemplo, tem. Lá, duvido fizessem que as palhaçadas que fazem aqui.
Um beijo enorme!