O favoritismo de o "Segredo de Brokeback Mountain" (Brokeback Mountain, USA, 2005, dir. Ang Lee) para levar o Oscar de Melhor Filme é tão grande que se os apresentadores desta categoria não lerem este nome no envelope, vai se ouvir o maior “oooooohhhh...” da história do Kodak Theatre.
Mas, aqui pra nós... Não sei a razão deste favoritismo todo.
O filme absolutamente comum, banal.... se não se tratasse de uma love story gay. Tirem o par de caubonecas e ponham um casal homem-mulher no lugar e teremos o filme mais sem graça entre os concorrentes. Diriam alguns: “mas ele desmistifica um ícone americano, o do caubói machão. Por isso ele revoluciona.” Menos, bem menos... Ele revolucionaria de fato se fosse lançado há uns vinte anos, no início da Era da Aids. Atualmente, relacionamentos homossexuais não chocam mais a ninguém. Aliás, ainda bem. Finalmente perceberam que ninguém tem de se importar com a opção sexual dos outros. Por isso, não vejo muita novidade em um filme tratar a sério a paixão de dois caras. Mesmo que a platéia comece a rir em alguns momentos.
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A história é a seguinte: Ennis Del Mar (Heath Ledge) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) são contratados para levar ovelhas para o verdejante pasto próximo ao Morro das Costas Quebradas (não me perguntem de quem são estas costas...) – Brokeback Mountain. Lá, naquele belo lugar, numa noite solitária e fria, Del Mar e Twist dividem a barraca e o pau da barraca. Inclusive é Twist quem acaba dançando.
A partir daquela noite, nada seria como antes para ambos. Finalmente, os dois gaúchos de Pelotas, no Wyoming, tinham se descoberto para “o amor que não ousa dizer o nome”, como escreveu Oscar Wilde. Mesmo casados (com mulheres), e com filhos, volta e meia eles davam a desculpa de que iam pescar, para se encontrarem nos rios e lagos de Brokeback. Só se fosse para pegar bagre, robalo e outros peixes de duplo sentido. Pelo menos, os dois levavam vara. E bota ânus, quer dizer, anos nessa relação! De 1963 a 1984.
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O início do filme tem planos de inegável beleza plástica. O rebanho de ovelhas desfilando naquele cenário belíssimo faz lembrar um comercial de TV. Fiquei esperando que a qualquer momento entrasse um locutor dizendo: “venha para a Terra de Malboro”.
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Em que pese a montanha de prêmios que o Ang Lee está recebendo, não vejo a sua direção como nada de excepcional. Os protagonistas, Heath Ledge e Jake Gyllenhaal também não estão lá estas coisas. Header faz a linha “durão de poucas palavras”, inclusive articulando mal para mostrar que as palavras lhe custam ao sair da boca. Percebi alguma verdade na atuação de Michelle Williams (Alma, mulher de Ennis, a que levou chifre de um vaqueiro).
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Das oito indicações para o Oscar, BrokeAss é franco favorito para levar o careca de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (vai disputar com a Rachel Weisz) e Roteiro Adaptado.
No final, fica o simbolismo da cena em que Jack mira com olhos gulosos o peru que está na mesa de Natal e quando ele e Ennis atiram em um veado galhudo, nas montanhas, mostrando que a classe é realmente desunida.
M.S.
4 comentários:
Meu arretado:
Houve tanta perspicácia na tua crítica (repleta de menções hilárias),que eu ia repetindo o "tirou daqui,ó!,mas continuo torcendo por "Segredo de Brokeback Mountain". É um registro válido sobre bonecas trancadas machonas (cauboiolas),antes que sele-se para todo o sempre (coisa difícil,pois a hipocrisia é um barata dura de matar) o "old fashioned" da preferência sexual de cada um.
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E o "carecão" vai para... Rachel Weisz! Secundária apenas na categoria indicada,pois ela é primordial em sua classuda atuação no filme de direito.
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Quanto ao texto cravado por ti,o classificaria como o melhor do mês postado no "Antigas Ternuras".
Aquele abraço pernambuquês,meu fino.
eu quero ver esse filme...vc me aguçou a curiosidade...hehehe
Paulinho grande Patriota: Conforme você for lendo os meus textos sobre os demais concorrentes, verá que "O Segredo de Brokeback Mountain" não é a melhor opção para o Oscar, embora tudo indique que vá ganhar. Outros filmes com temática semelhante, ao meu ver, são bem melhores (cito de cabeça: "Midnight Cowboy", "Filadélfia" e até o nosso "beijo no Asfalto")
A Rachel Weisz é favorita, mas a Michelle Williams é forte concorrente. Eu ainda incluo a Catherine Kinner nesta briga, que deverá ser uma das mais ferrenhas do Oscar. Qualquer uma delas que vencer, está muito bem entregue.
Um forte abraço, amigão!
Querida Dira: Acho que você poderia ver os cinco concorrentes na boa. Embora tenha restrições ao "Brokeback", reconheço não ser um filme ruim. Beijo procê.
Caro Evandro: Que bom que você gostou. As caubonecas tomaram na tarraca no Oscar.
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